Eu o vi, uma presença escura, flutuando atrás de mim. Seu corpo vacilava, como se já não soubesse mais o que significava existir. Gula, um dia uma força da natureza, uma avalanche que arrastava tudo ao seu redor, agora não passava de uma sombra, uma lembrança de seu próprio pecado. Ele não estava mais no comando. Eu o havia feito entender que a fome não é algo que se controla, mas algo que consome até os mais fortes, até os que se julgam inquebrantáveis.
Sua presença ao meu lado era perturbadora. Ele já não falava, nem rosnava. Não sentia mais o impulso de devorar. Mas sua essência, a fome que o definia, estava ali, em sua forma espectral, uma sombra que ainda carregava o peso de tudo o que havia sido. A transformação que causei não o libertou; apenas o diluiu em um espectro vazio, um eco do que fora.
"Você me trouxe para cá. O que faço agora?" Gula sussurrou, sua voz agora cheia de incerteza e desespero. Já não era mais o grito de um ser insaciável, mas a súplica de um ser perdido, sem saber como existir sem o seu pecado.
"Agora, você observa", respondi com frieza, minha voz implacável, sem emoção. "Você seguirá comigo, mas em silêncio. A sombra que você é, agora é sua única identidade. O que você era, Gula, já não existe. E você terá que viver com isso."
Ele não respondeu, mas se aproximou, como uma sombra que se estende quando a luz se dissipa. Eu sabia que ele sentia a perda, o vazio do que se tornara. Sabia que, no fundo, ele já não era mais quem acreditava ser. Mas o Inferno, esse labirinto sem fim de dor e castigo, logo lhe mostraria que, em seus próprios pecados, ele ainda seria consumido.
Gula era uma sombra pulsante, um tumor negro rastejando pelo chão, sugando o ar, o espaço, como se o mundo ao seu redor fosse pouco para saciar sua existência. Não tinha forma definida, mas dentro daquela massa informe havia algo. Dois buracos negros que eu só poderia chamar de olhos, pois olhavam para mim com a fome de mil bocas. A voz dela, quando veio, não era som, mas uma presença esmagadora que penetrava direto na mente.
— Fale-me dos humanos, viajante, — ela sussurrou, mas soava como um trovão abafado. — Como são na sua terra?
Eu permaneci parado, cruzando os braços, observando-a com desdém. Não havia espaço para hesitação, nem para amenidades. Eu respondi como sempre faço: com a lâmina nua da verdade.
— Humanos? — minha voz era seca, quase um escarro. — Humanos são carniça animada, carne ambulante que acredita ter um propósito maior enquanto rasteja por cima dos cadáveres que criam. Eles se dizem racionais, mas matam por símbolos. Bandeiras, moedas, religiões. Criam guerras porque não suportam o vazio de suas próprias existências, e quando não estão se matando, passam o tempo devorando o mundo ao redor.
A sombra retorceu-se, como se absorvesse cada palavra com prazer.
— Mas o que eles desejam? — perguntou Gula, a voz reverberando como um gemido faminto.
— Eles desejam tudo, e ao mesmo tempo, nada, — continuei, minha voz afiada como uma lâmina. — Querem poder, mas se tornam escravos dele. Querem amor, mas reduzem-no a posse. Querem liberdade, mas vendem a alma por migalhas de conforto. São buracos no tecido do mundo, sempre famintos, sempre insatisfeitos, sempre prontos a destruir o que não podem ter.
Gula gargalhou, um som que parecia vir do abismo.
— Então eles são como eu, — disse ela, como se tivesse descoberto algo novo. — Uma fome sem fim, uma necessidade que consome tudo.
— Não, — corrigi, minha voz cortante. — Você é honesta em sua fome. Eles a escondem atrás de véus de moralidade. Chamam seus pecados de virtudes e suas virtudes de direitos. Consomem tudo, mas dizem que é em nome de algo maior. No final, humanos são piores que você. Você devora porque é sua natureza. Eles devoram porque escolheram isso.
A sombra cresceu, avançando para perto de mim, mas eu não recuei. Os buracos negros que ela tinha como olhos estavam fixos em mim.
