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Chapter 4 - Tudo é dourado.

É a primeira vez que sinto que estou me escondendo de quem não sei dizer, não sei se é por estar tendo sentimentos tão conflitantes e tão estranhos, não sei se é por temer quem posso me tornar se ficar muito mais tempo com os humanos ou se é pelas consequências de minhas ações pois querendo ou não de alguma forma eu mexi com o equilíbrio, sinto no mais profundo de meu ser que algo está chegando e logo pagarei por meus erros.

Então estou aqui no meu estado mais básico de ser e minha consciência é apenas uma pequena semente entre a escuridão, sinto novos chamados, mas é com muita relutância que viro minhas costas e continuo aqui tentando não pensar no por que daquelas pessoas precisarem de mim. Está tudo bem, elas conseguirão seguir seus caminhos mesmo que eu não ajude, tento me convencer.

Parece mais uma forma de tortura do que a atitude correta, sinto todo meu ser tremeluzir e isso é tão aparente que pelos cantos do universo alguns seres vivos sentem, veem e ficam assustados com o tremor das sombras e tentam se proteger da escuridão esperando um monstro sair por ela, mas tão rápido quanto aconteceu, tudo fica quieto. Me afundo em um mundo sem consciência e sinto tudo afundar, imagino que seja assim que as pessoas se sintam antes de se afogar, primeiro vem o desespero a luta por tentar respirar, depois a aceitação e então tudo fica quieto, seu corpo fica leve e você simplesmente descansa.

E é assim que muitos anos se passam, os pedidos de ajuda um dia param e mesmo fazendo tudo para voltar a ser quem um dia fui nada muda, ainda estou aqui submersa sem me arrepender do que fiz, lamentando ter parado e querendo voltar a sentir coisas novas e aprender coisas novas, sinto uma fome me consumir dia após dia enquanto estou nesse estado, até que fica insuportável. Começo a tentar voltar e nadar contra todos os meus medos e anseios e por fim chego a superfície.

Sinto meu corpo se solidificar o que me causa estranheza, pois a única coisa que queria era voltar minha consciência a superfície, quando abro meus olhos, olhos reais, percebo que estou em minha forma humana a que uso quando se trata de humanos, mas ela parece menor do que costumo deixar, estou sem roupas o que é mais estranho ainda pois quando estou fora sempre coloco algo porque sei que assustaria ainda mais os humanos ao aparecer nua. Tento ignorar toda a estranheza da situação e olho meu entorno, estou em uma sala extremamente branca do teto ao chão, a iluminação parece ser da própria sala, por um momento fico cega com toda essa luz.

A minha frente há uma mesa e uma cadeira, um homem esta sentado nessa cadeira me olhando de maneira acusadora e minha garganta fica seca, espera minha garganta esta seca? Esse pensamento se perde assim que o homem se levanta e começa a aproximar, ele é alto e musculoso quase forte demais, maior até que minha forma anterior e a de agora. Para descreve-lo precisaria usar palavras humanas, a primeira palavra que aparece é lindo ele era lindo, a encarnação da palavra dourado, seus cabelos louros longos até a altura de seus cotovelos, sua pele bronzeada com um leve brilho, seu rosto era ao mesmo tempo austero e divertido, como se tivesse um sorriso a qualquer momento em seus lábios carnudos que estão franzidos agora, sobrancelhas grossas claras, nariz largo e o mais impressionante de tudo seus olhos, eles eram dourados e brilhavam de alguma forma me hipnotizando.

Olho para suas roupas brancas simples, uma camisa e shorts igualmente largos em sua forma grande e ao reparar nisso me sinto um pouca mais nua do que a falta de roupas podem dizer, tento me levantar e me esconder um pouco atrás de meus cabelos, demoro um pouco pois não estou acostumada com o peso desse corpo, afinal eu não vim aqui por vontade própria então esse corpo não me pertence.

Tento parecer corajosa e levanto um pouco o queixo deixando de lado minha nudez pois isso não é a coisa mais importante aqui. Vamos dourado, me diga o que estou fazendo aqui? Penso olhando em seus belos olhos, ele levanta uma sobrancelha dourada de leve e estranhamente sinto vontade de sorrir, não sei por que sinto certa familiaridade com ele.

 -Você achou que podia bagunçar o equilíbrio e simplesmente sumir. -fala com uma voz grossa que de alguma forma faz eu me sentir um pouco quente.

-Quando foi que eu sumi? – perguntei desconfiada.