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Chapter 2 - Capítulo 2 - Meu irmão Rarlee

Ele andou por entre os pequenos blocos de sua energia suspensos no ar. 

Era como pedras em uma lagoa, porém mais instáveis, poderiam se romper a qualquer momento, era como andar em uma corda bamba.

A primeira havia ido bem.

A segunda.

A terceira, quarta...

Porém quando chegou na quinta os fios de energia se romperam e Richard escorregou caindo em um dois monstros.

 Um enfiou as garras em sua perna enquanto o outro mordeu o seu braço.

Ele conteve um grito de dor e se livrou da besta se levantando rapidamente, após mais alguns passos ele chegou a porta, mas seu corpo estava coberto de feridas que não paravam de sangrar, suas roupas já encharcadas pelo líquido vermelho.

Sua pele já começava a soar frio mas Richard se concentrou na porta trancada, as bestas prensadas ao chão não durariam muito, então ele tinha que abrir rapidamente. 

Felizmente nos casos de emergência essas salas se abriam fácil se Richard liberasse um pouco de seu sangue nela.

Ele encostou sua luva ensanguentada na porta e após alguns momentos ela se abriu pesadamente em um baque, Richard entrou e a porta se fechou quase automaticamente mas ele não teve tempo para notar isso pois a cena em sua frente era um caos. 

Se do lado de fora tinha sangue então a cena a sua frente era quase um lago repleto por todo o líquido vermelho.

Um corpo estava pendurado com uma corda ao teto, a formas como seu pescoço continuava pingando aquelas gotas escarlates deixou e era evidente que com apenas um toque seu pescoço se partiria e se separaria do corpo. 

Não havia sobrado nenhum um pedaço de tecido branco do seu jaleco intacto, estava completamente ensopado pelos tons vermelhos e pretos.

Richard respirou fundo sentindo o cheiro de sangue e se aproximou do cadáver pendurado, seus cabelos loiros tampavam o rosto do cadáver, um rasgo deformado marcava metade do seu rosto. 

Havia alguns pedaços de sua roupa rasgados aparentemente por uma lâmina.

Ele evitou as poças de sangue no chão, mas não pode evitar pressionar dois dedos sobre o pulso gelado sem nem mesmo notar que ele próprio estava tremendo.

Quase uma hora havia se passado, Richard não conseguiu se mover por um longo tempo, sua mente estava uma mistura de informações e teorias que se distorciam entre si. 

Era tanto sangue.

"Ele se matou...? Rarlee se matou?"

Quanto mais pensava menos fazia sentido o seu irmão ter se matado, apesar de haver uma cadeira no chão, que indicava que ele havia subido nela e se matado.

Rarlee não é o tipo de pessoa que se mataria, e as marcas de cortes da faca comprovam isso.

Apenas um silêncio incômodo o atingiu, o chão estava repleto de pegadas tingidas em vermelho. 

Ele inspirou fundo, ignorou suas mãos tremendo e se agachou no chão para medir as pegadas. 

Após concluir que as pegadas no chão eram apenas de uma pessoa, Richard decidiu procurar outras pistas.

As unhas ensanguentadas de Rarlee estavam sujas e gastas, ele havia lutado até o último segundo por sua vida, tentando desesperadamente se agarrar ao seu último suspiro. 

Após o revistar Richard encontrou uma pequena chave e um isqueiro prata, ele guardou as poucas coisas a contra gosto no próprio bolso.

Fora todo o sangue e o corpo havia uma mesa e um armário de ferro trancado. 

Richard tentou abrir obviamente com a chave mas o armário não abriu, após pensar um pouco ele foi até o cadáver de Rarlee e puxou um grampo do seu cabelo.

— É só um empréstimo... — Ele disse se voltando novamente ao armário.

Ele pressionou o grampo dentro algumas vezes e exatamente noventa segundos depois o armário emitiu um som de "clic" e se abriu.

Surpreendentemente estava vazio com exceção de um livro pequeno com capa azul, esse era o mesmo modelo de livro onde Rarlee fazia suas anotações sobre seus pacientes.

Ele nunca deixava ninguém tocar, inclusive ele, dizia que era informação confidencial.

Richard vai até a porta fortemente fechada e se senta contra ela observando o corpo a sua frente. 

Seu irmão, a única pessoa que o tratou verdadeiramente bem, sem mentir para ele, estava morto, seus olhos nunca mais vão se abrir.

Não há sinal algum de que sua morte foi feita por bestas irracionais, pelo contrário.

