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Chapter 14 - Revelações no Silêncio

A noite caiu como um manto pesado, envolvendo o grupo em uma atmosfera de expectativa e inquietação. O esconderijo de Rodrigo foi próximo, mas antes que qualquer movimento fosse feito, Aurora insistiu em uma última reunião. Eles se reuniram em um pequeno cômodo no galpão, iluminado apenas por uma lâmpada brilhante, cujo brilho tremulava suavemente, projetando sombras nas paredes.

Aurora ocupava o centro da sala, uma presença inegavelmente dominante. Vicente observava-a de canto de olho, ainda tentando decifrar a mulher que parecia conhecer tanto sobre eles, sem que ninguém informasse nada sobre ela.

— Antes de partirmos, há coisas que vocês precisam entender, — começou Aurora, cruzando os braços. — Rodrigo não é apenas um crime comum. Ele é um estrategista, um manipulador da OTAN. Ele conhece as fraquezas de cada pessoa ao seu redor e sabe como usá-las contra elas.

Ramirez, sempre cético, soltou um suspiro audível.

— Não precisamos de um sermão. preciso de um plano.

Aurora o encarou, impassível.

— E para que o plano funcione, vocês precisam confiar uns nos outros, o que, pelo que vejo, está longe de ser o caso.

O silêncio pairou na sala. Aurora deu um passo à frente, seus olhos avaliando cada um.

— Ramirez, você desconfia de todos. Isso pode ser útil, mas se não aprender a seguir ordens quando necessário, será um peso.

Ramirez deixou as sobrancelhas, mas não respondeu.

— Ernesto, você tem experiência, mas é cauteloso demais. Às vezes, hesitar por um segundo pode significar o fracasso.

Ernesto inclinou a cabeça, como se estivesse considerando as palavras dela.

— Maria Augusta, — Aurora contínua, voltando-se para a mãe de Vicente. — Você é forte, mas está carregando um fardo emocional que pode afetar seu julgamento. Se não resolver isso agora, será uma distração quando menos pudermos dar ao luxo de ter uma.

Maria Augusta engoliu em seco, mas seu rosto manteve a firmeza que a caracterizava.

Por fim, Aurora voltou-se para Vicente.

— E você, Vicente. Está aqui porque sente que não tem escolha. Mas a verdade é que você sempre tem uma escolha. O que falta é decidir quem você quer ser: o homem que continua vivendo nas sombras de seu pai ou alguém que cria seu próprio caminho.

Vicente não respondeu de imediato. As palavras dela o atingiram de uma forma que ele não esperava, forçando-o a confrontar seus próprios medos e incertezas.

Confissões e Histórias Não Contadas

Enquanto o grupo se dispersava para descansar antes da missão, Vicente Ernesto encontrou sentado em um canto, ajustando uma pistola. Ele hesitou por um momento antes de se aproximar.

— Você parece conhecer bem Aurora, — disse Vicente, tentando parecer casual.

Ernesto riu, mas o som era vazio, sem humor.

— Conheço o suficiente para saber que ela não confia em ninguém sem motivo. Se ela está nos ajudando, é porque vê algum benefício nisso.

— E você? Por que você está aqui? — Vicente disse, cruzando os braços.

Ernesto traiu os olhos para ele, sua expressão transmitiu algo entre frustração e resignação.

— Porque devo isso ao seu pai.

Vicente franziu a testa, surpreso.

— Ao meu pai?

Ernesto suspirou e inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Santiago me salvou de uma morte há alguns anos atrás. Ele era muitas coisas, mas também sabia ser as coisas que mereciam. Eu estava em dívida com ele e, de certa forma, ainda estou.

Vicente ficou em silêncio, digerindo as palavras de Ernesto. Foi a primeira vez que alguém conversou sobre Santiago de uma maneira que não o reduziu apenas ao monstruoso que Maria Augusta descreveu tantas vezes.

Aurora e Maria Augusta

Na outra parte do galpão, Aurora encontrou Maria Augusta sentada em um banco, olhando para uma foto antiga que havia retirado de bolso. Era uma imagem dela com Santiago, em um momento que parecia tão distante quanto outra vida.

— Memórias podem ser uma âncora ou uma força, — comentou Aurora, aproximando-se.

Maria Augusta guardou a foto rapidamente, como se fosse um segredo que não queria compartilhar.

— Às vezes, são ambas as coisas.

Aurora enviou-se ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa.

— Você planejou Santiago. Isso exige coragem.

Maria Augusta balançou a cabeça, um sorriso amargo surgindo em seus lábios.

— Não foi coragem. Foi necessário. Eu preciso proteger meu filho.

— E agora está aqui, protegendo-o de novo. — Aurora fez uma pausa antes de continuar. — Mas isso significa que você terá que lidar com Rodrigo, e ele não é como Santiago. Ele é mais calculista, menos previsível.

Maria Augusta virou-se para Aurora, seus olhos brilhando com determinação.

— Se for necessário, farei o que tiver que fazer.

Aurora concordou, um respeitoso e silencioso crescendo entre as duas mulheres.

Vinculando as Peças

À medida que a noite avançava, o grupo começou a se reunir novamente. Vicente percebeu que algo havia mudado, ainda que sutilmente. Havia uma compreensão mútua crescendo entre eles, como se as palavras de Aurora precisassem começar a surtir efeito.

— Prontos? — disse ela, olhando para cada um deles.

Hum a hum, eles concordaram. Não havia mais espaço para dúvidas. O desafio à frente era grande, mas, pela primeira vez, obviamente estar no mesmo ritmo.

Vicente olhou para Aurora, sentindo que ela havia se tornado o centro gravitacional do grupo. Ele ainda não sabia se podia confiar nela completamente, mas, naquele momento, não tinha outra escolha.

Eles estavam prontos para enfrentar Rodrigo, mas Vicente não conseguiu evitar a sensação de que essa missão seria mais do que apenas uma luta contra um inimigo comum. Seria um teste de lealdade, coragem e verdadeira natureza de cada um deles.