BERENICE VOLUME 01 - A merda da liberdade
Naquele momento a tábua bateu fortemente, trazendo um enorme barulho, porém acabou acertando minha cabeça, eu dei sorte, por não ter pegado em cheio. Era uma dor terrível, me ajoelhei na escada de madeira, um som de agonia se formou em minha boca e as lágrimas começaram a rolar, por um breve segundo a vista embaçou, e senti o mundo tontear. Sinceramente eu tive muita sorte.
Pois se eu tivesse desmaiado ou caído naquele momento, talvez eu não estivesse contando minha história.
Foi então que comecei a ficar lucida, escutando os passos rápido e desesperados do velho e da mulher, naquele momento ignorei toda a dor, olhei para a tranca, eu escutei o velho resmungar.
"Por que fez isso! abra Berenice! Essas crianças!"
Eu imediatamente meti a mão na tranca, o mundo parecia devagar, porém consegui trancar, até que ele sacodia a porta com força começando a xingar pedindo para eu abrir, então percebi que na porta tinha três trancas, do lado direto que eu usei, a do esquerto e uma no meio, consegui trancar as três, eles tavam quase abrindo.
Naquele momento eu senti um alivio, enquanto eles lá fora me insultavam da pior forma possível.
"Pegue o machado, vou arrebentar a porta e conseguiremos entrar!" Disse o velho já dando o próximo passo.
Aquilo me fez arrepiar, eu desci a escada, minhas mãos tremiam, parecia que eu pisava em nuvens, o céu da minha boca formigava. Eu sentia uma leve dormência, mordi meus lábios e comecei a rir, em meio ao sorriso de sorte, lágrimas saiam e um medo sentia. Foi quando ouvi bancadas.
O velho tentava invadir o porão de um jeito ou de outro, minha boca secou, senti uma forte sede. Foi quando meus sentidos retornaram, porém com um leve formigamento no corpo, eu queria chorar, rir, e gritar. Eu tinha um turbilhão de sentimentos. Era felicidade e tristeza, com o medo e a dor juntas.
Senti algo escorrer no meu rosto, era quente. Parecia algo liquido, olhei para cima e não vi nada, porém logo senti um leve formigamento na cabeça, eu coloquei a mão no lugar e doeu, era onde havia sido atingida. Então olhei para meus dedos e vi sangue.
Eu respirava fortemente, eu estava com medo, meu sorriso se foi, e naquele momento eu me assustei. Um feiche de luz se abriu, bem pequeno, o velho habia conseguido com o machado dar um corte profundo na porta, faltava muito para ele conseguir entrar dentro do porão.
Porém aquilo me fez sentir um medo gigantesco, eu sai correndo sem olhar para traz, e no meio dessa correria pelos túneis do porão que levava a alguma saída, eu chorava e ao mesmo tempo ria.
Eu estava confusa, me sentia livre, me sentia com esperanças e ao mesmo tempo com um medo terrível de ser tudo uma mentira, e de não conseguir escapar e reencontrar minha familia.
Os corredores foi perdendo a luz, até que comecei a me cansar de correr, eu nem sequer levei minha lamparina, ou eu voltava ou continuava.
Olhei para trás e me deu um enorme medo, então prossegui no meio da escuridão.
Até que saí no meio de um bosque, as folhas de outono, o vento fresco, o balançar das árvores, era alto o lugar, dava para ver a cidade pegando fogo, era de madrugada, mas meus olhos logo se acostumou com a noite, eu vi a cidade queimar, talvez eu tenha andado e corrido dentro do túnel por quase uma hora.
Eu estava cansada, olhei para o túnel, olhei para a cidade incendiada, eu sabia que aquela não era a direção para onde ir, então comecei a correr na direção oposta.
Eu estava chorando, mas desta vez não era de dor ou tristeza, mas sim de uma enorme felicidade.
Aquela era a liberdade, porém logo eu descobriria que ser livre tem também o seu alto preço.