Kolin acordou em um sobressalto, os cabelos negros uma bagunça, as bochechas sujas pelo excesso de fumaça e os olhos verdes furiosos, não que ele tivesse outra expressão além dessa, é claro.
— Acordou princesa? — Richard diz apoiando seu queixo no punho.
— Seu... — Kolin começa mas não diz nada, percebendo que suas mãos estavam amarradas e faz força para se soltar, parecia um peixe se debatendo.
Ele usava cada vez mais violência parecendo que explodiria a qualquer momento, suas sobrancelhas tão unidas que pareciam que se uniriam.
— Porque que tanta violência coisinha? Quem te prendeu assim não fui eu, a doutora Felton disse que você poderia ficar violento e tentar ir atrás de quem incendiou seu quarto. — Richard fala com tédio, era inútil já que ele mal ouvia.
Se Kolin ao menos se acalmasse seria mais fácil.
— Vou te soltar. — Richard anuncia e ele finalmente parece ficar quieto.
Ele vai até a cama se perguntando se Kolin lhe bateria agora ou esperaria ele soltar as duas mãos.
O nó era simples, nada muito elabora apesar de ter sido amarrado com força, ele solta uma de suas mãos e para sua surpresa Kolin não o bate ainda esperando pacientemente que ele soltasse as duas mãos, pelo visto ele queria bater com o pacote completo.
Richard suspira fundo e quando ele o solta completamente sente o momento exato em que seu soco lhe atinge na bochecha.
Richard cambaleia até a parede sentindo que seu provavelmente ficaria uma marca na sua bochecha, ele cabaleia até a parede se sentindo meio zonzo e vê Kolin preparar outro soco.
Embora ele concorde que merece pelo menos uma surra inteira, um soco já era o suficiente e Kolin tinha o punho bem forte, então na sua mente ele decidiu que já valia por cinco socos.
Então dessa vez Richard desvia do seu soco e Kolin acerta a parede, marcas vermelhas se apossaram dia nós de seus dedos.
— Por que ficou tão irritadinho? Sabe como foi difícil te trazer até aqui? — Richard pergunta levando a mão a bochecha.
— Não teria que ter feito isso pra começar se não tivesse incendiado meu quarto. — Ele vocifera com irritação, suas bochechas estavam tão vermelhas que parecia que ele ia explodir, mas ainda não era o suficiente.
— E você tem alguma prova de que fui eu? Vai dizer isso pra quem? — Ele provoca.
Kolin abre a boca mas depois a fecha se sentindo perdido.
— Sua mamãe? Ou talvez para a Melanie?
— Para com isso.
— Para a polícia, o diretor, ou quem sabe o seu amiguinho Peter? — Ele continua — Ah, esqueci, vocês não são mais amigos.
— Porque quer tanto foder com a minha vida? O que eu fiz pra você? — Ele pergunta como se a qualquer momento fosse pular pescoço de Richard.
— A verdadeira pergunta é o que aqueles a sua volta fizeram. — Richard esclarece.
Ele pisca algumas vezes, finalmente deixando a expressão furiosa para uma levemente tonta.
— Vai logo direto ao assunto droga.
— Eu andei pesquisando umas coisas e notei que sua mãe é médica, além de um anjo, o que também faz dela um membro da assembleia, Luna Corteny o nome né?
— E o que isso tem a ver? — Ele pergunta confuso.
— Eu comparei o orçamento dos últimos anos, a partir do ano que sua mãe começou a administrar, e adivinha só, os números não batem, mas eu notei que apesar de o salário dela estar mais escasso, a qualidade de vida dela ainda é a mesma, na verdade está até melhor. — Richard explica devagar, embora Kolin seja lento, não é burro, então ele espera que seu cérebro raciocine.
— Espera, está insinuando que minha mãe é corrupta?
— Estou afirmando.
Ele parece que vai negar mas não diz nada.
— Isso... Ela não tem nada a ver comigo, como eu poderia ser culpado disso?
— Calma, eu ainda nem falei do seu irmão. — Seus olhos mudam imediatamente, ganhando um brilho mais bruto — Sim, o seu querido irmãozinho, Andrew né, outro anjo, soube de umas fotos interessantes dele que andaram circulando por aí.
— Isso é impossível. — Ele diz mais pra si mesmo do que pra Richard.
