Assim que deixaram os confins familiares do labirinto e adentraram a vastidão do deserto cinzento, Sunless sentiu um desconforto inesperado. Era como se tivesse desenvolvido agorafobia sem perceber durante sua jornada pelo caos intrincado do labirinto carmesim.
Ele havia se habituado a estar cercado por altas paredes de coral, com inúmeros caminhos emaranhados estendendo-se em todas as direções até onde sua visão alcançava. Embora o labirinto escondesse diversos perigos, também oferecia uma peculiar sensação de segurança.
Pelo menos, para Sunless, que possuía a vantagem de enxergar além das curvas e reviravoltas graças ao seu furtivo Batedor Sombrio.
Agora, com a areia cinza sob seus pés e nada que interrompesse a linha do horizonte, essa vantagem havia desaparecido. A ideia de não poder se esconder de inimigos o fazia sentir-se vulnerável.
'Mantenha a calma. Não há criatura aqui.'
Esse pensamento, que deveria confortá-lo, surtiu o efeito oposto. De fato, não havia Criaturas do Pesadelo em parte alguma daquele deserto desolado… mas por quê?
O que as fazia evitar tanto esse lugar?
Ariandel caminhava à frente do grupo, seguido por Nephis e Sunless, enquanto Cássia e o Eco traziam a retaguarda, movendo-se devagar. Sunless olhou ao redor e, hesitante, murmurou em voz baixa:
"Eu não gosto disso."
Artesão da Fantasia dirigiu-lhe um breve olhar... e piscou.
"Talvez isso se torne uma memória agradável no futuro. Não se preocupe muito", respondeu ele, em tom descontraído, enquanto se virava.
Eles continuaram em silêncio, com a areia rangendo sob seus passos. Após cerca de quatorze minutos, Ariandel ergueu a mão, sinalizando para que parassem. Voltando-se para Sunless, perguntou:
"O que o sombrio vê?"
Ele franziu o cenho.
"Algumas irregularidades, pequenas colinas ou buracos rasos, mas nada se move. Tudo parece plano e morto, na maior parte."
Sunless se virou para Cássia e, um tanto incerto, perguntou:
"Cassi, você ouve algo?"
Em certas situações, a audição apurada dela era mais eficaz que a percepção sombria dele. Quando enfrentaram a tempestade, Cássia detectara o perigo muito antes de qualquer um dos que enxergavam.
Desta vez, contudo, não havia nada. Ela apenas balançou a cabeça, indicando que nenhum som estranho se fazia ouvir.
Ariandel suspirou, passando os dedos pelos cabelos curtos, pensativo. Fitando ao longe o imponente Túmulo Cinzento, advertiu:
"Fiquem atentos."
Mudando levemente o rumo, guiou o grupo em direção a uma das colinas que Sunless mencionara.
Ao se aproximarem, já era meio-dia.
O sol a pino reduzia suas sombras a pequenas manchas indistintas no chão. A própria sombra de Sunless retornara ao seu estado habitual, aninhada debaixo de seus pés, como uma mancha disforme de escuridão.
Ela odiava essa hora do dia.
Ariandel invocou seu arco e acenou para Nephis investigar a colina. Nada nela parecia especial, exceto o fato de destoar da planície ao redor. Com cerca da altura de Sunless, era levemente alongada e coberta pela mesma areia cinzenta do deserto.
Não parecia representar perigo, mas não custava verificar. Bem… na maioria das vezes. Talvez pudessem descobrir algo útil.
Quando Estrela da Mudança se preparava para tocar a superfície da colina, a sombra de Sunless detectou movimento ao longe, próximo às bordas do labirinto de onde haviam saído.
Agindo por instinto, Sunless avançou em direção a Eco e sibilou:
"Escondam-se!"
Ao mesmo tempo, dispensou o enorme carcaceiro. Com a súbita perda da montaria, Cássia ergueu as mãos e caiu. Sunless a apanhou no colo, como se fosse uma princesa, e correu até a colina, agachando-se atrás dela e colocando a garota cega entre ele e Nephis.
Ariandel se posicionou ao lado de Cássia, descansando um braço em seu ombro, e lançou a Sunless um olhar questionador.
Ele levantou a mão, com a palma aberta, pedindo que esperassem. Sua sombra já espreitava além da colina, observando atentamente a origem do movimento.
