Depois de Sephina desligar a chamada, Clara perguntou, "Ela está vindo, mãe?"
Sephina assentiu. "Sim. Vamos ver com quem ela se casou."
"Vovó, eu lembro o nome do marido dela," Briena interveio. "Eu procurei por ele, e não há ninguém especial com esse nome. Todos são homens comuns. Isso significa que ela não se casou com alguém significativo, mas apenas com um homem qualquer."
"Isso é melhor. Assim, será mais fácil colocarmos as mãos em toda a empresa."
"Ivan também estará aqui."
"Por que você o chamou aqui?" Clara perguntou. "Para manter sua boa imagem, você não deveria mostrar nossos conflitos familiares para ele."
"Mãe, eu quero que ele veja quão patética é a mulher que ele ama e como ela tem sido apenas um problema para nós."
"Faça como quiser," Sephina encorajou.
Natalie chegou à residência Ford de táxi. No momento em que ela entrou pelo grande portão de ferro, os empregados a avistaram e começaram a fofocar em vozes baixas, mas ela não lhes deu atenção.
Esta casa, se não fosse pelas memórias de sua mãe atreladas a ela, seria um lugar que ela nunca mais pisaria. Essas pessoas a mandaram para um lugar distante com a intenção de fazê-la sofrer e viver à mercê delas. Após a morte de sua mãe, essa chamada família dela a via apenas como um incômodo. A única razão pela qual ela os tolerava era porque ainda os considerava sua família.
Entrando na sala de estar, Natalie viu sua família à sua espera.
"Cadê o seu marido?" Sephina perguntou, desviando o olhar para a porta atrás de Natalie.
"Ele não veio," Natalie respondeu, mostrando desinteresse na conversa.
Sephina lançou a ela um olhar frio e impaciente. "Não lhe disse para trazê-lo também?"
"E não lhe disse que não o conheço?" Natalie manteve sua calma, como se as palavras de sua avó não mais a afetassem. A memória de como todos eles queriam expulsá-la na noite anterior, sem considerar aonde ela iria no escuro, e sem mostrar um pingo de confiança ou misericórdia, ainda estava fresca em sua mente. Ela já tinha tido o suficiente deles.
A mulher mais velha suspirou de irritação. "Ele é tão patético que você não quer que nós o vejamos?"
"Pode-se dizer que sim."
Natalie não tinha vontade de discutir. Eles não confiariam nela de qualquer forma. Tudo o que ela queria era reunir seus poucos pertences e ir embora.
"Mesmo depois do que você fez, você não tem vergonha, não é?" Sephina perguntou, se levantando. "Depois de mandá-la para um lugar distante por anos, eu pensei que você aprenderia a se comportar, mas parece que você só piorou."
Natalie se manteve firme, com um ar teimoso e desafiador ao seu redor. "Está percebendo isso agora, quando já faz dois anos que voltei daquele inferno?"
A bengala de Sephina fez um som surdo contra o chão, um símbolo de sua autoridade sobre a família. "Eu te enviei para lá para te livrar dessa teimosia, assim como a de sua mãe. Mas parece que cinco anos não foram suficientes."
Natalie sorriu ironicamente e se aproximou da mulher mais velha, sua alta estatura lançando uma sombra sobre sua avó não tão alta, um lembrete de Carryn. Essa filha e sua mãe compartilhavam uma força dominadora invisível que parecia fluir naturalmente em seu sangue, ficando mais forte quanto mais eram empurradas para um canto. Era isso que Sephina mais odiava, pois não conseguia controlá-las.
Vendo o ódio nos olhos de Sephina, Natalie perguntou, "O quê? Você quer me enviar para lá novamente?"
Alguns anos atrás, eles a enviaram para um lugar remoto no país assolado por pobreza e crime, deixando-a se virar sozinha. Graças ao descuido deles e à falta de atualizações, ela havia escapado há muito tempo e encontrado um lugar menos perigoso. Só ela sabia o que tinha suportado para sobreviver e voltar para casa.
Um brilho maligno apareceu nos olhos de Sephina. "Você acha que eu não posso?"
"Tente," Natalie desafiou, não recuando.
"Natalie, é assim que você fala com sua avó?" seu pai repreendeu. "Teria sido melhor se você tivesse morrido com sua mãe."
Natalie olhou para ele, suas palavras trazendo de volta as memórias do dia em que ela testemunhou impotente sua mãe morrendo diante de seus próprios olhos, mas esse homem nunca sentiu nada pela perda de sua esposa. Ela sempre se perguntou se esse homem era realmente seu pai, ou se ela era mesmo uma filha dessa família. Eles sempre favoreciam Briena e a tratavam como se ela fosse um espinho em seu lado. Mas ela não tinha motivos para duvidar de sua paternidade; sua mãe não era do tipo que teria o filho de outro homem enquanto casada.
Natalie zombou. "Depois de me enviar para um lugar inculto por anos, você espera que eu tenha modos? Você deveria ter me mantido em casa para aprendê-los, mas então..." ela riu ironicamente, "o que eu teria aprendido em casa? Como seduzir um homem que pertence a outra mulher, assim como sua amante seduziu você e sua filha está fazendo agora."
"Como ousa falar da minha mãe assim?" Briena se levantou, a raiva visível nela e nos rostos de todos.
"Você parece não ter ouvido, mas eu também mencionei você," Natalie retrucou. "Afinal, você é filha de uma amante. O que mais podemos esperar de você?"
Briena marchou em direção a ela, com a mão erguida para bater em Natalie, mas Natalie segurou sua mão no meio do caminho. "Não desta vez, querida. Eu já tive o bastante." Com isso, Natalie a empurrou, fazendo Briena cair no chão.
Todos ficaram chocados ao ver a mudança em Natalie, que ousou revidar contra Briena. Eles estavam acostumados a ver Natalie desistir facilmente, sem saber que ela tinha suportado o comportamento deles para viver em paz.
Enquanto todos se concentravam em consolar Briena, Natalie subiu para o seu quarto para reunir suas coisas, indiferente ao afeto repentino deles pela sua meia-irmã.
Depois de um tempo, Natalie voltou com uma pequena mala e caminhou em direção à porta, sem olhar para ninguém.
"Espere," Sephina chamou.
Natalie ofereceu a ela um olhar preguiçoso, apenas para ouvi-la dizer, "Primeiro, assine esses papéis."
Natalie se sentiu confusa, sem saber o que eles queriam que ela assinasse. "Eu assinarei se isso significar que a partir deste momento, não tenho mais nada a ver com qualquer um de vocês e somos estranhos."
"Você quer romper seu relacionamento conosco? Claro, assine esses papéis, e eu concederei seu desejo."
Natalie caminhou até a mesa e pegou o arquivo. Era um acordo de transferência de ações. Dos trinta por cento das ações que ela detinha da empresa de sua mãe, metade delas deveria ser transferida para o nome de Briena. Natalie não podia acreditar em sua audácia e se perguntava de onde eles tiravam a confiança de que ela assinaria.
Ela jogou o arquivo sobre a mesa e encarou Sephina. "De jeito nenhum. Pode continuar sonhando!"