— Perdão, mas o que aconteceu com o espírito das trevas? — Kelvisk pergunta, confuso.
— Não sabemos. Achamos que ele foi destruído, mas, quando terminou a profecia, ele apenas desapareceu da vista de todos e nunca mais o vimos. Não sabemos se ele ainda está vivo — diz a mais nova.
— Por qual motivo as relíquias mudaram de cor e ficaram iguais às dos cristais, mas sendo escuras? — Vilkus indaga, muito curioso.
— Achamos que, quando a profecia foi criada, aconteceu um equilíbrio em tudo relacionado à magia sobrenatural. Por exemplo, antes da profecia ser criada, a cor da magia era negra como as trevas, mas depois foi dividida em três níveis. O nível um, dos magos, de cor roxa; o nível dois, dos feiticeiros, de cor preta; e o nível três, dos bruxos, de cor verde. Assim, dividida por níveis, foi também necessário adquirir os três atributos: força física, mental e emocional. Só assim poderia chegar ao nível máximo dos poderes. Acreditamos que esse equilíbrio foi criado pelo espírito da luz, como aprovação da vontade dele em querer que os sobrenaturais continuassem existindo — conta a mais velha.
— Mas então, o que aconteceu com o Coldbreath? — Kelvisk pergunta, querendo entender melhor.
— Quando Coldbreath conheceu o espírito das trevas, ele o transformou em um monstro chamado Lich! Mas, quando o espírito das trevas foi liberto, ele removeu todo o poder que tinha dado ao mestre das trevas, e ele se tornou humano novamente, sem poder algum. Mas a profecia criada tinha feito uma ligação ao corpo de Coldbreath e aos corpos dos seis discípulos, além dos corpos de todos os dominadores. Todo o poder do espírito das trevas e todo o poder dos seis cristais elementais foram transferidos para a lâmina da espada de Coldbreath. Apenas Coldbreath podia controlar a espada sem as seis relíquias, pois ele era um ex-Lich. Mas seus discípulos podiam controlar o poder da espada caso estivessem usando cada um a sua relíquia. Foi assim que a profecia também ligou a vida dos sete a todos os membros da realeza, que foram aprisionados em uma dimensão espiritual. Assim, a profecia seria cumprida quando o escolhido por ela conseguisse a lâmina e finalmente libertasse a realeza, libertando assim também os discípulos de Coldbreath — conta a mais nova.
— Espera um momento, não entendi essa última parte. Quer dizer que os discípulos de Coldbreath e ele foram aprisionados junto com as realezas? — Kelvisk pergunta, confuso.
— Calma, eu vou explicar — diz a mais velha. — Quando a profecia foi terminada de ser criada, todos os membros da realeza foram aprisionados na fenda dimensional espiritual. Apenas os dominadores presentes e os discípulos de Coldbreath com ele continuaram vivendo suas vidas. Coldbreath reinou até o ano três mil e setecentos; ele viveu cento e dez anos. No caso, ele tinha trinta anos de idade, por isso o escolhido pela lâmina cumprirá a profecia quando tiver trinta anos, pois foi com essa idade que Coldbreath iniciou o seu reinado. Assim, também o império das trevas será consumado por completo, com o escolhido tendo trinta anos. Depois que se iniciou o ano três mil e setecentos, no primeiro dia do primeiro mês, Coldbreath adormeceu, e seu corpo foi transferido para a fenda dimensional espiritual. Assim, seu melhor amigo Edward reinou em seu lugar até o começo do ano três mil e oitocentos, quando ele adormeceu também, e seu corpo foi transferido para a fenda. Assim também aconteceu com os outros discípulos, seguindo a ordem cronológica da criação deles. Cada um deles reinou cem anos, e por último, de acordo com a sequência, foi Heigor, que tinha o controle da espada. Mas, quando foi a vez dele adormecer, um dia antes, ele entregou o anel de lobisomem para Hannibal, além da espada. Mas essa não foi a ordem que Coldbreath tinha deixado para os discípulos; ele queria que a fênix, chamada Estêvão, continuasse reinando por todos os séculos, até chegar o cumprimento da profecia, para que todos eles pudessem retornar à vida novamente. Só que Hannibal não quis isso; ele aprisionou Estêvão em uma cela nas profundezas das terras dos orcs e nunca mais deixou ele sair de lá, desde os mil e seiscentos anos que se passaram do seu reinado. Hannibal, como estava no poder e ninguém mandava nele, podia fazer o que quisesse, fez o contrário do pedido de Heigor feito a ele, que era permitir que as terras dos seis reinos continuassem suas dinastias, reinando através do comando dos dominadores. Por exemplo, eu sou a imperatriz do antigo Reino do Vento, me chamo Kolizeu! Também sou dominadora de poeira — diz seriamente a mais velha.
