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Chapter 2 - Um novo sonho estranho ?

Solto um suspiro de alívio por finalmente entrar em meu apartamento, o lugar não é grande ou aconchegante mas é confortável o suficiente para mim. Meu apartamento tem apenas três cômodos, meu quarto, um banheiro e uma cozinha junto da sala.

Tem um chão de ladrilho cinza desgastados, um teto um pouco mais alto do que eu gosto feito de gesso, desgastados claro, e as paredes são de gesso liso da mesma cor do chão. E desgastadas, claro. Tenho poucos móveis e de pouca qualidade, tenho tentado juntar dinheiro para sair deste lugar logo.

Meu complexo de apartamentos não é tão simples mas o aluguel é barato, tem três andares, cada andar com pelo menos vinte mini apartamentos, não temos um síndico, o dono do complexo é o do o de uma empresa maior que só aparece se houver algum problema sério no local, e ainda sim é apenas para verificar se é realmente importante, fora isso nós pagamos para um funcionário dele que foi azarado o suficiente para ter que cobrar dinheiro de mais de sessenta apartamentos.

Agora você se pergunta por que é que eu vivo aqui? É bem simples, o pessoal do orfanato eram um bando de gananciosos que não queriam ficar gastando dinheiro com tantas crianças, então assim que eu fiz dezoito anos eles me arrancaram de lá e me alugaram este apartamento com ainda menos móveis dos poucos que eu tenho, e claro eles só alugaram, quem tem que pagar o local sou eu então eu tive que procurar um emprego rápido, isso já faz três anos.

Após essa reflexão não posso evitar que meus pensamentos se voltem para aquela época, eu era uma criança meio triste, por algum motivo nenhuma família queria me adotar, eu culpo essa grande cicatriz de queimadura que tem do lado esquerdo do meu rosto, ela vai de um pouco acima da minha sobrancelha até o meu queixo. Quando eu era bem pequeno uma das outras crianças tentou mexer em uma panela para "tentar" fazer comida, eu estava tentando parar ela então estava por perto, claramente e obviamente a criança não sabia o que estava fazendo e acabou jogando óleo no fogão e bem eu não sei o que eu fiz o a próxima coisa que eu me lembro foi de uma dor muito intensa no lado esquerdo do meu rosto e então escuridão. Após isso eu acordei em um hospital com um lado do meu rosto todo enfaixado. Por muito pouco eu não fiquei cego, já que por sorte e puro reflexo eu consegui fechar meu olho a tempo.

Hoje em dia essa cicatriz é um grande pedaço de pele mais escura que o normal mas pelo menos não é mais tão ruim. Bem é basicamente por isso que eu acho que a maioria das famílias e crianças me evitava, era realmente feia quando eu era menor, mas eu sempre senti que tinha outro motivo, talvez meus pais eram pessoas horríveis e os cuidadores do orfanato diziam para as famílias que eu poderia ser um problema, talvez seja outra coisa mas não importa agora, a questão é que eu era triste e em algum momento fiquei mais apático, como se minha alegria estivesse sendo sugada.

Esse sentimento ficou mais forte nas últimas semanas, pelo menos ainda tenho a esperança de mudar logo de trabalho, estive enviando alguns currículos para outras empresas e uma me respondeu, querendo me entrevistar em alguns dias. Vou tentar conseguir um atestado de saúde para esse dia, um dos meus vizinhos de andar me deve um favor.

Enquanto me preparo para ir tomar um banho ouço alguém batendo na minha porta, murmuro um "já estou indo" após a segunda batida, esfrego um pouco os meus olhos e abro a porta.

Um dos meus vizinhos Daniel está na porta, é um cara com 34 anos e de mais ou menos 1,84 metros de altura, ele é bem atlético mas não é muito definido, começou a fazer academia a apenas dois meses, tem um rosto um pouco quadrado com uma barba feita, tem cabelo castanho escuro curto e com um mini topete, seus olhos são de uma cor azul escuro um pouco caídos, humm ele parece um pouco envergonhado.

"Ei Oliver, boa noite, poderia me emprestar dois ovos por favor ?" ele da um pequeno sorriso para minha expressão aborrecida, parece que alguém esqueceu de ir às compras. "Claro" encolho meus ombros preguiçosamente "não os estou usando muito nós últimos dias" continuo com uma voz meio rouca, não costumo falar muito durante meu trabalho e como é onde eu passo grande parte do meu tempo minha voz fica um pouco estranha.

Deixo ele na porta enquanto vou em direção a geladeira, é um modelo menor do que o normal e mais barata, ainda tenho meia dúzia de ovos sobrando pelo menos, então pego uns três pelo menos, acho que é o suficiente para ele no momento.

