Nephis observou os dois olhos luminescentes emergirem da escuridão, abaixando um pouco a espada. Seu rosto adquiriu uma expressão sombria.
"Olá, Nephis. Olá, Cássia." A voz de Ariandel ressoou, como se falasse diretamente à alma, enquanto aqueles olhos desconcertantes se aproximavam. Havia algo mais intimidador neles do que em qualquer coisa que pudesse estar escondida nas proximidades.
Nephis se mexeu, o coração nervoso.
"Qual é a situação?" perguntou, cuidando para manter a voz baixa.
Sunny — cuja presença ela não havia notado antes, ao lado de Ariandel, foi quem respondeu:
"Há oito carcaceiros ao nosso redor. Mas todos estão mortos. O assassino é um daqueles monstros grandes que vimos, aquele com o padrão carmesim na carapaça e foices no lugar de pinças. Está se escondendo da tempestade sob uma crista de pedra não muito longe daqui."
Um raio cortou o céu, iluminando a área. Por um breve momento, duas faíscas brancas pareciam acender nos olhos de Nephis. Quando o clarão desapareceu, seus olhos voltaram a ser cinzentos e inescrutáveis.
Inclinando a cabeça, ela murmurou, como se falasse consigo mesma: "Um monstro desperto."
A risada de Ariandel soou, baixa e quase casual. Então, ele perguntou, como se já soubesse a resposta:
"Sim. De fato, o que faremos a respeito?"
Nephis encarou aqueles olhos quase sorridentes, apoiando-se na espada. Após um instante de silêncio, perguntou:
"Qual o seu plano?"
As formas nos olhos de Ode to the Ruined se reorganizaram, refletindo um misto de satisfação e determinação.
"Em primeiro," ele disse, ajustando o peso de uma perna para a outra, "vamos recuperar os recursos à nossa disposição. E, com isso, incluo admitimos algo: não fomos completamente honestos sobre as capacidades de nossos Aspectos."
Nephis, impassível, sentiu outro desconforto percorrer suas entranhas. Sunny ficou tenso ao lado de Ariandel, que apenas continuou, com uma fala despreocupada:
"E, dada a urgência da situação e os desafios futuros, proponho que pulemos algumas formalidades."
Um leve sorriso surgiu em seu rosto.
"Eu possuo um Aspecto Divino, assim como você e Sunny."
Nephis apertou o punho da espada, enquanto percebia Sunny se afastar levemente de Ariandel. Este, no entanto, simplesmente fechou os olhos, ainda indiferente.
"Graças a esse Aspecto, eu também tenho a habilidade de projetar uma cópia de mim mesmo — totalmente capaz e autônoma."
Foi então que ela percebeu a presença de um segundo Ariandel, próximo a eles, observando calmamente sua espada erguida.
Esse Ariandel sorriu e continuou:
"Você ainda não revelou sua Habilidade de Aspecto, Changing Star, e eu recomendo que descubra como utilizá-la logo."
"Enfrentar um monstro desperto não é algo que qualquer Adormecido deveria ter que fazer," disse o Ariandel original, movendo-se ao lado de Sunny. O outro invocava um arco em suas mãos.
"Mas, nenhum de nós quatro é um qualquer."
O segundo Ariandel, agora com o mesmo arco, acrescentou:
"Então, em segundo, é simples."
Ambos falaram em uníssono, as palavras carregadas de calma e determinação:
"Vamos matá-lo."
***
Algum tempo depois, Sunny estava parado na escuridão, encarando a criatura aterrorizante à sua frente. Sua expressão era sombria e séria. Segurando firmemente a Lâmina Azure, ele inalou lentamente.
Ele até estava começando a gostar de Ariandel, mas agora tinha motivos de sobra para ressentir-se do sujeito.
'Eu não gosto disso.'
Com esse pensamento, exalou, ergueu a mão e convocou o sino prateado. Agitou-o levemente, fazendo seu som melódico ecoar em meio à tempestade.
Imediatamente, o monstro abaixo se moveu, girando o enorme tronco à procura da origem do ruído repentino. Ao avistar Sunny, uma chama carmesim de fúria acendeu-se em seus olhos.
Sunny, no entanto, não viu nada disso, pois já estava de costas. Assim que o sino tocou, ele se virou e pulou da crista sem hesitar.
A crista não era muito alta, mas a queda até o chão era significativa. Sunny aterrissou com força, rolando para dispersar o impacto. Assim que se levantou, começou a correr, afastando-se o máximo possível.
