Chereads / A Saga de Lunizs - Livro 2: O Escurecer / Chapter 5 - Uma Verdade Cruel

Chapter 5 - Uma Verdade Cruel

Quando ele disse que era o escolhido, Vilkus e Halayna ficaram sem entender o que significava ser aquilo, mas a mulher entendia muito bem. Ao ouvir essas palavras da boca dele, ela sorriu amplamente e deu várias gargalhadas por alguns segundos. Então, Kelvisk guardou a sua espada na bainha.

Voltando a olhar para ela novamente, ele ficou apenas observando seus olhos, o motivo de não acreditar no que acabara de dizer. Mas a mulher, percebendo a incredulidade em suas pupilas, parou bruscamente de rir. E, fazendo uma cara feia para ele, disse:

— Acha que pode me enganar, nobre homem?

— Não! — Kelvisk responde, cuspindo no chão.

— Humpf! Sabe quantos vieram aqui à minha procura, dizendo ser o escolhido… o tão aguardado escolhido? Até mulheres corajosas surgiram na minha frente!

— Eu sei! — Ele diz, fechando os olhos e segurando com uma das mãos o cabo da espada e, com a outra, a corrente que ficava enlaçada no seu peitoral.

— Humm… humm… interessante, muito interessante!

— Kelvisk? Eu já posso olhar? É que não estou conseguindo segurar a minha vontade de urinar, sabe, então… — Vilkus diz, colocando as duas mãos em suas partes íntimas.

— Você pode ir, elfo, mas não vá muito longe daqui! — diz a mulher, olhando para ele com malícia. — Me diga, Kelvisk… o que veio fazer aqui?

— Estou à procura de lobos, preciso de nove peles para entregar a um barqueiro. Quero que ele me leve ao continente dos grandes impérios — diz, abrindo os olhos.

— Humpf… apenas isso? Caso seja o escolhido, me diga mais uma coisa: o que faz ao lado destes dois plebeus? Não deveria estar fazendo coisas mais importantes…

— São apenas meus servos, eles fazem o que mando, apenas isso; me ajudam no cumprimento da minha jornada!

Dando gargalhadas altas novamente, ela diz:

— Servos peculiares esses que você escolheu, não? Uma feiticeira sem cajado na mão e um elfo da nobreza vivendo como um reles mendigo. Isso me faz questionar os seus métodos!

— Eles têm seus talentos, isso é tudo que importa!

— Humpf… admito que é tão seletivo consigo mesmo, mas lhe darei uma dica: o elfo não sobreviverá por muito tempo… deixarei vocês irem agora, foi um prazer conhecê-lo, nobre homem…

Quando ela termina suas palavras, Vilkus retorna amarrado por cordas e rodeado de vários homens, preso por correntes nos pés e com a boca tapada.

Halayna logo pega suas facas para lançá-las, mas Kelvisk faz um gesto com a mão mandando-a guardá-las. Em seguida, retira o capuz da cabeça e solta o cabelo que estava amarrado em um coque, balançando os fios para que cobrisse o rosto. Em seguida, fechou a cara, olhando fixamente para os homens.

— Parece que hoje é o nosso dia de sorte, meus amigos, e quando pensamos que só seria um, achamos mais dois — diz um deles, gargalhando alto.

— Soltem ele! — Halayna fala, ficando irritada.

— Opa, mocinha, quer conversar comigo mais tarde na minha cama? Adoraria recebê-la em meus braços! — diz o mais velho deles, dos oito.

— Ei você! Por que nos olha com essa cara de fome de trinta dias? Quer um petisco, cachorrinho? — pergunta o líder dos homens.

— Olha, olha, que oportunidade para que eu possa descobrir se você realmente é o escolhido… — diz a mulher, recuando para as sombras.

— Kelvisk? O que eles são? Humanos comuns? — Halayna pergunta, agitada.

— Eles são magos de classe média, eu diria, mas dois deles são de classe alta: o mais velho e o líder. Deixa que eu resolva isso, entendeu?

