Chapter 4 - Capitulo 3

Então aqui estava eu um "Æthar" sabe-se lá oque esse maldito nome ou raça carregava o fato de eu não saber nada sobre isso me irritava constantemente. E o fato de eu não saber por onde começar ou o que fazer neste lugar aos poucos estava me deixando louco.

Com o tempo, trancado na cela, fui forçado a encontrar maneiras de me entreter, ou acabaria perdendo a sanidade.

Às vezes, imaginava estar em casa, em um lugar distante mas por mais estranho que pareça porque eu apenas me lembrava das paredes brancas de minha casa, foi como se minha vida fosse apenas estar preso em uma "Caixa" para então de um momento a outro eu fosse jogado ao mundo.

Ou então começava a me lembrar de sonhos "estranhos". 

HM... acho que devo parar de pensar sobre isso. Pois eu posso já ter perdido minha sanidade…

***

Outras vezes eu contava as pedras ao redor do chão da prisão ou tentava contar a quantos dias estava preso. Esse ciclo de monotonia e angústia se repetia até que o carcereiro Anor aparecesse. Ele tinha um ritual único: uma vez por ano, me chicoteava para celebrar meu "aniversário".

— Feliz aniversário, garoto

Dizia aquele homem monstruoso, enquanto mantinha um sorriso nojento na cara, enquanto isso seu chicote explodia em cheio em minhas costas.

—Aquele desgraçado…

Eu odiava aquele homem com todas as forças, se pudesse eu o mataria , como ? eu não sei, eu conseguiria ,? também não sei. Mas eu faria o que pudesse para que isso fosse feito.

Não… pra quem eu estava mentindo não havia como eu fazer algo como isso…

***

Com o passar dos anos, percebi algo estranho em mim: eu não envelhecia. Já se haviam passado dez anos nesse buraco miserável a quem chamam de cela, e embora meu corpo estivesse fraco e desnutrido, magro propriamente dizendo, a única mudança visível era o crescimento do meu cabelo e barba.

Anor, em uma de suas raras conversas, comentou que nós, os "Æthar" Criaturas enviadas por uma entidade, éramos facilmente reconhecidos, não envelhecemos não importava quanto tempo passasse, também havia outro motivo mas eu não conseguia me lembrar, eu provavelmente tinha desmaiado por causa da dor.

Acho que devo ser sincero agora às vezes, pensava em desistir bater com a cabeça em uma pedra e acabar com tudo ali mesmo, até que não parecia tão ruim. Havia momentos em que a escuridão me chamava, mas, por alguma razão, o medo me mantinha firme. Eu passava horas olhando para a estreita fenda de luz que atravessava as grades da janela. Algumas vezes eu podia ver um pássaro aparecer, talvez estivesse fazendo um ninho ou às vezes estava caçando insetos que caíam na prisão.

Eu invejava aquilo, pobre de mim, sentindo invejo de um pássaro, que estava apenas vivendo sua vida, eu devo ser uma pessoa bem miserável certo ?...

****

— Ei, garoto, você sabe que vai morrer aqui, certo? 

De vez em quando eu podia ouvir a conversa dos guardas, a maioria das vezes eles diziam apenas porcarias, mas eu nunca respondia não tinha interesse neles.

Era estranho ficar preso por tanto tempo, eu não ouvia nada dos outros prisioneiros embora soubesse que havia outras pessoas presas ao lado será que eles não conseguiam dizer alguma coisa ?

Eu pensei em tentar dizer alguma coisa ,mas estava tão desanimado que desisti na mesma hora.

Eu tinha ficado tanto tempo em silêncio que, mesmo se tentasse falar alguma coisa, provavelmente nem mesmo eu reconheceria minha própria voz.

E foi assim que vivi a minha vida nesse lugar... se que se pode chamar isso de vida.

Até que um dia enquanto eu comia, um som estranho começou a ecoar pelas paredes.

toc toc toc toc*

Hm... ?

Eram batidas suaves, e tão discretas que facilmente passariam despercebidas se eu estivesse distraído. Pareciam o som de pequenas pedrinhas colidindo ou algo semelhante a um pássaro batendo um inseto em uma rocha. "Estou ficando louco?" pensei, olhando ao redor com uma expressão complicada, tentando identificar a origem do som.

As batidas persistiam, pequenas e constantes.

Toc. Toc. TOC TOC*.

O som aumentava, ficando mais nítido, e logo comecei a suar frio. "É só a minha imaginação... deve ser," tentei me convencer, mas o barulho era real demais para ser ignorado. Nada mais ao meu redor parecia importar; eu não conseguia focar em outra coisa, e também... o que mais eu poderia fazer?

Larguei a tigela e, com o coração disparado, aproximei-me do chão, pressionando o ouvido contra ele, na esperança de entender de onde vinha o som. A vibração parecia... vir do chão?

Que absurdo é esse?

Então, como se respondesse às minhas dúvidas, o chão próximo ao canto da cela, lentamente, começou a se mover, e então a subir. "Agora sim, estou louco," pensei, enquanto o pânico crescia dentro de mim. 

Corri para o canto oposto, me abaixando com medo e apertando os olhos com força, torcendo para que aquilo fosse uma alucinação, um pesadelo do qual logo acordaria.

Mas eu não acordei.

O som continuava, e o chão continuava a se mover. Em meio à sujeira e às pedras, uma figura começou a emergir. No início, parecia irreal — uma cabeça envolta em bandagens, surgindo das profundezas como uma maldita assombração. Tentei gritar abrindo minha boca para cima e para baixo, mas o choque me calou.