Na distância, as paredes mortas do labirinto erguiam-se sobre a areia. Subitamente, uma delas desabou, derrubada por uma figura colossal. Envolta numa nuvem de poeira cinzenta, a criatura avançou, pisando com força na superfície plana.
Oito patas, duas terríveis foices ósseas, uma carapaça negra e carmesim, como uma antiga armadura manchada de sangue… um centurião.
Sunless praguejou mentalmente.
Já haviam enfrentado esses monstros duas vezes antes e vencido em ambas. No entanto, isso só fora possível graças ao planejamento meticuloso e à criação de vantagens táticas. Ele não estava certo de que poderiam derrotar um deles em combate direto sem sofrer grandes perdas.
Voltando-se para Ariandel, Sunless sussurrou:
"Um centurião da carapaça acabou de sair do labirinto."
Ele apenas piscou, enquanto Nephis franzia o cenho. Cássia, por sua vez, tocou levemente a mão de Sunless e perguntou:
"Para onde está indo?"
Concentrando-se na visão da sombra, Sunless exalou aliviado.
"Parece estar indo para o Túmulo Cinzento. Se ficarmos escondidos atrás desta colina e ele não mudar de direção, há uma boa chance de não sermos notados."
Nephis assentiu e respondeu:
"Fique de olho. Avise-nos assim que algo mudar."
Pressionando-se contra a colina, os quatro tentaram se manter o mais baixos e silenciosos possível. O espaço era apertado, obrigando-os a se acomodarem juntos.
Talvez "obrigado" não fosse a palavra certa. Em outras circunstâncias, Sunless talvez até apreciasse a proximidade…
'No que você está pensando, idiota?! Concentre-se no monstro!' repreendeu-se, irritado.
Ainda assim, era difícil se concentrar com o corpo macio de Cássia pressionado contra o seu—
'ELA.'
'TEM!'
'UM.'
'NAMORADO!!'
'Seu, PEVERTIDO louco!!!'
Finalmente conseguindo afastar os pensamentos inoportunos, Sunless suspirou e focou no centurião.
A criatura imponente continuava avançando, cada detalhe de sua carapaça carmesim e gasta agora visível. No entanto, o que chamou a atenção de Sunless foi outra coisa.
Segurando com cuidado entre suas foices, havia um cristal de beleza hipnótica, irradiando uma luz interna ofuscante.
Um fragmento de alma transcendente.
Eles já haviam visto algo semelhante quando dois centuriões recuperaram cristais de uma criatura gigante semelhante a um tubarão.
'Então esse é o destino deles.'
Lançando um olhar ao majestoso Túmulo Cinzento, Sunless notou a impressionante árvore no topo, com galhos de ônix e folhas escarlates vibrantes. Ela parecia algo sagrado, oculto no coração do inferno.
Compartilhando suas descobertas com o grupo em sussurros cuidadosos, ele manteve os olhos fixos no centurião.
O monstro passou ao lado da colina sem desviar.
"Está indo em direção ao Monturo", sussurrou Sunless.
"Siga-o", comandou Ariandel, desconcertantemente calmo.
Sunless assentiu e enviou sua sombra em perseguição. A criatura avançava pelo deserto, segurando o fragmento transcendente com um ar quase reverente, como se fosse um peregrino a caminho de um local sagrado.
Ao se aproximar do Túmulo Cinzento, o centurião parou abruptamente. Lentamente, colocou o cristal na areia e recuou, ajoelhando-se diante dele com as foices inclinadas.
Percebendo o comportamento estranho de Sunless, Nephis ergueu uma sobrancelha.
"O que foi?"
Ele hesitou.
"Espere…"
Nesse momento, sua sombra, que estava escondida em segurança a uma certa distância do monstro ajoelhado, percebeu uma pequena mudança na superfície do Túmulo Cinzento.
O brilho intenso que haviam visto do topo da espinha do leviatã estava de volta, só que, desta vez, ainda mais ofuscante.
O brilho subiu no ar a partir das sombras projetadas pelos galhos da imponente árvore e moveu-se, aproximando-se lentamente das pegadas na colina.
Quando Sunless finalmente conseguiu discernir a fonte do brilho, seus olhos se arregalaram.
Sentindo um calafrio percorrer sua espinha, ele esqueceu-se de respirar.