Ao nosso redor, além da densa floresta, eu conseguia distinguir a presença de alguns prédios e casas, parcialmente escondidos pela vegetação mágica. Carros, motos e ônibus estavam dispersos entre as árvores e arbustos, seus contornos metálicos e cores vibrantes criando um contraste intrigante com o verde exuberante da floresta. Até agora, além dos peixes que havíamos avistado, não encontramos sinais de vida animal.
À medida que nos aprofundávamos na floresta, eu sentia a antecipação crescendo dentro de mim. Com tudo o que estava acontecendo e o que eu estava descobrindo, o que me esperava ali? Seria algo perigoso? Eu não tenho ideia. A única coisa que sei é que estou ansioso.
Porém, no momento tenho outras coisas em mente. Olhei para Caroline, que estava alguns passos à frente. "Então", comecei fazendo-a saltar levemente de susto, "sobre aquelas perguntas..."
Ela não se virou para me encarar, e sua postura se tornou mais rígida. "Certo, acho que não tem como adiar mais. Pode perguntar, vou tentar responder o que eu souber." Ela suspirou e, com uma voz cansada, eu consegui ouvir um murmúrio: "pelo menos o que eu sei."
"Primeiro de tudo, o que está acontecendo? Isso é magia ou algo assim?" Decidi ser direto na primeira pergunta.
"É um pouco complicado de explicar, mas antes preciso perguntar: o que você sabe sobre a teoria do multiverso e coisas relacionadas?" Quando ela mencionou isso, senti uma pontada na minha memória, como se eu devesse saber mais sobre o assunto.
"Eu conheço um pouco sobre isso, mas não muito."
"Bem, o que está acontecendo é que estamos em uma espécie de p-ponte entre duas r-realidades ou mundos. Não sabemos exatamente o que é, mas algo conecta nosso mundo a outro e, às vezes, isso cria situações como a que estamos vivendo." Caroline tentou falar de forma profissional, mas gaguejou em algumas palavras.
"Essa ponte é feita com partes dos dois mundos, ela absorve diversos 'elementos' de dois mundos ou mais. De forma bem resumida e simplificada, esses 'elementos' podem incluir ambientes e localizações" — ela apontou ao nosso redor — "e até mesmo elementos não físicos, como emoções. Até mesmo outras formas de vida. Essas pontes podem absorver esses elementos por anos, e, eventualmente, elas criam dimensões, por assim dizer."
Sim, isso tudo parecia se alinhar com aquele 'sonho' que tive no meu apartamento. Bom saber que não estava ficando louco. Mesmo assim, ainda havia algo que precisava de resposta.
"Havia outra coisa também, uma gema cheia de sentimentos diferentes, a gigantesca maioria eu nem consigo descrever, o que era aquilo?" Falar sobre isso ainda causava um pouco de desconforto, mas não era tão intenso quanto antes.
"Isso era o núcleo da ponte. É onde a maioria dos elementos absorvidos fica e é o que mantém essas realidades de pé." Ela finalmente se virou para me olhar me dando uma visão do dispositivo mostrando o mapa e um ponto azul piscando um pouco a nossa frente. "E é o que estamos indo buscar agora."
Eu queria perguntar sobre mais coisas a ela, mas antes que pudesse seu braço se estende em um gesto de 'cuidado', Caroline parece olhar ao redor como se tivesse notado algo. Enquanto ela se vira para a direita vejo que no mapa estão marcados três outros pontos, mas desta vez estão piscando em vermelho.
Alguns segundos tensos depois e eu ouço o som de alguns passos e do meio das árvores saem pisando forte três criaturas. Suas cabeças são massivas, dominadas por enormes bocas cheias de dentes pontiagudos, semelhantes a adagas, duas delas, uma em cima da outra. As mandíbulas de baixo estão abertas em preparação ou antecipação, revelando várias fileiras de dentes irregulares e de tamanhos diferentes, provavelmente desenvolvidos para despedaçar carne e ossos. Suas línguas são longas, saindo da boca em uma posição desafiadora, para complementar eu posso ver saindo de ambas as bocas de cada criatura uma saliva meio verde amarelada.
