A brisa da manhã pairava sobre o vilarejo, fresca e calma, mas o ar carregava uma tensão invisível. Kieran estava sentado na beira de um pequeno riacho, o som da água correndo tentando, em vão, trazer paz à sua mente. Seu corpo, que estava novamente cheio de faixas, ainda estava se recuperando da última batalha que teve, e sua alma ainda estava marcada com aquelas visões. Os pesadelos vinham todas as noites, o Bestiário pulsando em sua consciência como uma sombra persistente. Ele sabia que algo estava por vir. Podia sentir nas correntes do ar, na vibração do solo sob seus pés.
Enquanto Kieran meditava, Leonhardt estava ao longe, treinando com intensidade incomum. Seus golpes de luz brilhavam no ar como feixes de sol, enquanto ele tentava dominar a força que carregava dentro de si. Desde o último confronto, a culpa o perseguia. A destruição que quase causara, a sensação de impotência ao ver Kieran lidar com monstros que ele mesmo não conseguia enfrentar. Leonhardt precisava ser mais forte. Ele precisava provar que não era apenas o "Leão da Luz do Dia", mas um verdadeiro guerreiro.
Kieran abriu os olhos, sentindo uma perturbação no ar. Algo estava errado. Ele se levantou lentamente, os sentidos em alerta, e então viu. Nas montanhas ao norte, uma sombra colossal se movia entre os picos. Uma presença ancestral e poderosa, algo que Kieran nunca havia sentido antes. O Bestiário dentro dele reagiu de imediato, uma página em branco queimando, aguardando ser preenchida.
"Isso não pode ser real..." ele murmurou para si mesmo.
Leonhardt, percebendo a mudança no comportamento de Kieran, correu até ele.
"O que está acontecendo?" perguntou Leonhardt, o medo crescendo em sua voz.
Kieran não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos na montanha, onde a sombra se tornava cada vez mais visível. Um rugido profundo ecoou pelas montanhas, fazendo o chão tremer.
"Nidhogg." disse Kieran, finalmente. "A serpente que devora as raízes do mundo. Está vindo para cá."
Leonhardt sentiu um arrepio subir pela espinha. Ele conhecia as histórias, mas sempre pensou que fossem apenas lendas. Monstros daquele nível não deveriam existir, não aqui, não agora.
"Não podemos lutar contra isso agora!" Leonhardt declarou, a voz embargada pela incerteza.
Kieran olhou para ele, sério. "Não temos escolha. Se ela chegar ao vilarejo, tudo será destruído. Não é uma questão de vencer... é sobreviver."
Sem mais palavras, eles correram em direção às montanhas, sabendo que o tempo estava contra eles. Enquanto subiam pelas rochas irregulares, a sombra de Nidhogg se tornava mais clara. Seus olhos vermelhos como brasas brilhavam entre os picos, e seu corpo, imenso e escuro, parecia devorar a própria luz ao seu redor.
Chegando lá, eles sentiriam o vento soprar calmamente pelas a última vez, antes da serpente perceber os dois, que ainda estavam relativamente distantes. O coração de Kieran estava inquieto, ele sentia o calor das bandagens que envolviam seu corpo ferido ao ver de mais perto a grande serpente, uma lembrança amarga das batalhas anteriores apareceria, ele que tinha acabado de sair de uma luta impossível, mas a dor física que sentia não era nada comparada ao caos e os pesadelos que girava em sua mente. Suas pernas tremiam levemente com cada passo, ainda que ele tentasse disfarçar sua fraqueza.
Leonhardt o observava com cuidado, notando como Kieran, mesmo em um estado de exaustão, mantinha a postura ereta e firme. Ele sabia que o próximo confronto seria decisivo. Não havia tempo para hesitações. Nidhogg, a serpente ancestral, estava se aproximando das montanhas, e os dois estavam a poucos instantes de uma batalha que poderia definir o destino do vilarejo.
"Você não está pronto, tu ainda nem se recuperou desde a última batalha" disse Leonhardt, sua voz carregada de preocupação. "Se tu lutar de novo, não saberemos o que pode acontecer."
