BERENICE VOLUME 01 - O Filho do negador de Pão.
Eu saí dali desolada, eu queria morrer, pela primeira vez após vários meses, veio este pensamento, eu parei debaixo de uma árvore e fiquei chorando de joelhos, lembro que, pedi aos deuses para tirar minha vida, que me levasse embora daquele mundo, eu chorei muito, e logo me tranquilizei e dormi.
Quando acordei, o Sol estava se pondo, o vendo gelado, me fez acordar, eu saí do bosque indo em direção a minha casa, eu ainda lembrava as ruas por onde passar, enquanto descia a colina, vi o cadáver mais cedo que estava sendo devorado pelos ratos. Estava desossado, eles haviam comido tudo, e o resto os abutres haviam comido.
Eu estava com fome, tinha que passar proximo aquela cabana para entrar na cidade, a casa estava com a iluminação ligada,, meus pés pisando no barro faziam barulho e pesavam, com a lama grudando na minha sandália. Ao passar próximo da janela eu me tremi ao ouvir a voz do velho, porém a voz era doce e gentil, parecia bajular alguém, um filho.
Então curiosamente eu olhei para a janela, e vi ele balançando nos braços o que parecia um bebê, eu olhei cuidadosamente, havia uma cortina branca de seda como cortina, eu pude ver a mesa cheia de pão, a lareira, o aconchego daquela casa simples no meio daquela devastação. O velho bajulava o que parecia ser um bebê enrolado em um pano de lã rosa.
O velho parecia feliz, e pegou um pão para dar ao bebê, o filho dele, ele bajulava a criança, eu senti uma inveja enorme, eu queria aquilo, eu precisava daquilo. Meus pensamentos voltarão num enorme arrependimento, eu deveria ter me mantido com aquele velho que me comprou, mesmo que eu vivesse diariamente sendo abusada, era melhor, eu viveria melhor, teria comida, casa, aconchego, e boas roupas. Eu desperdicei tudo, eu resolvi fugi, mas agora não posso voltar para lá, mesmo que ele me abusasse as noites, pelo menos eu não sofreria tanto assim.
Aqueles pensamentos veio em minha mente, o que era uma repulsa antigamente se tornava algo como um amargo arrependimento de ter fugido antes deles me usarem como desejavam, o resultado? Vejo meu reflexo na janela naquele instante, meus olhos amarelados, eu estava desnutrida, magra e horrível, toda suja, fedendo. Eu já nem mesmo me reconhecia, estava a beira da morte, tive sorte de chegar aqui, então este é o gosto da Liberdade? Eu só não quero mais viver nesse mundo.
Foi naquele momento que vi, o velho virando enquanto bajulava e balançava o bebê, dando pão para ele comer. Me assustei, que loucura, naquele momento eu percebi que tinha um inimigo, um ódio ergueu em meu coração além da tristeza existente.
Velho: "Você quer pãozinho meu pequeno Stuart? Quer pãozinho? Quer? Come Stuart, coma meu filho, para você ficar gordinho é bonitinho."
Stuart não era um bebê, nem tão pouco um anão, Stuart era um rato gigante, era uma ratazanda sendo tratada como um ser humano de maior valor que os outros. Aquela realidade me doeu, eu saí correndo para a cidade, só me restava achar minha família, se ela ainda estivesse viva.