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Chapter 32 - Marcha para o Oeste I

Dias depois, Sunless estava sentado em cima do cadáver de um carcaceiro, limpando o sangue azulado de seu rosto com a manga. Sua expressão era serena, quase indiferente, enquanto a espada, ainda cravada entre as placas da armadura quitinosa da criatura, tremia levemente.

O corpo massivo deu seus últimos espasmos antes de se imobilizar por completo.

[Sua sombra cresce mais forte.]

Atrás dele, o som de carapaças quebrando já ecoava pelo corredor estreito.

Ariandel e Nephis estavam ocupados, removendo os fragmentos de alma dos corpos mutilados das criaturas que haviam abatido. Após dezenas de batalhas como essa, os três se tornaram uma máquina bem ajustada — precisos, eficientes e implacáveis.

Sunless lançou um olhar para a cena de carnificina à sua volta. O caminho entre as paredes carmesins estava atulhado de cadáveres grotescos.

Inicialmente, o plano era simples: atrair o Centurião da Carapaça que os perseguia há dias para este estreito corredor, onde seu tamanho se tornaria uma desvantagem. Mas o caos se instaurou quando outras criaturas, atraídas pelo som da batalha, chegaram — os carcaceiros e as centopeias, dois inimigos naturais.

No tumulto que se seguiu, Sunless, Ariandel e Nephis manipularam a animosidade entre as tribos de monstros a seu favor, sobrevivendo como os únicos vencedores.

Duas semanas haviam se passado desde que deixaram os penhascos. Nesse tempo, muito mudou — embora certas coisas permanecessem constantes.

Viajando de um ponto alto a outro, o quarteto movia-se constantemente para o oeste, explorando cuidadosamente cada novo caminho antes de se comprometer com jornadas mais longas. Isso minimizava o risco de serem pegos por outra tempestade, garantindo que pudessem recuar para um marco seguro, se necessário.

A abordagem deles para atravessar o labirinto também evoluiu. Antes, evitavam confrontos sempre que podiam, enfrentando carcaceiros apenas quando inevitável.

Mas a batalha com o Centurião mudou suas perspectivas.

Eles precisavam se fortalecer — e rápido.

Agora, caçavam ativamente as criaturas de carapaça, atacando aquelas isoladas ou em pequenos grupos. Era um ato insano: três Dorminhocos deliberadamente enfrentando Criaturas do Pesadelo de nível Desperto. No entanto, de alguma forma, eles conseguiam.

Assim como Ariandel havia dito, eles eram anormais.

Falando nele, com seu "novo" Aspecto, Artesão da Fantasia não apenas mudou, mas se tornou mortalmente eficiente.

Sua 'geada da alma' era um poder monstruoso: cada flecha disparada de seu arco não só perfurava a armadura quitinosa das bestas, mas também impregnava os inimigos com uma maldição congelante que os deixava à mercê de seus aliados.

E não havia dúvidas: de alguma forma, Artesão da Fantasia continuava a se tornar ainda mais forte, mesmo sem os fragmentos de alma ou abates diretos...

Enquanto isso, Nephis continuava a crescer em poder de forma constante. Cada fragmento de alma consumido a impulsionava para além dos limites humanos. A transformação era sutil, quase imperceptível no momento, mas, com o acúmulo, tornava-se impossível de ignorar.

Sunless também progredia em um ritmo comparável, embora, para ele, o acúmulo de fragmentos fosse apenas parte da equação — seu corpo, forjado pelas dificuldades do Reino dos Sonhos, ganhava força a cada dia, ainda que de maneira gradual.

O verdadeiro catalisador, no entanto, era o treinamento impiedoso. Sob a orientação de Nephis, Sunless aprendia a manejar sua espada com uma eficácia mortal. Ariandel, por sua vez, com sua acuracidade mental e emocional, o desafiava a atingir novos patamares de um foco implacável.

Mas a chave para sua sobrevivência — e vitória — não estava apenas no poder individual. Estava no trabalho em equipe.

Depois de incontáveis batalhas lado a lado, os três desenvolveram uma sincronia instintiva. Seus movimentos eram coordenados, suas ações complementares. Sem necessidade de palavras, atacavam como uma unidade, transformando o campo de batalha em um espetáculo de precisão letal.

O progresso era tangível. O grupo não era mais um bando de sobreviventes desesperados. Agora, eram guerreiros endurecidos, uma força a ser reconhecida.

Até Cássia, a sua maneira, estava crescendo. Embora sua cegueira ainda fosse um desafio, ela estava aprendendo a conviver com ela. Cada fragmento de alma que absorvia a fortalecia, e a garota, que antes parecia um fardo, agora estava encontrando seu lugar no grupo.

Sunless, de forma surpreendente, começou a encontrar conforto em cuidar dela. Havia algo reconfortante na simplicidade de suas interações, algo que o ajudava a manter a sanidade em meio ao ambiente infernal.

O castelo, antes um sonho distante, agora parecia estar ao alcance. E, pela primeira vez em muito tempo, Sunless sentiu que eles tinham uma chance.

Saltando do cadáver do carcaceiro, Sunless recuperou sua espada e assobiou, avisando Cássia que era seguro sair.