— E eu me chamo Kira, sou a princesa do antigo Reino do Fogo! — diz a mais nova.
— Claro que, quando Hannibal decidiu destruir as seis dinastias, ele não faria isso cara a cara, muito menos iria confrontar todos os dominadores pessoalmente, e muito menos todos juntos. Foi então que ele convidou todos os dominadores para jantar e pediu a uma bruxa para fazer uma bruxaria de sono nos líquidos do vinho. Quando todos nós bebemos e adormecemos, Hannibal cravou a lâmina da espada em nossas barrigas e assim removeu nossos poderes. Até hoje a gente sente a dor da cicatriz — Kolizeu conclui a história.
— Uma pergunta: por quantos anos os dominadores reinaram? E por qual motivo os dominadores não se uniram antes e não destruíram Hannibal? — Kelvisk pergunta, todo irritado.
— O reinado de Heigor acabou no início do ano quatro mil e trezentos, mas, quando ele entregou o anel a Hannibal e a espada, os sobrenaturais não queriam ele no trono, mas sim Estêvão. Foi aí que começou uma guerra entre sobrenaturais, que durou até o ano quatro mil e quatrocentos, quando iniciou esse novo século. Hannibal conseguiu instaurar o seu comando sobre os sobrenaturais, e foi também o fim do reinado dos dominadores. No caso, nós, dominadores, reinamos por setecentos e oitenta anos, até que Hannibal removeu nossos poderes e nos aprisionou todos aqui. E os povos das seis realezas foram expulsos das suas terras para as terras sombrias. O povo das terras sombrias se mudou para as terras dos vikings, entregues a eles por Hannibal. Os vikings então se mudaram para as terras do império Tfw, e o povo das terras Tfw foi expulso para as terras dos piratas, e a maioria transformada em lobisomens. E os piratas foram expulsos para as terras dos anões, e a maioria transformada em vampiros. E os anões foram expulsos para as terras selvagens, e os gigantes foram expulsos para outras terras distantes ao extremo leste, e os orcs dominaram as terras dos gigantes. Depois, Hannibal decidiu escolher três líderes para liderar os lobisomens do povo Tfw, os vampiros do povo dos piratas e os mercenários do povo das terras sombrias, que se tornaram magos, feiticeiros e bruxos. Os três escolhidos se tornaram seus conselheiros, chamados de conselheiro de sangue, de ossos e de magia. Foi dessa maneira que Hannibal conseguiu convencer a maioria dos sobrenaturais, e a guerra teve fim. Mas a instauração do reinado de Hannibal não foi completada até hoje, pois sempre aconteceram pequenas rebeliões e ataques constantes na economia do mundo. Mas, quando a profecia for cumprida, o reinado das trevas será consumado, e assim acabará de uma vez por todas qualquer resquício de esperança da existência do bem — diz Kolizeu, chateada.
— Entendi, mas ainda não me respondeu a outra pergunta: por qual motivo os dominadores não se uniram para lutarem juntos e destruírem o reinado de Hannibal? — Kelvisk pergunta novamente, todo nervoso.
