O salão estava repleto daquele aroma impregnado de incenso e rosas.
Desde que qualquer tipo de substância levemente inflamável foi estritamente proibida pelo diretor e coordenador da assembleia, esses são os aromas preferidos dos eventos.
– Só tem pessoas fedorentas por aqui. – Ele murmurou para si mesmo.
Richard acreditava que proibir algo que seria contrabandeado de qualquer forma era irrelevante, não haveria como eles revisarem a casa de cada um dos habitantes desta pacata cidade para ver se alguém não possuía esse tipo de produto, e mesmo assim ainda haviam aqueles que tinham o próprio modo de conseguir, mas eles pensam saber o que estão fazendo.
O jovem loiro estava cansado, ele havia cumprimentado ao menos trinta e nove pessoas, faltava apenas uma para essa noite acabar de vez.
Por que tinha que ser 40? nem mesmo ele sabia, mas um número par ainda era melhor que um número ímpar.
Richard olhou ansiosamente ao redor aguardando a última pessoa, sua paciência começando a se esgotar.
Ao menos dez possibilidades de interesseiros que poderiam vir até ele, rodaram na sua cabeça, mas ele torcia para nenhum deles ser justamente quem se aproximou com um enorme sorriso.
Ele mal pôde conter o suspiro de decepção e dar seu sorriso profissional quando a ruiva se aproximou, seus cabelos loiros avermelhados amarrados em uma trança elegante.
"eu não suporto mais essa criatura irritante, eu realmente não suporto mais... Será que se eu fingir que não vi ela vai embora?"
O sorriso dele se desfaz imediatamente quando ela pula em seus ombros, lhe dando um abraço completamente invasor.
— Por sorte cheguei a tempo, eu juro que me arrumei o mais rápido que pude, mas não conseguia me decidir entre o vestido rosa e o verde. — Ela diz alegre, e indica o vestido de um verde água elegante.
— Você não gosta de verde.
— Mas você sim, acertei? — Ela pergunta com um sorriso ainda maior.
— Já não tenho mais tanta certeza... — os belos olhos castanhos da garota o encararam surpresos — eu já estava de saída na verdade.
É claro que ele gostava de verde, mas não desse verde, ele gostava de um tom específico de verde dos olhos de uma certa pessoa.
Ele arruma a gravata de um azul profundo, e analisa o número de pessoas que estavam observando.
Duas, seis, dez, catorze, dezoito no mínimo.
Era um número razoável.
— Mas amor essa é a primeira festa que você vem desde a morte do seu irmão, não pode tentar ficar um pouco mais? Nós ainda nem dançamos, não te parece horrível que eu não possa dançar com meu próprio namorado? — Ela choraminga atraindo mais olhares.
— Eu não sei.
— Hoje é o seu aniversário, eu organizei essa festa especialmente pra você, e eu até comprei um presente, você não quer ver?
O coração de Richard tropeça uma batida e ele se lembra de algo que não queria.
— Presente... — Ele murmura para si mesmo.
De repente Richard se sentiu extremamente enojado com ela e a lembrança amarga despertada.
Um suspiro fundo escapa de Richard e ele faz a sua melhor expressão teatral.
— Sobre isso Melanie, eu não tenho mais certeza de nada desde que meu irmão morreu, eu sei como as coisas tem estado difíceis pra você, mas pode me dar um tempo?
A expressão dela se torna subitamente sombria, seus cílios farfalham algumas vezes, e sua boca se abre e fecha em confusão.
— O que isso significa? — o enorme colar de diamantes farfalha quando ela dá um salto pela surpresa.
— Você sabe, eu não me sinto bem com a história do casamento, acho que estamos indo rápido demais, ainda estou de luto, não parece certo, um tempo é a melhor opção.
Sussurros e murmúrios em concordância com o loiro começam a ecoar pelo salão, como sempre sedentos por mais um escândalo.
Se era um escândalo o que eles queria então era o que Richard proporcionaria a eles.
De qualquer forma o mais importante era obter o apoio da opinião pública, o resto não importava.
Não que isso seja necessário, já circulou por todas as mídias e não há quem desconheça o fato de que ela o persegue por onde quer que ele esteja.
— Você quer um tempo? isso... você está terminando comigo em público, não pode fazer isso comigo Richard, está me escutando? Não pode, Você poderia se esforçar ao menos um pouco pra me entender, eu amo você. — Ela diz freneticamente.
— Eu te perdoei das primeiras vezes por que te amava, mas o que você faz comigo? me trai com um desgarrado, não qualquer um, mas com Kolin, logo com ele.
