A mulher abriu a boca para protestar, mas a ruiva a está altura estava pelos corredores puxando Richard pelo braço.
Ele se esgueirou pelos corredores ainda ensanguentados, sentindo sua respiração aos poucos voltar ao normal, mas as náuseas não cessaram.
Não com essa garota lhe agarrando tão insistentemente por trás em um abraço invasor.
— Eu senti tanto medo, quis te procurar mas o meu pai disse que não seria seguro, não sei o que faria se algo acontecesse com você. — Seu tom era doce e suave.
Richard afastou o seu abraço e não pode conter o olhar de repulsa.
Ele simplesmente não conseguia entender por que essas mulheres continuavam o tocando, o tempo inteiro.
Sempre.
O cheiro delas, sua pele e sua voz tão doces, o fazia sentir que era tudo tão repugnante.
— Pare de agir como se ainda estivéssemos juntos. — Ele diz sem a olhar.
— O que você quer dizer, nós estamos juntos, lembra quando você me pediu em namoro? eu fiquei tão feliz, e então você me beijou e disse que ficaríamos juntos para sempre, eu gostaria de dizer que amei você desde então, mas na verdade te amo desde do dia em que te conheci.
— Eu nunca disse isso.
Ele estava dizendo a verdade, quando se tratava de fazer promessas eternas Richard não se arriscava a tanto, mas foi ele quem fez a oferta de um relacionamento com ela, não que ele um dia houvesse sequer gostado de Melanie, muito pelo contrário.
Mas nesse dia, a algumas horas antes ele descobriu que Kolin havia se declarado a ela.
Kolin era ignorante o suficiente para se declarar para alguém tão superficial quanto ela.
Não era novidade para ninguém que Kolin sempre gostou de Melanie, ele costumava a perseguir como um cachorro, ignorando sempre a presença de Richard.
Richard não se importava mas seu instinto de irritar Kolin falou mais alto e sabendo que não seria rejeitado ele não pode hesitar em fazer algo.
No mesmo dia Richard foi até Melanie e a pediu em namoro na frente de Kolin.
A expressão de Kolin foi complicada, raiva e angústia cobriam seus belos olhos verdes, nesse mesmo dia ele teve uma explosão de energia demoníaca e destruiu dois prédios, deixando vinte e seis feridos.
"Você me odeia tanto assim?" tinha sido a pergunta que Kolin lhe fez.
O que lhe respondeu foi naquele dia foi...
Melanie deu um salto de repente.
— Amo você, estou tão feliz que esteja bem, não sei o que faria se algo acontecesse, você é o meu mundo. — Ela disse enrolando um cacho dos cabelos ruivos e o livrando de seu estorpor.
— Nós terminamos.
— Sei que você disse aquelas palavras da boca pra fora, sei que cometi erros mas eu te amo, isso não basta? — quando ele ficou em silêncio ela continuou — e eu queria te pedir um favor, você poderia conferir se Kolin está bem, eu pedi ao meu pai mas ele disse que isso era ruim para a nossa imagem.
Richard deu dois passos para trás, mas ela agarrou a sua mão, as unhas vermelhas demais lhe despertando memórias que ainda o assombravam todas as noites em seus pesadelos.
Eram da mesma cor que as da sua falecida mãe.
— Acabou entre nós.
Ele tentou se afastar mas sentiu seu peito apertar e as marcas em seu peito queimarem, antes que pudesse reagir ela depositou um beijo rápido em seus lábios.
Richard se sentiu tonto e quase desmaiou, uma dor forte se apossando do seu peito pela injeção de antes.
— Por que você está tão pálido? — Ela perguntou aproximando a mão para tocar sua bochecha.
Ele deu um passo para trás para evitar o seu toque e correu para a sua ala deixando a ruiva para trás com uma expressão preocupada.
As mãos dele tremiam incontrolavelmente, ele odiava o fato de seu irmão estar morto e ele não ter feito nada para impedir isso.
Ele odiava a pessoa que se aproveitou da situação e forjou seu suicídio.
Também detestava Narlan por não estar ali no momento em que ele mais precisava.
Odiava Melanie e seu cãozinho de estimação, também a doutora Felton e sua filha Marina, e toda a assembleia.
