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Chapter 4 - Um Possível Escolhido

Era tarde do dia quando Halayna se levantou, depois de um rápido cochilo que tirou. Ela não estava muito animada em ter que ficar em breve ao lado daquele príncipe ousado, mas, como tinha falado para Kelvisk, iria ajudá-lo em seus planos.

Vilkus treinava intensamente com sua nova espada por horas, até que avistou Halayna indo tomar banho no mar. Ela estava apenas com as partes íntimas cobertas, o que lhe chamou total atenção.

Kelvisk passou a manhã inteira meditando, segurando sua espada nas mãos para focalizar o poder da lâmina. Praticamente ele fazia isso todos os dias pela manhã, desde a madrugada até o meio-dia. Halayna ficava intrigada por ele não se cansar de fazer a mesma coisa sempre, mas ele apenas lhe fez careta.

— Layninha? Posso te perguntar algo? — Vilkus indaga, curioso.

— O que quer saber?

— Você gosta do Kelvisk? — Ele pergunta, mudando seu semblante do nada.

— Como assim? Já disse que não gosto dele. Por que essa pergunta agora, do nada?

— É que estou intrigado com algo que ele me disse, que acabo não conseguindo o que quero, porque fico querendo a sua atenção — fala, sorrindo levemente.

— E o que é que você quer conseguir além da minha atenção? — Ela pergunta, fazendo uma careta de deboche.

— Ah… nada não, nada não. Deixa pra lá.

Depois que os dois tomaram banho, saíram da água e foram até Kelvisk, que estava comendo alguns bolinhos de dragão. Vilkus lhe perguntou onde havia conseguido aquele tipo de alimento específico, pois era uma receita muito antiga, mas ele respondeu que comprou com um vendedor local, que ficava ali perto.

Eles estavam exatamente no território dos seis reinos, na costa leste, ao lado do mar. Havia ali um porto que era usado constantemente por visitantes e viajantes. Os três foram em busca de alguma embarcação que tivesse o destino dos grandes impérios, mas não encontraram nenhuma.

Até que, depois de muita procura, um senhor muito esperto percebeu a oportunidade de lucrar em cima deles três, oferecendo seu navio para levá-los aonde quisessem, ao menos que trouxessem nove peles de lobos.

Kelvisk perguntou se ele queria que matassem uma matilha inteira para conseguir essa quantidade toda, mas o velho homem não quis conversar. Esses eram os termos do seu acordo: era pegar ou largar.

Como eles não tinham opção, poderiam roubar a embarcação, mas faltariam servos para trabalhar no controle da mesma, que era enorme, no caso. Poderiam comprar os servos, mas suas moedas de ouro tinham acabado naquela altura, e as de prata não compravam ninguém naquela região.

E, por fim, Kelvisk não podia usar seus poderes, pois tinha bons motivos para não fazer isso. Infelizmente, teriam que ir buscar as peles. Poderiam também roubar o ouro, mas então teriam que retornar à cidade mais próxima, onde estavam quando receberam o convite do baile, e isso demoraria de três a cinco dias para chegar lá.

A única escolha era visitar a tão antiga conhecida Floresta Lamentação, exatamente no centro dela, onde havia um bosque gigantesco e um cemitério de pedras como templo do espírito da planta.

Assim que chegaram à entrada da floresta, Halayna comentou sobre as belas ruínas que viu dos reinos que visitaram rapidamente, reinos muito antigos de uma época esquecida no tempo.

— Que floresta sombria é essa, gente? Nem a Floresta Escura, onde ficam os elfos negros, é tão assustadora quanto essa — Vilkus fala, arrancando um pedaço de madeira de uma árvore velha.

— Já ouvi histórias sobre ela. Dizem que aqui moram algumas criaturas bem poderosas e que é um dos lugares mais perigosos de se estar. Tem certeza de que devemos entrar, Kelvisk? — Halayna questiona, temerosa.

— Vamos… — Kelvisk diz, caminhando para dentro da floresta.

Ela era conhecida por sua aura de energia maligna, mas isso era o que falavam sobre ela. Na verdade, o poder que irradiava era puro e, ao mesmo tempo, do bem. As únicas coisas ruins que existiam eram as criaturas sobrenaturais. Elas davam medo nos homens mais corajosos que desbravaram as partes mais afastadas e profundas do bosque.

Quando os três caminharam bastante e já estavam bem longe da entrada, começaram a ouvir um estrondo vindo em suas direções. E, quando menos perceberam, várias criaturas os rodearam, cercando-os de todos os lados. Eles carregavam machados bem afiados em suas mãos e faziam uma cara feia de raiva e incômodo com as suas presenças.

— O que fazem aqui, forasteiros?! — Pergunta o líder do grupo.

— Fiquem em silêncio, deixem que eu apenas fale. Confiam em mim — Kelvisk diz baixinho para os dois companheiros — viemos matar alguns lobos selvagens, grande rei!

— Gosto do seu modo cavaleiro, mas como está acompanhado desta fêmea frágil? Não sabe que aqui não há lugar para ela?!

— Fêmea?! Me chamou de fêmea? Por acaso eu sou um animal como você! — Halayna diz aos gritos.

— Ela me chamou de animal… — Diz, esbravecido e fazendo uma careta enorme.

— Halayna, pedi para ficar em silêncio. Não piora a situação, por favor — Kelvisk diz, começando a ficar irritado.

