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Chapter 4 - A Jornada no Navio Vespucci

O dia amanheceu para Léo, e ele despertou na rede, sentindo a brisa salgada do mar acariciar seu rosto. O Navio Vespucci, majestoso e imponente, seguia sua rota em direção à Academia de Cavaleiros. Léo se levantou, os pés descalços tocando o convés de madeira gasta. O sol nascente pintava o céu com tons de laranja e rosa, e Léo caminhou até a lateral do navio para admirar o espetáculo.

 O sol brilhava intensamente sobre as águas, criando reflexos dourados que dançavam ao ritmo das ondas. As gaivotas, alheias à surpresa de Léo, continuavam a pairar no céu, suas asas recortadas contra o azul infinito. A brisa salgada acariciava seus rostos, enquanto o navio seguia sua jornada, cortando as águas com determinação.

Enquanto observava o horizonte, dois cavaleiros passaram conversando ao seu lado. Suas vozes eram graves e carregadas de preocupação. Eles discutiam a crescente criminalidade na região de Lumirian, onde órfãos e pessoas das castas mais baixas sofriam. Os decretos do rei vigente estavam sob escrutínio, e os cavaleiros questionavam se essas leis estavam realmente protegendo os mais vulneráveis.

Léo, com seus quinze anos, não entendia completamente esses assuntos complexos. Sua mãe sempre enfatizara que, se ele ingressasse na academia, precisaria estudar e conhecer mais sobre o reino onde vivia. Ele guardou essas informações para si mesmo, consciente de que talvez precisasse delas no futuro.

Enquanto o sol subia no céu, Léo contemplou o mar vasto e desconhecido. Ele estava prestes a embarcar em uma jornada que o transformaria de um jovem sonhador em um verdadeiro cavaleiro. As palavras dos cavaleiros ecoavam em sua mente, e ele se perguntava como poderia fazer a diferença em um mundo onde as sombras se estendiam sobre os menos afortunados.

E assim, com o sol como testemunha silenciosa, Léo prometeu a si mesmo que honraria a espada que em breve empunharia. Ele seria não apenas um guerreiro habilidoso, mas também um defensor da justiça e da esperança. A bordo do Navio Vespucci, ele navegaria em direção ao seu destino, com o coração cheio de determinação e a mente aberta para os desafios que o aguardavam.

 Os Aprendizes de Cavaleiro, vestidos com uniformes impecáveis, treinavam incansavelmente. Eles manejavam espadas de madeira, simulando combates e duelos. A bordo do Vespucci, aprendiam a arte da navegação, a disciplina militar e a camaradagem que só o mar podia proporcionar.

 O Vespucci não era apenas um navio; era uma escola flutuante. Seus mastros se erguiam como lanças, apontando para o céu. Os Aprendizes de Cavaleiro subiam pelas cordas, desafiando o vento e a altura. Eles estudavam mapas estelares, aprendendo a navegar pelos astros e a encontrar o caminho de volta para casa.

 E, nas noites, quando o céu se enchia de estrelas, os Aprendizes de Cavaleiro se reuniam no convés. As histórias eram contadas, os sonhos compartilhados, e Léo sonhava em passar nos testes da academia e vivenciar aquilo. O Vespucci os levava a lugares distantes, onde o mar se fundia com o horizonte e o mundo parecia infinito.

 Mas o Vespucci também tinha uma história de guerra. Ele havia participado de batalhas épicas, enfrentando tempestades e inimigos. Suas velas haviam sido rasgadas, seus mastros quebrados. Mas ele sempre se erguia novamente, como um fênix renascendo das cinzas.

 E agora, com os candidatos a cavaleiros a bordo, o Vespucci seguia em direção à Academia de Cavaleiros Perlasca. Os jovens olhavam para o horizonte, com corações cheios de esperança e determinação. Eles sabiam que, no Vespucci, estavam escrevendo suas próprias lendas, forjando seus destinos como verdadeiros cavaleiros de Lumirian.

 Léo, posicionado na lateral do navio, sobressaltou-se quando seu amigo Lucas, com um grito entusiástico, lhe desejou — bom dia.

Lucas e Léo, curiosos e ansiosos, decidiram explorar os compartimentos do navio antes de seguirem para a sala de refeições próxima à cozinha. A madeira envelhecida das paredes e vigas exalava um aroma de história e aventura.

O primeiro compartimento que encontraram foi a câmara, onde o Comandante do navio ou o oficial mais antigo presente a bordo costumava residir. Era um espaço austero, com uma mesa de navegação coberta de mapas e instrumentos como a bússola e o astrolábio.

