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Chapter 13 - Fragmentos de Um Eu Desdobrado

Ariandel tinha certeza de que sua habilidade dormente era capaz de muito mais do que apenas torná-lo um observador silencioso e uma "cafeteira" de café efêmero. Pelo que sabia, a habilidade dormente de um Aspecto Divino pode ser dividida em sub-habilidades. A de Nephis permite que ela cure, destrua e fortaleça a si mesma ou uma memória. Sunny possui seu Sandow Sense, pode separar sua sombra de si mesmo, percebendo o mundo por ela, ou, alternativamente, usá-la para aprimoramento, assim como Nephis.

Ambos podem construir múltiplos núcleos, que lhes conferem mais poder, e também possuem uma quarta habilidade, vinculada a esses núcleos. Nephis consome um dos seus para ir "I Am Atomic", enquanto Sunny pode dizer "Rise" a um eco, transformando-o em uma Sombra e podendo ter uma para cada núcleo que possui. Mordret, por sua vez, pode separar um de seus núcleos para criar suas infames Reflexões, e sua habilidade dormente lhe permite controlar reflexos, ver e viajar por superfícies reflexivas.

Há mais algumas peculiaridades, como: a propriedade purificadora das chamas de Nephis, a senciência das Sombras de Sunny e a invulnerabilidade de Mordret, que só pode ser morto se seu reflexo for destruído. E isso ainda não é tudo das capacidades de ambos enquanto simples Adormecidos.

Um Aspecto Divino era, em última análise, injusto.

Ariandel já havia desdobrado algumas facetas de seu próprio Aspecto, sentindo uma compreensão instintiva enterrada em seu subconsciente. Só precisava acessar esse conhecimento e aprender como aplicá-lo.

Mais uma vez, ele alcançou seus núcleos com o Sentido Mental e então ordenou que um se separasse em uma Refração.

[Transformar núcleo onírico da alma em uma Refração?]

"Sim," ele respondeu ao Feitiço, que sussurrou com voz terna. 

A pressão foi leve, como um estalo na essência de Ariandel, e a Refração se materializou diante dele. Uma versão sua, mas com um brilho peculiar nos olhos e um sorriso que não era inteiramente seu.

Ariandel observou, surpreso.

"Uau," disse ele, um riso escapando dos lábios. "Isso é… muito mais real do que eu esperava."

A Refração sorriu de volta, quase idêntica a ele, mas com um toque de ironia.

"Você esperava o quê? Que eu fosse um 'espelho' sem alma?" respondeu a Refração, seu tom brincando com a ideia, fazendo referência a algo que Ariandel obviamente havia compreendido.

Ariandel piscou, surpreso. "Bem, não pensei que você teria, hum... tanto senso de humor."

A Refração deu um passo à frente e, com um gesto despreocupado, olhou-se no espelho. "O humor é uma das minhas melhores qualidades. Afinal, eu sou uma extensão de você, não é?"

Ariandel permaneceu em silêncio por um momento, inclinando ligeiramente a cabeça, como se estivesse examinando-a com um olhar mais profundo. "Eu nunca esperei que a Refração fosse outro eu, mesmo cogitando algo como as Sombras de Sunny."

A Refração virou-se para ele, um sorriso travesso brincando em seus lábios. "Parece que sou uma ajudante mais estimável do que elas. E se eu fosse só uma 'encarnação', não teria um sorriso como esse, não é?"

Ariandel sentiu uma leveza no ar, uma estranha mistura de incredulidade e diversão. 

"Bem, isso abre a imaginação para alguns enredos bem conhecidos e preocupantes", disse ele, rindo baixinho. "Parece que você está sendo mais 'eu' do que eu mesmo."

Ela deu de ombros, com uma expressão de leve desdém. "Eu sou você, mas sem o peso de ser você o tempo todo. Acho que é isso que me torna interessante."

Ariandel suspirou e a observou novamente em silêncio por um momento, maravilhado com a naturalidade com que ela se movia e com sua atitude quase irreverente. Ele não tinha certeza do que estava acontecendo, mas estava fascinado.

"Ok," ele finalmente disse, "vou precisar me acostumar com isso."