Ele diz com uma voz meio cansada "Valeu cara, minha semana foi um pouco mais corrida do que o normal e acabei me esquecendo de ir às compras" dou a ele um aceno compreensível, odeio quando a demanda do meu trabalho aumenta do nada e eu recebo mais trabalho de repente "nesse sábado vou ir às compras e te devolvo esses ovos" ele se vira para direita em direção ao seu apartamento enquanto coloca os ovos em uma bolsa esportiva, dado a sua roupa eu acho que acabou de voltar da academia, Daniel gosta de fazer seus treinos sem horário fixo, invejo essas pessoas que tem o luxo de fazer suas próprias coisas no horário que quiserem "até sábado amigo" com um sorriso ele começa a andar após dar um tapa amigável em minhas costas, que dado o quão sedentário eu sou machuca um pouco. Esfrego um pouco meu pobre ombro frágil do meu corpo frágil comparado a um rato de academia, mesmo que só por dois meses, e fecho e tranco minha porta finalmente podendo tomar um banho extremamente merecido.

Algo sobre mim, eu odeio banhos gelados e água gelada em geral, algo que faz minha carteira chorar inclusive, mas eu gosto mais do inverno que do verão, eu odeio quase derreter no meu cubículo desconfortável e sem ar condicionado na minha empresa, eu tenho um pequeno ventilador no meu apartamento mas não é muito forte, e pelo menos, no inverno eu posso colocar mais camadas de roupas para não ficar com tanto frio, mesmo que eu não tenha tanta roupa assim, mas hoje é um dia surpreendentemente quente para meio de julho.

Após sair do banho coloco uma roupa velha e vou logo para o meu quarto sentindo cada vez menos vontade de continuar meu monólogo, deve ser o sono, penso enquanto deito em minha cama simples para uma pessoa e deixo o sono me consumir.

Sinto meus olhos lentamente se abrirem mas os fecho logo após devido a luz, alcançando meu celular em cima de um velho criado mudo ao lado da minha cama. "Estranho" eu murmuro enquanto vejo a hora, 4:23 da manhã, vejo a luz do Sol passando pelas cortinas do meu quarto e seu que com certeza não são 4:23. "Sem sinal também" murmuro dessa vez com um pequeno toque de aborrecimento em minha voz, parece que além do horário do meu celular estar com defeito, não sei como, mas também estou sem sinal aparentemente, ótimo que bela forma de começar uma terça feira.

Bem não importa o quanto eu queira que meus problemas se resolvam apenas comigo em minha cama, sei que esse é um sonho vazio então me levanto logo e me espreguiço com um longo suspiro. Relembrando o último dia decido que vou fazer alguns ovos para o café da manhã. Algumas pessoas podem argumentar que como eu não sei o horário o melhor seria ir logo para o meu trabalho e pegar algo para comer no caminho, mas uma das minhas filosofias de vida é que já que eu estou atrasado então não adianta me apressar, mais ou menos atrasado não faz diferença.

Ao sair do meu quarto tenho que piscar algumas vezes para ter certeza de que o que estou vendo é real, e ainda os esfrego para ter mais certeza ainda.

Este . . . não é o meu apartamento.

O local que antes era muito pequeno e simples agora estava muito maior, cerca de quatro ou cinco vezes mais e parecia ser uma mistura do mau apartamento e algo um pouco como um castelo medieval.

Uma parte do chão são o do meu apartamento mas os ladrilhos do piso antes perfeitamente posicionados agora parecem ter sido empurrados por algo para diferentes direções enquanto o resto do chão é de algum tipo de pedra polida, um pouco como granito porém um pouco mais rústico, sua cor é em sua maioria de uma cor cinza escuro, com toques de um cinza um pouco mais claro e um tom quase de preto. Não existe um padrão para as cores desse piso, parecem que diferentes tipos de pedra foram juntas para criar algo novo com muito cuidado mas sem nenhuma noção astetica ou de design. Eu não tenho toque mas isso me incomoda um pouco, colocando de lado toda essa bizarrice primeiro, claro.

As paredes antes apenas de gesso agora se misturam com pedras cinza claro em um padrão que me lembra água de um lago, essas pedras eu suponho que eram posicionadas de uma forma igual a tijolos. As paredes também ganharam cerca de seis novas janelas, algumas parecem inacabadas e outras parecem destruídas e uma parece que foi coberta com a mistura das paredes, elas também estavam divididas em posições normais e algumas mais acima, como aquelas janelas pequenas de banheiro quase no teto.

O teto diferente das paredes e chão não parece uma mistura de dois estilos diferentes, mas é feito de um mármore mais escuro. O teto assim como o do meu apartamento é reto, mas agora ele tem alguns arcos o conectando com as paredes, eles estão um pouco rachados por sinal, não parece tão seguro e mais astetico. Consigo ver as minhas poucas lâmpadas, elas parecem funcionar porém brilham de forma irregular, as vezes seu brilho é muito forte e as vezes muito fraco, elas também piscam algumas vezes, suas luzes também tem diferentes cores fazendo o teto parecer ter manchas coloridas que mudam constantemente. Além das minhas lâmpadas eu vejo dois candelabros pendurados por correntes de prata, os candelabros parecem ser feitos de uma mistura de prata e ouro, dezenas de velas distribuídas pelotas suportes espalhados como se fossem galhos de uma árvore. Nem todas as velas estão apagadas, e as que estão acesas brilham como as lâmpadas, mas ao contrário delas cada vela tem uma cor definida, fazendo os candelabros parecerem um catálogo de diferentes cores de tintas.

