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Chapter 2 - Um Convite Inesperado

Os três aventureiros viajaram bastante pelas terras do oeste, tanto que chegaram à última e grande cidade daquelas partes e decidiram repousar um pouco para descansar.

Vilkus veio o caminho todo incomodando Halayna, fazendo-lhe perguntas o tempo todo e querendo saber sobre sua vida particular, mas ela nem lhe deu atenção alguma. Kelvisk ficou apenas observando tudo; ele se incomodava com qualquer barulho, principalmente com conversas sem importância para ele.

Halayna tentou tirar algumas palavras da boca dele e, de vez em quando, lhe perguntava para onde eles estavam indo naquela direção, ao leste dali. Mas ele apenas fazia uma careta e ficava com raiva.

A cada pequena cidade que passavam, tentavam chamar a menor atenção possível, tanto que, quando Kelvisk disse que ela era sua prisioneira, ele cortou o longo cabelo negro dela e disse que aquilo iria tirar os olhos sobre ela.

Halayna chorou por duas noites inteiras pela perda do seu véu precioso; ela nunca o havia cortado em sua vida e amava cada fio. Vilkus tentou conversar com ela várias vezes, mas ela não queria ser incomodada. Kelvisk apenas ficou sério e lhe ordenou que acabasse com o escândalo.

O barulho era tão alto que os vizinhos que moravam ao lado foram até eles perguntar o que estava havendo. Kelvisk apenas liberou uma bola de energia roxa na mão e mandou-os embora assim que a mostrou. Ninguém era doido de confrontar um mago.

E pelas madrugadas, foi o auge do barulho. Halayna estava tão irritada que acabou aprendendo um novo poder sem querer; fez com que uma faca se teletransportasse em direção a Kelvisk, que estava no andar de baixo, ao lado de Vilkus.

Os dois ficaram surpresos com a capacidade dela, mas Kelvisk já esperava isso vindo de Halayna; sabia que a jovem tinha talento para se tornar uma grande feiticeira. Mas até ela mesma ficou chocada com o que fez; apesar da raiva e do ódio que estava sentindo, ela ficou muito feliz por dentro com o que aprendeu.

No terceiro dia, ela ficou treinando a nova habilidade e, em apenas uma semana, já conseguia controlar o poder com maestria. Vilkus ficou elogiando-a o tempo todo, querendo que ela lhe desse alguma atenção, mas ela apenas lhe dava fora e fugia de sua presença. O que ela queria mesmo era chamar a atenção de Kelvisk pelo menos uma vez; ele sim era um mistério de pessoa.

Entretanto, surgiram alguns imprevistos durante a viagem. Alguns bandidos estavam incomodando um pequeno vilarejo e roubando todo o sustento dos cidadãos. Halayna decidiu ajudá-los, mesmo contra a vontade de Kelvisk, mas como conseguiu convencer Vilkus, Kelvisk não teve escolha a não ser ajudar.

Depois de uma estratégia bem planejada para surpreender os homens, eles foram cercados por uma barreira mágica que Kelvisk criou. Assim, Halayna apenas lançou as facas no ar e usou seu feitiço para acertá-los no coração. Halayna não queria matá-los, mas Kelvisk disse que, como ela resolveu intervir no trabalho deles, seria necessário arrancar o problema pela raiz, pois, se os deixassem vivos, poderiam avisar as realezas sobre eles.

— Ei, Kelvisk? Acho que hoje ela pode me dar uma chance de ficar com ela. Faz tempo que venho tentando, mas ela não me dá nenhuma abertura — Vilkus fala todo ansioso.

— Você não consegue ficar sossegado quando está ao lado de uma mulher bonita? Tem que aprender a controlar seus desejos; essa sua vontade só te impede de conseguir o que quer — Kelvisk responde seriamente.

— Como assim? Eu não entendi, me explica direito isso, por favor, Kelvisk! — Ele diz quando Kelvisk se levanta e vai se deitar no andar de cima da taberna.

— Tudo bem? — Halayna pergunta e senta-se em uma cadeira ao lado de Kelvisk. — Olha, sei que gosta de ordenar as coisas, mas queria entender seus planos. Não poderia me contar nada?

Kelvisk apenas fica em silêncio, olhando fixamente para o teto, e depois fecha os olhos lentamente.

— Kelvisk?! Kelvisk? — Vilkus o chama, subindo as escadas correndo e parando em sua frente. — Olha! Recebemos um convite para participar do baile dos elfos negros. Pode ler a carta e me dizer quem vai estar presente dessa vez?

— Você não sabe ler? — Halayna questiona, olhando estranha para ele. — Você não disse que era da realeza e não sabe ler?

— Não brinca, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar do que ficar o dia todo aprendendo algo simples demais…

— Mais importante? Por exemplo, beijar a princesa? Me poupe das suas desculpas, me dá essa carta — ela lê atentamente. — Vão estar presentes o Imperador Goldon e a sua esposa Sheyla, além dos seus dois filhos, a princesa Luyza e seu irmão Wylzer, assinado o rei Tauron, rei dos elfos negros.

— Minha nossa, Kelvisk! Essa é uma das famílias mais importantes do continente leste. Sabe quantas riquezas eles têm? Muitas! Foi por um evento assim que eu me preparei a minha vida inteira; como queria estar presente.