Seus olhos, pequenos em comparação ao tamanho de sua cabeça, estão profundamente sombreados, com um brilho ameaçador, possivelmente emitindo uma luz sutil, como se estivesse pronta para localizar qualquer movimento. A testa da criatura é marcada por protuberâncias ósseas que parecem se fundir com os espinhos ao longo de seu corpo, tornando sua cabeça ainda mais ameaçadora.
Seus corpos são enormes, eu estimo 2 metros de altura pelo menos e sabe se lá quanto de espessura, e cobertos por uma pele escura e espessa, parecendo uma armadura natural com tonalidades que variam entre o negro e o cinza escuro. Suas peles são reforçadas por uma série de espinhos que se projetam para fora de suas costas e ombros, parecendo armas defensivas. Cada espinho tem a aparência de ser afiado, resistente e estrategicamente posicionado, como se fossem usados tanto para defesa quanto para ataque. A musculatura do monstro é impressionante e visível, especialmente nos braços, pernas e peito, o que sugere uma força física extraordinária. Elas possuem seis patas, dois braços e uma perna de cada lado. As criaturas andam em quatro, seis na verdade, patas.
Os braços são longos e poderosos, terminando em mãos gigantescas, cada uma equipada com garras longas e afiadas que poderiam facilmente dilacerar a carne de qualquer inimigo. As pernas da criatura são grossas, claramente desenvolvidas para suportar seu enorme peso, e terminam em pés com garras igualmente afiadas, ideais para agarrar ou esmagar presas.
Suas caudas são particularmente notáveis. Elas são longas, parecendo se alongar por pelo menos 3 metros, robustas e revestidas de espinhos que se estendem até a ponta, tornando-a uma arma eficaz tanto no combate à distância quanto de perto. O movimento da cauda parece ser ágil, contrastando com o peso da criatura, o que sugere que pode ser usada para ataques rápidos e devastadores. A ponta da cauda é levemente curva, quase lembrando um chicote com espinhos, pronta para golpear em qualquer direção, além de ter um espinho final particularmente longo.
Essas criaturas estão inclinadas, com seus corpos baixos e suas cabeças projetadas para frente, estão preparadas para atacar. A do meio não remove seu olhar de nós, sua saliva pingando no chão, e quando o alcança produzindo uma leve fumaça e um barulho de algo queimando, as outras duas estão começando a andar para os lados, elas pretendem nos cercar.
Eu sinto meu corpo tremer com esta visão, nunca tendo visto tal coisa, suor escorria de minha têmpora e eu conseguia sentir minhas pernas fraquejando um pouco, olho para Caroline, mas ela parece impassível como se não fosse um grande problema, ela olha para mim e seu olhar é gentil e tranquilizador, além de transmitir confiança, como se ela já tivesse tudo sob controle. Eu não posso dizer que fiquei mais tranquilo com isso, mas pelo menos um pouco mais confiante de sair vivo.
Sua postura é cautelosa e ela deixa seu olhar vagar entre as criaturas e o mapa rapidamente, meu olhar se fixa na criatura que seguiu para direita, não querendo que ela saia pelo menos da minha vista e deixando as outras duas para Caroline. É difícil me forçar a não desviar o olhar por causa do medo, mas eu posso pelo menos tentar ficar em guarda.
Cada criatura esta a pelo menos 4 metros de nós pela minha estimativa, a do meio estando mais, mas se aproximam lentamente, suas mandíbulas abertas produzem um som aterrorizante, uma espécie de rosnado distorcido que parece se infiltrar diretamente na minha alma, e elas continuam a se aproximar, 3 metros e meio, 3 metros, 2 metros e meio.
Quando as criaturas estavam a 2 metros de nós eu sou subitamente jogado para o chão, em desespero olho para o lado e vejo Caroline empurrando minhas costas para o chão, também estando deitada, ouço um alto baque vindo de trás de nós, torcendo um pouco meu pescoço para olhar consigo ver a criatura que estava no meio junto de algumas arvores quebradas, olhando para o lado vejo as duas outras produzindo o mesmo rosnado aterrorizante enquanto olham para frente.