— Está bem, só tome cuidado.

— Vocês pretendem soltá-lo?! — Kelvisk pergunta, abrindo os braços e esticando as mãos. — Porque tenho algo que vocês não vão gostar!

— Velho? Você não sabe quem somos! Vamos entregá-lo para a Rusalka, assim como vocês dois, e poderemos comer por três meses tranquilamente!

— Então venham me pegar!

Assim que Kelvisk fala, o mais velho corre em sua direção com uma das mãos estendida e, quando se aproxima o suficiente, uma bola de energia roxa surge no meio de sua mão, jogando-a no rosto de Kelvisk.

— Gostou?! Tenho mais se quiser!

— Acho que você não treina há um bom tempo, não é? Permita-me te mostrar magia de verdade! — Kelvisk cria uma bola de energia roxa escura, com faíscas de luz branca, que atinge os dois peitos do mais velho, lançando-o longe contra a parede. Ele cai, desmaiado com o impacto.

— De onde tirou tanta força assim?! — pergunta o líder.

— Pode vir os seis ao mesmo tempo se quiserem! — Kelvisk diz, fazendo uma careta de irritado.

— Peguem ele!

Os seis rapazes correm na direção dele, com as duas mãos cheias de energias roxas, como bolas de fogo sendo disparadas no ar, em direção a Kelvisk. Todas atingem-no em cheio, mas nada acontece; apenas fumaça e faíscas de luz piscam por todo o corpo dele.

Os homens ficam parados, espantados com o que presenciam, mas sem acreditar no que acabara de acontecer. Kelvisk só poderia ser um monstro para ter suportado tantas bolas de magia ao mesmo tempo. Se fosse um homem comum, teria se tornado poeira de cinzas no mesmo instante, mas isso deixava claro que ele era outra coisa.

— Halayna? Pode me emprestar a sua adaga média? Vou precisar dela — Kelvisk pede, sem olhar para ela. — Obrigado. — Ele então desaparece da vista de todos e corre em direção a eles. Ao chegar perto de um, enfia a adaga no buraco do ouvido do homem, matando-o no mesmo instante.

Quando o rapaz cai no chão morto, todos os outros ficam assustados e, em nome de Hannibal, perguntam se ele também é um feiticeiro. Mas o que pergunta é atingido nas partes baixas, rasgando o membro em duas partes. O homem cai de joelhos no chão, gritando alto e sentindo muita dor.

Outro recebe uma cravada da adaga no pescoço, e o sangue espirra por todos os lados, com as veias do pescoço saindo para fora, caindo no chão e morrendo no processo. Em seguida, outro tem as pernas e as coxas rasgadas em vários cortes, também caindo sobre o chão. Mas então a adaga entra atrás do seu pescoço e a ponta sai pela boca aberta.

Sobrando apenas dois, fora o líder, eles decidem correr para fora do templo, mas Kelvisk mete a adaga com força no pé de um dos dois, fazendo-o gritar bem alto e ficar parado em sua frente. Então ele retira o objeto e lança, usando magia, que acerta em cheio o meio das costas do quinto homem, que estava quase fora do local, atravessando o corpo dele e saindo pelo outro lado, tendo passado pelo meio do coração.

O último que sobrou começou a enxergar Kelvisk em sua frente, como se estivesse embasado a sua vista. Então ele lhe poupa, mandando-o ir embora, e o rapaz sai pulando de um só pé, passando pelo meio do ambiente.

— Quem é você… — pergunta o líder, que ficou paralisado assistindo à matança, com Kelvisk se aproximando dele.

— Eu sou Kelvisk! — diz, lançando a mão com extrema força que atravessa o coração do homem, arrancando-o para fora do corpo e jogando-o no chão.

Halayna estava estapafúrdia com o horror que acabara de presenciar. Seu semblante estava caído, com o tamanho medo que o semblante de Kelvisk transmitia. Na verdade, ela não estava com medo dele, mas de outra coisa.

