No dia do solstício de inverno, Ariandel acordou sentindo-se cansado e sonolento. Por mais que tentasse afastar o cansaço, ele parecia uma névoa que se recusava a dissipar. No final, simplesmente permaneceu na cama por um tempo, enrolado em um cobertor.
Aquela sensação de sonolência interminável e envolvente era a mesma que sentira nos dias que antecederam seu Primeiro Pesadelo. Algo que ele não se recordava com clareza, mas que, paradoxalmente, lhe parecia interessante.
Movido por sua natureza curiosa, que estava exacerbada desde que "acordara" neste mundo — outrora apenas uma narrativa para ele —, Ariandel achava a ideia de viver uma fantasia excitante, mesmo sabendo o quanto ela podia ser mortal.
"Ugh", resmungou, massageando as têmporas. Era um gesto que não gostava de fazer, mas naquele momento parecia apropriado.
"Qual era mesmo o nome do capítulo que narrava este dia no romance? Ah, 'Último Dia na Terra...' Sim, era isso. E, pelo menos, será assim por um tempo."
Ao cair da noite, o Feitiço levaria ele e os outros Adormecidos para o Reino dos Sonhos. O que enfrentariam naquele mundo mágico e arruinado? Ariandel só conhecia o que fora descrito no romance — uma visão vaga comparada à mortal riqueza de detalhes da realidade.
Mas não fazia sentido adivinhar. Ele já havia feito tudo ao seu alcance para se preparar para o inevitável. Estudou, treinou, e possuía tantas vantagens que não perderia nem para os Legados. Seu Aspecto era possivelmente o melhor entre os de Ranking Divino. Sua convicção era inabalável, e sua determinação, forjada ao longo de duas vidas, o tornava uma força imponente contra o destino.
Com um suspiro, Ariandel levantou-se e seguiu sua rotina matinal. Se aquele fosse seu último banho quente por um bom tempo, ele pretendia aproveitar cada momento. Também decidiu que não se esconderia mais dos olhares curiosos naquele dia.
***
A cafeteria estava cheia de Adormecidos, mas o silêncio reinava. Todos pareciam abatidos e introspectivos, sem as risadas ou conversas animadas de costume. Até mesmo os Legados, geralmente confiantes, mantinham-se reservados.
Enquanto esperava sua vez na fila, Ariandel observava casualmente os outros Adormecidos pegando suas xícaras. Ao ver alguém encher o copo com açúcar, ele quase suspirou. Desde que entrara na Academia, cultivara um desprezo irracional pelo hábito de adoçar café. O amargor era parte de sua essência, e tentar suavizá-lo parecia um ato quase sacrílego.
"Se não gosta do amargor, então não beba! Na verdade, beba, mas sem açúcar!" pensou com irritação, embora uma sombra de humor suavizasse sua expressão.
Minutos depois, tomou seu lugar habitual perto de Cássia, esperando Sunny, que sempre se juntava a eles por não ter outra escolha. Apesar da proximidade forçada, Sunny e Cássia nunca haviam conversado, nem mesmo com Ariandel influenciando o destino deles. Ele estava curioso para ver se isso mudaria.
Assim que Sunny se sentou, Cássia de repente virou a cabeça em sua direção, seus belos olhos azuis cegos fixos nele.
Sunny olhou ao redor, checando se alguém mais havia chamado sua atenção, e, depois de ter certeza de que não havia ninguém atrás dele, perguntou:
"O-q-que?"
Cássia ficou em silêncio. Seus lábios se abriram, mas nenhuma palavra saiu por um momento. Era como se ela estivesse decidindo se deveria falar. Finalmente, com a voz baixa e hesitante, ela disse:
"Parabéns."
Ariandel suspirou internamente. No mundo de Shadow Slave, o destino era uma força real, e alterar sua trama não era uma tarefa simples.
"Mas, pelo menos, não preciso temer a incerteza do futuro," consolou-se, tentando focar no lado positivo.
Sunny lançou um olhar desconfiado para Cássia, abriu a boca para responder, mas desistiu. Ele parecia temer mais a garota do que o próprio Ariandel.
"Uh... obrigado," respondeu finalmente.
Cássia apenas acenou com a cabeça e desviou o rosto, perdendo o interesse em continuar a conversa.
Respeitando o clima sombrio que pairava sobre os Adormecidos, Ariandel conteve seu bom humor habitual, embora sua confiança visível continuasse a incomodar Sunny.
***
Enquanto tomava um gole de seu café preto, Ariandel se pegou pensando:
"Quando é o meu aniversário e quantos anos eu realmente tenho?"
Era um pensamento aleatório, mas que se entrelaçou com outro: a Habilidade de Aspecto Dormente de Cássia. Ela podia ver os Atributos das pessoas. O que será que pensava dele ao conhecê-los?
