O sonho parece não ter fim, um campo interminável de grama e flores brilhantes sob um sol eterno. O vento suave continua a soprar, sempre sussurrando, mas o cenário se tornou tão repetitivo que está começando a me enlouquecer.
Desta vez, no entanto, não sou mais um simples espectador. Agora posso explorar este lugar, olhando para os lados e para trás, vejo apenas o que já é familiar — a mesma grama, as mesmas flores, e o céu iluminado pelo mesmo sol.
Mas a árvore solitária, com seu brilho enigmático, continua me chamando. Sinto que ela é a chave para entender o que está acontecendo e, finalmente, encontrar respostas. Essa sensação de que estou prestes a descobrir algo essencial é mais forte do que nunca, e me sinto determinado a seguir em frente e desvendar o mistério deste 'sonho'.
Sem outra escolha, sigo em direção à árvore, subindo a colina. À medida que me aproximo, a sensação inquietante cresce, e a árvore, estranhamente, também parece estar crescendo. Não é apenas uma ilusão de perspectiva — a árvore realmente está aumentando de tamanho.
Enquanto subo a antiga colina, que também parece ter crescido, a grandiosidade da árvore atinge um novo nível. Ela se torna tão colossal que suas folhas parecem desaparecer no céu, quase como se pudessem alcançar o sol. A magnitude da árvore é indescritível, me fazendo sentir pequeno e sobrecarregado pela sua presença imensa, que aumenta a intensidade da minha sensação de opressão.
Está ficando difícil até mesmo de respirar, meus pés estão pesados e eu quase tenho que forçá-los a se mover.
Mas eu não paro de andar.
Finalmente, quando chego ao topo e fico em frente ao tronco colossal, todas essas sensações parecem cessar. Em um momento de desequilíbrio devido a essa calma repentina, acabo tropeçando e encostando no tronco.
Por alguns segundos, nada acontece, quase me fazendo pensar que tudo está bem. Mas então, a área ao redor da minha mão começa a tremer. Quando retiro rapidamente a mão, vejo que o tronco está se rachando, revelando uma abertura que parece convidar alguém a passar.
Eu não queria adentrar essa passagem descuidadamente, mas, antes que eu perceba, meu corpo age sozinho, me levando para dentro.
Quando entro na passagem, sou imediatamente envolvido por um emaranhado de galhos entrelaçados, que parecem formar um corredor angular, semelhante aos corredores de um antigo castelo. As paredes são feitas de uma combinação de diferentes madeiras, cada uma com sua própria tonalidade e textura, criando um mosaico complexo e visualmente fascinante.
Os galhos se entrelaçam de maneira intricada, formando arcos e abóbadas que se curvam para cima, como se estivessem sustentando um teto invisível. A variedade de madeiras, de tons escuros e profundos a nuances mais claras e acinzentadas, dá uma sensação de antiguidade e solenidade ao espaço. É como se cada galho, cada peça de madeira, tivesse uma história própria, acumulada ao longo de eras.
A luz que penetra pela abertura da árvore ilumina o corredor com um brilho suave e filtrado, lançando sombras dançantes que se movem como se o próprio corredor estivesse vivo. O cheiro de madeira antiga e terra úmida preenche o ar, acrescentando uma camada de mistério e um toque de nostalgia ao ambiente.
O corredor se curva e se entrelaça, criando um labirinto natural que parece se estender infinitamente. Sinto que a cada passo, a sensação de estar em um lugar sagrado e imponente se intensifica, como se eu estivesse adentrando um antigo templo ou uma fortaleza esquecida. É um espaço ao mesmo tempo acolhedor e intimidador, onde a grandiosidade natural contrasta com a sensação de estar em um lugar desconhecido e profundo.
Olhando para trás, vejo que a saída se fecha atrás de mim, e minha única opção é seguir em frente. Com um suspiro de resignação, começo a caminhar por esse caminho que se abre cada vez mais conforme o exploro.
Eu nem sei há quanto tempo estou andando por esse corredor — pode ter sido minutos, horas ou até um dia inteiro. Estranhamente, não me sinto cansado. Parece que esse lugar me dá uma sensação de que eu preciso fazer essa jornada para chegar ao outro lado, sem atalhos ou desvios.
Enquanto caminho, uso esse tempo para organizar meus pensamentos sobre toda a situação. Repasso desde o primeiro contato com esses 'sonhos' e a, eu estremeço só de lembrar, a gema, até acordar aqui. A caminhada acaba sendo um bom momento para refletir e me preparar mentalmente para o que vem por aí. Honestamente, era algo que eu precisava. Também me dá a chance de pensar melhor nas perguntas que vou fazer a Caroline quando estivermos caminhando para chegar à ilha.
