— HALAYNA?! PARA! — Kelvisk diz, em uma voz alta e sombria, que faz ecoar e estremecer os livros nas estantes, fazendo com que alguns caiam no chão.
— Foi ele que começou! Eu não queria fazer isso, não queria! Ele me obrigou! — Ela diz, derramando lágrimas no chão.
— Calma! Vai atrás do Vilkus, agora! Eu resolvo isso… — Ele diz, segurando o rosto de Wylzer, que estava em agonia com seus pensamentos.
Ela saiu da biblioteca arrasada, odiava ficar naquele estado de fúria e ódio. Seu coração batia tão rápido que ela conseguia escutá-lo com perfeição. Seus pulsos tremiam o tempo todo, e seus lábios estavam ressequidos pela falta de circulação do sangue em seu corpo. Era um estado físico de sentimentos que ela odiava passar e, para piorar, uma intensa sensação de sede de sangue por morte em sua mente a fazia ficar descontrolada.
Vilkus, quando a viu, logo a abraçou, acariciando seus cabelos e a balançando em seus braços, pedindo para que ela se acalmasse. Kelvisk, depois de ter terminado com o príncipe, foi à procura dos dois, encontrando-os na cozinha real, mais calmos e conversando baixinho.
Kelvisk perguntou se ela estava bem, e ela respondeu que sim, um pouco, perguntando pelo príncipe em seguida. Ele disse que estava melhor, não se lembrava de nada do que aconteceu, apenas de feixes de acontecimentos que não eram claros.
Halayna ficou um pouco aliviada, não queria ter estragado os planos de Kelvisk novamente. Ao dizer isso a ele, ele apenas respondeu que não precisava se preocupar com isso agora, que apenas deveria descansar a mente e repousar.
Ela então foi se deitar em um dos quartos, e os dois amigos foram conversar a respeito do ocorrido.
— O que houve? Como ela ficou naquele estado emocional? Wylzer aprontou de novo? Não vai me dizer que beijou ela?
— Não sei o motivo, quando cheguei ela estava com um cajado na mão e tinha lançado um feitiço no príncipe — Kelvisk diz, suspirando.
— Um cajado? Ela tem um cajado? Por que nunca vimos ela com um? — Vilkus pergunta, intrigado e sem entender.
— Parece que ela não sabe controlar o poder que tem, por isso esconde o cajado. Eu deveria ter suspeitado, mas isso agora — fala, ficando com raiva.
— Nossa… o que vai fazer? — Vilkus pergunta, bastante preocupado com ela.
— Não faço ideia, não esperava por isso.
— Hmm… deveria ensiná-la a controlar o poder, entende? Você também vai me ensinar, não é? — pergunta, pensativo.
— É diferente, aprender a manejar uma espada é uma coisa, controlar poder é outra totalmente diferente — diz, bufando alto — pensarei em alguma coisa melhor.
— Está bem, mas pense com carinho, Kelvisk, estamos falando sobre a Halayna. Ela é especial, você sabe disso, não sabe? — diz, deixando-o sozinho.
Kelvisk foi conversar com o príncipe, dizendo que Halayna realmente era uma feiticeira de uma família muito prestigiada da sociedade sobrenatural, e pediu a ele para não contar nada aos seus pais, por ser um segredo de família. O príncipe concordou, se ele conversasse com ela e pedisse que o perdoasse pelo que fez, além de dar-lhe uma nova chance de poder conversar com ela em outra ocasião.
O portador da lâmina de Coldbreath concordou com os termos e disse que conversaria com ela depois a respeito, deixando tudo acertado. Ele foi atrás de Halayna para falar sobre o seu cajado.
Ele queria saber, de verdade, por qual motivo ela o escondia, algo que o estava incomodando bastante por dentro. Depois que ela acordou, ele levou uma bandeja de lanche para ela comer, com alguns aperitivos e guloseimas, o que ela adorou, dando um leve sorriso no rosto.
Com o clima mais agradável, ele disse:
— Podemos conversar sobre o seu cajado, acho que não adianta mais escondê-lo da gente — diz, tomando uma taça de vinho.
— Não quero falar sobre isso agora — fala, fechando a cara.
— Hmm, preciso saber, de verdade, talvez assim eu possa ajudá-la — conta, sentando-se na cama.
— Eu falo, se me responder uma coisa primeiro!
— Humpf… isso não vale, e você sabe disso, não é a mesma coisa comigo — diz, fazendo uma leve careta para ela.
— Não quero saber das suas desculpas, apenas me prometa que, se eu falar, você vai me responder qualquer coisa que eu perguntar!
— Tudo bem. Fala!
— Sou de uma família de antigos feiticeiros, acredito que venho da primeira linhagem de feiticeiros que foram criados, por isso herdei um grande poder dos meus parentes passados — ela diz, ficando triste.
— E o cajado, onde conseguiu?
— Era da minha mãe… eu… eu… — Ela tenta falar, mas a voz some, e lágrimas começam a cair dos seus olhos.
