A luz da lua era serena como a pluma das noites chuvosas, além da tempestade que estava acontecendo enquanto os três velejavam alto-mar adentro. Depois daquela aventura instigante, todos estavam cansados e precisavam repousar; não só a mente dos três estava confusa, como também seus sentimentos.
Halayna estava com uma febre altíssima naquele momento, e Vilkus, todo preocupado com ela, pensou até que poderia morrer, pelo estado em que ela se encontrava, toda tremendo e muito febril. Kelvisk estava incomodado, não podia negar, mas ele não sabia o que fazer; com o que tinham na embarcação, não era possível fazer nada para ajudá-la.
Até que um canto começou a ser ouvido pelos andares do navio, e Kelvisk imediatamente usou seus poderes para proteger seus tímpanos do barulho agudo. Saindo da sala onde Halayna estava deitada, ele observou o convés por todos os lados, até que uma mulher surgiu das sombras, caminhando lentamente em sua direção, dizendo:
— Escolhido… achou que poderia escapar das minhas mãos?
— Não! — Kelvisk respondeu, removendo sua espada da bainha. — Minha serva está doente, provavelmente por causa da sua magia, e meu servo está desacordado com o seu cântico maligno, então eu não vou me conter em atacá-la se eu quiser!
— Admiro a sua coragem, mas vim buscar algo que me pertence, e apenas você pode me dar!
— O que quer ainda não chegou a hora; o momento certo chegará no tempo devido!
— Humpf… e como posso confiar em suas palavras, Kelvisk… visk… visk… — Ela sussurrou em seus ouvidos, colocando as mãos em seu rosto, acariciando sua pele.
— Você deve saber que os escolhidos podem fazer promessas, e que elas sempre se cumprem no dia declarado. Então, eu prometo que vou dar-lhe o que almeja! — Kelvisk disse, guardando a lâmina na bainha.
— Humm… acredito em você. Caso não venha a cumprir o que acabou de declarar, fique certo das consequências — ela disse, afastando-se de sua presença.
— Por favor! E ela… — Antes que terminasse de falar, a mulher desapareceu na escuridão do luar.
Depois da conversa com a rusalka, Kelvisk estava sendo pressionado pelo destino que havia sido escrito em sua vida. Cada momento que se passava chegava mais perto o dia em que ele teria que tomar grandes atitudes sobre a mudança do mundo.
Ele foi até Vilkus, acordou-o, e quando se levantou, perguntou o que tinha acontecido. Kelvisk apenas disse que foi o balanço do barco que o deixou tonto e com sono. Enquanto os dois conversavam, Halayna despertou da febre, e quando Kelvisk a tocou, ela estava gelada, com bastante frio. Ele então tirou seu casaco de pele e vestiu-a, para aquecê-la.
A madrugada já havia chegado, e uma névoa escura começou a rodear o barco inteiro. Para não caírem, o capitão ordenou que ficassem dentro das cabines, pois, depois de algumas horas, a fumaça passaria.
Kelvisk começou a ler um livro antigo, escrito há muito tempo por grandes sobrenaturais; nele continha uma tremenda quantidade de informações importantes a respeito de muitas coisas diversas. Era o que o ajudava em sua jornada tão árdua.
Halayna lhe perguntou se poderia lê-lo, mas ele apenas deu uma olhadela de lado e fez uma cara feia, virando-se para o canto. Vilkus estava perto da fogueira, se esquentando; ele era um elfo e não sentia frio, mas gostava do calor que o fogo transmitia.
Passadas três horas e meia, a manhã estava perto, chegando com os primeiros raios de sol brilhando alto no horizonte, com um deslumbre de uma vista magnífica aos olhos. Kelvisk então foi meditar com sua espada nos fundos, e Halayna foi atrás dele para lhe fazer uma pergunta.
— O que devo fazer quando chegarmos lá? — Halayna perguntou, em pé, na sua frente.
— Apenas seja você mesma, mas modere nas suas palavras e controle, principalmente, seus impulsos emocionais. Você é muito emotiva — disse, fechando os olhos e pegando a espada.
— Falar é fácil; não é você que é insultado por homens sem respeito algum pelas mulheres. Sabe como eu me sinto quando ouço uma agressão com palavras pesadas? Muito mal… — Ela falou, ficando chateada.
