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Chapter 5 - Por que eu estou de volta?

Após o choque inicial de estar neste novo lugar ter passado, eu me esforço para entender a situação com mais clareza. Preciso organizar meus pensamentos rapidamente, mas antes de mais nada, murmuro um "Ai" enquanto me belisco, só para ter certeza de que não estou sonhando.

A mulher, que estava absorvida em seus próprios pensamentos, desvia o olhar para mim e diz: "Eu sei o que você está pensando. Como já expliquei, isso não é um sonho. É... complicado de explicar agora, e eu prometo que darei uma explicação melhor mais tarde, mas precisamos parar em breve."

"Por que parar agora?" pergunto, confuso. "Chegamos aqui faz menos de uma hora e ainda está claro."

Ela aponta para o céu, onde o Sol, de maneira inquietante, parece ter se movido rápido demais. "O tempo aqui passa de forma diferente. Eu prevejo que em meia hora o Sol deve se pôr. Precisamos encontrar um lugar seguro para acampar antes que escureça."

Enquanto fala, ela examina o mapa com atenção, claramente procurando um local onde possamos nos abrigar. Sua expressão de concentração é um alívio, pois indica que ela tem um plano. No entanto, a sensação de urgência que transmite não faz o ambiente parecer menos surreal.

"Então..." começo lentamente, tentando encontrar a melhor maneira de iniciar uma conversa. "Acho que ainda não tivemos a chance de nos apresentar adequadamente. Meu nome é Oliver Lennert. Imagino que você já saiba disso."

Ela sorri sutilmente e me observa com atenção. "Bem, podemos resolver isso enquanto caminhamos. Meu nome é Caroline. É um prazer te encontrar novamente," diz ela, com um toque de humor na voz. É um alívio finalmente ter um nome para chamá-la, em vez de ficar referindo-me a ela como 'mulher misteriosa' ou algo semelhante.

No entanto, algo me intriga. "Por que você disse 'novamente'? Não me lembro de ter conhecido ninguém chamada Caroline antes. A não ser que você tenha sido uma cliente da empresa, mas eu geralmente não guardo seus nomes. Eu deveria me lembrar, não?"

"Ah, isso é um segredo por enquanto," ela responde com uma risada leve e uma piscadela enigmática. Sua resposta só aumenta meu desconforto, mas também acende uma curiosidade que eu mal posso conter.

A cada passo que damos, o terreno irregular parece se transformar, como se estivesse mudando de forma sutil sob nossos pés. O sol avança pelo céu com uma velocidade inquietante, e eu me esforço para acompanhar o ritmo acelerado da mudança de luz. Caroline caminha ao meu lado, seus olhos fixos no mapa, com uma expressão que mistura determinação e uma calma quase contagiante.

"Caroline," começo, tentando puxar conversa enquanto olhamos ao redor, "este lugar é... diferente de tudo que eu já vi."

Ela levanta o olhar do mapa e me observa com um sorriso divertido. "Sim, 'diferente' é uma palavra adequada. É difícil explicar, mas acho que é isso que torna a viagem interessante, não acha?"

"Interessante é uma palavra leve," digo, rindo nervosamente. "Eu diria que é completamente surreal. Não consigo parar de pensar em como tudo parece fora do lugar."

Caroline faz um gesto para que eu continue a seguir na mesma direção. "É verdade, mas parte do encanto é a incerteza. Às vezes, a gente tem que se adaptar ao desconhecido e ver o que acontece."

Caminhamos em silêncio por alguns minutos, com o som das folhas e galhos secos sob nossos pés preenchendo o espaço. Sinto que estou começando a relaxar um pouco, o que é surpreendente, considerando o quanto a situação é estranha.

"Você sempre foi tão... tranquila em situações assim?" pergunto, tentando entender melhor a pessoa ao meu lado.

Caroline dá uma risada leve e sacode a cabeça. "Não exatamente. Aprendi a manter a calma com o tempo. Quando você se depara com coisas que não pode controlar, a melhor coisa a fazer é lidar com o que está ao seu alcance e manter a mente aberta."

"Parece uma filosofia prática," comento. "Eu, por outro lado, estou ainda tentando processar tudo isso. A ideia de um tempo que passa de forma diferente... é difícil de aceitar."

Ela para por um momento e se vira para me encarar com um olhar compreensivo. "É normal se sentir assim. Estar em um lugar desconhecido pode ser assustador. Mas, às vezes, é nessas situações que a gente descobre coisas sobre si mesmo que nunca imaginou."

A profundidade de suas palavras me faz refletir, e eu me pego pensando em como sua calma e perspectiva contrastam com meu estado de choque. "Você tem razão. É apenas... eu não estava preparado para isso. Para tudo isso."

