Sabe normalmente eu não costumo fazer um monólogo para mim mesmo, mas acho que posso fazer uma exceção hoje, enquanto espero entediado o fim do expediente do meu trabalho, a saudade do meu pequeno apartamento sempre presente.
Sério, por quê mesmo eu tive que aceitar trabalhar em um escritório com expediente até às sete horas da noite? Ah sim, por que era minha única opção, deveria ter escutado o conselho de "estude bem para conseguir um emprego bom", algo que minha mãe diria, pelo menos se ela estivesse viva para dizer, ou eu espero e imagino que ela diria isso, ela poderia muito bem ser alguém que não liga para isso, mas meh, não adianta ficar pensando em algo que poderia ter acontecido ou não.
De qualquer forma, voltando ao assunto principal, talvez eu deveria passar para pegar comida em algum lugar no caminho de onde eu durmo, não estou com nenhuma vontade de cozinhar, não nesse dia, ah chefe vindo, ~ fingindo trabalhar mesmo que falte 2 minutos para acabar ~ eee ele passou, Carlos deveria ser menos rígido, ser tão sério o fará ficar grisalho antes dos 50, ou pelo menos faria se ele tivesse algum cabelo, pelo menos ele está pegando o elevador para sair desse prédio, então discretamente vou juntando minhas coisas, que não são muitas, para sair logo dessa spelunca, sim, spelunca e não espelunca, curiosidade diária, semanal, mensal, qualquer um desses que esteja mais próxima da última vez que fiz isso: spelunca significa caverna ou covil ou qualquer coisa que se aplique a esses goblins corporativos para quem eu trabalho.
Batendo o meu ponto eu saio logo para poder ir para o lugar que eu fico, eu pulei o monólogo no elevador já que não queria que ninguém colocasse as mãos nas minhas coisas, enfim para minha sorte meu apartamento fica apenas algumas ruas daqui, por um lado eu estou perto do lugar que eu odeio, por outro nunca levei uma advertência por chegar atrasado ou tive que pegar transporte público, pequenas vitórias da vida.
Após duas ruas eu paro em um pequeno lugar de hambúrgueres, o local é a parte da frente de uma casa, tem um longo portão branco deslizante na frente, logo ao entrar já dou de cara com uma casa com uma varanda em forma de L, algumas mesas e cadeiras de plástico colocadas para as pessoas sentarem e comerem com dois cardápios e um porta guardanapo quadrado em casa uma, no canto direito em frente a uma mesa tem uma pequena piscina de bolinhas para crianças brincarem, os azulejos são quadrados e Bejes não tão novos, o teto é de gesso bem desgastado, com rachaduras evidentes, mas nada que poderia cair, as paredes do local e da casa são lisas suas cores são de um tom de rosa um pouco mais claro e meio marrom e um pouco desbotados, não vou dar muitos detalhes da casa em si, mas está tudo no mesmo nível do resto do local.
O cardápio do local é surpreendentemente diversificado, com vários tipos de hambúrgueres e com a opção de adicionar ou remover algo, o cardápio é físico, do jeito que eu gosto, tem um estilo bem básico, todo preto com escrita branca e alguma imagem ocasionalmente, o cardápio também tem uma espiral, como um caderno, o que é muito melhor na minha opinião.
Ah e quando eu estava fazendo essas descrições eu peguei uma mesa para mim e já fiz o meu pedido, hoje eu fui com algo simples, pedi um x-burguer normal e adicionei um hambúrguer extra presunto e bacon, eu não sou muito fã de salada.
Enquanto espero meu pedido começo a relembrar um sonho que sempre esteve presente durante a minha vida e eu o tenho em dias aleatórios, é algo estranho, ele parece bem tranquilo, mas eu sempre acordo com um susto e todo suado, como um pesadelo quando o tenho.
O sonho é apenas uma paisagem, eu acordo em um terreno com um mato alto, até a cintura no estilo de uma savana, com algumas pequenas flores roxas e e vermelhas que eu não sei o nome, o local fica permanentemente como o início de um pôr do Sol, roxo, rosa, azul e amarelo se misturam no céu como se estivessem em uma paleta de um pintor. Poucas nuvens mancham o céu mas as que existem se extendem eternamente sem fim ou começo, pelo menos do meu ponto de vista, elas fazem as cores do céu se misturarem ainda mais, como se fossem um algodão doce colorido de algum parque para crianças. Não existe nenhum som além do som suave de um cento fraco que sopre pelo local da direita para a esquerda movimentando levemente a grama e as flores. No centro deste local tem uma pequena colina com uma árvore no centro, suas raízes ficam um pouco em evidência, seu tronco tem uma mistura de marrom escuro e claro em um padrão de espirais que sempre prendem meu olhar por alguns minutos, seus galhos são finos e se ramificam em excesso e suas folhas brilham em uma mistura de tons esverdeados que refletem a luz suave que o Sol emite no local criando um tom único. Além disso tem sempre uma característica especial e ainda mais marcante que sua forma física, mas que eu não consigo descrever direito, é como se ela brilhasse, não como as folhas e nem mesmo como o próprio Sol, é um brilho próprio e lindo, além de emitir um sentimento de tranquilidade ao mesmo tempo que me faz ter cautela, não é algo que possa ser transmitido totalmente por palavras, mas eu sempre tenho um frio na espinha de tensão e maravilha enquanto a encaro.
Descrever esse sonho sempre me faz pensar e me distrair mais do que o comum. A comida estava boa, obrigado. É o que eu digo ao dono enquanto pago, o local não cobra muito caro e a comida é realmente boa, por isso eu gosto de comer aqui, além do benefício de estar entre meu apartamento e a ruína da minha existência.
Enquanto continuo o caminho de casa começo a me perguntar, quando minha vida se tornou tão pacata e chata.