Não havia percebido qualquer comportamento diferente nela, nenhuma reação notável. Talvez ainda não tivesse visto seus Atributos, ou simplesmente não lhes dava importância. A segunda opção parecia mais provável. Afinal, nesse momento, Cássia parecia imersa em total desesperança.
Ele suspeitava que sua tentativa de conseguir apoio do governo ou dos grandes clãs — expondo seu Aspecto de Ranking Sagrado — havia fracassado, assim como na história original. Se estivesse certa de que estava condenada a morrer no Reino dos Sonhos, nada mais deveria ter importância. Talvez fosse por isso que se agarrava à presença de Ariandel, mesmo que o alívio que ela encontrava nele fosse apenas uma fuga efêmera da realidade.
"Quantos anos Cássia tem agora?" Ele tentou se lembrar. "Dezesseis, não é?"
"Que história sombria..." Pensou, suspirando mais uma vez.
***
Ariandel deixou a cafeteria para visitar a sala de Sobrevivência na Selva. Não havia aulas naquele dia, mas ele queria se despedir do Professor Julius. Seguindo os passos de Sunny, ele encontrou o jovem lá, recebendo mais uma enxurrada de dicas do professor — um homem fofoqueiro, mas genuíno, cujo cuidado tocava até o coração endurecido de Sunny.
Depois de expressar sua gratidão pela paciência e dedicação do professor, Ariandel deixou a sala.
***
Quando o sol começou a se pôr, os Adormecidos foram reunidos no saguão do Centro e levados para fora pelo Instrutor Rock. Nos parques nevados ao redor do prédio branco, outros grupos de Adormecidos também se dirigiam ao mesmo destino: o centro médico da Academia.
O edifício, que mais parecia uma capela do que um hospital, abrigava tecnologia avançada e os melhores Curandeiros entre os Despertos. Lá, os corpos dos Adormecidos seriam mantidos em cápsulas especiais, e sustentados por poderes curativos enquanto suas almas viajavam pelo Reino dos Sonhos. Claro, o retorno deles dependia apenas de sua sobrevivência naquele mundo perigoso.
Mas, em vez de levá-los diretamente à ala das cápsulas, o Instrutor Rock conduziu o grupo a um andar deserto e abriu as portas para uma ampla galeria iluminada pelos últimos raios carmesins do sol.
Ali, em fileiras organizadas, estavam cadeiras de rodas ocupadas por pessoas imóveis. Seus rostos pacíficos e sem expressão emanavam um silêncio estranho e perturbador.
Sabendo o que encontraria, Ariandel não ficou tão abalado quanto imaginava. Um peso solene tomou conta dele enquanto seus olhos vagavam pelas figuras imóveis. A visão dos corpos vazios, mantidos ali, parecia uma afronta silenciosa à dignidade da vida que um dia pulsara neles.
'Do que vale manter um corpo? É apenas carne...'
Mas ele sabia como as pessoas eram frágeis, principalmente com a perda de um ente querido. Elas prefeririam manter uma casca sem alma do que dar fim ao que restou da pessoa muito amada.
O Instrutor Rock olhou para as pessoas vazias, com os olhos marcados pela sua própria solenidade.
"Há uma razão pela qual eu trouxe todos vocês aqui. Olhem bem e lembrem-se. Alguns de vocês podem saber quem são essas pessoas… Para aqueles que não sabem, elas são chamadas de Ocas."
A tranquilidade que tomava Ariandel deixou um canto de sua mente marcado por uma curiosidade incômoda.
"Cada uma delas era um Adormecido ou um Desperto. Alguns eram fracos, alguns eram fortes. Alguns eram até incrivelmente poderosos. Todos eles pereceram no Reino dos Sonhos."
O Instrutor Rock olhou para ele e, depois, na direção em que Caster e Nephis estavam, acrescentando:
"Então não morram lá fora."
***
Mais tarde, nos quartos designados, os Adormecidos se preparavam para entrar nos pods.
Em um deles, Cássia explorava o espaço com as mãos, tentando se orientar no ambiente desconhecido. Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto delicado, como se a dor de sua alma estivesse se derramando.
No outro, o Legado Caster tremia enquanto repetia uma frase indistinta para si mesmo, seus lábios mal se movendo.
Nephis, por sua vez, encarava suas mãos, onde uma luz branca suave começava a pulsar sob a pele. Seu rosto mostrava uma agonia contida, mas devastadora.
E em seu próprio quarto, Ariandel olhou para o pod à sua frente. Seu gêmeo o encarava com uma expressão desafiadora e arrogante — a Refração que o seguia como uma sombra invisível aos outros.
"Estou pronto. E você, está pronto?"
A Refração nada respondeu. Ele já estava cansado de sua companhia para permitir que ela se expressasse.
"Vamos, volte para minha alma," ordenou.
Com um último olhar para a sala, Ariandel entrou no pod.
***
Na vasta escuridão que o envolveu, uma voz terna ecoou:
[Bem-vindo ao Reino dos Sonhos, Ariandel!]