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Chapter 13 - Alianças e Armadilhas

O silêncio no galpão era quebrado apenas pelo zumbido de lâmpadas fluorescentes e o som ocasional de passos ecoando no chão de concreto. Aurora Bittencourt caminhava pelo espaço com uma postura confiante, avaliando o grupo recém-chegado com olhos atentos. Miguel a acompanhava, explicando em voz baixa os eventos que os levaram até ali, enquanto Vicente, Maria Augusta, Ernesto e Ramirez aguardavam próximos à entrada.

Aurora finalmente se aproximou, parando em frente ao grupo. Seus olhos pousaram primeiro em Maria Augusta, depois em Vicente, como se os estivesse analisando minuciosamente. Ela tinha uma presença que não passava despercebida, uma mistura de autoridade e reserva.

— Então, vocês vieram atrás de Rodrigo — começou, sua voz firme e ligeiramente cética. — Mas me pergunto se têm noção do que isso realmente significa.

Maria Augusta deu um passo à frente, o olhar determinado, suas mãos ligeiramente trêmulas, mas seu rosto exibia uma força que muitos não suspeitavam ser capaz de ter. Ela estava pronta para enfrentar o passado mais uma vez, por seu filho, por sua vida.

— Sabemos o suficiente. E sabemos que ele precisa ser detido antes que cause mais destruição.

Aurora arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços, observando Maria Augusta com uma mistura de respeito e curiosidade.

— Você fala como alguém que já o enfrentou antes.

Maria Augusta manteve-se firme, seu olhar não vacilando. Não era hora de demonstrar fraqueza, muito menos de se abater pelas memórias dolorosas.

— Porque já enfrentei — respondeu Maria Augusta, sem hesitar. — E sobrevivi.

Aurora observou por um momento, como se estivesse processando as informações. Em seguida, olhou para Vicente, que estava parado ao lado de sua mãe. Ela estudou-o por mais tempo do que ele gostaria, como se estivesse tentando encontrar algo escondido por trás de sua fachada.

— E você? Filho de Santiago Montenegro. Dizem que ele era impiedoso, mas estrategista. Qual dessas qualidades você herdou?

Vicente manteve o olhar firme, mas seu tom era calmo, calculado, como se quisesse que cada palavra tivesse um peso específico.

— Prefiro acreditar que herdei apenas o que era necessário.

Aurora sorriu levemente, embora o gesto parecesse mais um teste do que um sinal de simpatia. Ela não parecia ter interesse em agradar, mas apenas em avaliar a verdadeira essência de cada um ali.

— Interessante. Vamos ver se isso é verdade.

O Desafio de Aurora

Aurora conduziu o grupo para uma sala menor dentro do galpão, onde havia uma mesa coberta por mapas e documentos. Ela gesticulou para que todos se aproximassem e começou a apontar para os papéis com precisão, detalhando os pontos mais críticos da missão.

— Rodrigo tem operações em toda a região. Este galpão, onde vocês estão agora, está fora do radar dele, mas não por muito tempo. Ele é meticuloso, calculista e, acima de tudo, perigoso.

Ernesto se inclinou sobre a mesa, examinando um dos mapas, as linhas e anotações parecendo mais um labirinto de possibilidades.

— Já sabemos disso. Mas o que exatamente você pode oferecer?

Aurora puxou um papel debaixo da pilha e o colocou no centro da mesa. Era uma planta detalhada de um edifício. Ela se inclinou para mostrar os pontos mais importantes da planta.

— Informação. Este é um dos esconderijos de Rodrigo. Ele o utiliza para armazenar documentos e movimentar recursos. Se vocês querem uma chance contra ele, precisam começar por aqui.

Ramirez, com uma expressão de desconfiança estampada em seu rosto, olhou para a planta e franziu a testa.

— Parece uma fortaleza. Como você conseguiu isso?

Aurora deu de ombros, como se a resposta fosse a coisa mais natural do mundo.

— Digamos que tenho meus meios.

Maria Augusta, que havia permanecido em silêncio até então, finalmente interveio, seu tom grave e sério, refletindo sua própria experiência em lidar com pessoas e situações complicadas.

— E qual é o seu interesse nisso, Aurora? Por que arriscar ajudar estranhos como nós?

Aurora encarou Maria Augusta por um momento antes de responder, o olhar fixo e firme.

— Porque o que Rodrigo está fazendo vai além de vinganças pessoais ou controle territorial. Ele está expandindo suas operações para algo muito maior, e se ele não for parado agora, ninguém será capaz de enfrentá-lo depois.

Preparativos para a Missão

Enquanto o grupo discutia os detalhes do plano, Vicente percebeu que Aurora parecia estar observando cada um deles de forma cuidadosa, quase como se estivesse estudando suas personalidades e habilidades. Ela parecia entender que a missão exigiria mais do que simples força ou coragem; o jogo mental seria igualmente importante.

Quando todos começaram a se dispersar para se preparar, Aurora se aproximou de Vicente. Seus passos eram suaves, mas firmes, e sua presença era quase intimidadora. Ela olhou diretamente para ele, com os olhos penetrantes que pareciam desafiá-lo a ser mais do que ele achava que era.

— Você não parece tão confiante quanto tenta aparentar — disse ela, direta.

Vicente a encarou, surpreso com o comentário. Ele não esperava ser lido com tanta precisão.

— Não sei se isso importa agora. Estou aqui porque preciso estar.

Aurora sorriu, mas dessa vez seu olhar carregava uma ponta de empatia. Ela parecia ter captado algo na hesitação dele, algo que ele mesmo ainda não compreendia completamente.

— Importa mais do que você imagina. Nesse jogo, a confiança é tão importante quanto a estratégia. E se você quer vencer, precisa decidir quem você realmente é.

Vicente ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela. Era estranho ouvir uma mulher falar assim, com uma autoridade tão forte, como se soubesse exatamente o que ele sentia.

Antes que pudesse responder, Ernesto apareceu, chamando-o para ajudá-lo com os preparativos.

A Primeira Investida

Na manhã seguinte, o grupo deixou o galpão e seguiu para o esconderijo de Rodrigo. O clima estava tenso, e a estrada parecia mais longa do que o normal. Aurora e Miguel os acompanharam, trazendo recursos adicionais e mais informações sobre o local.

Quando chegaram, estacionaram a uma distância segura e usaram binóculos para observar a área. Era um prédio discreto, mas protegido por guardas armados e câmeras de vigilância.

Ramirez, sempre desconfiado, murmurou enquanto ajustava sua pistola.

— Isso é loucura. Estamos em menor número e mal temos um plano de fuga.

Aurora respondeu sem hesitar, o olhar fixo no edifício à frente.

— Por isso precisamos de precisão. Nada de improvisos.

Ela passou as instruções finais ao grupo, destacando os pontos fracos na segurança do local e os horários de troca de turnos. Vicente observava tudo, tentando absorver as informações enquanto sentia a pressão crescente. O peso da missão estava começando a cair sobre seus ombros, e ele sabia que nada seria como antes a partir dali.

— Pronto para isso? — perguntou Aurora, enquanto ajustava o equipamento.

Vicente respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade que carregava, e assentiu.

— Não tenho escolha, tenho?

Ela sorriu, mas o sorriso era mais enigmático do que amigável.

— Sempre há uma escolha.