Finalmente, após o que parece uma eternidade, sinto que estou chegando ao fim do corredor. Vejo os últimos galhos se abrindo e descubro uma passagem à frente.
Ao sair, encontro-me diante de um precipício que se estende até o infinito. A paisagem à minha frente é uma vasta escuridão, pontilhada por pequenas luzes que se assemelham a estrelas distantes no espaço. Do outro lado do precipício, uma figura se destaca, indescritível e evasiva; o único detalhe que consigo discernir é que está de costas.
Enquanto a figura lentamente começa a se virar, tudo ao meu redor começa a mudar.
A escuridão, antes apenas salpicada de pontos luminosos, se transforma em uma tapeçaria colossal de realidades entrelaçadas. Vejo infinitos universos interligados como esferas brilhantes, girando suavemente e emitindo luzes que variam de tons suaves a cores intensas.
Os universos estão conectados por fios de energia que brilham em tons iridescentes, formando uma teia complexa e orgânica. Cada universo é como uma esfera luminosa, girando lentamente e emanando uma luz própria que varia de tons suaves e pastéis a cores intensas e vibrantes. Os fios de energia pulsam e se movem, criando padrões dinâmicos e fluidos que indicam interações cósmicas, como uma dança vibrante e incessante.
Alguns universos são pequenos e compactos, parecendo quase como bolhas de sabão flutuantes que refletem e refratam a luz ao seu redor. Outros são vastos e expansivos, com galáxias e nebulosas visíveis, espalhando-se em uma imensidão quase infinita. Entre essas esferas, você pode ver manchas de sombras e distorções — áreas onde o espaço e o tempo se curvam e se contorcem, como se estivessem sendo puxados e torcidos por uma força invisível.
A rede de fios de energia não é estática; ela pulsa e se move, mudando de forma e intensidade. Às vezes, você vê faíscas de luz e padrões de cores que indicam interações ou colisões entre os universos, como uma espécie de dança cósmica. Em alguns pontos, os fios parecem se cruzar e se entrelaçar, criando padrões complexos e fascinantes que mudam constantemente.
O espaço ao redor das esferas é preenchido com uma sensação de profundidade infinita, como se você estivesse olhando para um caleidoscópio de realidades. Há uma sensação palpável de movimento e fluxo, como se o multiverso estivesse constantemente se ajustando e se reorganizando.
Eu poderia tentar minha vida descrever completamente a minha visão de agora, mas não poderia chegar a 1% do verdadeiro esplendor da visão real.
E em meio a tudo isso eu o vi. Sua presença é simultaneamente imponente e etérea, projetando uma aura de transcendência, quase como se refletisse uma conexão com todas essas realidades e dimensões.
Ele possui um rosto com traços distintos e quase sobrenaturais. Seu semblante é uma mistura de beleza e mistério, com uma pele de tonalidade prateada que brilha suavemente sob diferentes iluminações, como se refletisse a luz de infinitas estrelas e galáxias. Seus olhos são um destaque notável: eles têm um brilho multifacetado, com cores que parecem mudar e se fundir, variando entre azul profundo, roxo galáctico e verde esmeralda. Em momentos de intenso poder, seus olhos podem exibir uma imagem fragmentada do espaço-tempo, revelando visões de constelações e buracos negros em seu olhar.
Seu cabelo é uma cascata de fios etéreos e fluídos que parece estar sempre em movimento, como se estivesse sendo arrastado por ventos cósmicos invisíveis. Ele tem uma coloração que varia entre um cinza metálico e um azul profundo, e pode refletir padrões complexos que lembram galáxias e nebulosas, dando a impressão de que seu cabelo está entrelaçado com o tecido do universo.
Ele veste um manto que parece ser feito de um material que transcende a compreensão convencional. O manto é fluido e mutável, suas cores e texturas constantemente mudando para refletir os diferentes aspectos do multiverso que ele controla. Ele pode parecer ter o padrão de um espaço estelar em uma dimensão e, em outra, adquirir a aparência de uma realidade líquida e fluida. As bordas do manto têm um brilho tênue, como se estivessem costuradas com fios de luz cósmica.
Seu corpo é esbelto e imponente, com uma presença que transparece tanto uma força silenciosa quanto uma profundidade interminável. Sua estrutura corporal parece quase indefinível, como se ele estivesse em um estado constante de fluxo e mudança. Sua pele pode às vezes parecer transparente, revelando visões de universos e dimensões em miniatura dentro dele.
