Ele normalmente só vai até o terraço quando Richard não estava lá, ou simplesmente ficava do outro lado, por quê não importava para Richard, ele ficava lendo o tempo inteiro sem sequer notar sua presença, ou se nota, apenas o ignora.
Então Kolin pode ir lá para acalmar sua raiva quando sente que está prestes a explodir, o motivo de Richard ainda não ter feito nada para expulsa-lo de lá provavelmente era Melanie.
Afinal, mesmo que ele não admita a opinião dela ainda é importante para ele.
Kolin queria ir lá agora agarrar aqueles fios sedosos e macios de sua cabeça loira, joga-lo contra a parede enquanto pressiona seus ombros deixando ele com a respiração acelerada e então... obriga-lo a pedir desculpas para a Melanie.
Tudo valia a pena se ele tirasse aquele olhar presunçoso de indiferença do seu rosto diabólicamente belo.
Mas ele sabe que se fizer isso, no temperamento em que está provavelmente vai ser expulso por começar outra briga, e acabar sendo desmaiado com a energia de Chard assim como em todas as outras brigas entre os dois.
Parece que Richard tinha um vício em fazê-lo perder o controle, tão irritante.
Embora Peter não tenha a energia angelical forte, Richard tem, e por ser um símbolo dentre todos os anjos de beleza e pureza ele tinha a permissão para usar quando achasse necessário, e aparentemente usar em Kolin era sempre necessário para ele.
Tão mimado, provavelmente nunca experimentou nenhuma dificuldade na vida.
Mas logo após esse pensamento Kolin se lembrou que atualmente quase toda a família de Richard estava morta e ele era o único herdeiro.
Ele engole em seco sentindo um peso na consciência mas ignora, afinal não havia ninguém na vida que não havia sofrido nada e nem por isso usavam seu sofrimento como desculpa para ser um cuzão.
Ele não pode perder o controle de novo então se senta na escada suspirando fundo e contando novamente até mil.
Ele se pergunta se Melanie algum dia terminará de vez com Richard.
Se Daniel vai deixar de ser tão indeciso e obsecado, alternando entre Benjamin e Carten.
Se Richard vai parar de ser tão cruel e o odiar tanto.
Se algum dia tantas pessoas vão parar de morrer e vai haver igualdade entre os anjos e os demônios.
Ele quase caí no sono quando se lembra que devia se justificar a Wren Grace, o pai de Melanie.
Após alguns passos rápidos pelos corredores do instituto Kolin agradeceu mentalmente por não ser dia de vistoria, era estritamente proibido para demônios andarem livremente pelos corredores dos anjos, não fariam nada com ele já que ele obrigatoriamente tinha que se explicar com Wren Grace.
Porém não era novidade o quanto Kolin era odiado tanto pelos anjos quanto pelos demônios.
Quando por fim chega em frente a sua sala ele bate a porta duas vezes antes de entrar.
— Vejo que finalmente está de volta jovem Corteny. — Diz o homem de cabelos ruivos com aparência de uns trinta anos.
— Foi um mês bem longo. — Kolin responde apenas.
— Sim, com certeza, você sabe que precisamos conversar certo? — Ele diz com um olhar de retidão.
— Sei.
— Não sabemos mais o que fazer com o seu contentor, nesse ponto a culpa realmente não seria sua e conseguiríamos relevar, mas todo tempo você está envolvido em alguma briga. — Ele balança a cabeça negativamente.
— Foi o Peter que–
— Kolin Corteny — Wren o interrompe — Tenho tentado de tudo na assembleia para as coisas não ficarem piores para você, não sei se tem noção de que seu nome estava na lista de corte, quer dizer que eles queriam te executar.
Kolin cerra os punhos sentindo o sangue subir a cabeça, o estresse estava começando a voltar com força total.
— Sabe por que eu faço tudo isso, você é um amigo importante da minha filha, e ela nunca me perdoaria se eu não fizesse nada a respeito, mas precisa colaborar comigo.
Kolin fica em silêncio e morde os próprios lábios.
— Ela também é importante pra mim.— Kolin diz mesmo sabendo que ele ignoraria.
— Consegui que você tenha direito a fiança após muita discussão com os anjos, quase desisti mas Melanie estava desesperada, só peço pra seja lá o que mais for fazer, não envolva minha filha nisso, ela é muito sensível e não suportaria.
Com certeza a conversa que ele costumava ter com Richard era muito diferente, apesar de não ter sido Kolin quem terminou com a filha dele, era Kolin quem tinha que ouvir esse tipo de coisa.