A cabeça virou-se lentamente na minha direção, os olhos azuis brilhando entre as bandagens. Apesar de sua aparência estranha, ele parecia humano. Não consegui determinar sua idade, mas os olhos eram vivos, intensos, como se pertencessem a alguém muito mais jovem.

Ele se ergueu completamente do buraco, sacudindo a poeira das roupas esfarrapadas, piores que as minhas, como se estivesse preso ali por décadas. Seus olhos, ainda de um azul profundo, começavam a ficar nublados, brancos pela idade. Ele sorriu de leve, como se achasse graça na situação.

— Ahh...ha haha — consegui soltar um som e uma risada incrédula, ainda sem acreditar no que via.

Ele levantou-se com calma, estalando os ossos do pescoço e limpando as mãos sujas de terra. Sua serenidade era desconcertante. Finalmente, seus olhos pousaram em mim.

— Ahhh, perdoe-me a intromissão... — disse ele, com uma voz rouca, porém educada e firme, como se estivesse invadindo um lugar comum, e não uma cela de prisão.

Isso é claro, me fazia questionar minha própria sanidade também.

Ele caminhou na minha direção com passos lentos. Seu corpo parecia frágil… não é essa a palavra correta, ele estava magro assim como eu, mas ele mantinha uma postura ereta, apesar de tremer a cada movimento, como se o peso dos anos o estivesse esmagando. Mesmo assim, havia uma intensidade em seu olhar. Ele tinha algo… algo que eu não tinha era como uma luz ...

A tranquilidade com que ele se movia era perturbadora, ele levou uma das mãos ao queixo como se estivesse pensando.

— Achei que estava cavando na direção certa... huhuhu — disse ele, com um tom casual, quase brincalhão, como se estivesse rindo consigo mesmo. Seus ombros subiam e desciam suavemente, como se tentasse conter uma risada. Parecia inofensivo, como alguém que você veria sentado numa praça, alimentando os pássaros.

Eu continuava encolhido no canto da cela, sem saber o que pensar. Ele, percebendo minha hesitação, desacelerou os passos, como se tentasse não me assustar ainda mais.

— Eu sou Nathanael Faraz-Azraq — disse ele, sem tirar os olhos de mim.

Nathanael se apresentou com uma cortesia inesperada colocando uma das mãos ao rumo do coração e a outra na cintura, como se estivéssemos em uma reunião formal.

— Sou prisioneiro neste maravilhoso lugar há vinte anos... oito dos quais foram gastos escavando. Este. Túnel. Huh huh huh... — Ele riu de si mesmo, como se a situação absurda fosse motivo de piada.

Vinte anos? Isso era mais tempo do que eu sequer podia imaginar, o dobro do tempo que eu estava ali. O choque da situação me deixou ainda mais atordoado, e minha mente, confusa, se prendeu a detalhes irrelevantes, tentando processar o que acontecia.

Espere se concentre, foco isso ...isso… isso….

Então, algo em mim cedeu. Após anos de silêncio, as palavras escaparam dos meus lábios quase por reflexo, como se a necessidade de falar fosse maior do que o meu autocontrole.

— Oitenta e seis mil quatrocentos e cinquenta e dois segundos... esse é o tempo de um dia.

Nathanael piscou algumas vezes, surpreso com minha fala repentina. Ele me observou por um momento, tentando decifrar o que eu queria dizer, mas eu continuei:

— Conte esse número trezentas e sessenta e seis vezes... e o carcereiro virá no dia seguinte.

Houve um silêncio entre nós. Nathanael se aproximou com suas mãos trêmulas e enfaixadas e pousou-as sobre meus ombros, quase como se estivesse me ancorando à realidade.

— Ainda espera que algo vá mudar por apenas contar? — Sua voz era gentil, mas as palavras carregavam uma verdade dolorosa.

De repente, todo o sofrimento acumulado dentro de mim explodiu. As lágrimas que eu vinha segurando por tanto tempo finalmente vieram à tona, desabando como uma represa rompida. Eu soluçava, o desespero tomando conta de mim.

— Droga... droga... — murmurei entre soluços, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto e meus ombros tremiam.

Nathanael manteve as mãos firmes sobre meus ombros, dando pequenos tapinhas em sinal de conforto, como se quisesse me consolar da única forma que sabia.

— Não se preocupe, jovem... — disse ele suavemente. — Já passei por essa parte. Mas prometo a você uma coisa... vai passar. Eu prometo.

Havia algo nas palavras dele, algo genuíno em seu tom, que fez com que eu acreditasse, ainda que apenas por um breve momento. Aos poucos, comecei a enxugar as lágrimas com a manga esfarrapada de minhas roupas, enquanto Nathanael me observava com um olhar gentil e compreensivo. Ele sorriu, satisfeito por ter, de alguma forma, aliviado parte do meu sofrimento.

Estendendo a mão, ele me ofereceu ajuda para me levantar.

— Venha, rapaz. Temos trabalho a fazer.

Segurei sua mão com firmeza e me levantei, sentindo-me um pouco mais humano, como se a presença dele tivesse afastado, ainda que temporariamente, o desespero que habitava em mim. Mas então ele fez uma pergunta que me pegou completamente de surpresa.

— Agora... você se importaria de me levantar?

O homem me perguntou enquanto olhava para um buraco na parede da minha cela onde havia algumas barras de ferro e por onde a luz entrava na cela.

— Hã? — respondi, confuso e com uma voz estúpida.

Do que este velho está falando?