Sua expressão se torna ainda mais distorcida.
— Não, onde você escutou isso? eu nunca te trai, juro, por favor acredite em mim, o Kolin é meu melhor amigo, e eu nunca faria isso. — Ela balança a cabeça rapidamente em negação.
— Não adianta negar, eu ouvi dele próprio.
Richard olha fixamente para Melanie, o olhar caído e deprimido.
— Impossível.
— Está duvidando de mim?
— Não, nunca, eu... é só que Kolin nunca diria algo assim, ele sabe que eu te amo. — Os olhos dela já cheio de lágrimas escorrem uma lágrima.
— Acho que deveria repensar suas amizades.
Sua maquiagem estava arruinada, em apenas um instante a festa se tornou em um caos.
Algumas pessoas riam, enquanto outras sussurravam o quão sem vergonha Melanie era.
— Pode ao menos me dar uma chance de explicar. — Suas mãos tremiam.
Richard só havia dormido com alguém duas vezes na vida, na primeira Melanie havia drogado ele então ele não se lembrava de muitas coisas no dia seguinte, só de se sentir usado e sujo.
Na segunda foi com Marina, ela havia implorado várias e várias vezes para que ele terminasse com Melanie e ficasse com ela e depois que ele terminou a insistência apenas piorou, no fim ela também o drogou.
— Você traiu minha confiança, nunca mais vou te olhar do mesmo modo. — Ele diz em um tom suave.
— Não, não, não, eu não fiz nada, nada, por favor.
Melanie caiu de joelhos no chão, um belo espetáculo, sua maquiagem cada vez mais arruinada pelas lágrimas que rolavam cada vez mais pesadas de seus olhos, o vestido esvoaçante começando a ficar amassado.
Richard olhou para Melanie e um pensamento passou pela sua cabeça.
Era incrível como aquele sorriso inocente desmoronava em lágrimas com apenas algumas palavras.
Mas não era suficiente.
Ele se perdeu em um frenesi por um momento imaginando como seria se seu corpo estivesse cobertos de cortes fundos, quanto sangue escorreria de sua pele tão macia, e se ela daria gritos de agonia implorando para que ele não a matasse ou apenas morderia a própria língua, tentando a arrancar para se matar.
Ele aproxima suavemente seus lábios de suas orelhas levemente avermelhadas, e segura seus ombros ossudos.
— Você fica repugnante quando chora. — Ele acaricia suas mechas avermelhadas — Além de ter errado feio, não é esse tom de verde que eu gosto, mas de que importa? essa festa acabou.
Com essas palavras ele sai do salão, carregando diversos olhares.
— Não pode me deixar, você está me ouvindo? Você é meu, sempre vai ser, ninguém mais pode te ter além de mim. — Melanie murmura baixo para si mesma.
O ar fora do salão como sempre parecia mais limpo, menos letal, Richard se sente ainda mais cansado quando chega ao seu dormitório.
Ele lavou as mãos exatas seis vezes e mesmo assim sentiu que não é suficiente, mesmo não tocando ou vendo nada podia sentir o fedor repugnante que ficou ali por ter tocado em todas aquelas pessoas.
Após um banho quente, ele veste suéter preto, coloca novas luvas e vai até o quarto de Kolin conforme o planejado.
Exatamente conforme os planos, Kolin não estava lá, e estava uma verdadeira bagunça, por um segundo ele considerou desistir do plano, só para poder arrumar toda aquela nojeira, mas aguentou colocando uma máscara descartável no rosto.
No dia anterior a mãe de Kolin fez um pedido formal para que ele fosse liberado antes, de acordo com o plano de Richard para dar trégua temporária, a assembleia de alguma forma acabou cedendo, o que significava que Kolin estaria saindo da cadeia nesse exato momento.
Roupas espalhadas pra todo lugar, sapatos sobre a cama, folhas amassadas caindo do cesto de lixo, lápis de todas as cores em uma cômoda, com um caderno de artes ao lado, cuecas molhadas no chão do banheiro, era simplesmente um caos.
Há alguns dias atrás Richard havia descoberto o culpado por "errar" na segurança.
Mas o conselho ainda queria uma prova de que Kolin não traria problemas.
Claro a pessoa que ele prendeu era apenas um peão na mão do verdadeiro culpado, mas ele descobriria uma hora ou outra quem estava por trás disso.
Para provar ao conselho sua convicção, ele provaria Kolin, tudo dependeria do quão curto é o pavil do moreno e o quão bom Richard é em provoca-lo.