Olhando nessa direção vejo outro monstro, com pelo menos 5 metros, a criatura possui uma cabeça que lembra a de uma cabra demoníaca deformada, mas muito mais robusta e sinistra. Quatro chifres maciços e curvados se estendem a partir de sua testa, enrolando-se para trás em uma forma quase simétrica. Os chifres são pretos e angulosos, com uma textura rústica, o que os fazem parecer que podem ser usados tanto para ataque quanto para defesa. A face da criatura é feroz, com um olhar profundo e selvagem, rodeado por uma juba de pelos espessos e brancos, que dá a impressão de majestosidade e monstruosidade.
Seu corpo é uma mistura de formas humanoides e bestiais. O torso é incrivelmente musculoso, com um peito largo e bem definido, exibindo sua força física. Sua pele do corpo é coberta por uma pelagem espessa que varia de tons de preto, branco e castanho, dando uma aparência quase natural, como se estivesse adaptada a ambientes selvagens. Os braços são longos e poderosos, terminando em mãos com garras afiadas que parecem prontas para rasgar carne ou esmagar ossos.
Suas pernas lembram as de um quadrúpede, com articulações robustas e musculosas, porém capazes de sustentar sua postura bípede. Elas são cobertas por uma camada de pelos grossos até os joelhos, a partir daí a pele parece endurecida e resistente, com garras afiadas nos pés, tornando-o capaz de movimentos ágeis e ataques poderosos.
O monstro tem duas caudas longas e serpentinas que se estendem de sua parte traseira, ondulando de maneira que sugere uma flexibilidade letal. Ambas as caudas têm uma aparência robusta e terminam em pontas afiadas, sugerindo que poderiam ser usadas como armas adicionais no combate, atacando com precisão e velocidade.
Os dois cachorros demoníacos em nossos lados mudam suas posturas instantaneamente, não parecendo mais predadores atrás de uma presa, e sim de animais prontos para tentar derrubar outro predador que atrapalhou sua caça. Suas mandíbulas duplas se abrem em sincronia, e o rugido começa com um estrondo grave e gutural, vindo das profundezas de seus peitos poderosos. O som inicial é baixo e profundo, semelhante ao rugido de uma fera gigantesca, mas com uma intensidade descomunal, como se estivesse canalizando toda a fúria predatória e a fome que a criatura carrega.
À medida que o rugido continua, ele se intensifica, ganhando camadas de grunhidos e estalos ferozes, à medida que as línguas longas se projetam e se movem, fazendo com que a saliva esverdeada goteje das mandíbulas abertas. O ar parece vibrar ao redor das criaturas enquanto o rugido se expande, penetrando o ambiente com uma mistura de sons ferozes e estridentes, quase como o chiar de metal raspando contra rocha, intercalado com estalos, como se os próprios dentes e mandíbulas estivessem sendo forçados a triturar algo invisível.
Conforme a segunda fila de mandíbulas se move, o rugido muda de tom, tornando-se ainda mais agudo e penetrante, terminando com um uivo brutal que carrega ecos de ameaça, um aviso para qualquer criatura próxima de que essas bestas estão prontas para o ataque. As reverberações do rugido causam um arrepio na espinha e meus ouvidos doem, eu fico paralisado de medo.
O monstro a nossa frente não se deixa ser intimidado e se prepara para lançar seu próprio rugido. O som começa com um grunhido profundo, quase um rosnado gutural, como se a própria terra tremesse sob o peso de sua presença. Esse rosnado inicial é baixo e prolongado, gerando uma sensação de opressão e suspense, como se a criatura estivesse reunindo toda sua energia antes de liberar um ataque devastador. A respiração pesada que o acompanha cria um som sinistro, um prenúncio de algo terrível prestes a acontecer.
De repente, o rugido explode em um estrondo ensurdecedor, que eu tenho certeza que quase me deixou surdo, um som profundo que parece ecoar de dentro de uma caverna abissal, mas com uma intensidade demoníaca. A fúria primal por trás desse som é palpável, carregada de uma mistura de poder bruto e ferocidade pura. O rugido se espalha como uma onda de choque, começando com uma vibração grave, parecida com o som de trovões distantes, mas logo se transforma em um bramido agudo, uma mescla de grito e uivo, que corta o ar como uma lâmina.
