A clareza fria da manhã invadia o pequeno apartamento, destacando as pilhas de papéis espalhadas pela mesa no centro da sala. Vicente olhou para a foto de Ramirez sobre a mesa, refletindo sobre o homem que havia encontrado na noite anterior. Ramirez, com presença sua imponente e olhar calculista, já havia deixado claro que o jogo era mais complexo do que ele imaginava.
Maria Augusta, sentada no canto do sofá, olhou para o filho com preocupação velada. Ernesto, por outro lado, estava em pé, próximo à janela, observando a rua movimentada abaixo. A tensão na sala era quase palpável.
— Ramirez deixou algo muito claro ontem à noite — começou Ernesto, virando-se para encarar Vicente. — O círculo interno de Santiago está se reorganizando. E não é só para proteger o legado dele, mas também para proteger... você.
Vicente examina os olhos para Ernesto, intrigado.
— Me proteger? Por quê?
Ernesto cruzou os braços.
— Porque, para eles, você é mais do que o filho de Santiago. Você é a única pessoa que pode reunir os pedaços do que seu pai deixou para trás.
Maria Augusta interrompeu, sua voz compartilhada de sarcasmo.
— E isso é uma coisa boa? Reunir os pedaços de um império criminoso?
Vicente balançou a cabeça, irritado.
— Mãe, não é sobre continuar o que ele fez. É sobre entender o que está acontecendo agora e garantir que não sejamos destruídos no processo.
Maria Augusta ficou em silêncio, mas o olhar nos olhos dela mostrava que ela não estava convencida.
O plano de Ramirez
Ernesto se mudou da mesa, puxando um mapa dobrado. Ele abriu e marcou para um ponto específico marcado com tinta vermelha.
— Ramirez acredita que o líder dessa nova facção está escondido aqui, em um armazém abandonado na periferia de Nova Orleans. Ele tem um plano para investigarmos o local sem suspeitas, mas... vamos precisar de cuidados.
Vicente franziu a testa.
— O que exatamente vamos procurar?
— Documentos. Qualquer coisa que ligue esse líder às operações passadas de Santiago — explicou Ernesto. — Ramirez acha que eles estão tentando reconstruir uma rede própria, usando informações que seu pai deixou para trás.
Maria Augusta disse-se abruptamente.
— Isso é loucura. Entrar em um lugar como esse é pedir para ser morto.
Vicente a encarou, determinado.
— Então qual é a alternativa, mãe? Continuar fugindo? Isso nunca vai acabar se não fizermos algo.
Maria Augusta respirou fundo, balançando a cabeça. Ela sabia que o filho estava certo, mas o medo de perdê-lo era maior do que qualquer lógica.
Conspirações para vista
No final da tarde, Vicente, Ernesto e Maria Augusta se encontraram com Ramirez em um café discreto, longe dos olhares curiosos. Ramirez estava mais relaxado do que na noite anterior, mas seu olhar permanente atento, como o de alguém que já vira muito e confiava um pouco.
— O líder dessa nova facção é inteligente — começou Ramirez, sem rodeios. — Ele sabe que, para controlar tudo, precisa eliminar qualquer ligação com o passado. Isso inclui você, Vicente.
Vicente abriu os punhos sob a mesa.
— E o que sabemos sobre ele?
Ramirez sorriu de lado, mas era um sorriso frio.
— Muito pouco. Ele é cuidadoso. Até o nome dele é um mistério. Mas as operações dele estão se expandindo muito rápido. Precisamos descobrir como ele está financiando isso.
Ernesto atual, olhando para Vicente.
— É por isso que precisamos ir ao estoque. Se encontrarmos algo útil lá, podemos desmantelar a base dele antes que ele se fortaleça.
Maria Augusta, que havia permanecido em silêncio até então, finalmente falou:
— E é isso para uma armadilha? Você não está considerando essa possibilidade?
Ramirez deu de ombros.
— É sempre uma possibilidade. Mas, nesse caso, não temos escolha.
O peso das escolhas
De volta ao apartamento, Vicente sentou-se no sofá, observando as anotações que Ramirez havia deixado para trás. Cada palavra parecia pesar toneladas. Ele sabia que não podia voltar atrás, mas o medo do desconhecido era avassalador.
Maria Augusta se mudou, sentando-se ao lado dele. Ela ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar.
— Vicente, eu só quero que você entenda uma coisa. Não importa o que aconteça, estou do seu lado. Mas tenho medo de onde isso vai te levar.
Vicente olhou para a mãe, vendo a preocupação genuína nos olhos dela.
— Eu também tenho medo, mãe. Mas preciso fazer isso. Não é só sobre o meu pai. É sobre quem eu quero ser.
Maria Augusta assentiu lentamente, apertando a mão do filho.
— Então prometo que será cuidadoso.
Vicente desejou de leve, embora o sorriso não alcançasse os olhos.
— Eu prometo.
Preparativos para a infiltração
A noite chegou rápida, trazendo com ela um ar de expectativa. Ernesto e Ramirez passaram horas detalhando o plano para a invasão do armazém. Vicente pegou tudo com atenção, absorvendo cada detalhe. Quando o relógio marcou meia-noite, eles estavam prontos para partir.
Maria Augusta insistiu em acompanhar o grupo, apesar das objeções de Ernesto.
— Se meu filho vai correr esse risco, eu não vou ficar sentado esperando.
Ernesto suspirou, mas não discutiu. Ele sabia que seria inútil.
O grupo saiu em silêncio, movendo-se pelas ruas escuras com cuidado. A missão foi arriscada, mas Vicente sabia que não havia de outra maneira. O passado de Santiago Montenegro estava cheio de segredos, e era apenas uma questão de tempo até que todos vissem à tona.