Kolin mal havia me instalado no quarto e já estava estressado, as empregadas eram intrometidas perguntando o tempo todo o que ele desejava mas ao mesmo tempo o olhando como se ele houvesse dado o golpe do baú em Richard.
Há alguns dias atrás as empregadas não disseram nada sobre o tal jantar e apenas colocaram a comida na porta, Kolin saiu do quarto e espiou Richard de longe, ele comia com uma elegância impecável na enorme mesa.
Não havia mais ninguém, era apenas ele, e apesar disso Richard ainda comia na mesa da sua família.
Se fosse qualquer outra pessoa Kolin diria que Richard ainda não havia superado a morte deles, mas era Richard.
Ele era cruel, insensível e frio.
Então Kolin apenas pensou que ele queria manter a postura arrogante. Após o observar por mais um tempo Kolin decidiu voltar para o quarto.
Ele decidiu que assim que acordasse iria confrontar Richard mas percebeu que ele não estava mais lá, então foi estressado ao instituto.
Ele se sentia confuso e ainda não sabia se era uma boa ideia contar para Melanie, mas ele sempre contava tudo que descobria sobre Richard para ela.
— Kolin você escutou alguma coisa do que eu disse? — Daniel reclama.
— Quando essa instrução acaba? — Ele pergunta enquanto em vão tenta responder as questões de gramática.
Kolin era inteligente comparado a maioria mas sua mente estava longe.
— Eu não acredito que você estava me ignorando de novo. — Ele se lamenta.
— Falta quanto caralho? — Kolin pergunta novamente.
— Era um assunto do seu interesse, tem certeza que não quer saber nada? — Daniel insiste.
Kolin estava quase rasgando a tarefa pelo estresse quando Carten se aproximou com a cadeira de rodas.
— Vocês conseguiram terminar a tarefa? — Ele pergunta seco.
Um sorriso imediatamente se formou nos lábios de Daniel, de repente era como se ele tivesse orelhas e um rabo de cachorro.
— Ainda não professor, estou tendo um pouco de dificuldade na verdade.
Ele faz uma expressão lamentável a ponto de dar pena.
Kolin quase vomitou.
— Estamos conseguindo, não precisa se preocupar com esse vagabundo. — Ele avisou.
Daniel lhe deu um chute por baixo da mesa e Kolin lhe deu outro.
— Eu vou deixar vocês a sós então.
O professor Carten olhou para eles com um pouco de dúvida mas começou a se afastar para perguntar a outro demônio se ele precisava de ajuda.
Apesar de ser um anjo ele sempre estava cuidando de demônios, Kolin nunca entendeu isso.
Então Daniel segurou a sua cadeira de rodas por trás o parando gentilmente.
– Por favor Carten, você não vai me ajudar?
Ele fez uma expressão de cachorro abandonado.
Carten o olhou enojado.
– Na verdade eu me referia mais ao Kolin já te ensinei essa mesma tarefa exatas sete vezes, não vou fazer isso de novo.
– Mas eu—
– E não me chame de Carten, você sabe que eu sou seu professor e apenas isso.
Os olhos de Daniel escureceram um pouco.
– Me desculpe professor Linssen. — Ele se desculpa cabisbaixo.
– Espero que não se repita.
Ele se vira, mas Daniel agarra a manga do seu sobretudo bege o parando.
– Podemos nos encontrar hoje na biblioteca? — Ele pergunta esperançoso.
Carten o olha com desgosto e tenta se esquivar do seu toque, seus cabelos castanhos na altura dos olhos farfalhavam um pouco nos óculos.
– Eu já te disse para não me tocar. — Ele disse dando um estalo com a língua.
– Eu sei.
– Então por que você continua?
Daniel morde os próprios lábios com força.
– Mas ontem você me disse que eu podia. — Ele disse mais baixo que o normal para o resto dos demônios não escutar.
Foi a primeira vez que Kolin viu uma expressão tão cruel no rosto de Carten.
– Eu não disse isso.
Daniel continuou segurando a sua manga.
– Mas eu—
Uma enorme marca vermelha em forma de palma se formou levemente na bochecha de Daniel, Carten de repente o havia atingido um tapa no seu rosto.
Sua pele bronzeada se avermelhava cadaa vez mais, Daniel levou uma mão a própria bochecha se sentindo um pouco incrédulo mas não diz nada.
– É a última que eu te aviso Daniel, não me toque de novo.
Os olhos heterocromaticos o olharam com nojo uma última vez e em seguida ele se afastou deixando Daniel para trás.
Depois disso Daniel ficou em silêncio por um bom tempo, a sala o observou com curiosidade no início mas depois ninguém mais se importou.
Kolin não ousou interferir em nenhum momento por quê ele sabia que como Daniel era, sua personalidade era muito estranha, e se Kolin interferisse Daniel ainda defenderia Carten.
– Ele bate forte? — Kolin perguntou apenas enquanto volta a fazer sua tarefa.
— Muito.
A borda dos seus olhos se avermelhou rapidamente mas ele continuou com um sorriso suave.
– Dói?
– Não, eu me acostumei. — Ele diz agora com um suspiro apaixonado.
Kolin sabia como isso era problemático mas não questionou seus sentimentos conflitantes pois ele já tinha os dele próprio.
–Isso acontece sempre?