Ele queria desaparecer, sumir, mas também queria vingança.
Não.
Era claro, ele teria a sua vingança, custe o que custar, ele mataria cada um deles, não sobraria ninguém.
Dias se passaram ele ainda não havia sido sequer informado da morte de seu irmão, como se contar a ele o que aconteceu fosse irrelevante.
Assim que voltou para o quarto, ele havia trocado as luvas, tomado um banho e se esfregado por três horas até a sua pele ficar quase em carne viva.
Ele se sentia sujo após ser tocado por aquelas mulheres, imundo demais, um nojo indescritível tomava conta de todo o seu corpo, muito imundo.
Após esse tempo trancado no quarto, Richard ouviu alguém bater e em seguida a porta se abrir.
Era Melanie, ela entrou descaradamente mas se manteve a dois metros de distância.
— Eu vim trazer seus comprimidos, imaginei que eu vir fosse melhor do que aquela velha decrépita. — Ela disse lhe entregando uma pequena caixa.
Richard hesitou porém aceitou a caixa, era verdade que odiava muito mais a senhora Felton, mas ainda assim ele manteve sua distância da ruiva.
— Seu irmão chegou, ele disse...
— Onde ele está? — Richard a interrompeu.
— Na sua sala, ele falou que eu deveria te contar sobre algo. — Ela mordeu os próprios lábios.
— Rarlee está morto, eu já sei.
Ela arregala os olhos mas não diz nada.
Então era isso? Narlan não poderia vir que lhe contar pessoalmente?
E ainda por cima mandou outra pessoa, se ele realmente não houvesse visto a morte de Rarlee com os próprios olhos, então era assim que ele descobriria?
Richard saiu pela porta e foi rapidamente até a sala de seu irmão, os corredores já haviam sido limpos, a cor cinza do piso não tinha mais aquele vermelho vivo sobre ele, fazendo parecer que tudo foi apenas um sonho distante.
Havia um guarda na porta o olhando com relutância.
— Diga a Narlan que eu quero vê-lo.
— Sinto muito jovem Nildern mas recebi ordens claras para não deixar ninguém en—
— Eu disse que quero ver meu irmão. — Richard falou um pouco mais alto interrompendo o homem.
— Jovem Nildern eu realmente não posso...
Nesse momento Narlan abriu a porta encarando os dois com seu natural olhar gélido.
Os cabelos loiros escuros eram tão diferentes mas tão parecidos com os de Rarlee, apesar de serem gêmeos, Narlan e Rarlee eram obviamente diferentes.
Rarlee era como a luz no fim do túnel, e Narlan era o túnel inteiro.
Ele nunca deu nenhum sinal de que se importava com Richard, sempre distante, o único momento em que ele falava mais era quando estava cercado de mulheres.
— O que é isso? — Ele fala apertando as têmporas.
— Bem, senhor, é que...
O olhar gélido de Narlan pairou em Richard.
— Entre.
Richard entra na sala com passos rápidos.
Narlan se sentou na sua mesa sem prestar atenção nele e continuou escrevendo algo nos papéis sem perder o foco.
— Onde está Rarlee?
— Eu mandei sua namorada te avisar, ela não foi? — Ele pergunta sem tirar os olhos dos papéis.
— Você sabe o que eu quero dizer, já se passaram dias, e o funeral, vai acontecer quando?
Narlan dá um estalo com a língua, e solta por fim a caneta o olhando irritado.
Havia algo diferente nele, Richard notou, seu olhar parecia possuir um brilho cruel, algo mais selvagem.
Era estranho.
Rarlee era frio, mas nunca foi cruel de um modo evidente, sempre disfarçou bem e até dizia se importar algumas vezes, mesmo que fossem só palavras vazias.
— A assembleia ainda está discutindo o que vai fazer com o corpo dele, aparentemente ele não foi morto por bestas.
— A assembleia está discutindo, o que eles tem para discutir? Ele é o meu irmão, o nosso irmão, eles não tem nada a ver com isso.
Narlan deu um forte suspiro.
— A assembleia sabe o que é melhor, não aja como uma criança birrenta.