O completo absurdo dessa afirmação ainda soa na minha cabeça, é completamente absurdo, mas dado o que está acontecendo recentemente eu deveria me acostumar com esse tipo de informação, talvez, de qualquer forma eu posso ponderar sobre isso em outro momento, já que agora nós estamos de frente para uma cachoeira que corre para cima.
"Então, como vamos fazer isso?" eu me viro para Caroline que estava tirando sua jaqueta e a colocando ao lado no chão.
"Eu recomendo que tire a sua também. Não é muito bom estar assim em um passeio como esse," ela disse, sorrindo enquanto se esticava um pouco.
Assim que tirei minha jaqueta, perguntei novamente: "Você ainda não me respondeu. Como faremos isso? Espero que seja de uma forma segura, por favor." Essa última parte saiu quase como um murmúrio, mas ainda alto o suficiente para que ela pudesse ouvir.
"Não é muito obvio?" ela caminha para cachoeira e se vira para mim, "só me siga e se divirta", ela abre seus braços ao lado de seu corpo e salta com um grito de euforia. Para o meu desespero.
Eu observo em choque enquanto seu corpo é catapultado pela água para cima e a risada dela se distanciava no ar.
Após alguns segundos, sua voz tornou-se um eco distante, e desvio meu olhar para a cachoeira, sentindo uma mistura de nervosismo e curiosidade. Ao me aproximar, gotas de água espirravam em meu corpo; estavam um pouco frias, mas mais quentes do que uma cachoeira deveria ser — suponho que seja mais uma das bizarrices para atribuir a esse lugar.
Meu medo rapidamente se transfere para outro local quando eu ouço a distancia o som assustador e familiar de um rugido de um dos cachorros, está distante, mas não sei o quão rápido essas coisas são, mas não quero arriscar. Respiro fundo uma última vez e me jogo enquanto um grito de medo me escapa.
Minha primeira sensação foi a de uma pancada no meu estomago, seguida pela pressão da água empurrando meu corpo para cima. Tentei ao máximo manter a cabeça fora da água enquanto meu corpo era balançado descontroladamente pelo tobogã inverso mais louco que eu já conheci. Não prestei atenção em quanto tempo passei gritando, mas, com o tempo, o medo foi se transformando em diversão. Era uma adrenalina que eu nunca tinha experimentado — viciante, na verdade. Esperava não ficar obcecado por isso, ou minha vida poderia se tornar ainda mais monótona do que já era.
Subitamente eu sinto a sensação familiar de um mergulho em uma grande quantidade de água, em algum momento do meu passeio meu senso de direção foi completamente bagunçado junto com os meus órgãos e tudo que estivesse no meu estomago, minha cabeça ainda estava girando e eu consigo sentir meu corpo subindo enquanto começa a boiar.
Eu me recomponho e começo a nadar para a superfície do que eu suponho que seja um lago. Assim que a minha cabeça sai da água eu consigo ouvir os sons de algum comemorando, olhando nessa direção eu vejo Caroline rindo e acenando para mim. Minha expressão se transforma em um sorriso e eu aceno com euforia para ela com um alto grito de "Uhuuul", foi uma das melhores experiencias da minha vida.
Começo a nadar na direção dela, a água está em uma temperatura uma temperatura agradavelmente morna, ela era cristalina com uma leve tonalidade de verde. O fundo do lago é um pouco profundo e sua margem é cercada por vegetação exuberante.
"Como foi?" Caroline me pergunta com um sorriso divertido, ao qual eu respondo com o meus próprio.
"Assustador, mas eu faria isso de novo".
"Esse é o espírito!" ela gargalha enquanto torce seu cabelo e suas roupas, algo que eu prontamente sigo.
Aproveitei esse tempo para dar uma olhada em volta, diferente da grande floresta la em baixo, a ilha era uma paisagem mais plana, o lago que saímos se conectava a um rio que seguia para o centro, havia pequenos relevos com grama envolta e uma ou outra árvore, dentro do lago eu podia ver cristais de diversas cores e tamanhos em seu fundo, e para a minha sorte nenhum animal parece estar nas redondezas.
"Só precisamos seguir pelo caminho do rio, vai nos levar ao centro dessa ilha e onde o núcleo está" Caroline terminou de torcer suas roupas e pegou o dispositivo com o mapa, o ponto que estávamos segundo está mais perto do que nunca.