Parece que eu também recebi mais móveis, alguns de madeira, outros de pedra, pareciam vários conjuntos incompletos. Em um momento de realização e curiosidade mórbida eu me volto para o meu quarto, parece que as mesmas mudanças ocorreram com meu lugar sagrado de descanso, que chatice. Não ficou maior ou algo assim, mas o chão, a parede e o teto tiveram as mesmas mudanças, que eu não percebi no meio do meu sono, perfeito.

Não, espera, já sei, ahaha, por que não pensei nisso antes? É apenas um novo sonho estranho, como aquele da árvore, com o quão detalhado esse sonho parece ser, os dois são uma espécie de sonho lúcido, mas esse parece ser mais, já que consigo interagir com o ambiente. Além disso, esse sonho inteiro passa um pouco do sentimento da árvore agora que eu me acalmei um pouco.

Bom, já decidi então, vou apenas seguir a minha rotina como se fosse qualquer outro dia, eu devo acordar a qualquer momento mesmo, então não faz diferença.

Caminho em direção ao que eu seria a minha cozinha que permaneçe quase inalterada, surpreendentemente, apenas com um ou outro utensílio a mais de madeira ou algum tipo de metal que talvez seja prata e abro a minha geladeira.

O que diabos é isso sonho?

Parece uma gema, extremamente bonita se eu posso dizer, assim como tudo neste sonho ela não é como o padrão só que é ainda mais estranha que o resto,vai forma muda constantemente, um segundo parece um topázio, outra um citrino, outro um rubi, e por aí vai, fora que dentro dessa gema borbulham diversas cores diferentes como as lâmpadas e velas, mas com muito mais cores, se as lâmpadas e velaa eram um catálogo de cores de tintas então essa gema parece que tem milhares de estrelas piscando cada uma com uma cor diferente, se expandindo e retraindo de forma inconsistente e diferente das lâmpadas e velas essa gema brilha, e brilha muito, com uma mistura de todas as cores dentro dela, além disso é como se houvesse uma "aura" ou uma camada de luzes coloridas em volta dela.

Mas, o que mais me chama atenção é o sentimento que ela passa, ou deveria dizer sentimentos.

Assim que abri a geladeira eu fui bombardeado com centenas, talvez milhares de sentimentos todos de uma vez, alguns eu consegui identificar de forma fugaz, mas muitos outros são completamente incompreensíveis para a minha mente compreender. Minha análise sobre a gema em si foi uma reflexão atordoada de alguns minutos para tentar me estabilizar, mesmo meus esforços sendo inúteis.

Eu me encontro sufocado e quase me afogando na imensidão de sentimentos que essa gema transmite e ao mesmo tempo que sei que vou ficarm bem, eu também sei que não serei o mesmo após essa experiência. Mas eu não me sinto desesperado. Desespero é apenas um dos muitos sentimentos que estou tendo agora

Enquanto continuo a me sentir sufocado faço a única coisa lógica para mim no momento e tento agarrar a gema. Consigo ver em câmera lenta minha mão inda em direção ao meu novo pesadelo lúcido eu acho.

Com este meu monólogo pode parecer estranho que eu ainda esteja racional sentindo tudo isso, mas você está errado, posso dizer com facilidade que passei ou pelo menos sinto que passei horas aqui, cada palavra de meu monólogo precisando de minutos para ser pensada, enquanto outras centenas completamente incoerentes surgem, a outra prova é que isso parece que deixou de ser um monólogo e passou a ser quase uma conversa mesmo que eu esteja sozinho, eu espero, então talvez eu saia daqui com alguns problemas.

De qualquer forma voltando a tentativa de agarrar o objeto profano, quanto mais minha mão se aproxima da gema e afunda na "aura" envolta dela mais ela parece se distorcer, e dela eu sinto calor, frio, dor . . . alívio . . . . . .cócegas . . . . . . . . . desconforto . . . . . . . .

E centenas de outros, muito pouco indentificaveis e então quando eu agarro

DORcalorDORfrioDORalivioDORcocegasDORdesconfortoDORchoqueDORqueimacaoDORcongelamentoDOR

naoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORnaoidentificavelDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDORDOR

Eu acordo em um pulo, extremamente suado e tremendo, eu puxo meus joelhos para meu peito e me abraço para buscar conforto, após alguns minutos dessa forma olho para o lado para o meu celular e checo as horas, 21:14 alguns minutos após eu ter ido dormir, é como se o tempo não tivesse passado após eu começar a . . . sonhar.

Com um último estremecendo eu desligo o celular, ignorando o pequeno PUF que eu ouço atribuindo isso ao sono