Era noite quando os dois chegaram à entrada sombria do castelo élfico. Estava acontecendo uma chuva de neve no momento em que colocaram os pés naquelas terras.
O frio começou a invadir seus casacos de pele e a gelar partes do corpo, fazendo-os respirar mais devagar e ficando sem forças. Os cavalos não aguentavam mais levá-los em cima deles e estavam com muita fome naquela altura; a última vez que haviam comido foi há cinco cidades atrás.
Mas, quando pensavam que não teriam saída e que tinham viajado em vão, surgiram luzes de tochas vindo em suas direções. Elfos montados em grifos, com arcos nas mãos e flechas preparadas para disparar, perguntaram em voz alta quem eram e o que queriam ali, tão longe da civilização.
Kelvisk apenas respondeu que queria conversar com o rei, pois tinha algo muito importante para contar, além de que precisava de ajuda para continuar vivo. Disse que não teria vindo de tão longe apenas para fazer alguma maldade contra o reinado.
O líder do grupo de arqueiros permitiu que ele entrasse no castelo e se acomodasse, e que em breve conversaria com o rei élfico. Mas antes, teria que entregar a espada e todas as armas que estivesse carregando. Kelvisk concordou; naquela altura, estava desesperado para ajudar Halayna e não iria jogar no lixo a oportunidade que estava em sua frente.
Depois de entrarem nos domínios élficos, eles se esquentaram em uma grande fogueira que ficava no centro do palácio. Além de fazerem uma grande refeição, pois não comiam há dias, tinham cavalgado desde o porto marítimo do oeste até as antigas terras sombrias, apenas para falar com o rei.
A viagem desde a saída da academia de magia até o destino final demorou em torno de quase trinta dias, e apenas Vilkus ficou para trás com a missão de descobrir cada detalhe do planejamento de Arkadius.
Halayna não gostou da ideia de se tornar esposa de Kelvisk, pois precisavam disfarçar para não serem incomodados pelo povo das terras nulas. Eles odiavam sobrenaturais e, se descobrissem que eram um, estariam em sérios problemas.
Mas, felizmente, a ideia deu certo. Apesar dos dois serem um casal estranho, Halayna odiava Kelvisk no fundo do seu coração, mas também tinha uma enorme admiração por ele, e isso era como um conflito dentro dela, para se dizer se ela gostava dele ou não. No entanto, Kelvisk tinha seus motivos para não gostar dela, mas também admitia que ela tinha talento, algo que atraía a atenção dele para ela. No fim, os dois poderiam se envolver em um relacionamento, mas talvez não durasse muito tempo. E os dois sabiam disso.
Mas eles não tinham tempo para esse privilégio; os problemas eram maiores do que qualquer desejo pessoal, além de que o destino de certas pessoas estava nas mãos deles. E isso os deixava com uma pulga atrás da orelha. Provavelmente, o dia menos conturbado que tiveram foi no mercado, fazendo as compras e ouvindo o longo discurso de Vilkus sobre magia, mas os dias não haviam sido levianos com eles; cada situação nova os colocava em um estado de pressão mental e física.
Apesar de não terem tido problemas com os humanos comuns, os dois tiveram que enfrentar certas criaturas monstruosas pelo caminho, e a dificuldade só aumentava cada vez mais quando se aproximavam do reino élfico. Graças aos espíritos, eles sobreviveram, mas era quase impossível que o portador da lâmina de Coldbreath e a portadora do cajado de Sarah fossem destruídos; seria mais fácil eles destruírem todas as criaturas que existiam naquelas florestas escuras.
— Sejam bem-vindos, senhor e senhorita! Sente-se, por favor! — diz o rei élfico para os dois.
— Obrigado! — Kelvisk agradece, ainda segurando a mão de Halayna.
— Obrigada! — diz, fazendo uma reverência.
— Me chamo Glorfindel. Como podem ver, sou o rei élfico da sociedade dos anões e gigantes, mas essa união não tem laços há muitos anos. Me digam, como dois aventureiros sozinhos conseguiram sair vivos da Floresta Sombria?
— Sou o portador da lâmina de Coldbreath… — Kelvisk revela, abaixando a cabeça e fechando os olhos. Os guardas ao redor, quando ouvem essas palavras, se assustam e recuam alguns passos, mas apontam as lanças para ele.
— Hmm… entendo. Então, finalmente, o escolhido da profecia foi revelado, assim como estava predestinado. Não posso imaginar o que tem passado para chegar até aqui. Saiba que é bem-vindo pelo meu povo e que iremos ajudá-lo no que pedir!
— Como pode confiar em mim? — Kelvisk indaga, sem acreditar em suas palavras.
— Bem, você não é o único que tem um fardo pesado para carregar. Meu povo sofre nessas terras sombrias e sem vida. Não aguentamos mais tantos anos de sofrimento e angústia. Sabemos sobre a existência da profecia e que ela trará o fim da bondade no mundo, completando o reinado das trevas de uma vez por todas.
— Pensa em desistir fácil assim? Sem lutar? — Kelvisk questiona, ficando confuso.
— Você, por acaso, pode mudar o seu destino? Se conseguir fazer isso, eu farei pelo meu povo! — diz Glorfindel, com um semblante sério em seu rosto, levantando-se do trono.
— Não sei dizer, mas venho tentando. Talvez haja uma saída nesse fim de túnel — Kelvisk fala, se ajoelhando diante do rei. Halayna fica surpresa, não só pela reação dele, inesperada, mas também pelo assunto da conversa.
— Humpf! Admiro a sua sagacidade com o seu próprio destino, mas confesso que realmente está em suas mãos tentar até o final. O que precisa? — o rei pergunta, sentando-se novamente.