À medida que seguíamos em frente o rio ficava cada vez mais largo e suas águas ficavam ainda mais agitadas, olhando de baixo não parecia que a ilha era tão grande, mas já estava escurecendo novamente, algumas vezes passava pela ilha uma nuvem, é uma sensação estranha e que eu provavelmente nunca mais sentirei, é algo que parece palpável, mas que se dissolve no instante do contato e é um pouco frio e húmido, eu gostei sinceramente.
Estamos perto, percebi assim que vejo ponto no mapa apitando e piscando, as águas do rio antes calmas agora se agitam como se estivessem em uma tempestade, o terreno todo também muda, eu não tinha percebido inicialmente, porém agora a nossa volta está tudo mais montanhoso, estamos no meio de duas montanhas com o rio no meio, perdendo cada vez mais espaço, está começando a ficar apertado.
Caroline fica tensa, seu aperto no dispositivo fica mais firme e ela da leves toques em seu quadril, como se estivesse se certificando de que ainda tem algo la. Isso também me deixa tenso, se é algo que pode a deixar cautelosa então não deve ser levado levianamente, infelizmente não tenho nada que possa me ajudar a me defender então o máximo que posso fazer é ficar atento e ajudá-la com informações ela não note algo de errado.
O som de água agitada fica ainda mais alto, estamos chegando ao centro, mais a nossa frente eu posso ver o fim do rio, onde ele despenca em uma espécie de cachoeira, eu espero que não seja completamente íngreme também, para que possamos descer com o mínimo de segurança pelo menos.
Assim que chegamos no final do caminho a visão que me cumprimente é mais uma vez algo surreal, posso ver pelo menos mais quatro caminhos com rios igual os que nós fizemos que acabam em uma área circular, as montanhas em volta fazem parecer uma espécie de arena, os rios não acabam em uma cachoeira como eu temia e sim eles despencam diagonalmente para um lago enorme no centro de tudo, cercado por apenas terra, pedras e pequenas arvores secas.
Mas isso não é o que tem de surreal na paisagem, o verdadeiro surrealismo está no centro do lago, lá se encontra um imenso objeto esférico, aparentemente feito de água, galhos de árvores e cristais, que se levanta no lago em meio a gigantes e furiosas ondas. O interior da esfera emite um brilho azul intenso, cheio energia pura ou magia. A estrutura parece estar parcialmente envolta em uma cascata, com a água fluindo em volta dela como se estivesse prestes a se romper. Em volta da esfera também se encontra os restos de um prédio, ele está espalhado pelo lago completamente destruído, alguns de seus destroços são sugados para a esfera e devolvidos ao lago com uma força avassaladora os destruindo completamente. A luz da esfera também é a única coisa iluminando a noite que enfim caiu neste mundo.
"Ai está", Carolina se vira para mim com olhos sérios, "este é o núcleo, está dentro dessa esfera, só temos que alcançá-la e poderemos sair daqui", dentro dessa coisa? E como ela espera que possamos alcançar esse núcleo?
Pelo olhar de incerteza que ela me enviou eu disse isso em voz alta, ela se vira para o lago o estudando atentamente, "Isso não é bom".
"O que aconteceu agora?"
"A situação piorou? O que poderia ser pior que ter que passar por isso para sair daqui?"
Ela franze o cenho parecendo irritada e aponta para uma parte do lago, logo antes da grande esfera. "Isso é, uma pessoa?", e de fato, olhando melhor havia uma pessoa ali, de pé sobre a água parecendo nem se importar com as ondas extremamente agitadas.
"Temos que nos apressar", Caroline começa a derrapar pela terra em direção ao lago, algo que eu resignadamente tenho que imitar, não quero ficar sozinho em um lugar como esse.
"Esse cara pode ser um problema?", provavelmente sim, mas eu preciso de uma confirmação para saber se é uma situação ruim.
"Se for algo que eu penso então sim, muito problema", sim, é ruim.
Assim que terminamos de descer esse barranco e estamos quase na beira do lago um pigarreio vindo do nosso lado nos chama a atenção, é uma criança? Ela tem uma estatura baixa, com cabelos brancos que caem em uma franja suave logo acima de seus olhos vermelhos e brilhantes. Ela usa um traje formal, com tons de azul claro e detalhes dourados. Sua expressão é serena, um pequeno sorriso enfeita seus lábios enquanto ela nos encara com calma.
"boa noite, senhor, senhora, embora eu aprecie alguma companhia humana em assuntos como esses, peço que não atrapalhem meu parceiro", sua voz era séria, porém infantil e irritante, enquanto ela dizia essas palavras ela olhava diretamente para Caroline como se a desafiasse a fazer qualquer movimento contrário ao seu pedido.
