Chapter 12 - XI. AR

O inverno era um tempo cruel para uma trupe itinerante, mas Marceline, sempre engenhosa, aproveitou a estação para, enfim, me ensinar as simpatias com verdadeiro zelo. No entanto, como tantas vezes acontece, especialmente com as crianças, a expectativa que nutria era muito maior do que a realidade que encontrei.

Não posso dizer que fiquei decepcionado, mas um leve desânimo tomou conta de mim. As simpatias não eram o tipo de magia que eu havia imaginado. Embora fossem indiscutivelmente úteis — Marcy as usava para iluminar nossos espetáculos, acender fogueiras sem pederneiras, e levantar objetos pesados sem as amarras de cordas e polias —, não tinham o encanto da magia que eu ansiava.

Lembro-me da primeira vez que a vi conjurar o vento. Aquilo não era uma simples simpatia; era magia de contos de fadas, magias como a do Grande Valoran.

O segredo que eu desejava acima de tudo.

Já havíamos deixado para trás o degelo da primavera, e a trupe seguia pelos bosques e campos verdes do oeste da República. Eu estava ao lado de Marcy, como sempre, na frente da carroça. O verão começava a despontar novamente, e a paisagem ao redor florescia em um verde exuberante.

Tudo estava tranquilo por quase uma hora. Marcy cochilava, segurando as rédeas frouxamente em uma das mãos, até que a carroça bateu em uma pedra, arrancando-nos dos devaneios.

Ela se endireitou no assento e, com um olhar afiado, perguntou-me com a voz que eu conhecia bem: "Tenho um enigma para você resolver!"

— Como você faria para ferver água numa chaleira?

Olhei ao redor e avistei uma pedra à beira da estrada. Apontei para ela.

— Aquela pedra está quente, aquecida pelo sol. Eu a conectaria à água na chaleira e usaria seu calor para fervê-la.

— Pedra com água não é uma conexão muito eficiente — repreendeu-me Marcy. — Apenas uma em cada 15 partes aqueceria a água.

— Mas ainda assim funcionaria — insisti.

— Admito que sim, mas é um trabalho malfeito. Você pode fazer melhor, A'lun.

Então, ela começou a gritar com Alfa e Beta, seus burros, sinal de que estava realmente de bom humor. Eles acolheram os gritos com a calma de sempre, apesar de serem acusados de coisas que nenhum burro jamais faria de propósito, especialmente Beta, que tinha um caráter moral impecável.

Interrompendo a bronca, Marcy me lançou outra pergunta:

— Como você derrubaria aquele pássaro?

Ela apontou para um gavião que sobrevoava um trigal ao lado da estrada.

— Eu não o derrubaria. Ele não me fez nada.

— Em termos hipotéticos.

— Mesmo assim, hipoteticamente, eu não o derrubaria.

Marcy deu um risinho.

— Entendido, A'lun. Mas se fosse necessário, como você faria? Detalhes, por favor.

— Eu mandaria o Netero abatê-lo com um tiro.

— Bom, bom. Mas a questão é entre você e o pássaro. Aquele gavião — disse, indignada — fez um comentário grosseiro sobre sua mãe.

— Ah. Nesse caso, minha honra exige que eu mesmo defenda o nome dela.

— Sem dúvida que sim.

— Eu tenho uma pluma?

— Não.

— Que Ardonai me guie... — Mordi a língua, interrompendo-me ao notar seu olhar de reprovação. — Você nunca facilita nada, não é?

— É um hábito irritante que aprendi com um aluno inteligente demais para o próprio bem. — Sorriu. — O que você faria, mesmo que tivesse uma pluma?

— Eu a conectaria ao pássaro e o cobriria com espuma de sabão em barra.

Marcy franziu as sobrancelhas.

— Que tipo de conexão?

— Química. A segunda catalítica, provavelmente.

Ela fez uma pausa pensativa.

— Segunda catalítica... — murmurou, coçando o queixo. — Para dissolver o óleo que deixa as penas lisas?

Assenti. Ela ergueu os olhos para a ave.

— Nunca pensei nisso — disse, com uma espécie de serena admiração. Tomei isso como um elogio. — Mas você não tem nenhuma pluma nem pena — repetiu Marcy, voltando a me olhar. — Como o derrubaria?

Passei vários minutos refletindo, mas não consegui pensar em nada. Resolvi transformar aquilo em outro tipo de aula.

— Eu simplesmente chamaria o vento — respondi, displicente — e o faria derrubar o pássaro do céu.

Marcy me lançou um olhar calculista, claramente percebendo a verdadeira intenção por trás de minhas palavras.

— E como faria isso, A'lun?

Pela primeira vez, senti que ela estava pronta para me revelar o segredo que guardara durante todos os meses do inverno. E então, uma ideia surgiu em minha mente.

Inspirei profundamente, ligando o ar em meus pulmões ao ar do mundo ao redor. Fixei minha atenção na essência da Vileza, franzi os lábios e soprei entre o polegar e o indicador.

Houve um leve golpe de vento em minhas costas, que bagunçou meu cabelo e fez a cobertura da carroça se esticar por um instante. Talvez tenha sido apenas uma coincidência, mas ainda assim, um sorriso triunfante surgiu em meu rosto. Por um segundo, nada fiz além de rir, sentindo uma euforia desenfreada enquanto Marcy me observava, pasma e incrédula.

Então, uma pressão terrível se apertou em meu peito, como se eu estivesse submerso em águas profundas. Tentei respirar, mas o ar se recusava a entrar. Confuso, continuei a tentar, mas era como se eu tivesse sido derrubado e o ar arrancado de meus pulmões.

De repente, entendi o que havia feito. Um suor frio cobriu meu corpo, e, em pânico, agarrei a camisa de Marcy, apontando freneticamente para meu peito, minha garganta, minha boca escancarada.

O rosto dela passou de chocado a pálido, uma expressão de horror dominando suas feições. Tudo ao nosso redor estava estranhamente quieto. Nem uma folha de capim se movia, e até o som da carroça parecia distante e abafado.

O medo gritava em minha mente, sufocando qualquer pensamento. Comecei a rasgar minha camisa, tentando desesperadamente abrir espaço para o ar que não vinha. Meu coração martelava em meus ouvidos, zumbindo como um trovão distante. A dor apunhalava meu peito, enquanto eu arquejava em desespero.

Marcy, movendo-se com uma rapidez que nunca havia visto, me agarrou pelos retalhos da camisa e me puxou para fora da carroça. Ao cair na grama à beira da estrada, o impacto foi tão forte que, se ainda houvesse ar em meus pulmões, ele teria sido expulso completamente.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu me debatia cegamente, certo de que a morte estava próxima. Senti meus olhos queimarem, vermelhos de desespero. Arranhei a terra com mãos dormentes e frias como gelo.

Alguém estava gritando, mas o som parecia distante, irreconhecível. Marcy ajoelhou-se ao meu lado, mas atrás dela, o céu parecia empalidecer. Sua expressão era quase transtornada, como se escutasse algo que eu não conseguia ouvir.

Então, ela olhou para mim. Só me lembro de seus olhos, que pareciam distantes, cheios de uma força terrível, desapaixonados e frios.

Ela me olhou. Sua boca se moveu. E Marcy chamou o vento.

Como uma folha sob o relâmpago, estremeci.

E o trovão que se seguiu foi negro.