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Chapter 3 - Capítulo 3 - Morte ao mentiroso

– Você tem vinte e seis e eu não falo nada sobre você não estar casado ainda. – Ele disse após soltar um suspiro cansado.

– Não estamos falando de mim, sabe, um dia eu não estarei mais aqui, quem vai cuidar de você?

– Isso é problema meu.

Richard pressionou as têmporas, sua cabeça estava lhe matando pela última dose do remédio.

As doses haviam aumentado ultimamente e um dos requisitos era não passar estresse mas ali estava ele.

– Você é meu irmão, sempre vai ser meu problema, sabe que eu quero o melhor para você, custe o que custar, e logo você vai ter que assumir o meu lugar, você acha mesmo que Narlan vai querer assumir, ele só pensa em qual vai ser a próxima mulher que vai dormir, estou dizendo isso para seu próprio bem.

– Já é suficiente. – Ele disse sentindo sua dor de cabeça piorar.

– Richard Nildern, não fuja do assunto, isso é algo sério, se você não mostrar a sua autoridade eles vão chegar como sanguessugas em você e não vai ter nada que eu possa fazer, só quero o seu bem.

– Não, não, não, eu realmente não me importo Rarlee.

– Tem que se importar, seja se casar ou qualquer outro meio de consolidar sua posição, é importante você mostrar que não é fraco, já te deixei fazer o que quiser durante um bom tempo, agora é hora de crescer.

– Sou grande para cuidar de mim mesmo.

– Não, você não é, você não faz ideia do que esses abutres são capazes de fazer com você se der uma brecha, se casar poderia fazer isso facilmente e você nem precisa ter uma relação conjugal, apenas o papel pode te–

– Eu disse que é o suficiente – Richard o interrompeu –, eu não preciso de você, ou da droga dos seus conselhos, só não se intrometa na minha vida, ela pertence a mim, você já viveu a sua, então se concentre nela.

Rarlee o olhou ferido, ele perdia o controle as vezes com sermões e sabia que devia se desculpar mas não pode ao ver a expressão de Richard.

– Eu não vou estar aqui para sempre então pensei que devia– Ele tentou falar.

– Seja vivo ou morto, eu não me importo, faça o que quiser da sua vida, eu vou fazer o mesmo com a minha, não interfira.

– Você é meu irmão, eu só queria—

– Eu não sou sua propriedade, não aja como se eu fosse.

Eles ficaram em silêncio por um logo tempo até que Richard disse:

– Estou cansado todos vocês.

– Eu...– Rarlee abriu a boca várias mas logo a fechou.

– Estou cansado você.

– Richard... – Ele agarrou o seu braço. – Me desculpe.

– Fique longe de mim. – Richard se esquivou rapidamente – Estou realmente muito cansado de você então...

Ele respirou profundamente.

– Eu sei que eu errei dessa vez, a culpa é toda minha então–

Richard parou por um momento fitando o caderno azul na sua mão e voltou a erguer o olhar acizentado para os seus olhos castanhos.

– Não foi só dessa vez, você sempre fala demais, é intrometido demais, quero você fora da minha vida, não aguento mais sequer olhar para você, te olhar me enoja, é repugnante demais.

– Não fale assim comigo.

– Me faria um enorme favor se... – Ele deu uma risada amarga – Apenas desapareça em alguma vala profunda onde eu não possa te encontrar, mas faça isso silenciosamente, acho que é o mínimo que pode fazer.

Ele sabia que estava falando demais mas era como se não pudesse controlar a própria boca.

– Não diga algo assim, você vai se arrepender disso depois.

– Não, eu não vou, minha vida seria bem melhor sem você controlando cada um dos meus passos, me dizendo o que fazer, mas quer saber de uma coisa Rarlee... eu não sou seu fantoche.

Seus nervos estavam a flor da pele, ele estava tão tenso e se sentindo tão fora de si que não conseguiu levantar o rosto para ver qual expressão seu irmão estava fazendo.

Ele havia saído abruptamente da sala, e desmaiou logo depois pelas dores.

Quando acordou queria ver Rarlee, mas seu orgulho não lhe permitiu, mesmo agora Richard acha que não teria sido capaz de encarar ele naquele dia, mesmo se soubesse da sua morte, ele odiava essa parte de si mesmo, mas seu orgulho ainda era mais forte.

Ele observou agora o corpo sem vida a sua frente, milhares de lembranças se passaram pela sua mente e ele sussurrou:

– Eu quero... agora eu quero adivinhar qual vai ser o meu presente.

Horas se passaram, ele havia desistido de revistar o lugar e olhar para o corpo a sua frente como se ele fosse de algum modo milagroso ganhar vida.

Ele olhou para as próprias luvas e notou que não havia trocado elas o dia inteiro, então ele as tirou, colocou no bolso e usou o par reserva.

– Mentiroso. – Ele encarou fixamente o cadaver – Você disse que eu era o seu problema... mas você ficaria feliz não é? em saber que tinha razão.

Sem suportar mais olhar para o corpo sem vida de Rarlee, Richard engoliu seu comprimido de emergência a seco sentindo sua garganta coçar e adormeceu.