— Você só pensa em riquezas e luxo? — Halayna lhe perguntou, fazendo careta.

— Se preparem… — Kelvisk diz, levantando-se da cama e descendo as escadas.

— Para quê? — Halayna pergunta.

— Para o baile, óbvio.

Os três então foram comprar roupas apropriadas para a ocasião. Vilkus queria logo algo extravagante, mas Kelvisk não queria chamar muita atenção. Halayna pegou algo simples, mas bem caro. Como todos tinham moedas de sobra, compraram tudo que precisavam. Kelvisk foi até uma barraca de armas e escolheu as facas mais finas e leves para Halayna usar, além de uma bela espada afiada para Vilkus.

Além de Kelvisk pegar algo simples para ele, mas meio chamativo, pois essa era a sua intenção, ele lhes disse que seria o tio de Halayna e Vilkus, seu conselheiro. E os três fariam parte de um reino muito forte do povo sombrio, onde viviam os antigos vikings.

Halayna não entendeu quais eram os motivos para essa grande mentira; achava que não daria certo, mas, para convencê-la, Kelvisk lhe disse que existiam muitos reinos poderosos entre o povo sombrio e que não seria difícil passar despercebido entre as realezas.

— Você está bonito, mas parece um velho — Halayna diz para Kelvisk.

— Minha aparência não é algo que me incomode; já você parece que se preocupa demais com isso. Para mim, é algo fútil.

— Você é chato mesmo… — Ela diz, saindo da sua presença.

— Oh, Kelvisk? Você teria algum objeto mágico que eu poderia usar, tipo um bracelete como o da Halayna? — Vilkus pergunta, um pouco agitado.

— Humpf… não acho que tenha algo de especial, mas posso te dar esse anel.

— O quê ele faz? — Pergunta, bastante curioso.

— Eu usei em algumas missões antes de te conhecer; espero que goste — diz, saindo do quarto do andar de cima.

— Mas espera, o que ele faz?

Depois de uma longa caminhada na carroça de beleza simples, simples até demais, eles decidiram comprar uma mais elegante e digna de um rei. Não queriam chegar e aparentar serem simples demais.

Infelizmente, lá se foram todas as suas moedas de ouro; sobraram apenas as de prata e algumas de bronze, o que ainda daria para comprar algumas bebidas durante as viagens.

Assim que chegaram ao portão real, todos os olhares foram fixados neles três, principalmente em Halayna. Vilkus, antes de descer da carroça, colocou o anel que Kelvisk lhe deu e nem percebeu o que aconteceu com ele assim que o colocou. Mas todos, assim que o viram, ficaram admirados com ele, e ele achou muito estranho; sabia que era bonito e elegante, mas Halayna estava realmente deslumbrante.

Logo que adentraram o salão principal, já havia chegado uma das famílias mais importantes, aquela que estava descrita no convite.

— Olá, jovem dama. Posso saber o seu nome? — Pergunta um nobre príncipe.

— Me chamo Halayna, este é o meu tio Kelvisk, e este é o seu conselheiro pessoal chamado Vilkus. Somos uma família de um reino do povo sombrio; prazer em conhecê-lo!

— O prazer é meu; me chamo Wylzer. Gostaria de conhecer a minha família?

— Pode ir, filha; não vamos desagradar o príncipe — Kelvisk diz elegantemente.

— Me acompanhe, por favor — fala o príncipe, pegando em sua mão.

— Kelvisk? É sério que a Halayna vai dar atenção para esse patife? Sabe quanto tempo estou tentando algo como isso? Muito!

— Temos coisas mais importantes para nos preocupar. Quero que me apresente o rei dos elfos e a rainha, além dos seus filhos, claro.

— Não é uma boa ideia. Sabe, caso não se lembre, eu era daqui e servo do rei. Se ele descobrir que estou aqui, com certeza serei morto. Não poderia me pedir algo menos perigoso, meu amigo?

— Não, por acaso você já se olhou no espelho? — Kelvisk o questiona, dando um sorriso de lábio rapidamente. — Acho que não.

— Como assim? Eu olhei antes de sair do quarto; tem alguma coisa estranha em mim — ele vai até um grande espelho e fica surpreso. — Minha nossa! Esse sou eu mesmo?! O que você fez, Kelvisk?

— Eu não fiz nada; você que me pediu o anel.

— Sim, mas não sabia que isso iria acontecer. Admito, eu gostei, mas vou ficar assim para sempre? — Antes de terminar a pergunta, Kelvisk já estava indo em direção ao trono para ficar mais perto das realezas.

— Meu amigo, me espera. Bem… aquele vestido com um sobretudo dourado é o rei Tauron, e aquela ao seu lado é a sua esposa Sariel. Não estou vendo um dos seus três filhos aqui.

— Bom saber…

Kelvisk ficou olhando atentamente para os reis; ele tinha muitos planos em mente para colocar em prática, e aquela realeza era seu alvo principal naquele momento. Por algum motivo especial, ele queria descobrir algo, mas ainda não sabia o que era. Provavelmente, Vilkus e Halayna iriam ajudá-lo a conquistar isso, mas será que iriam conseguir?