Sua expressão é serena e contemplativa, como se estivesse sempre imerso em uma meditação profunda sobre o funcionamento do cosmos. Sua presença é ao mesmo tempo calmante e desconcertante, evocando uma sensação de reverência e pequena inquietação. Ele parece ser capaz de ver e compreender todas as realidades ao mesmo tempo, o que faz com que sua presença transmita um sentimento de vastidão e mistério.
E assim como a paisagem anterior esta descrição não conseguia chegar nem perto do que eu estou vendo e experimentando. Eu sinto meus joelhos querendo se dobrar, mas o choque e as sensações de tudo combinado impedem meu corpo até mesmo de tremer.
Como aquela gema no 'sonho' eu sinto indecifráveis e intermináveis emoções passando por mim todas ao mesmo tempo, porém agora elas parecem bem-vindas e não trazem nenhuma dor.
Após ter essa visão eu poderia mesmo voltar a minha vida como se nada tivesse acontecido?
O ser então começa a falar, ruídos indecifráveis invadem a minha mente como uma melodia de loucura, dissonante e frenética. A sensação é avassaladora, e eu me sinto rapidamente perdendo a consciência, como se a realidade estivesse se desfazendo ao meu redor.
Meus olhos se abrem lentamente para o teto daquele mercado, eu me sento ainda sonolento, ouço alguns roncos suaves. Carolina ainda parece estar deitada, dormindo tranquilamente ao meu lado.
Eu me sinto completamente frustrado, por que eu tinha que acordar assim que estou para sair da árvore? Uma sensação de perda me domina, como se algo crucial tivesse escapado de mim. Sinto que havia algo do outro lado que eu deveria ver. Eu suspiro de resignação e aceitação, não adiante ficar me lamentando, parece que agora só vou poder talvez descobrir na próxima vez que tiver esse sonho.
Para sacudir o resto do sono, me alongo e caminho até Carolina. Ela parece completamente imersa em um sonho tranquilo, alheia a tudo ao seu redor. Isso me irrita ainda mais. Enquanto minha experiência foi interrompida, ela está aqui, tão despreocupada. Não posso deixar isso passar. Não no meu turno.
Tem algumas garrafas de água em algumas geladeiras no fundo desse mercadinho, perfeito. Eu pego uma garrafa pequena caminho até ela e bem, acho que qualquer um pode adivinhar o que acontece a seguir.
Com um grito estridente de "Gah!" Caroline salta de sua cama improvisada desorientada e com o rosto encharcado.
"bom dia, Bela Adormecida! O sol já está saindo e temos uma viagem para fazer," digo, meu sorriso provocador brilhando enquanto jogo a garrafa vazia para o lado.
Carolina olha para mim com olhos arregalados, claramente confusa e chocada. Posso praticamente ver sua mente tentando processar o que acabou de acontecer. Logo, a realização toma conta de seu rosto. Seus lábios se torcem e uma de suas sobrancelhas começa a tremer de irritação.
Eu deveria fazer isso mais fazer foi uma experiencia divertida. Enquanto Carolina tenta recuperar o fôlego após o despertar abrupto, eu já estou ocupando com os preparativos para a nossa saída. O mercadinho ainda está silencioso, exceto pelos nossos murmúrios e o som ocasional de itens sendo organizados.
Carolina me lança um olhar que mistura irritação com cansaço, mas logo sua expressão relaxa quando ela percebe que a viagem é inevitável. Com um suspiro resignado, ela começa a arrumar suas coisas. Pego uma mochila velha jogada em um canto e começo a colocar alguns itens essenciais: água, e um pouco de comida. Afinal, nunca é demais estar preparado.
Eu me viro para Carolina vindo em minha direção, em uma de suas mãos ela carrega uma pequena sacola com algumas coisas e já tinha o dispositivo de mapa em sua outra mão. "Não precisaremos acampar novamente, hoje já conseguiremos chegar a ilha" ela me informa, "Ótimo, mal posso esperar para chegar e pelo caminho também, tenho algumas perguntas sabe?" ela ri com o lembrete.
"Vou tentar responder da melhor forma, vamos, não devemos perder mais tempo" ela começa a andar passando a frente com o mapa, "Mas antes" ela pisa no meu pé, forte, "Eu odeio ser acordada assim, entendeu?"
Eu solto uma risada e assinto, valeu a pena.
Com tudo isso resolvido agora nós seguimos viagem finalmente aquelas ilhas flutuantes.