— Não tinha como ser feita essa união. Sempre houve contendas entre os dominadores. Ao todo, existem treze: dominador de fogo, água, trovão, planta, terra, vento, vapor, lava, fumaça, lama, gelo, poeira e veneno — Kira diz, chateada também. — Até hoje os dominadores têm inimizades uns com os outros. Por exemplo, apenas eu, Kolizeu, Ryuki e Elmyra, que está dormindo, somos amigos.
— Humpf… Isso é tudo? — pergunta, levantando e saindo da cela.
— Kelvisk? O que vai fazer agora? — Vilkus pergunta, esperançoso.
— Não posso fazer nada, meu amigo, infelizmente. Os dominadores poderiam ter se unido e impedido a profecia, mas não quiseram. Foram egoístas consigo mesmos e hoje vivem nessa lama de desgraça! Não venha pedir a minha ajuda agora para salvar aqueles que se recusaram a salvar o mundo! Eu não me importo nem um pingo com cada um deles! — Kelvisk diz, todo bravo e irritado.
— Calma, meu amigo, eu te entendo, mas você é o único que pode ajudar… — Vilkus tenta fazê-lo entender.
— Você sabe, não é? Que não pode impedir a profecia que foi criada de acontecer. Ela vai se cumprir, você querendo ou não, assim como as outras duas profecias se cumpriram. Sua missão é libertar as realezas, e assim os discípulos de Coldbreath vão ser libertos também, e a guerra para a conclusão do reinado das trevas será instaurada. Esse é o destino do mundo. Sabemos que não vamos vencer, mas acredite, estamos todos dispostos a perder, mas lutando até o final! — Kira diz para Kelvisk.
— Eu não vou libertar a realeza! — Kelvisk diz, com os olhos ficando verde fluorescente.
— VOCÊ VAI SIM! — Halayna diz, com os olhos brilhando também, ficando visível.
— Halayna?
— Eu escutei tudo, Kelvisk, toda a história. Você tem uma missão e vai ter que cumpri-la até o fim!
— Eu não vou!
— Vai sim! Precisamos ter a oportunidade de lutar até o fim, mesmo que a gente perca no final. Você não pode nos negar esse direito… — ela diz, derramando lágrimas.
— EU NÃO POSSO! — Uma aura de energia verde fluorescente, com raios pretos e roxos, começa a rodear Kelvisk, e um raio de luz emana dos seus olhos e boca, com a sua cabeça levantada para cima e a luz tocando o céu. Todos os orcs que estavam fazendo a guarda começam a observar o evento, e seus companheiros invadem a prisão através de um portal.
Quando vários orcs se aproximam de Kelvisk, seus amigos o chamam para entrar no portal, junto com Halayna e Vilkus, mas ele não dá ouvidos. Prestes a ser tocado pelos orcs, uma Rusalka surge das sombras à sua frente, e uma fumaça escura começa a rodeá-lo, fazendo os orcs pararem bruscamente e recuarem vários passos para trás.
— Por que não pode… Kelvisk? — Halayna pergunta, ainda com lágrimas caindo de seus olhos.
— Eu… eu… não posso! Eu tentei… eu tentei… — ele diz, chorando.
— Tentou o quê? — Halayna pergunta, sem entender e aflita.
— Fala para ela, Kelvisk! Conta tudo! — Thalassa grita.
— Contar o quê?! — Halayna questiona, confusa.
— Desde que ele conseguiu a espada e foi transformado em um Lich, ele não consegue dormir! Sempre tem pesadelos e visões sobre o futuro! E cinco anos atrás, ele entrou em contato com a gente, dizendo que já tinha tentado impedir a profecia de acontecer várias vezes!
— É verdade, Kelvisk? Você tentou… — Halayna pergunta, assustada.