— Há algo neles que valha a pena? — perguntou ela, como se fosse um desafio.
Eu ri. Uma risada seca, amarga, que ecoou como o som de pedras quebrando.
— Alguma vez já viu vermes tentando ser anjos? É isso que os humanos são. Criaturas que mentem para si mesmas, que se erguem sobre os cadáveres uns dos outros e chamam isso de progresso. Eles criam conceitos como pureza e bondade, mas são incapazes de vivê-los. Cada ato de bondade deles é uma moeda. Um preço. Até mesmo o amor deles tem etiqueta, um contrato invisível esperando ser quebrado. Não há nada puro no homem, apenas um apodrecimento que eles tentam esconder sob camadas de mentiras.
A sombra tremeu, e pela primeira vez, hesitou. Gula parecia menor, menos imponente, mas ainda inquieta, ainda faminta.
— Você fala como se estivesse acima deles, — ela disse, a voz agora mais baixa, como se medisse minhas palavras. — Mas você também é humano, não é?
Inclinei-me para ela, meus olhos fixos nos buracos negros que me encaravam.
— Sou humano, sim, mas ao contrário deles, eu não minto para mim mesmo. Aceito o que sou, enquanto eles passam suas vidas construindo castelos de areia para se esconderem de sua podridão.
A sombra se contorceu, recuando um pouco, como se minhas palavras tivessem atingido algo profundo em sua fome.
— Talvez você seja mais humano do que admite, — ela murmurou, quase com desprezo. — Ou talvez menos.
Fiquei em silêncio, observando-a se afastar, mas não havia necessidade de responder. Eu sabia a verdade. E no fundo, ela também sabia. Humanos não são criaturas de luz ou trevas. São apenas fome. Fome que consome o mundo e a si mesmos, enquanto fingem que isso é viver.
Os círculos do Inferno eram vastos, imensos. Cada um mais profundo, mais repleto de sofrimento e corrupção do que o anterior. Caminhei ao lado de Gula, sua forma etérea flutuando silenciosamente, como um reflexo do que fora. Ele não tocava o chão; era uma manifestação de uma fome eterna, uma sombra daquilo que um dia foi uma força imensurável.
O Círculo da Ira era um redemoinho de caos e violência incessante. O ar parecia vibrar com gritos de ódio e lamúrias. A paisagem estava tomada por um pântano escuro, onde almas enfurecidas se dilaceravam em combates intermináveis, submersas em lama até o peito, enquanto o céu estava sempre coberto de relâmpagos rubros, iluminando rostos distorcidos pelo ódio. Esse não era apenas o local da ira manifestada; era o lugar onde ela nunca cessava, alimentando-se eternamente das almas condenadas.
No início do caminho, vi Caim, o primeiro assassino. Ele estava parado, mas suas mãos nunca estavam quietas. Elas pingavam sangue fresco, como se o assassinato de Abel se repetisse em um ciclo eterno. Sua pele estava marcada por runas de fogo, representando o peso de sua culpa. À sua frente, um vulto translúcido de Abel aparecia e desaparecia, com uma expressão de calma que parecia enfurecer ainda mais Caim. Ele gritava, tentando alcançá-lo, mas Abel permanecia sempre fora de alcance. "Por que ele foi preferido?" Caim rugiu, seu ódio pulsando como um tambor. "Eu fui o desprezado, o esquecido! Minha ira era minha justiça!" Mas cada vez que ele tentava se mover, a lama o prendia ainda mais, subindo até seu pescoço, quase o sufocando. Ele era devorado por sua própria incapacidade de perdoar, sua ira aprisionando-o em um ciclo de impotência e frustração.
Mais à frente, o som de armas se chocando e gritos de fúria chamou minha atenção. Era Saul, o primeiro rei de Israel. Ele estava cercado por sombras, cada uma delas assumindo a forma de Davi, o homem que ele tanto odiou. Saul brandia uma lança, lançando-a incessantemente contra essas sombras, mas a arma sempre voltava para ele, cravando-se em sua carne antes de desaparecer e reaparecer em sua mão. "Eu fui traído!" ele gritava. "Meu trono foi roubado!" Mas suas palavras eram apenas ecos vazios, pois a lama do pântano subia a cada golpe, impedindo-o de avançar. Seus olhos estavam queimados por lágrimas de raiva, e seu corpo parecia desgastado por um esforço inútil e eterno. Ele estava preso em sua paranoia e inveja, incapaz de aceitar que sua própria ira o havia destruído.
