Acordo com o grito irritante do Marcel, me fazendo perceber que estou atrasada.
— Duarda, levanta! Já estamos mais de oito minutos atrasados! A Celine e o Will foram na frente, vai logo!
Com um suspiro derrotado, me vejo obrigada a me levantar.
Olho em volta e percebo que o Will, com seu toque obsessivo por limpeza, arrumou o meu quarto novamente. Tudo está impecavelmente organizado, como se eu nunca tivesse dormido ali. Cada livro na estante está alinhado, as roupas que eu deixei jogadas na cadeira estão cuidadosamente dobradas, e até a cama parece ter sido feita com perfeição, embora eu tenha saído dela com pressa.
Ele deve ter passado um bom tempo aqui, mas imagino que o quarto da Celine tenha dado muito mais trabalho. Sabemos que ela é um caos ambulante, sempre deixando coisas espalhadas por todo canto. Deve ter sido uma verdadeira missão para o Will dar conta daquela bagunça.
Enfim... Me pergunto se ainda há tempo de assistir à primeira aula, e se terei que ir de meias coloridas novamente. Espero que a Celine não me zoe por ser uma dorminhoca.
— Duarda, se arruma logo! Você não quer ser zoada de novo por chegar atrasada, né?
Marcel grita, a impaciência clara na sua voz.
— Cala a boca, Marcel! Eu só bebi demais ontem à noite, só isso! — Respondo, jogando um travesseiro nele.
— Idiota. — Ele rebate, desviando com facilidade e cruzando os braços, já sem paciência.
— É você, seu chato! — Retruco, revirando os olhos, mas com um sorriso no rosto.
---
Finalmente, chego à faculdade, e lá estou eu, com meias coloridas novamente. Uma combinação bizarra de patos de um lado, com cores vibrantes e estampas fofas, e o outro completamente colorido, com desenhos de arco-íris e nuvens flutuantes.
As meias são tão extravagantes que parece que estou usando dois pares diferentes ao mesmo tempo. Tenho certeza de que essa meia é da Celine; seus gostos são... bem, diferenciados. Ela adora coisas fora do comum, e eu, aparentemente, acabo sendo a cobaia das suas escolhas malucas de moda."
Enquanto caminhamos apressados pelo corredor, Marcel me observa com uma expressão preocupada.
— Não está preocupada? Hoje a primeira aula é com o Professor Flávio. Ele te deu um sermão da última vez que você se atrasou e disse que não deixaria passar da próxima.
Marcel diz, com um olhar sério e uma leve frustração na voz.
—Sério, Duarda, você sabe como ele é. Não vai ser legal se ele começar com aquele discurso de novo.
— Qual é, Marcel, por que você tem que me lembrar daquele professor irritante? Mas, respondendo a sua pergunta, é claro que estou preocupada...
Admito, suspirando fundo.
— Meus pais me pressionam a ser pontual, e a última coisa que quero é que o Professor Flávio peça uma reunião com eles por causa do meu atraso.
Deixo essas preocupações de lado e entro na sala de aula. Assim que a porta se abre, sou recebida pela visão de Celine e Will. Eles estão conversando, ou melhor, Celine está falando animadamente, enquanto Will foca em seus estudos, imerso no livro.
Quando Celine me vê, seus olhos rapidamente caem nas minhas meias, e um sorriso travesso aparece em seu rosto. Ela solta uma risada curta, mas claramente satisfeita com o que acabou de perceber.
— Curti as meias! Estão bem chiques, viu? — Celine diz, com aquele sorriso de quem sabe exatamente que estou me sentindo desconfortável. Ela observa as cores vibrantes e as estampas de patos nos meus pés, como se estivesse avaliando cada detalhe.
Eu deveria estar acostumada com isso. Celine sempre tem suas ideias malucas de moda, e, como de costume, sou eu quem acaba usando as roupas mais estranhas. Não posso negar, as meias são dela. Ela tem um gosto... peculiar. Tento não dar muita bola, mas, mesmo assim, não consigo evitar a sensação de estar usando algo ridículo. Forço um sorriso, mas não consigo disfarçar a irritação que começa a se formar.
— Ah, claro, Celine — digo, tentando manter a calma, mas sentindo a raiva crescer um pouquinho por dentro. Mas continuo: — Porque meu gosto em moda é sempre impecável, né? — respondo com um sorriso forçado, tentando disfarçar o embaraço. Na verdade, eu adoraria poder sumir com essas meias coloridas que, aparentemente, só ela acha "chiques".
Ela se aproxima um pouco mais, examinando as meias com atenção, claramente prestes a dizer algo mais. Eu já posso prever a zoação que está por vir, mas antes que eu consiga responder, a porta da sala se abre com um rangido alto, fazendo todos se calarem instantaneamente.
Os passos firmes ecoam pelo ambiente, e a atmosfera muda na hora, como se todos soubessem que aquele momento era crucial. Celine, que estava prestes a retrucar, se cala no meio da frase, seu olhar desviando rapidamente para a entrada. Até Will, que normalmente ignora qualquer coisa que não envolva livros, levanta os olhos da leitura e observa a porta, sentindo a tensão que paira no ar.
A porta se fecha com um estrondo suave, e, com o silêncio absoluto, todos sabem quem acabou de entrar.
Eu sabia o que estava prestes a acontecer. Era claro para todos nós: o Professor Flávio.
O som dos lápis batendo contra o papel parecia agora ainda mais alto no silêncio absoluto. Todos ficaram paralisados, esperando a próxima palavra que viria dele.
— Duarda. — Ele diz, em um tom que poderia congelar água fervente. — Você sabe que a pontualidade é uma virtude. O resto da sala parece prender a respiração. Ele faz uma pausa, como se estivesse esperando algo.
E então, ele vira para Marcel, que está sentado ao meu lado, com uma expressão nada amistosa.
— E você, Marcel? — Ele continua, com a mesma intensidade. — Deixe-me adivinhar: estava esperando que ninguém percebesse seu atraso também?
Eu me lembro agora de que o professor tinha saído da sala por um momento antes de chegarmos, provavelmente para conversar com alguém no corredor. Quando ele voltou, deve ter visto nós dois entrando juntos, logo após a aula ter começado. Ele não perdeu tempo, sabia exatamente o que estava acontecendo.
O silêncio aumenta, e eu posso ver a expressão de Marcel mudar para um semblante desconfortável. Ele provavelmente não esperava ser repreendido junto comigo.
— A próxima vez que alguém se atrasar, não importa quem seja, a reunião será com todos os envolvidos, entendeu? — Ele diz, lançando um olhar severo para nós dois, os olhos penetrando em nossos rostos com uma intensidade que faz até o ar parecer mais pesado.
---