Ele solta um suspiro suave e diz por fim enquanto dá um sorriso leve a mãe de Kolin.
– Eu prefiro dar um voto de confiança a ele.
– O que? – Wren Grace perguntou espantado.
— Apesar de Kolin ter essa aversão a mim, eu o conheço bem, por conta disso não acho que ele seria capaz de causar tanto desastre, ao menos não dessa vez.
Eles o olharam surpresos, talvez tivessem certeza de que Richard acusaria Kolin.
— Então o que o senhor sugere? — Perguntou Wren Grace.
— Deixemos Kolin preso por agora, eu vou fazer uma breve investigação e encontrarei o responsável até o fim dessa semana.
Alguns tinham expressões indignadas.
— O que está sugerindo? Se acha tão superior ao ponto de pensar que pode encontrar alguém que nós não conseguimos?— Um deles expressou irritado.
— O que te faz pensar que pode acha-lo nesse meio tempo? — Disse Nolan Spry.
Richard observa Nolan em silêncio por um tempo, esse homem, sua mãe havia sido uma mulher cruel e impiedosa, ela era viciada em drogas e obcecada por perfeição, mas Rarlee havia lhe dito uma vez que nem sempre foi assim.
Sua mãe antes era uma mulher amável que podia sorrir sinceramente e se compadecer se alguém. Mas depois do abuso seu marido começou a ignora-la e sair com outras mulheres, isso naturalmente a enlouqueceu.
Richard particularmente a odiava e não se importava com o que quer que tenha acontecido com ela antes de seu nascimento, seja lá como sua mãe era antes, ele não conheceu sua versão boa.
Ele não podia simplesmente esquecer toda a tortura e espancamento da sua infância simplesmente por saber o que ela já sofreu.
Mesmo que ele não queira a odiar tanto, ela ainda aparece todas as noites em cada maldito pesadelo, apesar de estar morta, estava sempre viva quando ele fechava os olhos.
– Perdoe minha negligência mas ainda não sei o seu nome. – Richard disse com um sorriso sem graça.
Claro, não era por que ele não se compadecia de sua mãe que ele também não odiaria esse homem ou não o desprezaria por suas ações.
O homem ficou azul de raiva e se levantou abruptamente deixando a mostra a parte de baixo de sua camisa que estava amassada de forma desleixada faltando um botão.
"Faltando um botão..."
— Como você ousa.
— Senhor Nolan Spry se controle, este é o salão da Assembleia, não seja tão brusco. — A senhora Felton o alertou.
Richard lhe deu sorriso de agradecimento e isso a instigou.
— Claramente o senhor Nildern só quis dizer que como tem mais recursos e acabou de se tornar membro, ele pode provar o seu valor resolvendo este pequeno caso, afinal tudo isso ocorreu por negligência sua.
– Nolan Spry, é esse o nome? Definitivamente vou guardar em minha memória — Richard prometeu em um tom suave.
Com uma expressão complicada o homem levantou da mesa e saiu batendo os pés.
Wren Grace soltou um longo suspiro.
– Nós ainda não acabamos a reunião e ele saí assim, é tão sem classe. – Ele passa a mão nos cabelos ruivos.
Luna Corteny faz uma careta.
– E quanto ao meu filho, ele vai ficar preso?
– Receio que sim. – Richard diz apenas enquanto ajeita as luvas.
– Isso é uma injustiça, não há nenhuma prova de que ele fez isso, são apenas especulações.
– Não é como se ele fosse ficar preso por muito tempo. – O homem rebate.
– Ainda assim não posso suportar vê-lo naquele lugar imundo.
"Você fala como se realmente tivesse ido ver ele" Richard pensou.
— Todos sabemos que Kolin está acostumado com a sujeira, e não se preocupe, se realmente não suporta ir encontra-lo eu não me importaria de ir no seu lugar. — Richard lhe lança um olhar afiado — Afinal acho que mesmo me odiando ele iria preferir ver a mim se tivesse que escolher entre nós dois.
A mulher se levanta e bate na mesa, os longos cabelos cacheados cor de nanquim caem sobre seus ombros como um cascata.
— Retire oque disse. — Ela praticamente grita.
Richard a observa em silêncio, o único olho que lhe restava era castanho escuro, o único detalhe que Kolin não havia puxado dela.
— Nesses momentos posso dizer que vocês dois são realmente mãe e filho.
— Richard Nildern e eu posso dizer com convicção que finalmente entendo por que o meu filho o odeia tanto, você é um dissimulado que não possui um pingo de vergonha.
Richard faz um olhar inocente.
— Mas eu não disse nada escandaloso, pensei que a senhora sabia como Kolin se sentia a seu respeito.
— Já é o suficiente.
As bochechas da mulher ganharam um tom avermelhado pela raiva e ela finalmente se afastou irritada e saiu da sala de reunião.
Os olhos do Wren Grace brilharam ao ver a mulher ir embora.
