Chapter 2 - Capitulo 1

E irei dizer agora como tudo aconteceu.

Quando abri meus olhos, me vi cego e indefeso, em um lugar estranho e escuro. Tão escuro que não conseguia diferenciar se meus olhos estavam abertos ou fechados. 

A atmosfera desse lugar era sufocante, carregada de uma solidão palpável. O tipo de lugar que parece onde o medo rastejava em seu peito, crescendo, e lentamente te sufocando. A sensação de desespero fazia cada fibra do meu corpo querer correr e fugir para qualquer direção. 

Mas como fugir, se eu não podia sequer ver onde estava? Era como aquele medo infantil que se sente quando você está sozinho em casa à noite. Aquele sentimento irracional de que, a qualquer momento, uma criatura monstruosa poderia surgir das sombras e te arrastar para o desconhecido. 

E como se fosse uma piada, desta vez, o medo também não era imaginário. Ele era real, denso, enquanto apertava meu coração. O pior de tudo era que eu não fazia ideia do que estava acontecendo ou de como fui parar ali. 

A última coisa que me lembrava era estar em um quarto branco, deitado numa cama. As janelas estavam abertas, e as cortinas balançavam suavemente com o vento. Se eu me levantasse, poderia ver o que havia do lado de fora, mas, por algum motivo, permaneci ali, imóvel, apenas encarando a parede branca e vazia.

As fotografias no quarto eram nada mais do que borrões indistintos, como se eu tentasse me lembrar de algo que não conseguia alcançar. 

De certa forma, era como um ambiente artificial; eu não fazia ideia de quanto tempo estava ali. Enquanto meu olhar vagava perdido, um som irritante ecoava na minha mente: Tiick. Tiick. Era constante, como os tiques de um relógio. 

Até que, lentamente, o intervalo entre os sons foi se alongando. O silêncio começou a preencher o espaço, e minhas pálpebras ficaram cada vez mais pesadas, até que o som cessou por completo. 

Será que estou morto? Não, isso não faz sentido. O que está acontecendo? Preciso sair daqui. Agora! 

Foi nesse momento, quando a escuridão parecia me engolir por completo, que uma voz ecoou do vazio. 

— Esse é o último candidato da lista? 

Com um tom de voz duro e rígido como alguém que analisa friamente um objeto, mas por mais que parecesse estranha, não parecia que ele estava falando de mim.

A voz me atravessou como uma lâmina gélida. O medo que já era intenso se tornou ainda mais assustador. Eu queria correr, mas minhas pernas estavam travadas, como se o ar ao meu redor tivesse se solidificado.

Meu coração batia tão forte que eu sentia as costelas estremecerem, e cada tentativa de respirar parecia insuficiente, como se o oxigênio estivesse se esvaindo do ar. A palavra certa para descrever o que senti não era apenas opressão, era algo muito mais profundo: era mais como terror propriamente dito. 

Eu estava desesperado tentando encontrar alguma resposta dentro de mim. Mas nada fazia sentido. Estaria eu morto? Seria este o inferno, onde minha alma aguardava para ser julgada? Antes que pudesse organizar meus pensamentos, uma segunda voz ecoou na escuridão, mais casual, mas igualmente perturbadora.

 

— Esse é o último candidato? Mas ouvi dizer que eram centenas de milhares...? Uma voz diferente foi ouvida, mais suave, e de certa forma me fazia lembrar de uma mulher gentil... 

— Bons números. — Respondeu a primeira voz. — Provavelmente eles são um pouco menos de dez bilhões. Mas mesmo assim, teremos que encerrar logo ou os "επιφυλακή" vão nos encontrar.

Foi divertido ver o progresso de nossas criações, mas acaba aqui. 

— Verdade, foi... "interessante"... — murmurou a segunda voz, meio decepcionada mas pelo incrível que parecia pelo tom de sua voz parecia que ela não se sentia dessa forma. 

Eu não conseguia entender sobre o que falavam, mas sabia que envolvia algo muito maior do que eu. Cada palavra trocada entre eles parecia carregar um peso impossível de suportar; era doloroso só de ouvir aquilo, como se algo dentro de mim se partisse e quebrasse toda vez que diziam alguma coisa.

E então, uma terceira voz entrou na conversa, firme e autoritária, como um pai repreendendo filhos descuidados. 

— Chega de conversa. Vocês têm trabalho a fazer. 

— Sim, sim. Vamos completar a tarefa sem demora, não é? — Respondeu a voz feminina, claramente surpresa pela intervenção. 

Um suspiro ecoou, seguido por um silêncio tenso. E foi nesse momento que algo mudou. Um estalo de dedos ressoou na escuridão, e, de repente, uma onda de frio percorreu meu corpo. 

Meus músculos começaram a formigar, como se estivessem sendo invadidos por algo que não conseguia entender. A sensação "Fria" de perder o controle, de estar à mercê de algo que não compreendia, me tomou completamente. 

Eu estava respirando pesadamente, o pânico me consumia e meu corpo tremia de maneira incontrolável. 

E então eu senti algo, um olhar, mas não era apenas um; eram três. Um olhar era azul, era frio e, de certa forma, parecia me julgar com um olhar feroz.

