Perto do anoitecer, com o sol descendo cansadamente em direção ao horizonte, uma estranha criatura saiu dos restos incolores do labirinto.
Se "caminhar" fosse mesmo a palavra certa...
Arrastando suas pernas na areia, a criatura, de alguma forma, flutuava para a frente sem se mover. Parecia um centurião da carapaça, ou pelo menos uma aproximação bem próxima de um.
Todas as partes estavam no lugar. A criatura tinha uma carapaça preta com um padrão carmesim ameaçador, um tronco humanóide, oito pernas segmentadas e dois braços estendidos em formidáveis foices ósseas.
No entanto, todas essas partes pareciam um pouco desajustadas e estranhas, como se o escultor não tivesse encontrado um método para firmar uma a outra melhor.
Além disso, o centurião se movia como se estivesse seriamente bêbado.
A carapaça pendia para um lado, às vezes raspando na areia. O tronco balançava para frente e para trás sem motivo aparente. As foices foram presas de forma desajeitada nas costas da criatura, cruzadas uma na outra em um ângulo estranho.
Toda a situação era nada menos que completamente bizarra. Mas, para melhor ou pior, não havia ninguém por perto para perceber essa estranha criatura.
Sem obstáculos, atravessou o deserto, movendo-se em direção ao Túmulo Cinzento. Logo, estava quase aos pés da colina alta.
O pôr do sol estava se aproximando.
***
O estranho centurião desabou no chão na base do Túmulo Cinzento e parou de se mover completamente. Desajeitado e torto, parecia uma paródia do outro monstruoso peregrino que havia se ajoelhado graciosamente no mesmo local alguns dias antes.
Além disso, chegou sem uma homenagem. Não havia um fragmento de alma transcendente à vista. Somado à pose desrespeitosa, essa transgressão era mais do que suficiente para levar o centurião à morte.
Talvez… fosse suicida.
No topo do túmulo, o Demônio da Carapaça se levantou da areia cinzenta.
Sua armadura brilhante cintilava, refletindo a luz do sol poente. Encerrado em metal reluzente, com uma coroa de chifres adornando sua cabeça, o demônio parecia temível e sinistro.
Olhando para baixo, ele se demorou alguns momentos...
Dois rubros escuros acenderam nas profundezas dos olhos do demônio. Movendo suas terríveis foices, o monstruoso gigante caminhou adiante, descendo lentamente da colina para encarar o estranho visitante.
O chão tremia à medida que ele se aproximava. No entanto, o bizarro centurião nem sequer estremeceu. Na verdade, permaneceu completamente imóvel.
O Demônio da Carapaça parou a certa distância da criatura suspeita. Ele a observou, entendendo claramente que sua aparência patética poderia ser uma armadilha.
O labirinto estava cheio de perigos inimagináveis. Aproximar-se precipitadamente de um inimigo desconhecido não era algo que um demônio desperto, que possuía sua própria forma de inteligência, faria.
No entanto, esse não era um demônio qualquer.
Apenas um segundo depois, o Demônio da Carapaça avançou.
Sua foice cortou o ar, dividindo ao meio o tronco do centurião. A quitina adamantina foi cortada como se fosse feita de manteiga. A metade superior do tronco do monstro voou, revelando… apenas o vazio por dentro.
***
... Do outro lado do Túmulo Cinzento, Sunless, que corria ladeira acima com todas as suas forças, praguejou baixinho.
Foi muito cedo!
Ele desejou que durasse mais tempo!!
Por que o Demônio da Carapaça tinha que ser tão audacioso? Por que até as coisas ruínas saem do jeito que Ariandel prevê!?
Com o bastardo-florido carregando Cássia em suas costas logo à frente, Sunless cerrava os dentes e tentava correr ainda mais rápido.
Era hora de mudar para o plano B…
Um momento depois, a carapaça do estranho centurião se desfez, libertando o Eco que estava escondido embaixo dela. Empurrando os pedaços de quitina com suas poderosas pinças, o carcaceiro correu em direção ao demônio gigante.
Ele tinha como objetivo passar por baixo dele e, com sorte, bagunçar as pernas do gigante. Mesmo que o demônio tentasse esmagar o carcaceiro com seu peso, não seria capaz de matá-lo.
