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Chapter 17 - Entre os Fios do Destinos

Ariandel estava ao lado de Cássia, ambos envolvidos em um silêncio que, surpreendentemente, era quase agradável — pelo menos dentro do que era possível na situação em que se encontravam.

Como ele havia previsto, foi enviado para a Costa Esquecida. Mas o Feitiço não apenas lhe deu a oportunidade de se reunir com os personagens principais em sua jornada pelo Reino dos Sonhos; também o colocou no exato pico de coral onde Cássia e Nephis se encontrariam.

"Segundo o romance, este lugar é tão grande quanto uma pequena ilha," refletiu Ariandel, organizando mentalmente o curso dos eventos que agora sabia que enfrentaria.

Nephis devia estar em algum lugar por perto. Ele lembrava que, no segundo dia após o Feitiço transportá-los para cá, ela já havia encontrado Cássia. Naquela noite fatídica, cometeram o erro de acender uma fogueira na escuridão selvagem, atraindo não apenas os Necrófagos da Carapaça, mas também outro horror das profundezas.

"Na verdade, é justo eu me colocar acima de Nephis no ranking dos Adormecidos," pensou ele, contendo um suspiro de exasperação. Afinal, o que seria dela sem a ajuda do roteiro?

Ariandel retomou o raciocínio. "Elas só poderiam ter se encontrado em um período tão curto se já estivessem próximas. E não há outro ponto seguro perto deste pico isolado."

Assim que se encontrou em meio à escuridão, de pé sobre a superfície áspera e úmida, ele expandiu seu Sentido Mental ao máximo, captando a familiar aura de Cássia. Era tão intensa, tão carregada de desespero, que parecia um farol na noite.

Demorou algum tempo para se orientar no labirinto de cheiros de sal e sons de ondas quebrando até conseguir seguir em direção a ela. Seu Sentido Mental não era tão útil para navegar no escuro quando aquele cuja aura ele seguia não estava plenamente consciente do próprio entorno. Até agora, não havia detectado outra presença significativa. Nephis provavelmente encontraria Cássia apenas durante o dia.

"O ato de Nephis acender a fogueira é crucial para nos reunirmos com Sunny," ponderou Ariandel, "mas como permitir isso sem parecer um tolo?" Ele considerou a possibilidade de evitar Nephis até que ela cometesse o erro, já que sua própria perspicácia, demonstrada em momentos futuros, poderia levantar suspeitas.

"Nephis é cautelosa por causa do assassino que sabe que aparecerá, embora não tenha ideia de quem seja." Ariandel, com sua capacidade e vasto conhecimento inexplicável — privilégios de ser um transmigrador —, sabia que seria inevitavelmente o suspeito mais óbvio.

"Não vou cometer a mesma ingenuidade de Sunny." Ele sabia que o engano não era seu ponto forte. Precisava guardar o que sabia em segredo sem mentir — nem mesmo com meias-verdades.

"Sim, evitarei Nephis." A decisão estava tomada. Com sua Habilidade e a Memória que havia compartilhado com Cássia, ele poderia facilmente manter ambos ocultos, tanto de Nephis quanto das consequências que a fogueira traria.

"Basta apenas garantir que Cássia não perceba minha intenção." Com esse pensamento, Ariandel selou seu plano até a próxima noite.

Cássia se mexeu ao lado dele, quebrando o silêncio.

"Ariandel," chamou ela, hesitante, enquanto as ondas continuavam a cantar sua eterna canção, acompanhadas pelo vento frio.

Ele demorou um segundo para afastar a mente de seus pensamentos e retornar ao presente antes de responder: "Sim, Cássia?"

"Obrigada," disse ela, sua voz agora mais firme.

Ariandel riu suavemente, um som natural, quase musical. "Foi um prazer," respondeu com simplicidade, mas sua voz carregava uma suavidade calorosa.

Mesmo na escuridão, Ariandel sentiu o sorriso sincero de Cássia. O som suave das ondas e o sussurrar do vento preenchiam o silêncio entre eles. Após alguns momentos, Cássia se moveu novamente. Ele percebeu o fio sutil de uma luz surgindo, tecendo-se em uma memória.

"Você quer um pouco de água?" perguntou ela, hesitante, estendendo algo em sua direção antes de acrescentar: "Tenho uma Memória que produz água potável."

Embora não pudesse ver, Ariandel ouviu o leve tilintar do vidro sendo manuseado. Ele hesitou brevemente, então respondeu com gentileza: "Não, obrigado."

"Não... quer?" Sua voz carregava um tom de surpresa, quase de incredulidade. "Você não está com sede?"

Ariandel balançou a cabeça, mesmo sabendo que ela não podia ver. "Desde que acordei do meu Primeiro Pesadelo, não sinto necessidade de sustento. Não sinto fome nem sede. Ainda me canso, mas descansar parece mais uma conveniência do que uma necessidade."