— Como eu já te disse uma vez, você se preocupa demais com as coisas, com a beleza dos outros e agora com o que falam ao seu respeito. Se você realmente conhecesse seu grande valor, não daria atenção a comentários sem sentido — disse, abrindo os olhos lentamente e fechando-os em seguida.
— Como consegue ser assim? Frio — perguntou, cruzando os braços.
— Talvez um dia você descubra, mas por enquanto, apenas saiba que é o melhor a ser feito. Acredite.
— Oh, pessoal. Eu estava aqui pensando, não seria legal se pudéssemos pescar um pouco? Só que aí lembrei que não temos varas, então… deixa pra lá. O que estão fazendo? — Vilkus indagou, sentando no chão.
— Seu amigo está me dando conselhos de como me comportar com os homens perversos, mas ele não conta nada a seu próprio respeito, não é, senhor Kelvisk? — Ela disse, chutando as coxas dele e indo em direção à borda do navio, apoiando-se na madeira.
— Kelvisk, eu queria saber se você poderia me treinar. Sabe, só um pouquinho. Eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo com a espada; sou um desastre — Vilkus disse, levantando-se e retirando sua lâmina da bainha. — Kelvisk?! Está me ouvindo?
— Estou meditando; não me interrompa. Depois que conversarmos com o imperador e seu filho, começo seu treinamento.
— Eh! Isso aí! Você é o melhor, Kelvisk!
A manhã raiou alto naquela altura, e todos precisavam tirar um cochilo rápido para poder desembarcar no porto marítimo no leste-central, onde teriam que viajar por alguns dias até chegar a seu destino final.
Foram quase uma semana a cavalo, caminhando por dentro da grande cidade comerciária, conhecendo todos os tipos de comerciantes e clientes deselegantes. O príncipe Wylzer já os esperava há muito tempo; pelos seus cálculos, já deveriam ter chegado muito antes, mas eles tiveram seus motivos.
Halayna ficava cada vez mais chateada a cada proximidade do castelo. Ela sabia que teria que aguentar muita coisa e suportar outras que atestaria em todos os níveis que existissem sobre ela. Mas estava disposta a enfrentar, pois agora tinha motivos importantes para tal ação.
Kelvisk foi o primeiro a descer, ajudando Halayna, já que estavam na frente do príncipe. Ele os cumprimentou e deu um beijo na bochecha da jovem, que ficou séria no mesmo instante. Vilkus perguntou se teria como ele tomar um banho, pois a viagem foi bastante desagradável, e o príncipe ordenou que o levasse para que se aprontasse.
Depois de uma hora, a refeição foi colocada na mesa; todos foram chamados para se reunir, e já estavam sentados o imperador e sua esposa, aguardando os convidados.
Kelvisk se apresentou majestosamente, com modos de realeza; ele realmente sabia convencer os outros. Vilkus já era experiente no quesito, então era fácil para ele enganar nessa área. Já Halayna se esforçava bastante para agradá-los, mas era essa sua tentativa que a tornava especial; tentar ser alguém que ela não era a deixava bem elegante, apesar de deixá-la desconfortável consigo mesma.
— Diga-me, rei Kelvisk, o que pretende fazer para crescer sua dinastia? — Perguntou o imperador, interessado na questão.
— Bem, eu sinceramente não irei mais governar meu reino; deixarei tudo nas mãos dos meus súditos. Fui convidado pelo Rei Tauron para fazer parte dos seus conselheiros, e quero aproveitar muito bem essa oportunidade — Kelvisk disse, tomando algumas colheres de sopa.
— Hmm… peculiar da sua parte; não é qualquer um que tem a sua coragem. Fazer o que fará requer bastante determinação, mas entendo que o fardo do reinado realmente chega a ser cansativo muitas vezes, não é, querida? — Perguntou a sua esposa.
— Sim, mas Kelvisk, trará sua sobrinha para o palácio élfico? — Perguntou a imperatriz.
— Ainda estou resolvendo isso aos poucos; ainda vou assinar os documentos com o Rei Tauron sobre as comodidades da minha filha — falou em relação a Halayna.
— Com licença, se não se importarem, ela poderia ficar aqui conosco, não? — Aconselhou o príncipe Wylzer.