Ela emergiu de uma pequena abertura na parede de coral, colocando os pés no chão com cuidado. Usando o cajado como apoio, a jovem cega se ergueu, inclinando levemente a cabeça enquanto ouvia o som suave dos passos dele se aproximando.

Sunless chegou até ela, pegou sua mão e a guiou gentilmente até seu ombro. Evitando cuidadosamente as poças de sangue ao redor, ele a conduziu em direção ao Eco.

"Os centípedes apareceram?"

Durante sua jornada pelo labirinto, descobriram que os carcaceiros não eram as únicas criaturas que habitavam aquele lugar. Diversos tipos de monstros viviam na floresta carmesim, escondidos nos recifes durante a noite e saindo para caçar ao amanhecer.

Colônias sencientes de vermes carnívoros atacavam debaixo da lama negra. Flores predadoras estrangulavam suas vítimas com cipós sugadores de sangue. Tentáculos translúcidos surgiam para arrastar carcaças — ou presas ainda vivas — para fendas cavernosas.

E esses eram apenas alguns dos horrores que encontraram. Todos os monstros do labirinto eram pelo menos de ranque Desperto, vivendo dos restos deixados pelos predadores do mar escuro. Sempre que possível, devoravam uns aos outros — e, claro, não hesitariam em atacar os quatro humanos em sua trilha.

Felizmente, a Legião da Carapaça dominava aquela região do recife carmesim. Seus corpos massivos, armadura resistente e força física os tornavam adversários formidáveis. Lidar com um inimigo previsível era preferível a enfrentar perigos desconhecidos a cada passo.

Os centípedes, no entanto, eram um novo desafio. Com mais de três metros de comprimento, exibia uma carapaça vermelha brilhante e centenas de pernas que se moviam com velocidade absurda.

Esses monstros ágeis escalavam paredes, corriam pela lama e surpreendiam suas presas ao cair sobre elas de pontos altos. Pior ainda, secretavam um óleo negro corrosivo que derretia até armaduras robustas em segundos. Sua única fraqueza era a carapaça relativamente frágil, vulnerável a golpes certeiros.

Sunless respondeu sem olhar para trás:

"Sim, sete deles. E alguns carcaceiros também. Deixamos eles lutarem entre si enquanto Ariandel os assediava à distância. No final, acabamos com os sobreviventes."

Cássia engoliu em seco.

"Alguém se machucou?"

"Nada que nossa armadura não pudesse suportar."

"E o Centurião?"

Ele olhou para o corpo do monstro, metade coberto por cristais gélidos, e sorriu.

"Não vai nos incomodar de novo."

Esse era o segundo monstro desperto que derrotaram desde que entraram no Reino dos Sonhos. Comparado ao primeiro encontro, essa batalha foi muito mais tranquila. Ninguém quase morreu, e ninguém sofreu ferimentos graves.

"Quantos fragmentos de alma conseguimos?" perguntou Cássia.

"Quatorze", respondeu Sunless, após contar mentalmente.

"Nossa maior caçada até agora!" disse ela, sorrindo.

"Sim", concordou ele.

No entanto, a frustração continuava. Nenhum deles havia recebido uma Memória nas últimas duas semanas, mesmo com tantas vitórias. Era como se o Feitiço os tivesse decidido privar de mais recompensas.

'Nunca é o suficiente!'

Sunless suspirou. Ele e Cássia tinham um jogo: sonhavam sobre o que comprariam ao retornar ao mundo real, ricos e vitoriosos. Mas, para isso, precisariam de Memórias para leiloar.

Ao chegar ao Eco, Sunless repreendeu o carcaceiro:

"Ei, você! Pare de mastigar!"

O Eco obedeceu imediatamente, com um pedaço de carne ainda pendurado na boca.

"Cospe isso!"

Após ajudar Cássia a montar no Eco, ele balançou a cabeça.

"Por que, de todos os Ecos, eu tinha que acabar com esse defeituoso?"

Cássia riu.

"Não fale assim! Ele é um ótimo Eco."

'Ahh, agora é "ele"?' pensou Sunless, divertido.

Depois de armazenar a carne do centurião nas bolsas de algas marinhas que criara, ele passou a coletar os sacos de óleo dos centípedes. Era uma tarefa nojenta, mas necessária... Apesar de ainda não terem encontrado uso para o óleo, Ariandel insistia em guardá-lo.

Com tudo pronto, Ariandel sentou-se sobre o ombro do Eco, Nephis e Cássia consumiram os fragmentos, e Sunless avaliou o tempo. O sol ainda estava alto no céu cinzento.

"Vamos até o Cume Ósseo?" sugeriu ele.

Artesão da Fantasia deu-lhe um sorriso cortês e assentiu.

Com o centurião morto, avançar parecia seguro. No entanto, enquanto se aproximavam do destino, Sunless sentia-se inquieto. Uma estranha sensação surgia ao entardecer, um desconforto crescente que desaparecia apenas com o pôr do sol.

Após discutir com o grupo, perceberam que apenas ele experimentava essa sensação. Sob a orientação de Cássia, Sunless finalmente compreendeu. Nas horas antes do pôr do sol, uma sombra colossal atravessava o labirinto, perturbando sua percepção.

"É a sombra do Pináculo Carmesim", explicou Cássia, como se fosse a coisa mais natural do mundo...