Após dormir alguns dias com o sedativo no mesmo cômodo que o seu irmão morto ele finalmente ouviu uma voz estridente em seus ouvidos.

– Atenção a todos, podem sair, os procedimentos foram finalizados e as bestas foram suprimidas com sucesso, repetindo, podem sair, os procedimentos foram finalizados e as bestas foram suprimidas com sucesso. Dirijam-se ao salão para contagem.

Richard sentiu sua cabeça zumbir, ele sentiu seu poder retornando aos poucos e se levantou, depois de poupar um último olhar ao seu irmão miserável, Richard mordeu seu dedo e inseriu um pouco do seu sangue fresco na porta que abriu automaticamente.

O corredor ainda estava imundo de sangue mas não haviam corpos, nem Bestas nem humanos.

Um cheiro forte de metal e pólvora parava no ar, Richard foi até o salão, as pessoas já formavam filas para a contagem.

Alguns choravam em desespero rasgando as próprias roupas e deitando no chão, enquanto outros fitavam o vazio.

Richard ignorou isso e foi para a fila, ele não viu Narlan entre as pessoas então quando finalmente chegou ao homem com uma enorme capa branca que cobria seu corpo inteiro que só deixava seus olhos a mostra, ele perguntou:

– Onde está Narlan?

O homem o olhou rapidamente e voltou a olhar a sua lista.

– Qual é o seu nome?

Richard quase revirou os olhos, ele normalmente era muito gentil com essas pessoas irritantes, tudo pelo seu irmão, mas ele não estava de humor para interpretar o papel de garoto bonzinho.

– Não é óbvio?

O homem voltou a olhar para ele e após alguns momentos seu rosto perdeu a cor.

Seria impossível ele não reconhece-lo, Richard era o único entre eles com aquelas características físicas, herdadas da sua falecida mãe.

– Mil perdões, eu não imaginava, depois dessa crise é essencial sabermos o nome de todos, para saber quem está vivo ou ferido, e ter um controle geral da situação.

Richard o olhou com frieza.

– Não vai perguntar se eu estou ferido?

– Desculpe, você está ferido?

"uma mordida e alguns arranhões profundos contam?"

– Não.

O homem o olhou encabulado e cochichou algo a uma mulher ao seu lado, ela deu um olhar sutil a Richard e sussurrou algo de volta.

– Perdão jovem, o senhor Narlan Nildern está fora desde a semana passada e ainda não voltou, ele não esteve aqui durante o ataque, talvez deva procurar o senhor Rarlee Nildern, ele com certeza deve chegar logo. – O homem disse com convicção.

Richard ficou em silêncio.

Muitas coisas se passaram pela sua cabeça mas ele não disse nada.

Narlan não estava no instituto durante o ataque?

Então onde ele estava enquanto Rarlee era assassinado...

Ele não pode deixar de sentir rancor mas durou pouco, no momento não havia muito o que fazer, ele não tinha a autoridade de nenhum dos seus irmãos e não podia fazer nada sem a permissão deles.

Após anotar algo na prancheta, a doutora Felton assumiu o lugar do homem, Richard sentiu seu estômago embrulhar então desviou o olhar dela.

– Pobre criança, você deve estar apreensivo certo, tenho certeza de que tudo vai ficar bem, feche os olhos que tudo vai passar rápido. – Ela disse levantando a manga dele.

Richard prendeu a respiração e usou sua energia para cobrir temporariamente as marcas demoníacas em seu corpo.

– Sei que você odeia agulhas mas vai passar rápido, se você fingir que não dói, então não vai doer.

Ela limpou seu ombro com álcool e pegou a injeção verificando a dosagem algumas vezes.

Richard normalmente era bom em controlar sua energia, mas logo sentiu a marca em seu abdômen se abrir seguindo até a linha do seu pescoço.

Ele fechou os olhos com força para não chegar até seu braço, até que sentiu uma dor familiar e amarga do líquido entrando no seu músculo rígido.

Assim que ela retirou a agulha Richard cobriu rapidamente seu braço com sua manga, nem dando tempo da doutora Felton colocar o curativo.

Ela o olhou confusa mas ele se afastou agarrando o próprio braço, finalmente podendo sentir sua energia circular de modo estável novamente.

— Está tudo bem? — A senhora Felton perguntou. — Eu ainda não te dei seus comprimidos semanais.

Richard sentiu uma fina camada de suor se apossar da sua testa, se ele olhasse mais uma vez para ela talvez vomitasse ali mesmo.

– O que está acontecendo? Por que está demorando tanto? – algumas pessoas começaram a murmurar em conjunto.

– Deixe eu checar o seu pulso. – A senhora Felton disse em tom amável.

A tontura dele piorava a cada segundo alí.

Ela aproximou suas longas mãos com aquela luva transparente, os dedos enrugados quase o tocando, quando estava a centímetros de distância alguém afastou a sua mão.

Era uma garota de feições delicadas e um olhar enojado, Melanie.

Ela entrou na frente dele e encarou a mulher que insistia em tocar seu namorado.

— Ele está bem, pode enviar os comprimidos para a minha ala que eu entrego.

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