Ao cruzar uma ponte de pedras quebradas, fui recebido pelo som de um exército em marcha. Lá estava Ares, o deus grego da guerra, envolto em uma armadura que gotejava sangue. Seu rosto era uma máscara de fúria pura, e ele brandia uma espada que parecia pesar mais a cada golpe que desferia. À sua volta, uma guerra eterna se desenrolava, com soldados se matando sem fim, apenas para ressuscitarem e começarem tudo de novo. "Eu sou o fogo da destruição!" Ares rugia, seus olhos brilhando como carvões em brasa. "Eu trago a ordem pela força, o poder pelo caos!" Mas a guerra que ele alimentava também o consumia. Cada golpe o feria, cada vitória o deixava mais vazio. Ele era um prisioneiro de sua própria natureza, condenado a liderar um exército que nunca venceria uma batalha.
Logo após o campo de batalha, encontrei Medusa, isolada em uma caverna de espelhos quebrados. Seu corpo estava retorcido, suas serpentes se enroscavam em sua carne, mordendo-a incessantemente, enquanto ela gritava de dor e raiva. Seu olhar petrificante não funcionava aqui; ao contrário, ela era forçada a encarar seu reflexo nos cacos de espelho ao redor, vendo-se como o monstro que o mundo havia feito dela. "Eles me transformaram nisso!" ela sibilava, lágrimas de sangue escorrendo por seu rosto. "Eu era inocente! Minha ira é minha justiça!" Mas os espelhos devolviam suas palavras com zombaria, e cada vez que ela tentava destruir um deles, outros surgiam em seu lugar. Sua raiva não a libertava; apenas a prendia mais profundamente na dor de sua transformação e traição.
Ao sair da caverna, fui confrontado por uma figura imponente e brutal: Genghis Khan, montado em um cavalo feito de chamas. Ao seu redor, cidades em miniatura eram destruídas repetidamente por mãos invisíveis, apenas para se reconstruírem e serem destruídas novamente. "Eu conquistei o mundo com minha ira!" ele bradou, sua voz retumbando como trovão. "Minha fúria era minha arma, minha vingança minha motivação!" Mas cada vez que ele avançava, o cavalo se desintegrava sob ele, e ele era forçado a caminhar, com a lama do pântano agarrando seus pés e o impedindo de prosseguir. Sua grandeza estava reduzida a nada; o conquistador era agora apenas mais uma alma condenada, sua ira sendo o peso que o puxava para baixo.
Finalmente, encontrei Ivan, o Terrível, sentado em um trono quebrado, cercado por corpos distorcidos que representavam suas vítimas. Ele segurava uma coroa feita de espinhos que afundavam em sua cabeça, enquanto seu próprio filho, que ele matara em um acesso de raiva, permanecia de pé à sua frente, com um buraco sangrento onde o crânio havia sido esmagado. "Eu fui um rei poderoso!" Ivan rugiu, tentando justificar sua ira. "Minha fúria era meu direito, meu dever!" Mas sua voz era abafada pelos gemidos das almas ao seu redor, cada uma clamando por justiça. Sua própria coroa parecia pesar toneladas, fazendo-o se curvar até que seu rosto estivesse na lama, incapaz de se levantar. Ele era um monumento à autodestruição causada pela ira, um rei cuja raiva o havia reduzido a menos que um homem.
O cenário do circulo da Ira é um inferno lamacento e pavoroso chamado Iran. O chão está coberto por um pântano espesso de lama negra, viscosa e pegajosa, que engole as almas a cada movimento. A lama não é apenas sujeira, mas um reflexo da raiva corrosiva que permeia as entranhas de cada condenado. A água turva é cheia de miasmas venenosos, com um cheiro nauseante que mistura carne apodrecida, sangue coagulado e fogo ardente. O céu é carregado por nuvens densas e ameaçadoras, tingidas de vermelho e preto, como se o próprio ar estivesse queimando, o que torna a respiração uma tarefa difícil, sufocante e envenenada pela raiva. A atmosfera é opressiva, como uma pressão psicológica que aumenta a cada momento, fazendo os condenados sentirem sua própria fúria borbulhando em seus corpos, que se retorcem com dor.