No entanto, o demônio entendeu isso também.
Movendo-se com incrível rapidez, ele deslocou seu tronco e atacou com uma pinça. O Eco foi jogado para longe como um inseto irritante, voando pelo ar e caindo pesadamente no chão.
Sua carapaça quase rachou.
Correndo em direção à grande árvore, Sunless fez uma careta.
À frente deles, Nephis já se aproximava do enorme tronco negro. Quando o fez, ela tirou a mochila de algas marinhas das costas, colocou-a gentilmente no chão e começou a escalar, agarrando-se aos sulcos na cascata de ônix.
Enquanto isso, o carcaceiro estava se levantando, trêmulo. Uma luz teimosa ardia em seus olhos. Emitindo um guincho alto, estalou suas pinças no ar e correu mais uma vez em direção ao demônio.
'Calma lá, amigo!' gritou Sunless interiormente, desejando que tudo continuasse conforme o plano de Ariandel com todo o coração.
A criatura menor corria corajosamente em direção ao gigante de aço, erguendo suas pinças para atacar. Era seguida por duas sombras — uma bestial e a outra humana.
Sunless ultrapassou o bastardo-florido, que rapidamente diminuía a distância para a grande árvore.
Abaixo da colina, o Demônio da Carapaça caminhou calmamente em direção ao inimigo que se aproxima.
Sunless agiu conforme havia sido instruído—
De repente, o corpo do Eco começou a brilhar com uma luz suave. Então, cintilou e se dissolveu em um rio de pequenas faíscas, que caíram no chão e desapareceram, não deixando vestígios do enorme carcaceiro.
Uma fração de segundo depois, os braços em foice do demônio rasgaram o ar em dois, e suas pinças gigantescas estalaram contra si mesmas, sem terem nada para agarrar.
... No entanto, o Demônio da Carapaça não estava atordoado pelo desaparecimento súbito da criatura insolente, nem olhando para o inesperado espetáculo de luz. Em vez disso, ele estava encarando um ponto específico no chão.
Lá, uma sombra humana solitária estava congelada em confusão, incerta sobre o que fazer. Com o corpo do Eco — e, consequentemente, sua sombra — desaparecida, ela foi instantaneamente revelada e não tinha mais onde se esconder.
'M***a!'
O demônio inclinou a cabeça e, num instante, avançou como um relâmpago, perfurando a sombra com uma foice.
Sunless estremeceu, pronto para sentir uma dor cegante…
Mas nada aconteceu. A sombra, que havia levantado as mãos assustada, olhou para a lâmina profunda que saía de seu peito... e coçou a cabeça.
Estava completamente bem.
Bem, é claro… era apenas uma sombra, afinal de contas. Era necessário ter um corpo para ser suscetível a tais ataques.
'Certo. O que mais eu pensei que aconteceria?'
Enquanto isso, o demônio encarava a sombra despretensiosa. A ameaçadora luz escarlate em seus olhos brilhava mais forte.
A Estrela da Mudança já estava perto de alcançar os galhos mais baixos da grande árvore.
'Só… um pouco… mais!'
Eles tinham todas as chances de conseguir. A sombra só precisava distrair o monstruoso gigante um pouco mais…
Mas parecia que a sorte não estava ao lado deles hoje.
Lá embaixo, o Demônio da Carapaça retirou sua foice. No entanto, em vez de atacar a sombra humana novamente, ele de repente se virou e lançou um olhar sombrio para o topo do Túmulo Cinzento, onde a árvore gigante estava em toda a sua beleza magnífica.
O bastardo era inteligente, afinal.
'Maldição!'
Esquecendo-se da sombra, o gigante avançou, correndo de volta pela encosta do alto morro. Ele se move com uma velocidade crescente, cobrindo uma dúzia de metros a cada segundo.
'Volte aqui!' Sunless chamou para a sombra enquanto pegava a mochila de algas e segurava a extremidade da corda dourada que Nephis havia lançado para baixo.
***
Com Cássia ainda montada em suas costas, Ariandel observou Sunless agarrar a Sempre-viva e se puxar para cima, escalando com a incrível velocidade de quem corre da morte em forma de cavaleiro artrópode dodecápode demoníaco.
'Fofo', ele pensou, ironicamente fora de contexto.