— Mas é claro, meu filho; ela será bem-vinda! — Disse a sua mãe.
— Senhor Kelvisk? — Indagou o imperador.
— Bom, essa decisão eu deixarei nas mãos da Halayna; ela já é bem grandinha e sabe decidir por si mesma — contou, levantando-se da mesa. — A comida estava ótima, muito obrigado; preciso respirar um pouco, com licença.
Com o fim do almoço, todos se dispersaram para seus quartos. Mas Wylzer convidou Halayna para ir até a biblioteca, conversar um pouco a sós.
Iniciando o assunto, ele pediu desculpas pelo beijo forçado que lhe deu, dizendo que tinha feito aquilo por ter sido dispensado pela princesa Ariella. E para descontar sua raiva, a beijou por impulso. Halayna ficou calada, séria, apenas ouvindo suas palavras e olhando as coisas ao redor, sem olhar para ele.
Tentando chamar sua atenção, ele disse:
— Halayna?! — Falou com uma voz grossa e de raiva.
— O que foi? — Perguntou, confusa.
— Me beije! — Halayna fez uma careta de imediato e, por impulso, deu um tapa na cara dele com bastante força, ficando a marca da palma da sua mão no rosto dele.
— Você realmente é um lunático, sabia?! Que ordem é essa que você me deu? Pensa que pode mandar em mim?!
Dando algumas gargalhadas de leve, ele falou:
— Interessante, muito interessante — disse, indo até a porta e fechando-a, trancando-a.
— O que está fazendo? — Ela perguntou, ficando nervosa.
— Sabe, eu sou um homem muito sábio para a minha idade; não é à toa que me chamam de grande príncipe, por causa da minha inteligência. Você acha que pode me enganar? — Perguntou, segurando os braços dela com as mãos e, com bastante força, a sacudindo.
— O que pensa que está fazendo?! Me solta! — Disse, ficando bastante irritada.
— O que você é? Uma bruxa? Uma maga? Me diga! — Ele perguntou, todo irritado.
— Não sou nada! E se fosse, não seria do seu interesse — falou, se soltando dele e indo até a mesa, onde havia algumas facas.
Rindo de nervoso, ele disse:
— Sabe como eu sei? Eu sou um bruxo e fiz uma bruxaria com a taça que lhe dei para beber esse vinho, para que você obedecesse a cada comando meu!
— O quê?! — Ela diz, dando um tapa na taça que estava em cima da mesa, fazendo-a cair no chão e quebrar.
— Mas sabe o que é intrigante? É que você não obedeceu, o que me faz pensar que você não é comum. O que você é? Fala! — Ele pergunta, embravecido.
— Sou uma feiticeira! — Ela revela, com ódio nos olhos.
— Hmm, uma feiticeira sem cajado? Isso é muito suspeito. Vamos ver se você realmente é uma! — Wylzer pega uma das facas sobre a mesa e lança uma bruxaria nela, ordenando que corte Halayna conforme seus pensamentos.
Halayna então corre em direção aos corredores de estantes de livros para se esconder. Até que há ali uma estátua de guerreiro usando armadura. Então, Wylzer lança outra bruxaria sobre ela, ordenando que a ataque, além de fazer algumas lanças que estavam guardadas perseguirem-na por todos os lados.
A jovem, sem poder fugir, diz:
— CHEGA! — Dizendo isso, Halayna invoca seu cajado, que surge de dentro de um portal, com um cristal roxo brilhante na ponta alta do objeto. — "No luar da noite, disfarçam seus gostos!" — Declarando o feitiço, ela desfaz a bruxaria de Wylzer, fazendo todos os objetos caírem no chão, imóveis.
— Minha nossa! Pelos deuses, esse cajado é…
— "NO DIA MAIS CLARO, CAIA NO DESESPERO DA RAIVA!" — E, lançando mais um feitiço, ela ordena ao cajado que faça Wylzer cair sobre o chão, sob o efeito de um sentimento de raiva profundo consigo mesmo, em seus pensamentos, ficando em agonia profunda. Halayna apenas ficou eufórica, cheia de raiva por tê-la feito invocar seu cajado. Wylzer não deveria tê-la provocado daquela maneira; ele mal fazia ideia do que ela era capaz.