As almas dos irados estão submersas até o pescoço nessa lama fétida, com os corpos deformados e distorcidos, como se a raiva houvesse mudado sua estrutura física. Seus olhos são injetados de sangue, os rostos contorcidos em expressões de ódio e desespero, suas bocas apenas saindo da lama para emitir gritos de agonia que são abafados pelo som do pântano, mas que ecoam no ar como uma sinfonia de sofrimento. Cada condenada tenta se mover, mas a lama se adere ao seu corpo, puxando-as para baixo, fazendo com que músculos e ossos se rasguem, cada movimento um esforço brutal e inútil. A lama é quase líquida com uma viscosidade infernal que causa feridas abertas à medida que elas tentam se levantar, as peles rasgando e os músculos estourando de tanta força. O esforço para respirar é torturante, com sangue misturando-se à lama conforme seus pulmões são preenchidos com a mistura de ar denso e podridão.
O mais horrível é que a ira nunca se apaga. A cada tentativa de movimento, a lama destrói ainda mais seus corpos, fazendo com que as feridas se reabram constantemente. Entranhas caem para fora dos corpos, expostas e retorcidas pela força da raiva e pelo desespero. O sangue fervente mistura-se com a lama, criando um turbilhão de vísceras e carne despedaçada. Seus olhos, cegos pela fúria, não conseguem ver nada além da violência, suas bocas continuam a gritar, mas nenhum som é ouvido, apenas o rugido da dor e do ódio. O fogo da raiva arde dentro de suas vísceras como um incêndio sem fim, queimando e consumindo seus órgãos, mas sem nunca destruí-los completamente. Eles são forçados a sentir a dor da raiva de dentro para fora, como se as chamas que consomem sua alma se manifestassem fisicamente, queimando-lhes os intestinos, os pulmões e o coração, mas de uma maneira tão profunda que cada pedaço queimado volta a crescer, intensificando o sofrimento.
As lutas são eternas e brutais. Os irados não param de se atacar. Haviam homens e mulheres extremamente raivosos fazendo de tudo para saciar sua ira, alguns estrupando e batendo em crianças para descontar sua ira, o mesmo as crianças faziam com os bebês que ficaram irados pelos seus pais matarem eles por simplesmente não terem condições financeiras para tratarem eles, outros lutavam um contra os outros arrancando a pele e chegando em carne viva até alcançarem os órgãos e depois os batiam no resto dos corpos até as vísceras sairem. Suas mãos estão cheias de feridas e sangue, e eles se espancam uns aos outros, rasgando a carne com as garras, mas tudo o que conquistam são mais feridas, mais sangue. Não há vitória, apenas agonia e destruição intermináveis. Cada alma rasga e é rasgada, suas bocas vomitam palavras de ódio, mas essas palavras se tornam apenas eco de sua raiva insaciável, um ruído que nunca termina, pois nada pode apagar a dor que consome suas carnes. As entradas de seus corpos se abrem de novo, drenando líquidos, sangue, entranhas, ossos quebrados, tudo se misturando ao pântano. Não há misericórdia, apenas um ciclo de violência infinita, onde os corpos se destroem e se regeneram constantemente, como se a própria ira fosse uma força regeneradora, trazendo de volta o sofrimento, mas nunca a cura.
Aqui, o sofrimento não era abstrato. Ele era físico, tangível. As paredes do Inferno não eram feitas de pedra ou fogo, mas de carne dilacerada, de vísceras espalhadas e ossos quebrados.
"E agora?" Gula perguntou, sua voz ansiosa, quase desesperada. "O que fazemos agora?"
"Agora, vamos aos outros", respondi, sem hesitação. "O Inferno é dividido. Cada círculo reflete um pecado capital. E você, Gula, é apenas o primeiro de muitos."