Ela ficou em silêncio por alguns instantes, e o som discreto do tecido de sua túnica farfalhando indicou que havia retraído o braço, aceitando sua resposta.

"Isso é... conveniente," murmurou, mais para si mesma do que para ele. Sua voz estava neutra, mas Ariandel percebeu algo mais profundo — talvez uma ponta de inquietação.

Ele a observou através de seu Sentido Mental, captando o delicado emaranhado de emoções que fluíam em sua mente: incerteza, um toque de frustração e algo mais pesado, um desamparo habilmente escondido.

"Vamos verificar o que temos à nossa disposição," sugeriu Ariandel. Ele sabia que era importante passar confiança, especialmente em um momento em que dois Adormecidos precisavam sobreviver juntos no Reino dos Sonhos. Ao mesmo tempo, queria ajudar Cássia a acreditar em sua própria capacidade, sem oferecer consolo vazio.

"Eu ainda tenho mais uma Memória: um arco desperto que pode formar flechas da essência do seu portador."

Ele fez uma pausa e, chamando suas runas, explicou:

"Meus Atributos," disse, antes de resumir com clareza: "Eles me dão alta afinidade com o destino e o divino, aprimoram minha acuidade mental e fortalecem minha resiliência."

Ele sentiu a atenção de Cássia se concentrar nele enquanto continuava:

"Meu Aspecto é um pouco complexo. Tenho um sexto sentido que me permite perceber outras pessoas e criaturas ao meu redor. Foi assim que eu te encontrei, e posso dizer que não há ninguém — ou nada — por perto neste momento. Você já conhece a minha Invisibilidade Psicológica, que usei para passar despercebido entre os Adormecidos."

Embora não pudesse ver o rosto dela, Ariandel tinha certeza de que Cássia estava fazendo uma expressão incrivelmente adorável, absorvendo tudo que ele dizia.

"Também consigo projetar ilusões indistinguíveis de coisas reais, que podem ser usadas como forma de ataque. No entanto, elas não causam danos permanentes à matéria. Algumas projeções, como as roupas que estou usando, possuem substância real, mas não as realizo tão bem quanto as ilusórias."

O Sentido Mental de Ariandel captou a onda de choque que percorreu Cássia. Ele podia imaginar sua expressão — provavelmente boquiaberta — diante de tudo que acabara de ouvir.

Cássia permaneceu em silêncio por um momento. Quando finalmente falou, sua voz soava hesitante, mas com uma determinação delicada:

"Eu... acho que também devo falar sobre as minhas capacidades. Não são tão impressionantes quanto as suas, mas..." Ela parou, buscando as palavras certas, antes de prosseguir com uma suavidade inconfundível. "Eu tenho duas Memórias além desta garrafa. Uma é um cajado que pode invocar vento. Ele é útil para afastar criaturas pequenas ou criar uma distração."

Fez uma pausa breve, e Ariandel percebeu o movimento quase imperceptível dela puxando o cabelo para trás, como se o gesto a ajudasse a organizar os pensamentos. "A outra é uma corda dourada. É muito resistente e pode se estender mais do que parece possível. Não é uma arma, mas já me salvou algumas vezes."

Cássia parou novamente, respirando fundo, e então sua voz assumiu um tom ainda mais baixo, quase envergonhado. "Quanto aos meus Atributos... eles me dão afinidade com revelações e destino. Eu consigo sentir coisas... coisas que estão por vir, ou que já aconteceram."

Ela hesitou, como se receasse continuar, mas havia um toque de teimosia em sua voz que Ariandel reconheceu. "Minha Habilidade de Aspecto... me permite ver os Atributos das pessoas. Mas... eu preciso estar perto para aprender sobre eles, pelo menos quando se trata de Despertos ou Criaturas de Pesadelo."

Cássia fez uma pausa, e Ariandel sentiu um sutil constrangimento na mente dela, como se estivesse prestes a revelar algo mais pessoal. "Às vezes, eu também recebo... visões. Elas podem ser fragmentos de um passado distante ou de algo que ainda não aconteceu. Nem sempre fazem sentido, mas... às vezes, me ajudam."

Ela riu suavemente, um som mais para si mesma do que para ele, e acrescentou com uma autoconsciência tímida: "Comparado ao que você pode fazer, parece... humilde. Mas é o que eu tenho."

Mesmo sem enxergar, Ariandel podia sentir o leve rubor que subia pelas bochechas dela, não de vergonha, mas de uma modesta aceitação de suas próprias capacidades. Ele riu, e sua voz carregava uma nota calorosa quando respondeu:

"A corda será muito útil. E você é uma oráculo? Isso é bom. Os videntes podem não ganhar a glória que merecem, mas receber orientações do destino e saber sobre os inimigos com antecipação é algo crucial, ainda mais nas situações em que nós dois nos encontramos. Porque, pelo que posso perceber, não estamos em nenhum lugar conhecido do Reino dos Sonhos."