A Refração fez um gesto amplo, como se já estivesse aceitando a situação. "Você me diz o que fazer; afinal, você tem o nosso espírito. Eu sou apenas uma projeção da sua imagem mental, ancorada no núcleo que você separou."

Ela ergueu levemente o queixo e curvou os lábios com desdém ao dizer: "E não se preocupe muito. A vida frequentemente requer alguma excitação, alegria e antecipação."

Ariandel riu da brincadeira, percebendo que estava lidando com mais do que apenas uma projeção. "Eu realmente não sei se estou no controle aqui, mas vamos ver até onde isso vai."

Decidido a testar seus limites, ele instruiu a Refração a projetar as roupas que usaria normalmente. Em um piscar de olhos, ela estava vestida exatamente como ele, mas com um toque de desdém que ele jamais exibiria.

"Perfeito. Agora, vá ao jantar," ele ordenou. "Aja normalmente, sem essa soberba toda."

A Refração o olhou com um sorriso de lado. "Você me subestima, Ariandel. Claro que eu sei como agir."

Ela saiu do quarto com um ar de confiança que fez Ariandel sorrir, ainda sem saber o que esperar. Ele se acomodou na banheira, aguardando com uma mistura de apreensão e expectativa.

Na sala de jantar, a Refração entrou com um passo tranquilo, mantendo uma presença natural e fluida. Quando se dirigiu à mesa, Cássia se virou em direção ao som dos passos de Ariandel, e Sunny, com um olhar desconfiado, deu um aceno de cabeça.

A Refração, agora perfeitamente imersa no papel, sorriu. "Boa noite," disse com um tom calmo, mas com um leve toque de sarcasmo.

Cássia sorriu, sentindo a presença de Ariandel, embora não pudesse vê-lo. "Boa noite," ela respondeu, reconhecendo o familiar cheiro do perfume que ele usava.

Sunny, com seus olhos sempre atentos, observou a Refração com uma leve suspeita. "Você está diferente hoje," comentou, mas sem demonstrar muita surpresa.

A Refração riu baixinho, quase desafiando a desconfiada observação de Sunny. "Eu sou sempre o mesmo. Você que deve estar mais sensível."

Ariandel, que estava assistindo tudo mentalmente, não pôde evitar sorrir. Ele estava acostumado a lidar com Sunny e Cássia, mas ver a Refração agindo com tal naturalidade e até certo desafio o deixava intrigado.

"Como foi o seu dia, Cássia?" a Refração perguntou, casualmente, mantendo o tom suave e amigável. Ariandel, do outro lado, sentiu uma satisfação sutil ao perceber que ela estava se saindo bem. Ele sabia que podia assumir seu corpo quando quisesse, mas não parecia haver necessidade; era como se ela soubesse exatamente como se comportar, apesar de ser, por vezes, desdenhosa.

"Foi bem, obrigada," Cássia respondeu com um sorriso suave, sua voz tranquila transmitindo uma calma que aquecia o ambiente. Ariandel sentiu um calor crescente, como se aquele simples gesto de resposta carregasse uma suavidade que o tocava de maneira inesperada.

Quando o jantar chegou ao fim, a Refração levantou-se, quase dançando enquanto se retirava. "Até logo," disse com um tom de despedida afetuoso, antes de sair da sala.

Ariandel, no corpo principal, que agora estava deitado na cama, riu silenciosamente. Ele não tinha ideia de como isso tudo funcionava, mas estava se divertindo. Talvez, quando se acostumasse mais com a ideia de ter uma versão sua atuando em seu lugar, as possibilidades se expandissem ainda mais.

De volta ao quarto, a Refração retornou, e Ariandel, agora mais relaxado, fundiu sua consciência com a dela, permitindo que a experiência se tornasse mais imersiva. Ele sentiu o corpo dela como se fosse seu, os movimentos fluindo com naturalidade, mas com a sensação de algo novo, algo inexplorado.

"Então," ele perguntou mentalmente, seu pensamento se fundindo com o da Refração, "qual será o próximo passo?"

A resposta veio com um sorriso quase imperceptível, como se ele mesmo estivesse se divertindo com a situação. "Acho que vou ter que descobrir, não é?"