— O que houve?
— Um dia, minha mãe tinha chegado de um conflito entre gangues de sobrenaturais e deixou o cajado dela escorado em uma estante… — conta, fechando os olhos com as lágrimas derramadas sobre o lençol — foi então que vários homens bateram na porta, atrás dela, para matá-la. E foi aí que eu estava do lado do cajado, quando ela me pediu para entregá-lo, mas…
— Eles invadiram antes? — Kelvisk pergunta, pegando os cabelos dela e colocando-os para trás, enxugando suas lágrimas.
— Mas… quando eu toquei no cajado, o cristal brilhou intensamente, e aconteceu uma grande explosão de energia — diz, se jogando nos braços de Kelvisk, chorando — eu matei ela! Eu matei ela!
— Eu sinto muito, Halayna… de verdade, sinto muito.
Depois de alguns minutos chorando, ela conseguiu se recompor um pouco, dizendo:
— Quando meu pai chegou de uma caçada e viu tudo o que tinha acontecido, ele não acreditou que ela estava morta. Foi então que eu contei tudo, mas foi o meu pior erro. Ele ficou com muito ódio de mim, e com tanta raiva que me enviou para a academia dos sobrenaturais. Fiquei dois anos lá, até que um dia consegui fugir. Desde então, nunca mais usei o cajado.
— Não foi sua culpa! Saiba disso! Mas você precisa aprender a controlar o seu imenso poder. Agora sei que você é uma feiticeira de classe alta, além disso, provavelmente da realeza — diz, se levantando da cama.
— Não posso aprender sozinha, eu não consigo, já tentei várias vezes — ela fala, se levantando também — não poderia me ensinar?
— Eu não posso!
— Como assim não pode?! Sabe o quanto eu almejo conseguir um mestre? Desde pequena, nunca encontrei uma pessoa que seria capaz disso, muito menos que eu pudesse confiar. Mas você não, eu não confio em você, mas admito que é a única pessoa que existe em Lunizs que pode me ensinar… — ela fala, cruzando os braços e indo até a janela.
— Gosto da sua sinceridade, mas como disse, não posso ensiná-la, sinto muito — ele diz, deixando o quarto.
— Espera! Você me prometeu que responderia qualquer pergunta minha, agora eu te pergunto: por qual motivo não pode me ensinar?! — ela indaga, se aproximando dele e olhando-o fixamente nos olhos.
— Aff… existe uma profecia. Ela diz:
"No grande dia desperta o mal, mas à meia-noite dorme o anormal. Com enorme força inflige a dor, mas com reforços domina a sorte, rendido à ganância do amor."
— Uma profecia? O que ela quer dizer? — pergunta, ficando curiosa.
— Não posso revelá-la ainda, confie em mim. Mas posso dizer que sou o escolhido por ela, por isso tenho a lâmina de Coldbreath. Quando a encontrei e a toquei, eu fui transformado… em um Lich!
— O que é um Lich?
— Acredite em mim, você não vai querer saber. Só posso dizer que me tornei um monstro, e desde então estou em uma missão — conta, retirando a espada da bainha — essa espada tem um imenso poder, assim como o seu cajado, por isso eu medito todas as manhãs para tentar controlar, mas eu não consigo.
— Por isso disse que não podia usar o teletransporte, porque exige muita energia da espada, não é?
— Exatamente, assim como outros poderes mais especiais, sou como você nesse quesito, só posso usar poderes de nível básico ou médio — fala, guardando a espada — mas, como você, eu também posso usar o poder máximo se quiser!
— Hmm, te entendo mais um pouquinho agora, viu? Não foi tão difícil responder — diz, deixando o quarto.
Kelvisk ficou pensativo em tudo que acabou de falar com Halayna. Os dois agora tinham aumentado um pouco os laços entre si, mas ainda havia uma barreira enorme entre os dois, por parte dele. Mas, enquanto as coisas estivessem dando certo, era o que importava; tudo iria depender de como cada um reagiria a partir de agora.
Terminados os compromissos com a realeza, estava na hora dos três retornarem ao reino élfico, pois Kelvisk agora teria um grande compromisso com o Rei Tauron e seus filhos. Além de que estava faltando algo de muita importância para eles três fazerem.
— Para onde vamos agora? — Vilkus pergunta, animado.
— Lembra que eu disse que fiz um tratado com os filhos do rei? Então, vamos precisar de ouro, e muito ouro! — Kelvisk responde, seriamente.
— Eu tive uma ideia em mente agora mesmo. A academia que te falei fica um pouco longe daqui, poderíamos roubar um pouco das riquezas deles, não?
— Vingança nunca foi o meu forte, mas admito que a proposta é boa, vamos! — Kelvisk conta, ficando animado. Eles agora teriam uma grande aventura pelas terras desérticas do leste-central, na verdade, um antigo deserto, pois os sobrenaturais transformaram todo aquele lugar em puras terras férteis. Os problemas apenas estavam começando.