Eu quero amar, amar perdidamente. Amar só por amar.
Florbela Espanca
Arrumei os meus pets na caminhonete, juntamente com minha mala. Eram quase dez horas, e eu teria de acelerar para chegar antes do almoço, até porque não conhecia o caminho. Então não seria bom sair com pressa.
Ao chegar para despedir dos anfitriões, Maria está ao lado de Joaquim, com um sorriso triste.
- Já estava me acostumando a você- sorriu.
- Eu também. Nossa! Essa estadia me deu a energia que eu precisava para toda a minha mudança! Afirmei.
Maria olhou Ana e sorriu maliciosamente, pois ela viu quando Ulisses deixou o chalé mais cedo, mas enfim falou como se nada tivesse acontecido.
- O Joaquim precisa descer até o Vale. Ele poderá ir contigo, assim lhe ensina o caminho e você não corre o risco de se perder.
- Maravilha! Afirmei. Seria ótimo alguém de companhia.
Maria me deu um caloroso abraço e um beijo na minha bochecha, bem coisa de mãe.
- Nos vemos em breve. Falou.
O caminho a seguir era encantador, apesar da estrada não ser pavimentada e sim calçada, a ideia era que o vale passasse a sensação de um ar antigo, sem aparentar modernidade, como se voltasse no tempo. As árvores uniam as copas formando um túnel natural e lindo. Como o vale ficava em meio a serra, e nós nesse momento descíamos, tínhamos que dirigir com cautela. Observei que toda a estrada era muito bem conservada e em determinados trechos havia pequenos mirantes e bicas d'água. Joaquim me explicou que a região era rica em água mineral, inclusive eles a engarrafavam e vendiam em todo o país.
Mais adiante, próximo a uma curva, havia um lindo mirante com uma taipa de pedras coberta de uma espécie de trepadeira de flores na cor rosa. Encantei-me e falei:
- Podemos parar um minuto, gostaria de olhar esse local. Achei lindo.
Joaquim consentiu, já que ele estava dirigindo meu carro.
- Estou encantada com o lugar! Afirmei. – Parece um cenário saído de um conto de fadas.
Antes de comentar, vi que o olhar de Joaquim pela primeira vez naquele dia ficou vago e triste. Então ele falou:
- Aqui aconteceu uma grande tragédia.
- Como assim?
- Aqui morreu nossa queria Amanda. Vi que ele gostava muito dessa pessoa, pois seus olhos se encheram de lágrimas.
- Joaquim, me perdoe, se eu imaginasse jamais teria lhe pedido para parar, só achei o lugar encantador.
- Sim, minha querida, o lugar é especial. Ulisses o deixou perfeito, um conto de fadas.
Confesso que o nome Ulisses me deixou curiosa, não segurei a pergunta.
- Ulisses? Por que, Joaquim?
Com um suspiro longo e um olhar profundo e triste, ficou pensativo, tentando escolher as palavras certas para me contar a história.
Então falou:
- Ulisses, foi casado com ela, mas há oito anos, ela se matou aqui. Ninguém de nós da comunidade percebeu que ela estava depressiva. Achávamos que ela estava triste sim pelo aborto dos bebês, mas não a ponto de tirar a própria vida. Foi um grande choque, não imaginávamos que Ulisses iria se recuperar. Sabe Ana, nosso povo não aceita muito bem a perda da sua companheira quando é algo tão drástico.
Estranhei quando ele disse "nosso povo", parecia que eram uma tribo ou algo assim. Porém num gesto rápido como se já tivesse falado demais, ele me disse:
- Vamos Dona Ana, temos ainda mais trinta quilômetros pela frente e eu não vejo a hora de almoçar.
Pensativa, obedeci e entrei no carro. Afaguei meus pets que já estavam ansiosos por ficarem no carro.
Ulisses sabia que ela estava vindo. Maria tinha sido astuta feito Joaquim vir com ela e dirigindo. Ele a trouxe pelo antigo caminho, a estrada não era pavimentada, mas era encantadora. O plano dele era mostrar toda a beleza do Vale para ela.
Mas Ulisses não sabia como ela reagiria após a noite quente de ambos. Ele daria espaço a ela nesse momento. Bem, ele tinha de ir visitar alguns clientes e sabia que em pouco tempo com a ajuda de Marcia e Giovana ela tomaria conta das finanças, pois seu currículo era invejável. Então achou melhor manter distância nesse momento.