Afinal ele sempre é culpado de tudo e por tudo, ele sempre está errado, e mesmo que todas as vezes em que sua energia explodiu tenha sido por que ele não suportou mais os abusos e passou a protestar, ele ainda era o monstro violento.
Uma memória da sua infância de repente lhe veio a mente, uma vez em que foi espancado por outras crianças, mas por serem anjos, os adultos que passaram não fizeram nada além de lançar um breve olhar e continuar seu caminho.
Seus pensamentos são interrompidos pois em um piscar de olhos soa um estrondo, e ele ouve gritos pelos corredores do instituto, pessoas corriam desesperadas enquanto tropeçavam no caminho.
Kolin sem pensar muito, ignorou o que quer que Wren estivesse dizendo e correu, um mau pressentimento de apossou do seu peito.
O cheiro forte de fumaça penetra nos seus pulmões e ele tenta entender o que exatamente estava acontecendo, todos corriam em direção a saída, em direção aposta a ala dos demônios, a ala dele, tudo indicava que era um incêndio.
Kolin sabe a direção em que deve correr, provavelmente a saída, mas ele não é desses que faz o que deve, o impulso fala mais forte e ele começa a correr da onde aparentemente vinha a fumaça, sua visão ficando cada vez mais embaçada.
A cada passo mais próximo ele começava a entender o local exato em que o fogo vinha, ele não pode se aproximar muito mas passa a notar as intensas chamas douradas e vermelhas que incendiaram cada vez mais a sua ala. Um calor fervente irradiava de lá.
Imediatamente Kolin soube que era algo proposital, provavelmente quem fez isso sabia que ele já tinha voltado, poderia ter sido uma tentativa de assassinato ou uma brincadeira de mal gosto mas com certeza era algo cruel.
Ele não soube o que sentir primeiro, não havia como entrar, o fogo já estava por todas as partes, todos os seus bens já tinham virado pó a essa altura.
Raiva, angústia e nervosismo reinaram em seu coração, mas entre essas emoções a que se apossou foi a primeira, ele acertou um soco na parede manchando seu punho de sangue e deixando uma rachadura nela.
Ele inspira fundo sentindo sua respiração falhar pelo ar carregado de fumaça negra, seu peito começava a doer.
Ele tinha que se acalmar, se a raiva o dominasse então seria mais um contentor destruído, fora que ele poderia acabar causando uma falha nos portais e soltando as bestas.
Ele se senta no chão, embora as chama se aproximassem, ele ainda não conseguia se manter são o suficiente para se afastar, e respirar não estava ajudando, sua vontade por destruição apenas crescia, ele quetia destruir tudo e todas as pessoas do instituto.
Ele balança com força a cabeça afastando os pensamentos destrutivos que se apossaram de sua mente, ele tenta pensar em qualquer outra coisa que não seja a pessoa que fez isso e crava as unhas ceetas nas palmas das mãos.
Sua vista embaça e seu corpo fica cada vez mais pesado, se ele continuasse nesse lugar provavelmente morreria.
A contra gosto ele se levanta e anda um pouco para longe das chamas mas tropeça e cai no chão.
Então ele percebe que o que estava lhe afetando não eram as chamas, e o problema não era com sua vista, na verdade havia outra coisa que sempre o deixava assim, com essa vontade indescritível de demair, apenas uma pessoa o fazia se sentir assim.
Uma sombra o cobre e agora ele tem certeza ao ver a silhueta dessa pessoa.
— Seu filho da puta desgraçado. — Kolin grita forçando sua voz abafada a ficar mais alta.
O loiro a sua frente continua em pleno silêncio.
— Você tem tanto medo de mim que quer me matar? — Ele se esforça para levantar.
— Não parece que sou eu quem está com medo. — Diz Richard agora próximo o suficiente para Kolin poder vê-lo em meio a fumaça.
— Você está me subestimando, acha mesmo que eu vou morrer por algo assim? — Kolin responde agarrando a sua perna para tentar lhe derrubar.
— Eu nunca disse que queria te matar. — Ele diz se agachando na sua frente e o fitando por uns instantes — Mas tenho que admitir que... Não seria tão ruim se você perdesse um braço ou uma perna.
O fogo se aproxima mais, pois os olhos cinza de Richard ganham um tom avermelhado.
Ele se levanta novamente e Kolin puxa a sua perna com mais força derrubando Richard no chão em um golpe.
Porém antes que ele pudesse lhe dar um soco, uma pontada intensa se apossa da sua cabeça e ele não pode mais suportar se manter sentado, caindo no chão com sua vista escurecendo cada vez mais.
Richard se levanta lhe dando um sorriso diabólico, as últimas palavras que Kolin pode escutar são:
— Bons sonhos querido.