— Eu tentei… eu vi o Vilkus sendo morto pelos elfos guerreiros. Eu podia ter deixado ele morrer, assim a profecia não iria se cumprir, mas eu não consegui, tive que salvá-lo! — Vilkus fica totalmente surpreso e de boca aberta. — Eu vi… eu vi você morrer, Halayna, pelas chamas da fogueira! Mas confesso que, quando te encontrei pela primeira vez naquele dia e olhei dentro dos seus olhos, eu não podia deixar você morrer! — Halayna cai de joelhos no chão, de cabeça baixa, chorando, com as mãos sobre o rosto.
— Humm… — a Rusalka faz um som com a boca fechada.
— Eu até tentei me matar! Mas não deu certo. Naquele dia em que fomos atrás dos lobos, eu contei a verdade para a Rusalka, pois eu sabia que todas as pessoas que tinham ido até ela e falado que eram o escolhido, todas eram mortas por ela! E ela era a única que podia me matar! Mas ela não o fez! Mesmo eu fazendo pose de um escolhido e gestos simples, eu não consegui convencê-la… eu não consegui… não consegui… — diz, chorando. — Eu vi em visões o reinado dos elfos negros cheio de glória, por isso, quando recebemos aquele convite, eu decidi me envolver com a realeza para tentar destruí-los, mas não consegui… eu não consegui! Depois, a Rusalka disse que o Vilkus iria morrer, mas eu vi em visões eu o transformando em um mago. Eu não queria ter feito isso, mas não podia deixá-lo morrer outra vez! Eu vi o reinado de Hannibal sendo abalado, por isso tentei fazer a conspiração do meu jeito, mas não consegui… EU NÃO CONSEGUI! — E outra onda de energia mais poderosa é emanada do seu corpo, derrubando todos que estavam de pé naquele momento no chão. Halayna então corre até Kelvisk e, abraçando-o fortemente, chora em seus braços.
— Calma… — ela diz, fazendo carinho em sua cabeça, e Kelvisk cai de joelhos no chão.
Ninguém estava esperando por isso, mas várias embarcações cheias de orcs desembarcaram nas terras vulcânicas.
— Kelvisk? Sabemos que você sofreu muito por todos nós, mas você tentou até onde conseguiu. Agora precisa aceitar o seu destino, cumpra a profecia! — Thalassa diz, segurando seu cajado para combater os orcs.
— Eu… eu não sei o que fazer… — ele tenta falar, mas Halayna lhe diz:
— Faça o que o espírito da luz faria no seu lugar, você vai descobrir!
— Kelvisk… Kelvisk… Venha comigo, escolhido… — diz a Rusalka, estendendo a mão para ele.
— Vai, Kelvisk! Vamos lutar por você! Não se preocupe! Vai! — Ele então pega a mão da Rusalka, e ela o teletransporta para o templo do espírito da planta, no Cemitério de Pedras, na Floresta Lamentação. Halayna invoca seu cajado, se preparando para lutar.
Chegando lá, a Rusalka mostra o corpo de Edward adormecido em cima de uma pedra, dizendo:
— Veja… retire a espada do elemento da planta do centro do templo, liberte a realeza, e então o vampiro será acordado! — Quando Kelvisk se aproxima da espada cravada no chão, ele começa a ter uma visão do futuro, onde ele retira a espada do chão e a realeza é liberta, acordando Edward. — Vamos… remova a espada… e eu serei liberta!
— Faça o que o espírito da luz faria no seu lugar, você vai descobrir! — Lembra Halayna, fazendo-o pensar rapidamente.
— VAMOS! — grita a Rusalka, com ódio nos olhos por ter tentado enganá-la daquela vez.
— NÃO! EU FAÇO O MEU PRÓPRIO DESTINO… — Kelvisk então corre em direção ao corpo de Edward e crava a lâmina de Coldbreath em seu coração, dizendo — NO FIM DA LIGAÇÃO, RESSURJA, MAS NÃO!