Kieran lançou um olhar duro em resposta, as cicatrizes visíveis em seu rosto acentuando sua expressão.
"Não temos escolha, e desde quando você começou a se importar? Haha." respondeu ele, rindo mas mantendo sua voz baixa. "Se não enfrentarmos agora, todos morrerão."
Leonhardt sabia que Kieran estava certo, mas ainda assim, ele tinha dificuldade em aceitar que lutariam lado a lado. A pressão sobre seus ombros aumentava com cada segundo, e ele sentia a necessidade de provar algo. Não apenas para os outros, mas para si mesmo.
"Então vamos acabar com isso." Leonhardt declarou, levantando sua mão direita, invocando o familiar brilho de sua magia. O leão de luz começou a se formar ao seu lado, imponente e majestoso. Os olhos da criatura brilhavam com uma intensidade feroz, prontos para lutar.
Kieran observou em silêncio, sua mente processando rapidamente o cenário. Mesmo com seu corpo fragilizado, ele tinha que encontrar uma forma de contribuir. Ele não podia apenas confiar em Leonhardt. Com esforço, canalizou o poder do Bestiário, sentindo a energia pulsar através de suas veias. Ele invocou o poder de uma criatura menor, um lobisomen para fortalecer seus movimentos e dar-lhe mobilidade. Suas pernas fraquejaram por um segundo antes de serem envolvidas pela aura da criatura, permitindo-lhe mais estabilidade.
"Vamos." disse Kieran, começando a avançar.
Assim que subiram as rochas irregulares, os rugidos de Nidhogg ressoaram nas montanhas, e o solo tremeu sob seus pés. A serpente colossal emergiu, sua cabeça gigantesca se projetando por entre as nuvens baixas, seus olhos vermelhos e famintos focados nos dois guerreiros. Cada movimento da criatura era acompanhado por uma vibração que fazia o ar parecer pesado e sufocante.
"Não podemos deixá-la chegar ao vilarejo" Leonhardt falou, canalizando mais poder para o leão de luz.
"Ataque pelos flancos, eu vou distraí-la" disse Kieran, os olhos fixos na serpente.
Leonhardt hesitou por um segundo. "Você está machucado, não vai aguentar por muito tempo!"
"Apenas faça!" Kieran rugiu de volta, já correndo em direção a Nidhogg.
Mesmo com o corpo ferido, Kieran sabia que a estratégia era tudo. Ele não poderia lutar de frente, não em seu estado atual, mas poderia ganhar tempo. Enquanto avançava, conjurou a energia do Bestiário mais uma vez, desta vez chamando a resistência de um Golem, que o envolveu com uma aura de robustez. Sentiu seus músculos se fortalecerem, mas ao custo de mais dor em suas feridas.
Nidhogg, percebendo a aproximação de Kieran, lançou sua cabeça colossal em um ataque brutal, sua mandíbula se abrindo para engolir o guerreiro em um único movimento. Kieran saltou no último segundo, seus movimentos ainda lentos e pesados, mas o suficiente para escapar por pouco.
"Agora, Leonhardt!" gritou Kieran, com os pés mal tocando o chão.
Leonhardt não perdeu tempo. Ele canalizou toda a sua energia no leão de luz, que rugiu ferozmente antes de avançar como um raio em direção à lateral de Nidhogg. O leão de energia colidiu com a serpente, explodindo em uma rajada de luz intensa, o impacto causando uma onda de choque que fez a própria montanha tremer.
Nidhogg rugiu de dor, sua pele escamosa brilhando em vermelho furioso. Ela virou sua cabeça violentamente, mirando Leonhardt, mas Kieran já estava de volta à ofensiva. Mesmo ferido, ele atacava com precisão, golpeando as patas da serpente com toda a força que podia reunir. Ele sabia que não poderia derrotá-la diretamente, mas estava forçando a besta a dividir sua atenção.
"Concentre-se nos pontos fracos!" gritou Kieran, enquanto seus punhos, envoltos em magia, colidiam contra a carne endurecida de Nidhogg.
