Entramos na cafeteria, e o interior era tão impressionante quanto a parte de fora. As mesas de madeira brilhavam de tão limpas, cercadas por tulipas coloridas que davam um toque vibrante ao ambiente. Era um lugar que transmitia paz e uma sensação de liberdade... Algo que eu deixei de sentir desde aquele dia.
Flashback:
Barulho de chuva e trovões.
"VOCÊ NÃO É NADA!" A voz ecoava na minha mente, misturada ao som da chuva e trovões. Meus braços ainda doíam como se carregassem um peso invisível... Eu...
Fim do flashback.
Aquela memória veio sem convite, como uma tempestade repentina. Mas agora não era hora de pensar nisso. Não aqui, não com os outros vendo.
– Duarda? – A voz de Will me trouxe de volta.
– Oh, claro, eu? – respondi, confusa, piscando rapidamente como se estivesse acordando de um pesadelo.
Os olhares de preocupação de Will, Celine e Marcel estavam sobre mim. Já Théo, parado próximo ao balcão, me olhava de forma estranha, seus olhos coloridos fixos em mim por um breve instante antes de se desviar.
– Se sintam à vontade. Peçam o que quiserem. – disse Théo, sério, nos guiando até uma mesa próxima à grande janela.
Mesmo depois disso, percebi que os olhares de Celine e Will permaneciam um pouco atentos, como se esperassem qualquer outro sinal de que algo estava errado. Marcel, por sua vez, disfarçou a preocupação com uma conversa animada sobre o cardápio, tentando aliviar o clima.
Do lado de fora, o cenário era de tirar o fôlego. Lojas coloridas, flores delicadas e, ao longe, montanhas verdes que pareciam tocar o céu. Uma brisa fresca entrou pela janela, acariciando meu rosto e acalmando meus pensamentos. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti como se pudesse respirar novamente.
Théo Gonçalves caminhou até nós, carregando um cardápio em mãos. Ele o colocou sobre a mesa com precisão quase militar.
– Escolham o que quiserem. – sua voz era baixa e direta.
Pedi um café alemão, enquanto Celine escolheu um mocha e Will optou por um café Dalgona. Marcel, sempre exagerado, pediu um cappuccino e um pedaço de bolo de cenoura com calda de brigadeiro para dividir entre todos nós.
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– Estava realmente bom. Seu irmão é esplêndido. – disse Celine, com um sorriso largo.
Will demonstrou desconforto com a fala de Celine.
– Obrigada, Celi. Meu irmão mais velho sempre foi apaixonado por café, então pra mim, como irmão mais novo, é ótimo saber que ele tem talento para isso. – respondeu Marcel, com um sorriso de orelha a orelha.
– Foi realmente bom... – eu e Will dissemos a mesma coisa no mesmo momento. Marcel e Celine nos olharam e começaram a dar risadinhas baixas.
– Idiotas... – falou Will, com um toque de zombaria.
Nos despedimos de Théo e voltamos para o dormitório, exaustos após um longo dia.
Estávamos sentados na sala, onde havia uma pequena TV e um sofá cinza que poderia facilmente acomodar seis pessoas. Um enfeite de girassóis estava no canto da estante de madeira, e na TV assistíamos a O Estranho Mundo de Jack.
– Estou realmente com sono, que bom que o filme já está acabando. – disse Celine, bocejando de tanto sono.
– Está cedo para você, Celine. – Will comentou, apontando que ela raramente dorme tão cedo. – São apenas 00:30.
– Isso é realmente tarde. – disse eu, meio surpresa com o horário.
– Claro que é, vamos desligar e ir dormir em nossas camas. Terminamos o filme depois. – disse Will, já se preparando para levantar do sofá.
– Ok, vou acordar o Marcel para ir pro seu quarto. – eu disse, com uma voz realmente cansada.
Depois que acordei Marcel para ir para o seu quarto, todos apagamos as luzes e fomos nos deitar.
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No dia seguinte, após acordarmos, fomos para a aula. Mas eu não conseguia tirar Théo da cabeça... Théo Gonçalves. Ele não era bom de papo, mas havia algo nele que me atraía. Talvez fosse a beleza? Não... Era mais do que isso... Apenas não sei o que é.
– Celine, nós somos dupla no trabalho, então por favor... Se enfoca dessa vez. – disse Will, parecendo cansado.
Celine pegou o papel e disse: — Ok, Will, confia em mim dessa vez. — Mas, ao invés de começar a escrever, começou a desenhar corações no canto da folha.
Will revirou os olhos. — Por favor, me dê força.
– Que tédio... – disse Marcel, com uma voz fraca.
– Bem... Acho que é aqui que nos despedimos. Hoje vou para casa passar dois dias com o meu irmãozinho. Hoje é o aniversário dele, ele está fazendo 10 anos! – disse eu, com um tom genuinamente feliz.
– Feliz aniversário para seu irmão, Du. Aquele garoto realmente cresceu bastante. – disse Celine, com um sorriso leve.