O outro era neutro e cinza, quase não o havia percebido; era mais como se simplesmente não se importasse com minha presença.

E o terceiro era o mais forte; ele era dourado e... era um sentimento estranho que aquele olhar carregava. Era um sentimento misto de amor, não... não era isso. Era como se alguém pensasse em outra coisa enquanto olhava para você. 

E eu não sabia como reagir a isso. Mas eu tive que cessar meus pensamentos por um momento, pois foi como se minha própria existência estivesse sendo testada.

 

Era como afundar na lama, mas você não podia se mexer e não havia nada ao seu redor; você respirava, mas os pulmões não se enchiam. Você estava vivo, mas não se sentia assim. 

— Esse aqui parece... estranho. — Comentou uma das vozes indiferentes eu não estava conseguindo me concentrar direito mas parecia ser o dono dos olhos azuis quem disse. 

— Não se preocupe com isso. — Respondeu outra meio nervosa. — Ele é apenas o "πρωτό..."! Está quebrado... — As palavras que seguiram foram distorcidas, como se tivessem sido abafadas. Mas eu me lembro da cor dourada de seus olhos

Não consegui entender o resto do que foi dito.

— Que mau gosto você tem, melhor descartar antes que isso se torne um problema. — Disse a primeira voz, sem qualquer emoção.

Antes que eu pudesse reagir, o chão sob mim, que me suspendia, desapareceu. Eu caí, mergulhando em um abismo sem fim. 

Não havia som, nem luz. Apenas a queda, interminável. A sensação de que estava sendo puxado por algo invisível começou a me levar à loucura. 

Eu tentei gritar, mas a voz não saía. Meus pensamentos se misturavam, tentando encontrar um fio de lógica, mas era inútil. Tudo que eu conseguia sentir era o vazio, a escuridão, me puxando cada vez mais para baixo. 

Mas, então, algo mudou. Um clarão surgiu no meu campo de visão. Primeiro distante, depois mais próximo, até que finalmente me envolveu. 

E com a luz, veio a água. A sensação de ser imerso, de respirar água e ser cegado pela luz ao mesmo tempo. Minha mente oscilava entre o desespero e o alívio, sem saber qual sensação prevaleceria. 

A escuridão me puxou, me afogando no vazio. Então, de repente, uma explosão de luz e a sensação úmida da água. Meu corpo mergulhou em uma onda de frio e a luz do sol perfurou minha visão como estava a muito tempo no escuro, a luz tornava minha visão dolorosa. Eu estava... no oceano? 

Antes de despertar completamente, sonhos estranhos invadiram minha mente. Vi clarões, explosões e flashes confusos que me deixavam atordoado. 

Nada era claro ou fácil de entender; em um momento, parecia que eu estava no céu, no outro, sendo esmagado contra o chão por algo ou "alguém". Essas imagens caóticas me puxavam para diferentes direções enquanto eu lutava, tentando nadar para cima. 

Mas a cada flash, minha consciência escapava por um breve instante, me afogando de novo na confusão. Finalmente, após um esforço monumental, consegui emergir, agarrando-me a algo que flutuava na água. Ao que parecia, era um pedaço de árvore. Respirei com dificuldade, meu peito arfando como se tivesse sido esmagado por um peso invisível. 

— Aaaff... Aaaf... — ofeguei, sentindo cada músculo do meu corpo reclamar. — Caramba... me sinto terrível. Meu corpo estava pesado e dolorido, como se tivesse sido espancado por todos os lados, como se fosse algum tipo de boneca de pano. "Terrível" talvez fosse uma descrição otimista para meu estado.

 Mesmo assim, as visões não paravam. Continuavam me atormentando, como um sonho febril misturado com uma dor de cabeça insuportável. Ao olhar ao redor, tudo o que vi foi o céu azul e o vasto mar que se estendia até onde meus olhos alcançavam. 

— O que diabos eu estou fazendo aqui?

Aos poucos, minhas pálpebras cederam ao peso insuportável da exaustão. Eu me agarrava à madeira, lutando para não me entregar ao vazio, mas o cansaço venceu. E então, tudo apagou.

 — Capitão, eu o vi caindo do céu...

— Droga, amarrem ele!... maldição...

Algumas vozes alcançaram meus ouvidos; uma era surpresa, mas a outra estava furiosa, mas eu estava muito cansado para reagir. Apenas fechei os olhos e me entreguei ao silêncio.

Pouco tempo depois, senti meu corpo sendo erguido. Parecia que estava levantado por... cordas ?, e logo fui jogado no convés do navio. Quando consegui focar, vi algumas figuras humanas que pareciam ser marinheiros. Com esforço, ergui uma das mãos em direção ao sol, que brilhava intensamente atrás deles, ofuscando-me e dificultando a visão de seus rostos.

Então, notei que um dos marinheiros levantou algo; era um pedaço de remo quebrado. Antes que pudesse reagir, o remo caiu em minha direção.

— O que esp… — consegui murmurar, mas antes que pudesse completar a frase, fui golpeado de forma que perdesse minha consciência.

Que belo "Bem vindo ao novo mundo" ein...