Ele não disse nada, mas seus olhos, vazios como a própria escuridão, pareciam refletir uma compreensão vaga. Ele sabia que sua jornada não acabaria ali. O que o aguardava era mais do que ele poderia compreender agora. Eu o guiava, mas ele já não tinha controle. Não no Inferno.
Nos movemos pelo labirinto do Inferno, o ar ficando cada vez mais quente à medida que nos aproximávamos do segundo círculo. O vento carregava gritos, uma mistura de dor e raiva, uma violência emocional que parecia cortar o próprio ar. O pecado da Ira estava ali, tomando forma em cada alma condenada, cada figura que vagava por aquele círculo infernal.
Ali, almas consumidas pela raiva eterna lutavam sem cessar. Cada uma delas, deformada pela violência que os consumia, se agredia com uma fúria irracional. Não havia descanso. Eles estavam presos a um ciclo sem fim de ódio, alimentando-se uns dos outros. Eu sabia que não poderia perder tempo. O pecado da Ira precisava ser confrontado, não com misericórdia, mas com implacabilidade. Cada pecado necessitava ser enfrentado de uma maneira única, forçando as almas a confrontar sua própria fragilidade. Eu já fizera isso com Gula. Agora, era a vez da Ira.
"Veja, Gula", disse, apontando para as almas enfurecidas, lutando até não restar mais nada. "Aqui, a raiva nunca encontra alívio. Eles se consomem em um ciclo eterno de violência. Não há descanso, nem propósito. Cada um é o reflexo de outro, incapaz de escapar do que os define."
Gula olhou, mas parecia incapaz de compreender. A raiva no Inferno não era uma chama que se acende e apaga. Ela se perpetuava sem fim. Assim como Gula se tornara uma sombra de sua fome, aquelas almas eram agora as sombras de sua violência, condenadas a um tormento infinito.
À medida que avançávamos para o próximo círculo, o ar começou a se tornar denso, quase pesado. A pressão parecia se acumular, como se a própria essência do Inferno estivesse se moldando para algo maior. O calor aumentou, e, com cada passo, uma presença maligna mais forte nos envolvia. Eu sabia o que estava prestes a encontrar.
No centro de tudo, no fundo do abismo, estava ele: Lúcifer, o anjo caído. Sua presença era avassaladora, um peso que parecia esmagar tudo ao seu redor. Ele estava sentado em um trono feito de gelo, uma figura imponente, refletindo a dor da sua queda. Mas havia algo mais, algo que eu não poderia ignorar. Lúcifer não era apenas a personificação do sofrimento. Ele era o arquétipo de todos os pecados, o líder dos caídos, o reflexo do orgulho.
"Finalmente, você chegou", Lúcifer disse, sua voz profunda, ecoando nas paredes do Inferno. "Eu sabia que alguém viria. Mas você, jovem mortal, parece ter algo que os outros não possuem."
Eu o encarei, minha postura calma, mas o coração pulsava forte, ciente do grande confronto que se aproximava. Lúcifer era mais do que um simples pecado. Ele era o orgulho, a queda, o vazio de um ser que se rebelou contra a ordem divina.
"Você é uma ilusão, Lúcifer", falei com tranquilidade, minha voz firme. "Assim como os outros pecados. Mas você não é invencível. Todos aqui são escravos do que criaram para si mesmos."
Lúcifer sorriu, um sorriso de desdém amargo. "Você se engana, jovem. Ouvi dizer que você fez a gula se auto-destruir usando um gatilho, você é bastante inteligente. Eu sou a liberdade. Eu sou o desejo de ser mais do que qualquer ser poderia ser. Você, que caminha com a sombra de Gula, pensa que pode controlar o Inferno? O que você não percebe é que ele, como todos os outros, já está perdido."
Eu sabia o que ele desejava. Ele queria me desafiar, me atrair para um jogo de poder, que eu sabia que não poderia vencer, sua autoridade era praticamente absoluta.
"Não sou eu quem está perdido, Lúcifer", disse, dando um passo à frente. "Sou eu quem fará todos aqui revelarem o que realmente são."
Lúcifer riu, e foi embora nas sombras.