Caroline volta a olhar para o mapa e ajusta nosso percurso, aparentemente conhecendo bem a área, mesmo que não tenhamos encontrado ainda o lugar seguro que ela prometeu. "Eu também não estava preparada para estar aqui. Mas é assim que as melhores histórias começam, certo? Com um pouco de caos e muita descoberta."

Seu otimismo é contagiante, e eu sinto uma estranha sensação de conforto em meio à incerteza. "E qual é a sua história?" pergunto, antes de me dar conta do que estou perguntando. "Desculpe, não queria ser intrusivo."

Ela sorri, um sorriso que parece mais de compreensão do que de zombaria. "Não se preocupe. Acho que todo mundo tem uma história para contar. Talvez, com o tempo, você conheça a minha. Mas por agora, concentremo-nos em encontrar um lugar para nos acomodar."

Enquanto caminhamos juntos em direção ao nosso destino, o sol continua sua trajetória apressada no céu, e eu me dou conta de que, apesar do ambiente surreal, a presença de Caroline faz com que a jornada seja um pouco mais suportável.

Após uma longa caminhada sob o céu que mudava de cor de maneira inquietante, finalmente encontramos um local que parece adequado para descansar. À nossa frente ergue-se um mercadinho antigo, meio abandonado, mas com um toque peculiar que o diferencia.

O mercadinho tem uma fachada de tijolos desgastados e cobertos por uma leve camada de musgo. A placa acima da entrada é simples, com letras em metal que piscam ocasionalmente, e sua pintura está desbotada e descascada, indicando que o lugar não é frequentado há algum tempo. As janelas, emolduradas por molduras de madeira envelhecida, estão empoeiradas e parcialmente cobertas por trepadeiras que se entrelaçam nas molduras, dando um aspecto um pouco rústico e desleixado.

"Parece que encontramos um bom lugar para descansar," Caroline diz, apontando para a entrada. "Vamos, vamos verificar" ela diz enquanto me arrasta um pouco para dentro.

Entramos no mercadinho, a porta de madeira, com maçaneta de bronze levemente enferrujada, rangendo ao abrir. Um sino de metal antigo toca um som suave, marcando nossa entrada.

O piso é de cerâmica escura, com alguns azulejos soltos e marcas de desgaste visíveis. As prateleiras de madeira, algumas com manchas e arranhões, estão carregadas de produtos que parecem ter sido preservados pelo tempo. Embora cobertos de poeira, ainda é possível distinguir alimentos embalados em frascos de vidro e algumas latas.

No centro do mercadinho, um balcão de madeira envelhecida exibe uma seleção modesta de produtos, como pães, frutas simples e algumas garrafas de líquidos. Atrás do balcão, há prateleiras com uma variedade de enlatados e especiarias, todos com aparência um pouco antiquada e sinais de desgaste.

O teto é sustentado por vigas de madeira que mostram sinais de envelhecimento. Lanternas a óleo pendem do teto, algumas ainda acesas, emitindo uma luz fraca e tremulante que ilumina o espaço com uma sensação acolhedora. O ar é misturado com odores sutis: o aroma de madeira antiga, um leve cheiro de poeira, e um toque de frescor dos produtos ainda visíveis.

Estou aliviado ao ver um lugar seguro, mas logo percebo algo importante. "Este lugar é melhor do que eu esperava," digo, dando uma olhada ao redor. "Pelo menos temos um abrigo e algum suprimento. Mas tem algo que me incomoda..."

Caroline, que estava examinando os produtos na prateleira, ergue o olhar. "O que foi?"

"Bem, eu reparei que..." começo, observando a falta de qualquer equipamento de acampamento. "Nós não temos nada para montar um acampamento. Você sabe, eu estava pensando..."

Caroline hesita um pouco antes de dar um sorriso meio envergonhado. "Ah, é, eu não trouxe equipamento. Na pressa de invadir seu apartamento, eu acabei esquecendo disso."

A revelação me atinge como um balde de água fria. Minha frustração é clara. "Sério? Você esqueceu os equipamentos? Planejou nos trazer para um lugar completamente desconhecido e se esqueceu das coisas básicas que precisaríamos?"

Caroline parece um pouco envergonhada, ri nervosamente e desvia o olhar. "Eu sei, eu sei, foi um erro. Estava tão focada em sair rapidamente que acabei esquecendo do básico. Desculpe, Oliver." Ela tenta disfarçar o constrangimento com um sorriso nervoso.

Eu solto um suspiro de frustração, tentando me acalmar. "Tudo bem, tudo bem. Pelo menos temos comida e abrigo. Mas ainda preciso entender melhor..."

Caroline, ainda um pouco envergonhada, mas mais divertida, pergunta interessada. "O que mais te incomoda?"

"Por que precisamos acampar se o tempo passa mais rápido? Não seria melhor continuar a viagem, considerando que a noite também vai passar rápido?"

