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Chapter 8 - O silêncio da noite

Lá fora, a noite estava envolta em um silêncio que parecia irreal, quase sufocante. A tranquilidade externa contrastava violentamente com o caos que reinava dentro de mim. Outros guardas estavam por toda parte, suas botas ecoando no chão de pedra enquanto se moviam em alerta. Eles portavam rifles e lâminas encantadas, claramente preparados para lidar com qualquer ameaça.

Ao longe, avistei Martin, a figura dele destacando-se sob a luz amarelada de um poste, o rosto crispado de tensão enquanto gesticulava energicamente para dois homens ao lado de um veículo de luxo. Ele parecia estar dando ordens, a voz abafada pelo vento, mas sua postura rígida revelava o nervosismo.

"É o fim..." pensei, tentando controlar o tremor nas minhas mãos. Meu corpo estava destruído. A perna latejava, a costela parecia quebrada, e meu sangue seco manchava a camisa rasgada. Mesmo que conseguisse fugir – o que parecia impossível naquele momento –, eu não tinha forças para ir muito longe.

— Coloquem-no no caminhão. — A voz cortante de Martin soou ao longe, carregada de desdém e autoridade.

Antes que pudesse reagir, fui erguido como uma boneca de pano e jogado sem cerimônia na parte traseira de um caminhão blindado. O impacto me arrancou um gemido baixo, e a dor nas costelas explodiu novamente. Sentia-me como um animal sendo levado ao abate. Para garantir que eu não causasse problemas, fui acorrentado e enfiaram um pano sujo na minha boca, sufocante e úmido. O gosto azedo do tecido fez meu estômago revirar.

O cavaleiro subiu logo depois. Ele entrou com passos pesados e sentou-se ao meu lado, sua mão descansando com casualidade sobre o cabo de uma espada que parecia antiga, mas pulsava com uma energia quase viva. Ele não disse nada, apenas me lançou um olhar de puro desprezo, como se eu fosse menos humano, menos digno.

Do lado de fora, Martin subiu na cabine, e os dois guardas tomaram posição nas laterais do veículo, com armas prontas e olhares atentos para qualquer sinal de problema.

Enquanto o caminhão começava a se mover, o silêncio dentro do compartimento era tão denso que eu podia ouvir minha própria respiração, pesada e irregular. A cada solavanco na estrada, meu corpo doía mais, como se cada pedra no caminho estivesse sendo esculpida diretamente nos meus ossos.

"Isso não pode acabar assim..."

Mas algo estranho começou a acontecer. A esfera dentro do meu peito, que havia ficado inerte desde o momento em que fui capturado, começou a vibrar levemente. Era quase imperceptível no início, mas, à medida que o caminhão avançava, a vibração crescia. Uma leve pulsação de calor irradiava pelo meu tórax, como se a esfera estivesse despertando.

De repente, uma luz negra começou a emanar dela, muito fraca no início, mas logo se tornando mais intensa, preenchendo o espaço com um brilho sombrio e ameaçador.

— O que está acontecendo com ele? — perguntou um dos guardas, sua voz tremendo com um nervosismo que ele não conseguiu esconder.

O cavaleiro me encarou, seus olhos estreitando-se em uma expressão de cautela. Pela primeira vez, ele parecia desconfortável.

— Está reagindo! — Martin gritou da cabine, virando-se bruscamente para olhar para trás. Sua voz estava carregada de pânico agora, como se ele soubesse exatamente o que estava prestes a acontecer. — Cavaleiro, mantenha-o sob controle!

O cavaleiro levantou-se, a espada reluzindo com um brilho ameaçador enquanto ele se preparava para me golpear. Sua presença era sufocante, mas eu mal conseguia me concentrar nele. Algo dentro de mim estava se partindo, algo que eu não podia controlar.

A dor explodiu no meu peito, como se meu coração estivesse sendo rasgado ao meio. Era insuportável, queimando com uma intensidade que fez minha visão turva. As ramificações negras começaram a se espalhar pelo meu corpo, subindo pelo meu pescoço, envolvendo minha face, como raízes famintas buscando consumir tudo o que tocavam.

— Segurem-no! Não deixem escapar! — 

Mas já era tarde demais.

Com um último impulso, a esfera liberou toda a sua energia acumulada. Uma onda de poder negro irrompeu do meu corpo, atravessando o metal do caminhão como se fosse papel. A explosão foi violenta, implacável, um grito de liberdade que o meu corpo não podia mais conter.

— Abaixem-se! — gritou um dos guardas, mas suas palavras foram engolidas pelo som ensurdecedor da destruição.

O cavaleiro tentou proteger Martin, lançando-se sobre ele em um último esforço desesperado, enquanto o caminhão era rasgado ao meio. Eu podia sentir o ar sendo arrancado dos meus pulmões enquanto o mundo ao meu redor explodia em caos.

O impacto destruiu tudo. O caminhão foi pulverizado, os guardas lançados como bonecos de pano, e o próprio chão se partiu sob a força da explosão. Veículos próximos foram jogados pelos ares, e prédios ao redor desabaram em uma cascata de poeira e escombros.