— É uma pena que ela tenha ido, por que não discutimos então sobre as rebeliões que vem ocorrendo. – Wren disse animado.
Richard já sabia que isso aconteceria.
Se ele não houvesse encontrado uma forma de provocar a ira de Luna Corteny e fazer ela ir embora, provavelmente discutiriam isso nas costas dele.
– Você quer dizer as rebeliões dos demônios com o contentor e os ataques que vem acontecendo? – A senhora Felton perguntou.
— Exato, creio que é hora de criar uma solução quanto isso.
Richard mordeu os lábios prevendo o que viria a seguir.
— Gostaria de dar a sua opinião senhor Nildern?
As costas das palmas de Richard começaram a suar frio por dentro da luva.
— Bem, com a mão de obra pesada fornecida pelos demônios, muitos acabam ficando órfãos e talvez a extrema violência acaba deixando eles com um rancor a classe superior. — Ele diz se sentindo pressionado.
Não importava o que ele dissesse, para Wren Grace nada seria cruel o suficiente para ferir os demônios.
Nada seria bom o bastante, ele não queria uma solução, ele queria a aniquilação deles.
— Então o que você quer dizer? para melhorar a educação? — Ele soltou uma gargalhada.
— Eu só quis dizer que eles são seres naturalmente violentos que vem causando problemas a séculos, destruindo prédios e ferindo pessoas mesmo com sua natureza suprimida, talvez devêssemos tentar uma unificação para conter um pouco o ódio deles.
O homem o olhou confuso por um tempo, todo o conselho começou a sussurrar.
Richard sentiu seu estômago revirar mas manteve a expressão neutra.
— Você quer dizer direitos iguais? — Alguém perguntou hesitante.
Antes que Richard pudesse dizer algo, Wren se apressou:
— Não seja ridículo, é óbvio que o senhor Nildern não disse isso, seu plano está implícito em suas palavras, você não notou?
Todos, inclusive Richard olharam para Wren esperando para saber qual era o tal plano implícito em suas palavras.
"Eu tinha um plano implícito?"
— Ele quis dizer que devemos fazer uma promessa de paz para apaziguar eles por agora, afinal a situação das bestas tem se tornado cada vez pior, dessa vez conseguiram até mesmo invadir o instituto, nosso lugar sagrado.
— E então? — Uma mulher Indagou.
— Então nós devemos dar essa esperança a eles para de último momento os usarmos como iscas para atrair e aniquilar de vez as bestas e também com a raça dos demônios, e assim acabamos com dois problemas de apenas uma vez.
Todos na mesa nem sequer esconderam os suspiros de alívio e admiração, observando Richard como se ele fosse uma solução divina.
— Foi isso mesmo senhor Nildern?
Particularmente Richard não tinha nada contra os demônios, afinal ele havia nascido um antes de provar tantas drogas a ponto de não saber mais o que ele mesmo é.
Mas se tivesse que escolher entre sua vingança e os demônios, então eles não seriam sua prioridade.
— Foi exatamente isso.
— Mas como faremos isso? – Um deles perguntou.
Toda a atenção se voltou novamente para Richard, o olhares pareciam querer o devorar vivo.
— Apesar de vândalos os demônios possuem valores próprios e são bem simples de cuidar, podemos simplesmente ameaça-los com o orfanato e eles vão aceitar a trégua imediatamente.
Wren Grace o olhou com mais atenção.
— Podemos começar com algo simples como juntar os jovens em um ambiente educacional ou oferecer salários mais altos por um período.
Por um momento as expressões deles voltaram ao tédio absoluto.
— E no fim de tudo vamos massacra-los junto com todas as crianças do orfanato para não sobrar ninguém certo? — A senhora Felton encorajou com um sorriso.
"Como ela podia dizer algo tão bizarro com um sorriso tão amarelo, essa plástica não engana ninguém"
Richard não queria concordar para ser sincero, afinal ninguém seria insensível a ponto de concordar com esse absurdo.
— Certo, isso é óbvio, podemos ameaçar a colocar as crianças no campo de batalha e eles vão lutar no lugar, ao mesmo tempo, depois que a maioria morrer, também soltamos as bestas nos orfanatos, com as bestas lá, os demônios faram de tudo para se defender, só devemos tomar cuidado de não ficar no fogo cruzado.
Eles lhe deram expressões satisfeitas e ofereceram outras sujestões ainda mais cruéis no plano.
— A reunião acabou, que a luz dos céus esteja com vocês. — Decretou Wren Grace.
— Que a luz dos céus estejam com vocês. — Todos os outros repetiram e se levantaram indo embora.
Quanto a promessa de Richard sobre encontrar o culpado até o limite estabelecido.
Apesar de ser arrogante, Richard não estava blefando, ele nunca fazia promessas vazias, principalmente se estivesse relacionada a morte do seu irmão.
"A quem eu estou enganando? é claro que é um blefe."