As paredes exibiam marcas de anos de viagens e histórias compartilhadas. O nome do navio estava gravado na proa, em ambos os bordos, em um local chamado de "bochecha", e também na popa.

Descendo uma escada estreita, Lucas e Léo entraram no porão. Ali, tonéis de vinho, sacos de grãos e barris de água estavam cuidadosamente arrumados. O cheiro de salmoura e especiarias impregnava o ar.

Eles imaginaram os cavaleiros se abastecendo antes de longas jornadas pelo mar, compartilhando histórias à luz de velas enquanto empilhavam os suprimentos.

Ao sair do porão, eles chegaram ao convés inferior. Aqui, as vigas de madeira se entrelaçavam, sustentando o peso do navio. Caixotes de carga, redes de pesca e equipamentos de navegação estavam espalhados.

No final do corredor, Lucas notou uma porta trancada. — O que será que está lá dentro? — sussurrou para Léo. Eles trocaram olhares e decidiram que, em sua próxima exploração, desvendariam o mistério do porão secreto.

Ao terminar a exploração, — Estou morrendo de fome! — exclamou Lucas, arrastando Léo em direção à área de refeição próxima a cozinha do navio. Lá, eles encontraram várias jovens aprendizes, todas ansiosas pela refeição que os aguardava. O cheiro de pão fresco e ovos mexidos preenchia o ar. O café da manhã era nutritivo e reconfortante, preparando os estômagos para o dia que se desenrolaria.

O salão de refeições do Vespucci é um espaço elegante e funcional. As paredes são revestidas com madeira polida, e grandes janelas permitem que a luz natural inunde o ambiente.

Mesas longas e bancos de madeira acomodam a candidatos durante as refeições. Os pratos e talheres são organizados com precisão, refletindo a disciplina e a ordem a bordo.

Enquanto mastigava, Lucas, com a boca cheia, perguntou a Léo sobre suas expectativas para o teste que eles enfrentariam. A Academia de Cavaleiros era conhecida por mudar os desafios a cada ano, testando a coragem, habilidade e determinação dos candidatos. Mais da metade dos concorrentes não conseguia passar. Léo olhou para o amigo, ponderando sobre o que estava por vir.

— Espero estar à altura — respondeu Léo, com sua voz firme. — Quero honrar o nome de minha família e me tornar um verdadeiro cavaleiro. Seja qual for o teste, vou enfrentá-lo com tudo o que tenho.

Lucas assentiu, os olhos brilhando.

— É isso aí, parceiro! Juntos, vamos superar qualquer desafio que a academia nos apresentar. E, quem sabe, talvez até nos tornemos lendas.

No meio da conversa, uma jovem garota entrou no refeitório. Seus longos cabelos loiros pareciam capturar a luz do sol, e seus olhos azuis brilhavam com uma intensidade quase mágica. O mundo parecia ganhar vida ao seu redor, como se ela fosse uma anjo, trazendo esperança e encanto por onde passava. Ela estava acompanhada de outras jovens, todas ansiosas para ingressar na academia.

Lucas, percebendo o olhar encantado de Léo, não perdeu a oportunidade de provocá-lo. Ele riu e disse.

— Tire seu cavalinho da chuva, meu amigo. Essa é a famosa Lumina Lightbringer.

Lucas explicou que a família dela tinha sangue real correndo em suas veias, e que ela estava ingressando na academia agora. Porém, o que mais impressionava era sua habilidade com a espada. Até mesmo cavaleiros reais perdiam para ela nos treinamentos.

Léo sentiu seu coração acelerar. Lumina era uma figura brilhante, e agora ela estava ali, tão próxima. Ele se perguntou como seria enfrentá-la na academia, e se ele também poderia se tornar um cavaleiro tão habilidoso quanto ela. Enquanto Lumina se aproximava, o mundo parecia brilhar ainda mais, e Léo sabia que sua jornada estava apenas começando.

O navio Vespucci parecia conter mais do que apenas sonhos e esperanças. No convés, onde o sol dançava sobre as tábuas de madeira, uma tensão inesperada surgiu. Um jovem chamado Greg Visley, determinado a ingressar na academia, desafiou Lumina Lightbringer, a espadachim de cabelos loiros e olhos azuis.

As palavras de Greg foram afiadas como a lâmina de uma espada. Ele a provocou, questionando sua coragem e acusando-a de covardia. Lumina, com a postura ereta e os olhos faiscando, recusou-se a recuar. Ela não perderia tempo com um "qualquer" que só queria se exibir para os outros. Afinal, ele provavelmente nem passaria no teste de entrada para a academia.