— Ele é muito conhecido nas partes escuras da cidade por vender substâncias ilegais, e é claro, soube que sempre marca presença em bordéis, pra sua sorte só como stripper, mas me pergunto se ele faria algo mais se soubesse quanto dinheiro dá.
Antes que Richard diga algo a mais, Kolin o empurra forte contra a parede, a expressão se tornando cada vez pior, seus olhos ganhando um brilho mais selvagem.
Com certeza ele era a pessoa mais expressiva que Richard conhecia.
— Eu vou matar você seu desgraçado. — Ele ameaça agora colocando a mão em volta do seu pescoço.
— Você seria capaz? — Richard retruca agarrando o seu pulso. — Eu estou morrendo de medo.
— É melhor estar mesmo. — Seus olhos verdes pareciam lhe queimar vivo.
Ainda não é o suficiente.
— Vou mandar isso para a imprensa, eles vão amar.
Ele não parecia que ia reagir muito mais a isso, então um pensamento cruel toma conta de Richard.
— Também tenho algo particularmente interessante seu, são provas concretas de que você compactua com esses grupos rebeldes que ultimamente andaram incendiando instituições criadas pelos anjos. — Ele ameaça.
— O que você quer dizer?
— Seria muito fácil armar algo para executar todos eles.
Ele finalmente explode e o joga no chão, fazendo Richard se chocar com alguns utensílios em cima de uma cômoda, derrubando tudo, incluindo um jarro de cerâmica.
— Você não ousaria.— Ele grita.
Richard tenta manter sua respiração estável, suas costas doíam e ardiam de forma extremamente dolorosa, o choque havia sido pior do que ele pensava e as feridas do dia do ataque das bestas ainda não haviam se curado.
Ele sentiu que sua coluna espinhal se partiria em duas.
— Não quer saber como eu sei disso? Enquanto você esteve fora, Melanie me ajudou a encontrar todas as provas, talvez você não valha tanto pra ela quanto pense, não, na verdade, acho que não vale nada. — Ele diz sentindo seus pulmões arderem.
Ele está tão transtornado que pega uma garrafa de vidro em cima da cômoda e arremessa em Richard acertando seu ombro e se quebrando inteiro.
Ele contém um grito de dor e o fita com superioridade e arrogância.
— Nunca vai ter nada do que eu tenho e vai apodrecer na prisão ou ser executado junto com todos a sua volta, vou garantir que aconteça.
— O que você...— Ele começa mostrando os dentes, e pulando em cima de Richard.
Kolin pega um caco grande de vidro da garrafa estilhaçada e pressiona em seu pescoço.
— Cala a porra da boca, não diz mais nada por favor, eu odeio você, eu odeio tanto você que quero te desmembrar inteiro enquanto te mato lenta e dolorosamente. — Ele vocifera.
Richard podia sentir o ódio em cada um das suas palavras, toda a raiva que emanavam dele tinha um cheiro forte e amargo, era tão intenso que parecia sufocar ele.
— Por que o ódio tão intenso? — Ele brinca.
— Eu mandei calar a porra da boca, eu não quero ouvir a sua voz, eu não quero nem que você me olhe.
Seu sangue escorria de sua mão, resultado de pegar o caco de vidro sem proteger as mãos, e Richard não sentia nada no seu pescoço, a não ser uma leve pressão.
Isso era suficiente por enquanto.
— Vá em frente.
— O que?
— Se não me matar, quem morre é você e todos que ama, não acha que é melhor assim. — Ele aconselha.
Em seguida Richard se move bruscamente em sua direção, sentindo finalmente um corte no pescoço.
— Você enlouqueceu. — Ele grita se afastando.
— Você disse que ia me matar não disse? Então é muito simples, pense direito, nunca vai ter a Melanie enquanto eu existir, e eu posso ser um pouco instável as vezes, assim como hoje, posso acordar simplesmente com uma vontade incessante de destruir sua vida, então você nunca vai ser feliz enquanto eu existir e o mesmo vale pra mim, então se um de nós vai morrer, ganha aquele que agir primeiro certo? — Ele incita.
Richard se aproxima ignorando os vários cacos no chão perfurando seus joelhos através da calça.
— Por que está fazendo isso? — Ele pergunta olhando para o pescoço de Richard como se ele fosse muito insano.
— A verdadeira pergunta é, por que eu não faria isso?