Apesar de não se interessar muito na vida amorosa de Daniel eles ainda eram amigos.
– Mas é claro que não, ele normalmente é muito gentil, não pense assim dele. — Ele defendeu irritado.
– Entendi.
– Isso é só as vezes, mas ele não é tão violento geralmente, Carten... digo, o professor me trata muito bem na biblioteca.
Ele colocou nervosamente uma das mechas do cabelo avermelhado atrás da orelha e voltou a ficar em silêncio parecendo pensativo enquanto olhava fixamente para as costas de Carten.
– Ele sempre esteve de cadeira de rodas? — Kolin perguntou casualmente.
Mas imediatamente ele lamentou essa pergunta casual por que os olhos de Daniel brilharam.
– Não, na verdade foi depois do ataque a três semanas atrás, depois disso ele não me chuta mais, é uma pena. — Ele lamentou.
Mas antes Daniel havia chamado ele de professor Linssen, e esse era o mesmo sobrenome da Hayley.
– Ele é o...—
Mas antes que ele terminasse Daniel praticamente leu a sua mente.
– Sim, o irmão adotivo da Hayley.
De repente Marina entrou na sala, ela não deveria estar ali já que era um anjo, se os demônios fossem até a ala dos anjos sem permissão seria severamente castigados podendo levar a dias de retidão sem alimentos.
Mas se um anjo fazia isso era facilmente ignorado.
Ela jogou os longos cabelos castanhos atrás dos olhos e olhou enojada para Kolin enquanto parava na frente da sua mesa.
– Onde está Chard?
Kolin revirou os olhos irritado e ignorou ela voltando a olhar para Daniel.
– Ei demônio, eu perguntei se você viu Richard, responda quando eu falar com você.
Daniel revira os olhos.
– Ele não quer falar com você, ficou surda madame?
– Eu não falei com você, seu pobre. — Ela fala irritada.
Quando não recebe atenção Marina joga as coisas na mesa no chão, derrubando cadernos e materiais.
Carten olha de longe mas não faz nada.
Não é como se Carten pudesse fazer algo para começar, havia uma regra clara que enquanto não causasse danos físicos anjos e demônios resolviam seus próprios problemas.
– Por que eu saberia onde Richard está?
– Não se faça de tonto, eu sei que vocês estão morando juntos, com o que você o chantageou para que ele aceitasse morar com você?
Kolin arregalou os olhos por um momento mas não disse nada, ele não pretendia contar a ninguém esse fato vergonhoso mas parece que ela descobriu de algum modo.
– Você está morando com Richard Nildern, o seu arqui inimigo, o cara que roubou a sua garota e não me contou?
– Isso não é da conta de ninguém. — Kolin sentiu seu estresse se acumular e mexeu nos cabelos negros.
– Acho que tenho que repensar as minhas amizades. — Daniel lamentou enxugando as lágrimas imaginárias.
– É claro que é da minha conta o que acontece na casa do meu namorado.
Kolin a olhou estressado e por fim se levantou se aproximando mais da garota.
Agora todos namoravam Richard? Aquele galinha.
– Ele não é seu namorado, e não é como se fossemos amigos, ele só me emprestou o quarto, não vou ficar por muito tempo.
Daniel se sentiu perdido.
– Não seja ridículo, todos sabem o quão misofóbico Richard é, sempre que alguém entra em algum lugar que pertence a ele, até mesmo o quarto dele aqui no instituto, deve ao menos tomar quatro banhos.
Daniel se sentiu perdido e se levantou também.
– O que aconteceu com o seu próprio quarto? — Ele perguntou colocando um braço entre Kolin e Marina.
– Pegou fogo.
Daniel arregalou os olhos.
– Estou começando a pensar que o péssimo amigo sou eu. — Ele concluiu.
– Quero que você saia agora da casa do meu namorado não ligo se você é homem, ninguém pode morar lá além de mim.
Ela levantou a cabeça para ficar na altura dele.
– Eu não vou a lugar algum.
Ela rangeu os dentes.
– Entenda uma coisa, Richard é meu.
— Eu não vi nenhuma plaquinha indicando isso. — Daniel se intrometeu.
– Ponha—se no seu lugar demônio. — Ela disse olhando Kolin diretamente nos olhos.
Em seguida Marina saiu irritada sem poupar nenhum último olhar a aquela raça que ela considerava tão inferior.
A respiração de Kolin ficou erradica, ele estava com tanta raiva que queria estrangular Marina, ele não se importava se ela era um anjo.
Não era a primeira vez que ela fazia algo contra Kolin, quando crianças ela foi uma das que mais o espancou, mas por ser filha de um membro do conselho ninguém nunca fez nada a respeito.
Kolin a odiava com todas as suas forças mas se fizesse algo a respeito seria executado na hora, ele sentiu seu peito apertar pela sensação de impotência.
Ele por fim acertou um soco na parede não podendo suportar mais a raiva, e uma longa rachadura se formou.
– O que está acontecendo aqui. — Carten finalmente perguntou.
– Não é novidade ele estar estressadinho, mas logo pela manhã é realmente algo novo, ainda mais agora que ele está morando com Richard.
– Cala a boca Daniel. — Kolin vociferou.
Nesse momento Hayley apareceu na porta e fez um sinal de cabeça para Kolin.
– Richard quer te ver.