— Não apenas eu, mas também a minha esposa, temos um imenso poder dentro de nós. Mas não sabemos controlá-lo, muito menos sabemos como alcançá-lo. Por isso, viemos até aqui pedir a sua ajuda! — Kelvisk diz, levantando-se da posição.
— Existem três atributos para alcançar o ápice da magia. Não é uma tarefa fácil, muito menos concluída em pouco tempo — conta o rei, pensativo.
— Infelizmente, não temos mais tempo. O conselheiro de magia do imperador Hannibal pretende colocar em prática seus planos de conspiração contra o império do seu próprio superior. Temo que não sobre tempo para fazer alguma coisa a respeito!
— Você pretende impedir a conspiração? — o rei pergunta, ficando sério.
— Sim! Eu pretendo, ao lado dela e de mais um companheiro de viagem. Ele está, neste momento, trabalhando nas informações necessárias para impedir o ocorrido — conta, retirando uma bola de cristal do bolso, que ele mesmo fez com magia, para se comunicar com Vilkus à distância.
— Muito bem, meus grandes sábios descobriram uma forma de atingir o ápice do nível espiritual em apenas algumas horas, através da meditação por meio do poder de cura que apenas os elfos possuem. Então, vou ajudá-los a conseguir controlar seus poderes, mas peço que façam tudo que estiver ao seu alcance para impedir a conspiração!
— Será feito, não se preocupe! — Kelvisk diz, todo confiante.
O rei Glorfindel acompanhou os dois até uma sala no nível mais baixo das construções que existiam conectadas ao castelo. No interior de um grande salão de armas, onde também ficavam as celas dos prisioneiros, por um momento, Kelvisk pensou que seriam presos, mas depois ficou mais tranquilo. Até que chegaram a um jardim cheio de todos os tipos de flores e uma cachoeira no centro do recinto, com uma fonte de águas naturais e doces, e um aroma especial, assim como existia na Floresta Lamentação.
Um dos sábios do rei pediu para os dois se sentarem um de frente para o outro e fecharem os olhos. Então, pegaram a lâmina de Coldbreath e entregaram aos dois para segurarem juntos, pegando no cabo.
Assim começou o processo de concentração de seus poderes, indo direto à fonte. O sábio pediu para eles pensarem na lembrança mais bonita que tiveram em suas vidas. Halayna logo lembrou do primeiro dia em que sua mãe lhe ensinou a deixar os objetos invisíveis; esse foi o dia mais importante para ela e o momento mais lindo da sua vida.
Kelvisk, no entanto, não conseguia se concentrar. Na verdade, ele não tinha nenhuma lembrança boa que pudesse recordar naquele momento. Sua vida toda foi um carregamento de um fardo pesado sobre suas costas, que muitas das vezes não conseguia carregar, e isso nunca saía da sua cabeça.
— Eu não consigo! — ele diz, abrindo os olhos.
— Calma, pense em alguma lembrança recente, algo que te fez ficar feliz em algum momento especial — Halayna diz, sorrindo para ele.
— Humm… — então ele pensa, e vem à sua memória o dia em que Halayna chorou em seus braços e ele a consolou — eu consegui.
— Muito bem, agora fiquem pensando nessa lembrança. Vamos iniciar a cura — diz o sábio.
Quando ele começa, os dois sentem uma aura de luz emanando em seus corpos, uma sensação boa e refrescante ao mesmo tempo, como se todos os problemas desaparecessem do nada e apenas uma intensa paz existisse em seus corações. Fazendo com que os dois começassem a ver, como uma visão, a lembrança que estavam pensando.
Isso estava ligando seus corações à cabeça e suas almas, criando uma forte união com seus espíritos e lhes capacitando a controlar suas emoções, pensamentos e força física.
E, quando menos esperavam, suas peles começaram a transmitir um intenso raio verde fluorescente através de todo o seu corpo, e quando abriram os olhos, eles estavam brilhando de uma cor verde esmeralda, uma cor tão forte que jamais alguém presenciou tal maravilha.
Os dois estavam prontos para controlar seus poderes. A partir de agora, eles seriam capazes de realizar qualquer habilidade que desejassem; bastava se lembrar da melhor lembrança que pensaram na meditação.
— É simplesmente incrível! Eu consigo sentir todo o meu imenso poder dentro de mim — Halayna diz, se levantando.
— Eu também… — Kelvisk fala, segurando a espada — mas ainda sinto como se o poder da lâmina fosse maior do que eu.
— Isso é porque o controle que você acabou de adquirir é apenas para o poder que possui dentro de si. Se quiser controlar o poder da espada, terá que aprender a descobrir sozinho — conta o sábio.
— Muito obrigada, seu sábio! Muito obrigada, Rei Glorfindel! Isso vai ajudar bastante em nossa missão.
— Vou ver se o Vilkus fala comigo. Com licença — diz Kelvisk, pegando a bola de cristal de magia.
— Kelvisk? Finalmente, meu amigo! — respondeu ele. — Olha, as coisas estão ficando sérias aqui com os conselheiros. Vocês dois precisam retornar o mais rápido possível. Não sei quanto tempo ainda sobra.
— Pode deixar, estamos indo. Toma cuidado!
— Até, meu amigo!
— Halayna? Como se sente? — pergunta Kelvisk, ainda preocupado com ela.
— Me sinto bem, muito bem, na verdade. E você? — diz ela, acariciando a cicatriz dele. — Onde conseguiu essa cicatriz?
— Estava lutando com um urso da caverna. Ele estava com fome, e eu também. Então, digamos que tivemos um confronto bem intenso, e aí ganhei-a — conta, sorrindo levemente.
— Coitado do urso! Pena que ele não o devorou inteiro. Seria cômico se fosse verdade — diz ela, dando uma leve gargalhada.
— Vamos!