Um instante depois, a crista explodiu atrás dele. O monstro atravessou as rochas com seu corpo volumoso, destruindo-as como se fossem papel. Simultaneamente, um relâmpago iluminou o céu, seguido pelo trovão que abafou o estrondo dos escombros.
A criatura se lançou em perseguição, tentando perfurar Sunny com uma de suas foices. Fragmentos de rocha fluíam como uma torrente da carapaça espinhosa do monstro.
Felizmente, Sunny já estava distante o suficiente. Sem diminuir a velocidade, abaixou o corpo e correu mais alguns metros antes de se virar.
A visão da criatura — mais de três metros de altura, avançando como um trem desgovernado — teria feito qualquer pessoa hesitar.
Mas Sunny manteve-se firme, erguendo a Lâmina Azure acima da cabeça. Afinal, ele era a isca.
A poucos metros de distância, o monstro finalmente atingiu a armadilha.
Quase invisível sob a escuridão e a chuva torrencial, a corda dourada estava esticada entre dois pedregulhos maciços na altura das juntas das pernas da criatura. Sunny havia passado por baixo dela antes.
Se fosse uma corda comum, teria se rompido facilmente. Mas a corda dourada era uma Memória, incrivelmente resistente graças aos seus encantamentos.
As rochas às quais estava presa, porém, eram comuns. Elas se despedaçaram quase instantaneamente.
Mas o estrago já estava feito.
Com as pernas dianteiras subitamente puxadas para trás — e duas flechas cravadas em seus olhos —, o monstro perdeu o equilíbrio e caiu de cara no chão. Deslizou sobre a pedra molhada, deixando uma vala rasa para trás. Sunny saltou para o lado, desviando dos escombros.
O monstro rugiu, furioso. Suas foices de osso perfuraram o chão, parando o corpo massivo bruscamente. Ágil e rápido para o tamanho, começou a se levantar.
'Se ele se levantar, estamos perdidos.'
Sunny sentiu o coração acelerar.
Felizmente, o Echo foi mais rápido.
Disfarçado entre os carcaceiros mortos, o Echo se levantou no instante em que o monstro caiu. Avançando rapidamente, pulou sobre a carapaça do inimigo, cravando suas pinças nos braços da criatura, logo abaixo das foices.
Os espinhos da carapaça feriram o Echo, mas ele conseguiu imobilizar o monstro por um breve segundo.
E um segundo foi suficiente.
Como se surgida do nada, Nephis apareceu. Avançando por entre as foices mortais, ela desferiu um golpe devastador com sua espada longa, colocando todo o peso por trás do ataque.
Eles não tinham certeza se o monstro desperto possuía o mesmo ponto fraco nas costas que os carcaceiros menores, mas fazia sentido que houvesse uma brecha entre a carapaça e a armadura do tronco.
'Qualquer coisa que precise ser flexível não pode ser completamente rígida.'
A ponta da espada da Estrela da Mudança encontrou a brecha e afundou profundamente, até que o cabo roçou contra a quitina.
'Isso aí!' pensou Sunny, triunfante.
Mas no instante seguinte, sua expressão se assombrou.
A criatura nem pareceu notar a ferida. Retorcendo-se violentamente, jogou o Echo para longe e se levantou. Suas foices de osso raspavam contra a pedra, preparando-se para atacar.
Nephis estava bem na frente dele, desarmada, com a espada ainda cravada no corpo do monstro.
'Ah, não!'
Sunny estava longe demais para intervir. O Echo ainda estava no chão, tentando se levantar após o impacto.
Então, surgindo como uma miragem, Ode to the Ruined apareceu, arrancando a espada do torso da criatura em um movimento ágil, junto com Nephis.
Sem hesitar, eles se moveram em perfeita sincronia: Nephis mergulhou para se abrigar sob o corpo blindado, enquanto Ode to the Ruined desviava rolando das foices cortantes que rasgavam o ar às cegas. No processo, sua longa trança foi partida entre os golpes.
Enquanto o Echo segurava o monstro novamente, Ode to the Ruined lançou a espada sobre as costas da criatura. No instante seguinte, Ariandel emergiu sobre elas, agarrando a lâmina no ar.
Com todo o peso do corpo, ele desceu a espada diretamente na brecha.
A lâmina afundou profundamente.
O monstro enrijeceu-se. O Echo o segurou com mais força, enquanto Ode to the Ruined e Estrela da Mudança se afastavam apressados.
Ariandel manteve o peso sobre a espada cravada, forçando-a ainda mais para dentro.
A criatura estremeceu, como se resistisse ao inevitável, mas... finalmente parou de se mover.