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Chapter 5 - A caçada

Meu corpo pesava como se o chão quisesse me puxar de volta, mas não podia me dar ao luxo de parar. A esfera negra pulsava em meu peito, um lembrete constante do que eu havia me tornado. Cada pulsação parecia gritar dentro de mim, ecoando na minha mente como um tambor. Atravessei a sala em ruínas, o som dos cabos estalando ainda ecoando nos ouvidos. Uma descarga de adrenalina me mantinha de pé, mas a dúvida me corroía: quanto tempo mais eu conseguiria sobreviver?

Vivo… mas por quanto tempo?

Os restos do laboratório ainda cheiravam a queimado e metal, um aroma que gruda na garganta. Os rostos dos cientistas mortos passavam pela minha mente como sombras, a maioria deles anônimos. Mas havia um rosto que eu não conseguia esquecer: o homem mais velho com a prancheta, o que me injetou aquela maldita esfera. Ele estava sorrindo. Ele sabia o que aquilo faria comigo.

Uma pontada no peito me trouxe de volta ao presente. Eu me aproximei das escadas que levavam para cima, tentando manter os passos leves, mas o peso da minha perna machucada dificultava o movimento. Foi então que ouvi: passos rápidos, ecoando pelas paredes de concreto.

Congelei.

Meu coração disparou, martelando tão alto que eu temia que eles pudessem ouvir. Respirei fundo, lutando contra o instinto de correr. De onde está vindo isso? Inclinei a cabeça, tentando calcular a direção. Não demorou muito para perceber.

Eles estavam descendo.

Meus instintos gritavam: se esconda agora!

Me joguei para trás de uma pilha de máquinas quebradas, me abaixando o máximo possível. As bordas afiadas de um metal retorcido cortaram minha mão, mas eu não pude fazer barulho. Dor pode esperar. Estar morto, não. Mantive a respiração curta e silenciosa, contando os segundos.

Os passos se aproximaram. Agora eu podia ouvi-los claramente, o som ecoando como tambores de guerra. E então, eles apareceram.

Martin estava à frente. Aquele maldito… O rosto dele era o mesmo que eu lembrava: franzido em concentração, os olhos estreitos como se pudesse me farejar no ar. Ele parecia calmo, mas eu sabia o que estava por trás daquela fachada. Um cavaleiro imponente com uma armadura negra que parecia absorver a luz e três caras armados. Todos tinham armas nas mãos e olhos atentos, buscando cada sombra.

Meu peito apertou. Se me encontrarem aqui, acabou.

Eles continuaram a procurar, mas não demorou para que se afastasse. Só quando o som de suas botas começou a diminuir, me movi. Subi as escadas com cuidado, cada degrau enviando ondas de dor pela perna. Cada movimento parecia uma aposta contra o destino.

Cheguei a uma porta de madeira pesada, com inscrições desgastadas nas bordas. Parecia um portal para outro mundo, completamente fora de lugar no meio de todo aquele concreto e tecnologia. O que será que tem do outro lado?

Minha mão tremeu enquanto a colocava no puxador. Empurrei a porta, que rangeu alto como um grito. Meu coração disparou. Esperei encontrar mais guardas ou talvez algo pior, mas o que vi me paralisou.

Era uma biblioteca.

Prateleiras altas se estendiam até o teto, abarrotadas de livros antigos e objetos que emanavam uma leve energia mágica. Algumas estantes estavam tão cheias que os livros estavam empilhados no chão. Uma luz pálida emanava de lâmpadas encantadas que flutuavam no teto, criando sombras dançantes nas paredes.

Entrei devagar, os olhos absorvendo cada detalhe. Eu nunca tinha visto nada assim antes. Havia algo quase sagrado naquele lugar, um contraste absurdo com o caos que deixei para trás. Por que um lugar assim existiria em uma instalação como essa?

Peguei um livro aleatório e o abri. As páginas eram feitas de um material estranho, quase translúcido, e cheias de símbolos que eu não conseguia entender. As palavras pareciam brilhar, como se tivessem vida própria.

Enquanto isso, no andar de baixo, Martin e seu grupo chegaram à sala do experimento. Ele parou na porta, os olhos arregalados enquanto encarava os corpos dos cientistas e magos espalhados pelo chão.

— Como isso aconteceu? — 

O cavaleiro ao lado dele deu um passo à frente, examinando os corpos e os destroços.

— Ele não está aqui. Deve ter subido.

Martin cerrou os punhos, a raiva evidente em cada linha do seu rosto.

— Vocês três! Subam agora! Eu quero esse maldito encontrado. — Ele apontou para os guardas armados, que imediatamente correram em direção às escadas.

O cavaleiro se virou para Martin, a voz calma.

— Talvez você esteja subestimando ele.

Martin bufou.

— Eu não subestimo ninguém. Mas quem brinca com fogo… — Ele fez uma pausa, olhando para o caos ao redor. — …sempre acaba queimado.