Ela me olha com um semblante sério. "Olha, se tem uma coisa que eu aprendi é que você não deve andar por aí à noite nesses lugares. É pedir para se meter em encrenca ou se machucar" Seus olhos parecem se perder em memórias por um instante antes de ela continuar. "E não se preocupe com isso. Embora o tempo passe mais rápido, nossos corpos também funcionam mais rápido, então podemos descansar mais rapidamente também."

Ela finalmente escolhe algo das prateleiras e me entrega uma barra de proteína. "Além disso, como nossos corpos funcionam mais rápido, precisamos comer mais. Você só não percebeu isso porque estava se acostumando com o local."

Agora que ela mencionou isso, a fome que eu estava ignorando se torna quase insuportável. Eu pego a barra de proteína e dou uma mordida, sua explicação faz sentido.

"Então, pronta para me contar sobre o que é tudo isso?" pergunto, enquanto dou outra mordida na barrinha de proteína. "Você mencionou que iria me explicar mais cedo."

Caroline, que estava saboreando sua própria barra de proteína, quase se engasga com a minha pergunta. Após uma rápida tosse, ela se vira para mim, visivelmente nervosa. "Ah, eu prometi, é verdade," ela diz, com um sorriso forçado. "Claro que vou te contar, mas... nossa, olha a hora." Ela dá uma olhada para o seu relógio, que parece estar congelado no horário em que entramos neste lugar. "Precisamos descansar, Olly. Como eu mencionei, nossos corpos funcionam de maneira diferente aqui. Então, boa noite."

Ela se levanta rapidamente e começa a juntar alguns sacos de arroz e feijão, preparando um canto para se deitar. O movimento é apressado, como se estivesse tentando mudar de assunto o mais rápido possível.

Eu resmungo para mim mesmo, frustrado. "Essa mulher..." murmuro, irritado com a maneira óbvia como ela está tentando evitar minhas perguntas. "Eu vou conseguir minhas respostas amanhã, de qualquer jeito." Não há como ela fugir disso para sempre.

Após terminar de comer, dou uma última olhada para a bagunça do mercadinho e me dirijo ao canto onde Caroline está se acomodando. Recolho alguns sacos de arroz e feijão e os disponho ao meu lado, tentando criar um espaço minimamente confortável para dormir. O ambiente é rudimentar, mas, no momento, é o melhor que podemos fazer.

Enquanto me deito e fecho os olhos, a frustração e a curiosidade ainda pairam sobre mim. A noite será longa, e a expectativa de obter respostas de Caroline só aumenta a tensão que sinto. Mas, por agora, a necessidade de descanso vence, e logo o cansaço toma conta.

Eu me vejo em uma paisagem familiar, mas não bem-vinda, porém, diferente das outras vezes eu consigo me mover e olhar melhor o ambiente.

Estou em uma paisagem serena, um terreno coberto por mato alto que chega até a cintura, como o de uma savana. O ambiente é pontilhado por pequenas flores roxas e vermelhas cujos nomes desconheço, mas que adicionam um toque vibrante ao cenário. O céu, eternamente no início de um pôr do Sol, exibe uma paleta de cores que mistura roxo, rosa, azul e amarelo em um espetáculo de suavidade, como se um pintor estivesse criando uma obra-prima celestial.

As poucas nuvens que se espalham pelo céu são longas e etéreas, estendendo-se até onde a vista alcança, como se fossem tecidas com algodão doce colorido. Elas suavizam e misturam as cores do céu, criando um efeito que parece irreal, quase mágico.

O ambiente é imperturbável, salvo pelo suave sussurro de um vento gentil que sopra da direita para a esquerda. O vento faz a grama e as flores se balançarem levemente, produzindo um som quase imperceptível, mas calmante.

No centro deste cenário idílico, há uma pequena colina sobre a qual se ergue uma árvore solitária. Suas raízes estão parcialmente expostas, entrelaçando-se com o solo em um padrão que parece quase artístico. O tronco da árvore apresenta uma variação de tons marrons escuros e claros, com padrões em espiral que capturam e retêm meu olhar por alguns momentos.

Os galhos da árvore são finos e se ramificam de maneira abundante, enquanto suas folhas brilham em uma gama de tons esverdeados. A luz suave do Sol que penetra através da folhagem cria um brilho único e etéreo, que ilumina a árvore com uma aura suave e tranquilizadora.

O brilho da árvore é difícil de descrever completamente; não é como o brilho das folhas nem a luz do Sol, mas possui uma qualidade própria, um resplendor que exala uma tranquilidade palpável, ao mesmo tempo que evoca um sentimento de cautela. É uma sensação estranha, como se houvesse algo de misterioso e fascinante nela que desafia a descrição verbal. A visão da árvore provoca um frio na espinha, uma mistura de tensão e admiração, como se ela guardasse um segredo profundo e encantador.

Por que eu estou de volta?