Leonhardt canalizou mais poder, mas seu corpo começava a sentir o desgaste. Ele criou mais dois leões de luz, mandando-os atacar os pontos vulneráveis nas escamas de Nidhogg, tentando desacelerar seus movimentos. A serpente rugiu, furiosa, tentando esmagar os pequenos ataques que vinham de todos os lados.
Kieran, por outro lado, estava cada vez mais lento. A dor de suas feridas o atingia como um martelo, e ele sentia que suas forças estavam esvaindo. Mesmo assim, ele não recuaria. "Não ainda", pensou.
De repente, Nidhogg lançou sua cauda em um arco devastador, varrendo o solo ao redor e atingindo Kieran em cheio. Ele foi arremessado contra as rochas, sua armadura rachando e o ar escapando de seus pulmões com o impacto. Ele tentou se levantar, mas seu corpo simplesmente não respondia mais.
"Kieran!" gritou Leonhardt, que, por um segundo, se distraiu. Esse momento foi tudo o que Nidhogg precisou. A serpente lançou um jato de fogo ancestral diretamente em sua direção.
Leonhardt mal teve tempo de reagir. Ele conjurou um escudo de luz no último segundo, mas o impacto o jogou para trás, queimando suas roupas e fazendo suas mãos tremerem com o esforço de manter a magia ativa. O chão ao redor dele derretia, e ele sentia o calor insuportável do fogo quase o consumir.
Kieran, ainda enfaixado e quase incapaz de se mover, forçou-se a levantar. Ele sabia que, se não fizesse algo, Leonhardt seria destruído.
"Agora ou nunca..." Kieran murmurou, com os olhos cheios de determinação. Ele canalizou a última força que lhe restava, invocando o poder do Bestiário uma última vez.
Ele se levantou com esforço, sua aura queimando com um brilho vermelho, e disparou em direção a Nidhogg. Mesmo fragilizado, Kieran lançou-se diretamente na boca da serpente. Antes que Nidhogg pudesse reagir, Kieran desferiu um golpe final, canalizando todo o poder acumulado do Bestiário para explodir com força devastadora dentro da criatura.
Um rugido ensurdecedor ecoou pelas montanhas. Nidhogg balançou violentamente antes de cair no chão, seu corpo desmoronando em um último suspiro.
Leonhardt, ferido e exausto, olhou em volta, procurando por Kieran entre os destroços. Ele viu seu amigo caído ao longe, as bandagens completamente rasgadas e o corpo imóvel.
"Você fez isso..." Leonhardt murmurou, sentindo um misto de alívio e admiração.
O silêncio finalmente desceu sobre o campo de batalha, enquanto o pôr do sol brilhava fracamente no horizonte.
Um tempo passaria e a luz suave da lua banhava o vilarejo, trazendo consigo uma calmaria silenciosa após a batalha devastadora. Kieran estava deitado em uma cama improvisada na casa central do vilarejo, cercado por bandagens e poções curativas. Suas feridas ainda eram profundas, e seu corpo estava à beira da exaustão completa. Ao seu lado, Leonhardt permanecia em silêncio, observando o companheiro com uma expressão mista de respeito e preocupação.
"Você quase morreu, sabia?" disse Leonhardt, quebrando o silêncio.
Kieran abriu os olhos lentamente, ainda sentindo os ecos da dor em seu corpo, mas também a satisfação de ter derrotado Nidhogg.
"Já morri muitas vezes por dentro, Leonhardt. Isso foi só mais uma cicatriz que vai sumir com o tempo" respondeu Kieran, com um sorriso cansado. "Mas pelo menos conseguimos."
Leonhardt deu uma risada curta e nervosa, como se estivesse aliviado, mas também exausto. Ele sabia que aquela batalha era apenas o começo de algo muito maior.
"Não podemos ficar aqui por muito tempo. O poder que usamos, as criaturas que derrotamos... atrairemos coisas muito piores." disse Leonhardt, olhando para a janela e observando o céu estrelado.
Kieran assentiu, consciente de que cada vitória o tornava mais visível para forças maiores. Seu corpo estava debilitado, mas sua mente já estava projetando os próximos passos.