"Achei que essa pequena viagem poderia ser tranquila, mas vocês da Codex tinham que vir e atrapalhar isso, não é", foi a mais irritada que eu já vi Caroline ficar, e o que era Codex, algum tipo de organização?
"Que ingênuo de sua parte achar que não viramos aqui só porque as leituras de energia são menores do que o comum", ela bufa como se fosse um pensamento divertido, "além disso um segundo portal aparecendo logo após um tão poderoso quanto o de ontem, não importa que essas leituras fossem abaixo da média, ainda vale a pena investigar", seu sorriso se torna irônico e por um momento ela desvia o olhar em direção a esfera, "além disso só essa visão já valeu a pena a viagem".
A garota então vira seu olhar para mim com seu sorriso sereno de volta ao rosto, "oh, onde estão minhas maneiras", ela claramente finge uma expressão horrorizada, até mesmo colocando as mãos sobre a boca, "Codinome Zero ponto zero três, agente da Codex ao seu dispor" ela faz uma reverencia dramática em minha direção, porém sua cabeça estava levantada o suficiente para que eu pudesse ver seu olhos vermelhos brilhando em diversão, "não é todo dia que achamos alguém que é tão novato e ingênuo sobre a nossa realidade como este aqui, e com alguém tão incompetente para explicar sobra a situação também", seu sorriso mais uma vez se torna zombeteiro, não importa o quanto ela estivesse certa, ainda assim, pirralha.
"Pirralha", ao contrário de mim Caroline expressou nosso sentimento em alto e bom som, "infelizmente por mais horrível que seja te ouvir falar ainda temos algo que devamos resolver então poderia ficar de lado enquanto eu termino isso" sua voz era autoritária, ela novamente colocou a mão na lateral da calça, porém desta vez, em um bolso discreto ela puxa um objeto que se estende até virar uma arma.
O sorriso de 0.03 cai um pouco, "infelizmente não posso deixar que faça isso", seus olhos se estreitam e ganham um brilho perigoso, "sabe como é, certo?", seu sorriso se alarga, porém ele não alcança seus olhos, "é tudo em prol do conhecimento", ela diz enquanto puxa de um bolso na parte de traz da calça um, inseto?
Ela joga uma pequena centopeia na terra em nossa frente e seus olhos brilham de forma diferente, e o pequeno inseto começa a borbulhar e crescer. Não posso evitar de dar alguns passos para trás pelo que vejo e pelo canto de meu olho vejo até Caroline recuar um passo, e ela nem vacilou com as outras criaturas.
O som de um exoesqueleto rachando e se reformando enche meus ouvidos, os sons que pareciam guinchados agudos se transformam em gritos agudos de dor. Após alguns segundos a criatura finalmente para de crescer até ficar com pelo menos 6 metros de altura. Ela parece uma fusão grotesca de duas formas distintas ela tem um corpo longo e segmentado, começando com uma parte que se assemelha a um verme gigante ou uma larva, com uma pele pálida e cheia de protuberâncias que lembram olhos ou tumores espalhados por toda sua extensão. Essa parte do corpo possui várias irregularidades, como se estivesse coberta por uma camada orgânica viscosa, e na sua extremidade, surgem garras e tentáculos retorcidos que parecem prontos para agarrar e destruir.
Na parte frontal, conectada a essa massa, há uma seção que lembra um morcego monstruoso. Essa parte frontal tem pernas finas e longas, que se esticam para a frente, sua cabeça é deformada, com cinco grandes olhos salientes, três no lado esquerdo e um no direito, e uma boca repleta de dentes afiados. O corpo dessa seção é marrom escuro com manchas brancas irregulares, e suas asas, três delas, uma no lado esquerdo e duas no direito, que parecem atrofiadas ou rasgadas, contribuem para sua aparência ainda mais grotesca.
Ela parecia uma fusão de um morcego com algum inseto, além da visão ser completamente bizarra, alguns de seus tumores explodiam como bolhas liberando um gás de aparência verde, e que mesmo estando longe ainda chega um cheiro horrível de algo parecido com várias coisas podres em um esgoto. Seu corpo treme e convulsiona enquanto seus vários olhos se movem para todas as direções.
"Agora, então", 0.03 contorna a criatura, suas mãos apoiadas em seus quadris, "meus três brinquedos podem começar a brincar", seus olhos brilham perigosamente e os olhos da criatura se fixam em nós dois.