Minha vida de criminoso finalmente chegou ao clímax mais miserável. Não em uma cela suja, como eu sempre imaginei que seria, mas em uma sala de experimentos. Aqui, onde luzes frias banham paredes de aço, eu não passo de mais uma cobaia descartável. Para eles, sou apenas carne, sangue e ossos. Não importa quem eu fui ou o que fiz. E, honestamente, eu não sei se importa para mim agora.
Preso a uma mesa vertical, minhas mãos e pernas estão firmemente amarradas. O metal frio das algemas aperta minha pele, marcando-a com sulcos vermelhos. Meu peito está exposto como um alvo perfeito. O uniforme hospitalar que me deram fede a mofo e desespero, um lembrete de que ninguém aqui dá a mínima para o conforto de um homem que está prestes a morrer. Ou pior.
À minha frente, um cristal negro flutua dentro de uma cúpula de vidro. Ele pulsa com uma luz fria, intermitente, como se estivesse respirando. Cada pulsação faz as runas ao seu redor brilharem de forma quase hipnótica. Parece que o próprio cristal está me observando, estudando-me, talvez ansiando para entrar em mim. Uma ideia absurda, mas que não consigo tirar da cabeça.
O silêncio na sala é opressor, interrompido apenas pelo zumbido constante das máquinas. Esse som é como um gotejar de água em uma cela escura, uma tortura lenta que mexe com os nervos. Tento mexer os dedos das mãos, avaliar alguma chance de fuga, mas as amarras são resistentes. Nada vai adiantar. Só me resta esperar.
A porta da sala se abre com um rangido metálico. Instintivamente, meus olhos se voltam para lá. Um grupo entra: magos em túnicas ornamentadas, movendo-se como se fossem donos do lugar, e cientistas vestindo jalecos impecáveis, com o ar clínico de quem já viu muitas mortes e acha todas elas banais.
À frente de todos está um homem que parece ser o líder. Seus cabelos estão penteados para trás, e ele usa óculos redondos que refletem a luz branca e estéril do laboratório. O sorriso em seu rosto é tão deslocado quanto um palhaço em um funeral. Ele parece genuinamente animado.
— Então, este é o nosso voluntário? — diz ele, inclinando a cabeça como um predador analisando sua presa. Sua voz é tão afiada quanto sua expressão.
— Sim, Dr. Martin. Um criminoso do Distrito de Ferro. — responde um dos magos, com um tom carregado de desdém. Ele ajeita suas luvas mágicas com precisão calculada, como se o ato de se sujar com a minha existência fosse repugnante. — Um espécime ideal. Resistente e... completamente descartável.
Resistente. A palavra ecoa na minha cabeça. Resistente o suficiente para quê? Eu rio internamente. Se ao menos eles soubessem. Resistência nunca foi o meu forte. Não resisti quando perdi minha família, não resisti quando me joguei no crime. Eu sempre fui o primeiro a ceder, a correr.
Martin ri baixo, uma risada quase amistosa, mas cheia de veneno. Ele caminha em minha direção, aproximando-se com passos medidos, quase dançantes. Quando ele chega perto o suficiente, ajusta os óculos e observa meu rosto com uma expressão de falso interesse.
— Bem, bem... Você é mesmo um espécime interessante. Está prestes a presenciar algo que ninguém jamais viu antes. O início de uma nova era. A união perfeita entre ciência e magia. — Ele se inclina um pouco, como se fosse compartilhar um segredo. — Você deveria se sentir honrado.
Honrado. As palavras dele quase me fazem rir. Se minha boca não estivesse amordaçada, talvez eu soltasse algum comentário ácido. Algo como: "Honrado? Claro, quem não gostaria de ser amarrado e transformado em um experimento fracassado?" Mas só consigo encará-lo com o olhar mais desprezível que posso reunir.
Ele percebe minha expressão e ri. É uma risada gutural, quase uma celebração da minha impotência.
— Não me olhe assim — diz ele, batendo de leve na minha bochecha, como se eu fosse um animal de estimação rebelde. — Logo você não sentirá mais nada. Ou... sentirá tudo. É difícil prever. Ainda estamos aprendendo.
As palavras dele ressoam na sala, mas eu quase não as ouço. Minha mente começa a vagar. Penso no Distrito de Ferro, nas ruas estreitas e cobertas de fuligem. Foi lá que cresci, e foi lá que me perdi. Penso em minha irmã mais nova. Será que ela ainda pensa em mim? Ou sou apenas uma sombra em sua memória agora? E minha mãe? Ah, sim, minha mãe... Ela provavelmente ainda está rezando por mim, em algum canto escuro. Se ao menos ela soubesse onde estou.
— Posicionem o cristal! — a voz de Martin corta meus pensamentos como uma faca.
Dois cientistas se movem rapidamente, ajustando os cabos e controles das máquinas que cercam a cúpula. O cristal negro parece reagir à movimentação, pulsando com mais intensidade. As runas em seu redor brilham como uma tempestade de raios em miniatura.
— Certifique-se de que ele esteja estável — ordena um dos magos, franzindo a testa. — A última coisa que queremos é... outra explosão.
Outra explosão? Meu estômago se revirou. Eles já fizeram isso antes. E, pelo tom dele, não acabou bem.
— Não se preocupe, meu caro — responde Martin, com um tom levemente irritado. — Eu tenho tudo sob controle. Este é um momento histórico.
Enquanto eles continuam ajustando os equipamentos, começo a sentir algo diferente no ar. É como se o cristal estivesse sugando a energia da sala. O zumbido das máquinas aumenta, e as luzes piscam momentaneamente.
Martin se vira para mim novamente, com um brilho quase infantil nos olhos.
— Sabe, eu sempre quis entender o que torna a magia tão... selvagem. E agora, graças a você, estamos prestes a domá-la. Você será o primeiro. O começo de tudo.
Ele faz um gesto para os outros, e as máquinas começam a trabalhar. O cristal vibra violentamente, emitindo uma luz negra que parece engolir todas as cores ao redor.
E então, a dor começa.