Enquanto os dois conversavam, do lado de fora, Dóris caminhava pelas ruas desertas da cidade vizinha. Ela havia presenciado a batalha à distância, escondida nas colinas, e a visão de Kieran e Leonhardt enfrentando a serpente havia deixado uma marca profunda em seu coração. Mas agora, sua mente estava focada em algo muito mais pessoal.
Dóris chegou à entrada de uma cabana afastada, suas mãos tremendo de leve com a ansiedade crescente. Ela sabia que seu pai desaprovaria o que estava prestes a fazer, mas a vontade de crescer e se tornar algo mais não podia ser ignorada. Desde que Gylfaginning, o idoso sábio, havia conversado com ela semanas atrás, algo havia despertado dentro dela. Ele a havia instruído sobre um antigo poder que corria por suas veias, o legado de Hati e Sköll, os lobos lendários que perseguiam o sol e a lua.
Ao abrir a porta da cabana, ela encontrou Gylfaginning sentado calmamente em um canto, envolto em mantos escuros. Seus olhos cintilaram com uma sabedoria antiga, e ele não precisou perguntar por que Dóris estava ali.
"Está pronta para dar o próximo passo?" perguntou ele, sua voz ecoando na pequena cabana.
Dóris hesitou por um momento, sentindo o peso da escolha que estava prestes a fazer. Se aceitasse o caminho que Gylfaginning oferecia, ela deixaria para trás a vida comum que conhecia. Seu pai nunca a perdoaria, e ela teria que esconder seu treinamento de todos que conhecia.
"Não tenho escolha..." respondeu Dóris finalmente, sua voz firme apesar do medo. "Se eu quiser proteger as pessoas que amo... preciso ser mais forte."
O velho assentiu e, de seu manto, retirou um pequeno talismã de prata, gravado com símbolos rúnicos que brilhavam levemente à luz da lua. O talismã era frio ao toque quando Dóris o pegou, mas logo ela sentiu um calor crescente, como se o objeto estivesse reagindo à sua presença.
"Este talismã é o elo entre você e o poder dos lobos. É o primeiro passo para controlar a essência deles, mas também a chave para não ser consumida por ela." explicou Gylfaginning. "Você deve usá-lo com sabedoria e começar seu treinamento em segredo. Seu pai não deve saber de nada... ainda."
Dóris apertou o talismã contra o peito, sentindo a energia vibrar através de seu corpo. Uma mistura de medo e excitação percorreu sua espinha. Havia uma nova força crescendo dentro dela, algo selvagem e indomável.
"Onde começo?" perguntou ela, determinada.
Gylfaginning sorriu de leve.
"O primeiro passo é simples. Vá até a clareira no bosque, onde a lua brilha mais forte. Ajoelhe-se ali e permita que a essência dos lobos a encontre. Você ouvirá seus uivos em sua mente. E então... começará a transformação."
Sem dizer mais nada, Dóris saiu da cabana. Suas mãos ainda seguravam o talismã com força, como se o objeto fosse uma extensão de sua própria alma. Enquanto caminhava pela escuridão, evitou as áreas onde seu pai poderia encontrá-la. Myir não aceitaria aquilo. Ele sempre foi protetor, talvez até demais, e achava que Dóris não estava destinada a lutar.
Mas ela sabia, no fundo, que havia mais no mundo para ela. E se o sacrifício fosse necessário, ela estava pronta para pagar o preço.
Chegando à clareira, Dóris olhou para o céu. A lua cheia brilhava com intensidade, iluminando o centro do bosque como um farol. Ela respirou fundo e se ajoelhou, fechando os olhos enquanto segurava o talismã contra a pele.
Por um momento, tudo ficou em silêncio. O vento parou, e ela podia sentir seu coração batendo no ritmo da natureza ao seu redor. Foi então que o primeiro uivo ecoou em sua mente, profundo e ancestral, reverberando em cada fibra de seu ser. Em seguida, outro uivo, mais forte, como se várias vozes estivessem chamando seu nome.
Ela sentiu a pele arrepiar, e um calor intenso subiu por suas veias. O talismã brilhou em sua mão, e sua visão começou a mudar. Ela viu imagens de lobos correndo sob a lua, seus corpos fortes e ágeis, cada passo deles ecoando como trovões.