Ao sentir o fim da corrida deles, Cássia silenciosamente invocou seu cajado de madeira — a Memória capaz de invocar ventos fortes.
Ariandel virou o corpo e segurou calmamente a ponta do cajado, guiando a mão delicada da garota na direção necessária.
Então, ele se firmou.
No momento seguinte, um forte vendaval se clamou ao redor deles, soprando folhas caídas e areia cinzenta pelo ar. Instantaneamente, uma grande parte da superfície da ilha foi varrida.
Mais foi areia revelada abaixo.
O Artesão da Fantasia parecia curioso e satisfeito com o efeito da ferramenta mágica — um show digno de um mundo mágico de fantasias.
"Cás, terminamos", ele informou tranquilamente.
Cássia encerrou com o cajado, que foi disperso em faíscas sutilmente brilhantes. Ela envolveu Ariandel com ambos os braços novamente e, com a ajuda dele, se ajeitou em suas costas.
"Aria, como você pode ser sempre tão descontraído?" ela provocou, suavemente.
O Artesão da Fantasia deixou uma risadinha escapar em resposta. Cássia sorriu ao ouvir sua voz agradável de sempre e sentir o gesto reverberar através de seu corpo, devido à proximidade.
Ariandel agarrou a corda dourada, pisou contra a casca da Árvore Devoradora de Almas, e Cássia firmou-se ainda mais ao sentir o arrasto da escalada.
Ela já podia ouvir o som distante, mas que rapidamente se aproximava, das oito pernas imponentes do Demônio da Carapaça pisoteando furiosamente a areia.
... A sombra de Sunless deslizou até a base da grande árvore, começando sua própria subida urgente em direção ao galho prometido.
Com o Artesão da Fantasia os alcançando, Nephis se adiantou para puxar Cássia das costas dele. Em seguida, dispensou a corda dourada, fazendo a Memória desaparecer no ar. Os quatro se agacharam, escondendo-se da vista, e prenderam a respiração.
... Um momento depois, uma massa furiosa de espinhos e metal polido apareceu sob eles.
O Demônio da Carapaça parou abruptamente, olhando ao redor com seus olhos escarlates ardentes. Suas pinças estalavam, como se sedentas para rasgar alguma carne. As assustadoras foices foram erguidas no ar, prontas para cortar e clivar.
Mas não havia nada para matar debaixo da grande árvore.
O demônio hesitou, olhando para a direita e para a esquerda. Então, levantou a cabeça e olhou para cima.
Felizmente, o galho em que os quatro Dorminhocos estavam escondidos era muito largo, mais do que suficiente para escondê-los de sua vista. A sombra sombria se juntou ao grupo. Eles permaneceram imóveis e silenciosos, com medo de produzir até mesmo o menor dos sons.
Depois de um tempo, a criatura finalmente baixou o olhar e observou cuidadosamente o chão, procurando vestígios de possíveis invasores. No entanto, o chão estava limpo e nu, todos os sinais da passagem dos Dorminhocos apagados por Cássia, pelos ventos fortes de seu cajado.
Não encontrando nada, o Demônio da Carapaça não teve escolha senão se afastar, seguindo para explorar outras partes da ilha.
Nephis transferiu a Sempre-viva de volta para Ariandel, e ele refletiu por um momento sobre o motivo de ela ter feito isso tão imediatamente.
A certa distância, o demônio chegou as bordas da área afetada pela vendaval mágico. Lá, ele finalmente encontrou três conjuntos de pegadas — deixadas para trás por Nephis, Ariandel e Sunless.
Com um rugido de raiva que soou como o clamor de metal rasgando, a criatura gigante desceu correndo pela encosta do Túmulo Cinzento, seguindo as pegadas até o deserto abaixo.
No entanto, o deserto cinza estava desolado e vazio, sem nenhuma criatura viva à vista.
Estava colorido de carmesim pelo sol poente.
Naquele momento, o chão tremeu levemente, e um estrondo trovejante ecoou pelo labirinto, trazendo consigo um vento gelado e o cheiro de sal.
O mar escuro estava retornando...
Lançando um último olhar de ódio em direção ao deserto, o Demônio da Carapaça virou-se lentamente e voltou para o topo de seu túmulo.