— Não mesmo! Não ficarei calada com um insulto desse. Você disse que sou frágil?! Frágil? Sério?! Eu vou te mostrar quem é frágil! — Quando Halayna pega uma das suas facas, Kelvisk ordena que ela durma, e ela cai no chão desacordada.

— Ela não irá incomodar mais, grande rei. Peço a sua permissão para poder entrar no cemitério das pedras, para destruir alguns lobos!

— Permissão concedida, grande homem, mas não me responsabilizo pelo que acontecerá com você e seus amiguinhos daqui por diante. Aproveite as minhas terras — diz o líder, indo embora com seus aliados.

— Poxa! Kelvisk? Aqueles eram minotauros. Ouvi descrições sobre eles, mas nunca podia imaginar que fossem tão assustadores de tão perto — Vilkus diz, muito aliviado.

— Coloca ela em cima do cavalo. Precisamos continuar, rápido!

Depois da conversa com os minotauros ferozes, eles chegaram finalmente ao cemitério de pedras, e ao adentrar, Halayna acordou do seu belo cochilo que tirou durante a rápida viagem no cavalo.

Suas costas doíam bastante, mas o que estava lhe incomodando mesmo era como ela adormeceu em segundos apenas com o comando de Kelvisk. Perguntou a ele se tinha usado seus poderes, mas ele disse que não. E ele não deu a ordem a ela, mas sim ao anel.

— Que lugar fedorento, pelos deuses — Vilkus fala, tampando seu nariz e fazendo careta.

— Acho que ninguém vem aqui há um bom tempo. Olha essas gosmas verdes e roxas, eca! — Halayna diz, com nojo.

— Cuidado vocês, não toquem em nada! — Kelvisk ordena, com raiva.

Com alguns longos passos adentrando o cemitério, eles chegam até a entrada do templo, uma robusta construção que, apesar de velha e antiga, estava em perfeitas condições. Não havia nenhum resquício de destruição por parte da construção inteira. Realmente era algo extraordinário.

— Quem fez esse templo? Deve ter sido um gênio para desenhar esses mínimos detalhes. Olha isso! — Halayna pergunta, admirando a estrutura.

— Olha! Uma espada com um cristal verde no centro do cabo… — Vilkus grita, correndo em direção a ela e a segurando, puxando-a, tentando retirá-la do chão, onde estava cravada no centro do templo.

— Vilkus?! NÃO FAZ ISSO! — Kelvisk grita, lhe ordenando com muita autoridade.

Quando Vilkus tenta puxar a espada, um estrondo acontece no chão, e uma luz verde começa a irradiar do cristal, criando logo em seguida um portal ao redor da lâmina.

Vilkus fica cercado por todos os lados pelo portal, sem saída. E fica com muito medo do que possa acontecer. Kelvisk lhe manda ficar parado e tirar as mãos do cabo da espada.

Mas, quando ele faz isso, um sorriso maligno é escutado, ecoando pelas paredes do templo, como um ruído agonizante aos ouvidos. Os três então caem sobre o chão, tampando as orelhas e rangendo os dentes com muita força.

Até que o som acaba, e depois de dez segundos, uma mulher surge das sombras, usando um capuz negro como uma flor escura da noite. Sorrindo levemente e com um tom em sua voz de maldade nos olhos, observa os três caídos, que estavam se levantando.

— Saudações, nobres convidados!

— Pelos deuses, que mulher mais deslumbrante! — Vilkus fala, admirando muito a beleza da moça.

— Vilkus?! Fecha os olhos, AGORA! — Kelvisk diz, socando a sua espada sobre o chão e liberando uma onda de magia ao redor da moça de rara beleza.

Dando algumas leves gargalhadas, a mulher diz:

— Humm… parece que temos um mago em nossa presença, mas me diga, nobre homem, quem é você?

— Me chamo Kelvisk!

— Hmm… você anulou a minha magia contra si mesmo, um poder interessante, mas bem peculiar, pois apenas mestres da magia conseguem fazer tal feito… e isso me faz questionar ainda mais: o que você é?

— Sou um bruxo!

— Um bruxo? Não me diga… me responda, nobre homem, como um bruxo consegue usar magia, algo que apenas os magos conseguem fazer? Pode me responder… — Questiona a mulher, com os olhos retocados um no outro, uma tentativa de penetrar no coração da vítima.

— A magia não vem de mim… — Kelvisk conta, levantando a sua espada e colocando-a em sua frente, ereta — ela vem desta lâmina!

— Humpf! Não me diga, nobre homem de cabelos brancos como a neve. Por acaso você sabe que espada é essa?

— Sim!

— Vilkus? Não é assustador vê-la fazendo o Kelvisk responder cada pergunta sem questionar nada? Sabe o quanto eu tentei fazê-lo responder pelo menos uma das minhas, e nem consegui… — Halayna diz, olhando fixamente para a mulher, toda assustada.

— Halayna, não deveria se preocupar com isso agora. Não deveria estar com os olhos fechados também, não? — Vilkus fala, abrindo uma brecha entre os seus dedos que estavam em seu rosto, cobrindo os olhos.

— Essa não é apenas uma espada comum, mas a tão conhecida lendária lâmina do grande Coldbreath, um objeto que deveria estar muito bem escondido de mãos humanas!

— Hum! — Kelvisk abaixa a cabeça, parando de olhar para a mulher. Em seguida, fala — você quer saber quem sou eu?

— Sim! Me diga… a… a… a… — ela sussurra em seus ouvidos lentamente, com um som estridente que toca o coração.

— Eu sou o escolhido!