"Eu... posso sentir..." murmurou Dóris, enquanto seu corpo começava a responder à energia que a invadia. Seus sentidos aguçaram, e uma força que ela nunca conheceu se espalhou por seus membros.
Sua transformação havia começado. E, pela primeira vez, ela sentiu o verdadeiro poder de Hati e Sköll correndo por suas veias.
Dóris manteve os olhos fechados, ouvindo os ecos distantes dos uivos em sua mente, cada um mais próximo, mais nítido. O poder que fluía através dela agora não era apenas uma sensação, mas algo vivo, pulsante, e sua respiração ficou mais rápida. O talismã em sua mão parecia queimar, como se estivesse prestes a explodir, mas ao invés de dor, ela sentiu uma energia selvagem preenchê-la por completo.
Então, algo mudou.
Uma brisa suave percorreu a clareira, e os uivos silenciaram de repente, deixando um vazio pesado no ar. Dóris abriu os olhos devagar, sentindo uma presença ao seu redor, invisível, mas inegável. Os lobos lendários Hati e Sköll a observavam, não com olhos, mas com uma força ancestral que pairava ao seu redor, sussurrando segredos antigos que apenas os escolhidos podiam ouvir.
— Vocês estão aqui... — sussurrou ela, com reverência, enquanto se levantava lentamente.
Os músculos em seu corpo pareciam mais fortes, mais ágeis, e sua visão se adaptou ao escuro como se fosse dia. Tudo ao redor dela parecia ter se intensificado — as cores, os sons, até o aroma das árvores e da terra úmida eram mais vivos. Dóris tocou o talismã em seu peito, sentindo o peso do que acabara de receber, e por um momento, sorriu, aceitando a responsabilidade que vinha com aquele poder.
Mas, ao longe, uma sombra se mexeu. Algo grande, quase invisível contra o manto da noite, espreitava entre as árvores. Dóris sentiu seu coração acelerar, mas desta vez não era medo, era o instinto que a alertava.
Antes que pudesse reagir, a criatura saltou das sombras, seus olhos brilhando em vermelho e seu corpo coberto de pelagem negra e espessa. Um uivo profundo ecoou pela clareira, e ela soube imediatamente do que se tratava — uma Besta lendária, algo que o vilarejo jamais veria como simples lenda.
Ela estava prestes a invocar seu recém-descoberto poder, quando uma explosão de luz rasgou o céu, forçando a criatura a recuar. Era Kieran, ainda enfaixado e ferido, mas ao lado dele, Leonhardt segurava a espada brilhante como um sol nascente. Os dois caçadores estavam prontos para a batalha, mas sabiam que algo estava diferente naquela criatura.
— Dóris! Afaste-se! — gritou Kieran, sua voz rouca, mas cheia de urgência.
Dóris hesitou por um momento, o desejo de lutar fervendo dentro dela, mas sabia que ainda não estava pronta para enfrentar uma ameaça daquele nível. Seu treinamento estava apenas começando.
Ela recuou, mas não sem antes trocar um olhar firme com Kieran. Ele notou a mudança nela — algo diferente, algo mais poderoso. Dóris não era mais apenas a jovem filha de um lenhador. Ela agora fazia parte de algo maior.
Enquanto a batalha entre os caçadores e a criatura começava, Dóris se afastou, voltando para a escuridão das árvores. O uivo da Besta ecoava pela noite, mas agora ela sabia que, com o tempo, estaria pronta para enfrentá-la. O talismã em seu peito brilhava levemente, uma promessa de que o poder de Hati e Sköll ainda estava à sua espera, para ser despertado por completo.
A lua cheia iluminava a cena abaixo, e a batalha entre caçadores e monstros se tornava mais feroz a cada instante. O destino de todos eles estava em jogo, e aquele vilarejo isolado seria apenas o primeiro passo em uma jornada que mudaria o destino de todos.
Na cidade, Myir olhou para a lua, e sentia algo estranho no ar. Uma parte de seu coração sabia que algo estava mudando. Mas ele ainda não sabia que sua filha estava trilhando um caminho que mudaria tudo.
Fim do Volume 1.