Ele foi até Vilkus, tirou as vendas dos seus olhos e removeu as correntes de metal que o prendiam. Vilkus disse que achou que aquele portal verde não iria desaparecer para que ele pudesse urinar, mas logo que deu o primeiro passo, a luz ao seu redor desapareceu instantaneamente.

Perguntou a Kelvisk o que teria sido aquilo, mas ele não respondeu nada. Apenas foi em direção a Halayna e lhe entregou sua adaga, que estava limpa do sangue dos malvados, agradecendo-a pela ajuda.

— Você está bem? — Halayna pergunta, confusa.

— Sim, e você? — Kelvisk retruca, olhando para ela. Ele limpa algumas gotas de sangue do seu rosto, que estava melado. — Assustada?

— Um pouco… mas estou bem — ela diz, abaixando a cabeça.

Logo, a mulher se aproxima novamente, saindo das sombras negras da noite. Vindo em direção aos três, mas olhando firmemente para Kelvisk, admirando sua forma de massacre sangrento. Suas habilidades eram especiais, e a agilidade, mais ainda. Ele realmente não era um homem comum, disso ela estava certa.

— Humpf… Kelvisk… Kelvisk… você me surpreendeu, meu nobre velho. Não sabia que tinha tanta disposição para dilacerar os outros — ela ri baixinho e suavemente.

— Você não iria embora? O que quer aqui ainda? Já lhe disse tudo que queria saber, não? — Kelvisk indagou, pegando a espada da bainha.

— Humm… não tenho mais perguntas para o possível escolhido. Podem fazer o que vieram fazer, vão pela sombra, aventureiros… — ela diz, desaparecendo na escuridão enegrecida e cheia de névoas.

— Rapaz… então quer dizer que essa mulher é uma rusalka? — Vilkus pergunta, amedrontado.

— Rusalkas existem mesmo? Sério? E ela era uma? — Halayna indaga, um pouco assustada.

— Sim, existem algumas. Elas têm a capacidade de adormecer e matar as pessoas, até mesmo qualquer sobrenatural, apenas com o som que sai dos seus lábios, e podem hipnotizar os homens com a sua beleza. Além de sobreviver debaixo d'água — diz, se preparando para lutar.

— O quê foi? Tem alguém vindo? — Vilkus questiona, olhando para a saída do templo.

— Halayna? Se prepare para jogar todas as suas facas, rápido! — Kelvisk ordena, ficando em posição de luta, segurando o cabo da espada com as duas mãos.

Quando os três se posicionam, uma alcateia de lobos chega ao local, um total de doze animais farejando o sangue dos corpos caídos no chão. Eles estavam com sede de carne, e suas salivas gotejavam de suas bocas insaciáveis para destroçar ossos.

Kelvisk apenas mandou Halayna se preparar para jogar as facas na direção da espada, assim que ele liberasse a onda de raios amarelos através da lâmina.

E quando fez, ela lançou como pedido, e todas as lâminas acertaram em cheio e com muita força cada uma das feras famintas, fazendo-as grunhir de muita dor.

Com todos mortos, só seria preciso agora ir buscar a carroça que eles deixaram na entrada da floresta, se ela ainda estivesse lá, pois não seria possível carregá-los. A noite estava começando, com a lua brilhando alto no céu, e a névoa de sempre daquela mata começou a surgir entre o chão, cobrindo os corpos assassinados. Eles teriam que esperar a madrugada se quisessem sair dali em segurança.

Vilkus passou a noite conversando com Halayna a respeito das travessuras que praticou na infância e, pela primeira vez, ela se abriu um pouco na presença dos dois. Aproveitaram também a ocasião e comeram as carnes dos lobos assados na fogueira que fizeram, e os três confessaram que era a primeira vez que provaram algo tão gostoso na vida; no entanto, o que os aguardava só os deixava mais inseguros em relação ao futuro.