Léo, intrigado, perguntou a Lucas quem era aquele Greg e por que ele podia falar daquela forma com Lumina, que tinha parentesco com a linhagem real. Lucas, com um sorriso malicioso, revelou que Greg era o primo de Lumina. A família dele tem mais influência na corte real do que a família Lightbringer, eles tinham suas próprias intrigas e rivalidades. E assim, o desafio foi aceito.

Todos se dirigiram à pequena arena de treinamento no meio do navio. O ar estava carregado de eletricidade, e os olhos de Lumina brilhavam com determinação. O duelo estava prestes a começar, e o destino dos dois jovens cavaleiros estava entrelaçado como as velas que impulsionavam o navio.

O Navio Vespucci se transformou em uma arena improvisada, e todos os olhares se voltaram para o duelo iminente. Lumina, com seus olhos azuis ardendo de raiva, enfrentava Greg Visley, o provocador que desafiara sua honra.

O cavaleiro designado como juiz posicionou-se entre os dois e disse que nesse combate simulado não haveria o uso de magia, e, com um simples "já", a batalha começou. As espadas de madeira colidiram, faíscas voando no ar. Lumina, apesar de sua calma aparente, era uma tempestade prestes a desabar. Ela recuou, mas seus ataques eram rápidos como relâmpagos, pegando Greg de surpresa.

Greg, por sua vez, desviava dos golpes com agilidade, mas sua inexperiência era evidente. Lumina tinha a vantagem, e todos assistiam com fascinação. Um golpe certeiro atingiu o braço de Greg, fazendo-o tremer de dor e cair de joelhos. Lumina declarou a luta encerrada, proclamando-o fraco.

No entanto, Greg não aceitou a derrota. Com um gesto mágico, ele convocou uma lama negra com espinhos afiados. Léo, preocupado, sabia que magias eram proibidas em duelos de cavaleiros, a menos que ambos concordassem no início. Antes que pudesse intervir, Lumina desviou do ataque covarde, movendo-se com velocidade impressionante.

Ela apareceu ao lado de Greg, acertando-o na nuca com sua espada de madeira. Ele desmaiou, e Lumina olhou para ele com desdém.

— Covardes como você não merecem sequer tentar ingressar na academia — declarou.

O silêncio pairou sobre o convés. Lumina, com sua força e graça, era uma inspiração e um lembrete de que a verdadeira coragem não se mede apenas pela espada, mas também pelo coração.

Após Greg perder de forma humilhante no combate contra Lumina, alguns candidatos que o conheciam de jornadas anteriores o conduziram até a área de enfermeiros a bordo do navio. O ambiente era uma mistura de eficiência e urgência, onde a vida e a saúde dos tripulantes eram prioridade e o odor salgado do mar misturava-se ao cheiro de antisséptico.

Um som dos sinos ecoou pelo convés do Navio Vespucci, anunciando a visão que todos ansiavam: a Academia de Cavaleiros Perlasca. Léo correu para a proa, seus olhos fixos na distante ilha que se erguia do horizonte. A ansiedade e a emoção se misturavam em seu peito enquanto ele observava o local majestoso.

A ilha era um mundo à parte, cercado pelo mar azul profundo. Torres imponentes se erguiam, suas pedras antigas testemunhas de incontáveis treinamentos e batalhas. As bandeiras da academia tremulavam no vento, e os jovens cavaleiros a bordo do navio se aglomeravam, olhando com admiração.

Léo imaginou os salões de treinamento, as bibliotecas repletas de pergaminhos antigos e os pátios onde espadas se chocavam. Ele se perguntou sobre os mestres que ensinariam os segredos da lâmina e os juramentos que fariam em nome da honra. A Academia de Cavaleiros Perlasca era mais do que um lugar de aprendizado; era um santuário para sonhadores e guerreiros.

Enquanto o navio se aproximava da ilha, Léo sentiu o coração bater mais rápido. Ele estava prestes a pisar em solo sagrado, a trilhar os mesmos caminhos que lendas haviam percorrido. Os jovens ao seu redor compartilhavam a mesma expectativa, e a incerteza do que os aguardava os unia.

E assim, com os sinos ainda ecoando em seus ouvidos, Léo e seus companheiros se prepararam para desembarcar. A Academia de Cavaleiros Perlasca estava à vista, e o futuro se desdobrava diante deles como um pergaminho em branco, pronto para ser preenchido com coragem, amizade e a busca pela verdadeira nobreza.