À medida que a criatura solta o rugido completo, há um som estridente e metálico, como o rangido de ossos deformados e chifres raspando contra rocha. É como se o próprio formato do corpo da criatura, com seus chifres maciços, amplificasse o rugido de maneira quase sobrenatural, tornando-o algo alienígena, mas familiar, como o grito de uma fera ancestral. Esse som agudo e dissonante ecoa por longas distâncias, reverberando nos céus, nas florestas, e dentro da mente de quem o ouve, como um grito de guerra ou uma declaração de poder absoluto.
À medida que o rugido diminui, ele não cessa de imediato. Em vez disso, termina em um rosnado gutural prolongado, como se a criatura estivesse satisfeita com a demonstração de sua presença aterrorizante, mas ainda alerta e pronta para atacar a qualquer momento. O eco do rugido continua a reverberar no ambiente por alguns segundos, deixando um silêncio pesado e uma sensação de alerta nos arredores.
Enquanto esses monstros continuam a se encarar eu sou subitamente tirado do meu lugar por Caroline, desta vez nem fico incomodado de ser arrastado por ela, eu só quero sair de lá o mais rápido possível, sinto minha consciência quase me deixando em um desmaio, foi a coisa mais assustadora que eu já presenciei em toda minha vida. Enquanto ela me arrasta mais fundo na floresta eu consigo ainda ouvir fracamente alguns grunhidos e rosnados distorcidos e sons que talvez sejam de dor, porém nada disso importa, o que importa é sairmos de perto o mais rápido possível.
Não sei a quanto tempo estamos nos afastando, a algum tempo o medo me deu uma sensação de ânsia que eu mal consegui controlar, e, entre o medo ainda presente, a sensação de ânsia e o local desconhecido minha noção de tempo foi completamente perdida.
Após mais algum tempo Caroline me deixa gentilmente no chão, eu imediatamente fico de joelhos e vomito na grama, não conseguindo mais segurar, foi uma das piores experiencias que eu já tive, perdendo apenas para a gema e para quando eu ganhei minha cicatriz. Consigo sentir Caroline dando tapinhas nas minhas costas enquanto minha respiração pesada se acalma um pouco.
"Mas o que-", tento recuperar um pouco meu folego, "foram essas coisas?" eu pergunto entre respirações pesadas. Caroline parou de dar tapinhas nas minhas costas e está me abraçando um pouco para me acalmar. Está funcionando.
"Criaturas do outro mundo que foram trazidas para esta realidade assim como nós." Ela aperta um pouco o abraço. "Você está bem?" sua voz tinha uma preocupação genuína, o que eu aprecio, eu aceno para ela, posso ainda estar um pouco abalado, mas já estou melhor sim. "Ótimo, porque chegamos na entrada".
Isso definitivamente chama a minha atenção, eu olho para frente e vejo uma árvore colossal, imponente e antiga, erguendo-se no centro de um enorme lago cristalino. Seu tronco é espesso, com raízes profundamente enterradas na água do lago, algumas delas saltam e voltam para água em seu entorno. As ramificações da árvore são extensas, elevando-se ao céu e se espalhando como braços longos, desenhando formas orgânicas que parecem tocar as estrelas distantes. Algumas dessas ramificações pendem suavemente, tocando a superfície do lago.
O lago em sua volta é vasto e sereno, uma extensão imensa de águas calmas, cuja superfície espelha perfeitamente a silhueta da árvore e o céu. O reflexo da árvore parece quase tão real quanto a própria, criando uma simetria mágica e harmoniosa entre a terra e a água. A paisagem ao redor é tranquila e vazia, com montanhas distantes e enevoadas que mal se distinguem no horizonte. Tudo parece suspenso em um momento de quietude atemporal, onde a árvore e o lago coexistem em perfeita harmonia.
"É uma vista linda, mas como isso é a entrada para a ilha?" eu me viro para ela, apenas para vê-la apontar para algo a direita. Quase não acreditei quando vi. As cachoeiras que antes eu achava que caiam da ilha na verdade sobem pelo lago, desafiando completamente todas as leis da física e gravidade.
"Nós vamos subir pela cachoeira" Caroline declarou orgulhosamente. Em qualquer outra situação eu a chamaria de louca por esta ideia absurda, mas agora que vejo com meus próprios olhos, realmente parece possível subir por uma cachoeira.