Parece que foi muito bem planejado.

Um ataque repentino que levou a vida de seu irmão, o corpo já estava gelado então ele já havia sido morto a algum tempo, considerando que o ataque começou a uma hora e ele levou vinte minutos para chegar até ali, não teria como o seu corpo ter esfriado em tão pouco tempo, naturalmente ele deve ter morrido antes do ataque.

Mas o que realmente confundiu Richard foi o fato de haver tantos monstros tentando entrar em uma sala com apenas um cadáver. 

Esses seres comem carne humana mas ainda se atraem mais por vivos, então deve haver algo mais por trás.

Richard volta seu olhar para o chão ensanguentado e se lembra da última vez que viu Rarlee.

Seu irmão estava muito animado com algo e anotava freneticamente em seu caderninho, os cabelos loiros uma bagunça pelo seu desleixo, mas ainda tinha um sorriso radiante em seu rosto.

— O que tem de tão bom? — Richard havia perguntado desanimado.

— Você não sabe criança? É óbvio.

Richard estava sem paciência para fazer adivinhações então ficou em silêncio.

— Ah, tão sem graça, qual o problema de brincar um pouco, como você insiste tanto eu vou te contar — ele largou abruptamente a caneta e se inclinou sobre Richard —, o aniversário de uma certa pessoa está chegando.

— De quem seria?

Rarlee beliscou o queixo do seu irmão mais novo.

— De quem mais seria? claro que é o seu, você faz a mínima noção de que eu esperei um ano inteiro para o seu aniversário de dezessete anos? demorou tanto que eu pensei que ia me decompor.

— Um aniversário é apenas um aniversário, o que há com isso?

Apesar de dizer isso, um leve calor se espalhou no peito de Richard ao ouvir suas palavras.

— Não é qualquer aniversário, é o seu aniversário, vamos fazer uma festa enorme, até Narlan vai ficar com inveja, aquele conquistador barato, vou te dar um presente, quer adivinhar o que vai ser?

Richard havia suspirado sentindo o cansaço lhe consumir.

— Se quiser eu te conto, você quer saber? — Ele perguntou de novo com um enorme sorriso.

Em resposta ele apenas balançou a cabeça negativamente.

— Eu não ia te contar mesmo — ele se afasta irritado e volta ao seu caderninho —, tão estraga prazeres, com quem você aprendeu isso, foi com Narlan, eu tenho certeza, não me diga que também está pensando em trair a sua namorada? Como pode ser que ele não te ensine nada que valha a pena? Pensei que por ser meu gêmeo, meu bom senso também havia passado para ele.

Richard o olhou sem expressão, Rarlee gostava e aprovava seu namoro com Melanie, apenas por isso ele ainda não terminou com ela, mas seu relacionamento estava praticamente acabado, era a gota d'água.

— Eu não sei.

Rarlee o olhou surpreso, seu irmão era sempre tão obediente, o que havia acontecido?

— Vocês brigaram?

Richard fingiu não saber sobre o que estavam falando.

— Eu e Narlan?

Rarlee revirou os olhos impaciente.

— Quem se importa com aquele paquerador, é claro que estou falando da sua namorada.

— Ela é um pouco intensa demais, eu não sei se consigo lidar com isso.

— E com intensa você quer dizer? — Seus olhos castanhos lhe encararam com curiosidade.

Com intensa, Richard queria dizer intensa, fissurada, dramática, obcecada e louca, uma completa desequilibrada que queria controlar cada um dos seus passos.

Mas ele nunca diria isso a Rarlee, ao menos não com essas palavras.

— Só... é demais para mim.

— Ela é linda, divertida, carismática e te ama, se vocês não brigaram então talvez você tenha outra pessoa em mente? — Os olhos dele brilharam um pouco.

— Só quero ficar sozinho. — Richard revelou.

Era sempre a mesma coisa, ele estava cansado de repetir sempre a mesma coisa e ainda assim não ser ouvido. 

Richard odiava tudo relacionado a compromisso, casamento e coisas como construir uma família feliz, simplesmente não combinava com ele.

Se imaginar casado com uma mulher o fazia se sentir estranho como se fosse algo falso que ele estava construindo apenas para agradar alguém.

— Mas você já vai fazer dezessete anos, não pensa em se casar? Você é jovem, precisa se casar com alguém que te apoie, te instrua nas suas dificuldades e que te dê filhos.

O mero pensamento dessa idealização com Melanie causou arrepios em seu couro cabeludo.