Todos estão mortos.
Corpos espalhados ao meu redor, sangue manchando minhas roupas. Não era meu sangue.
A visão, em vez de me fazer vomitar, só me deixou congelado em pé no centro da minha antiga sala de aula. Esse é o ultimo dia de aula, tudo estava normal a poucos segundos atrás, agora estou olhando para os corpos dos meus colegas, pessoas que conheço há anos, reduzidos apenas a membros partidos e órgãos espalhados por todos os lugares.
Estou congelado em panico, meus pensamentos estão correndo rapidamente, mas meu corpo não se move, não há nenhuma reação física, para piorar, minha visão está estranha, tudo está tingido de cinza, não a cores ao meu redor, e a sala, pelo menos as partes que não foram manchadas com sangue, parecem ter envelhecido cem anos nos poucos segundos que estou aqui em pé, poucos segundos que um monstro invisível atingiu meu ombro esquerdo, depois disso, o que aconteceu?
O que eu estava fazendo mesmo?
Tente se lembrar.
Sim, conversando com uma amiga antes de tudo explodir na minha cara, depois não lembro de nada, mas sei que, há pouco, um homem tentou entrar na sala de aula, um professor talvez, mas ele saiu poucos segundos após ver o que aconteceu aqui, não posso o culpar por isso.
Lembre, o que aconteceu aqui!?
Não adianta, tudo que vejo e cinza.
Tenho que me sentar, não, preciso sair daqui primeiro.
Outra memória, a coisa invisível atravessou as portas as colocando abaixo, matando meu professor, depois disso, ela se moveu pela sala inteira massacrando todo mundo numa velocidade que nem mesmo foi possível ter qualquer tipo de reação, mas no final, lembro de ter visto o monstro de três metros de altura com três pernas altas e um rosto feio cheio de olhos brancos.
Estou alucinando?
"Tac!"
A janela atrás de mim se abriu.
Como sei disso?
"Oh, mais que bagunça!" Falou uma voz divertida e até mesmo ridícula atrás de mim fora da janela.
Essa voz foi o bastante para fazer meu corpo acordar, virei meu rosto e vi um homem adulto, não muito velho, olhando para mim em pé do outro lado da janela, seus olhos eram azuis-claros, lindos como o céu sem nuvens, e seu cabelo branco como a neve.
Como ele está do lado de fora, estamos no terceiro andar.
"Eles iriam ter que gastar uma nota para limpar isso tudo antes mesmo de você ter destruído o lugar, agora, acho que vão condenar o prédio inteiro, isso é divertido." Falou o homem com um sorriso no rosto.
Destruir?
O homem branco colocou sua perna esquerda e depois a direita dentro da sala de aula entrando pela janela, como? Ele andou sobre o sangue evitando os corpos olhando ao redor parecendo interessado, não assustado ou enojado pela situação do lugar, o que o deixava mais estranho ainda.
"Entendo, entendo, então é assim que funciona sua técnica, é bem interessante, você teve sorte, garoto." Ele falou mais uma vez, agora focando seus olhos anormais, mas belos em mim.
"O quê?" Perguntei, estranhando minha voz.
"Quer dizer, você feriu um feiticeiro de primeiro grau sem querer, por sorte ele é meu amigo, se fosse qualquer outro, teria enviado um esquadrão da morte atrás de você."
"O quê?" Perguntei inutilmente mais uma vez.
O homem, parou de falar e apontou seu dedo para minha testa.
"Quer saber, vamos conversar mais tarde!"
Foi tudo que ele falou, a seguir, senti algo atingir minha cabeça e o mundo ficou escuro.
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"Por que eles querem em matar?" Perguntei mais calmo sentando na minha cadeira.
Os últimos momentos foram mais tensos do que o que aconteceu a oito horas atrás, esse foi o tempo que fiquei dormindo, o homem que se apresentou como Gojo Satoru, me colocou para dormir e me trouxe aqui, numa sala fechada sem janelas com as paredes pintadas com símbolos e talismãs de papel colados nela, do mesmo tipo que você facilmente encontra em templos budistas ou comprando nos shamans, meu corpo também está coberto deles, meus braços estão presos ao meu corpo e os talismãs criaram uma camisa de força, meus pés também estão presos por algemas de metal, normalmente, essa situação colocaria qualquer um panico, mas ver o homem sentando na minha frente tomando seu refrigerante num copo do McDonald, numa postura relaxada demais na sua cadeira, acabou sendo um fator calmante.
"Os velhos bastardos estão com medo do seu potencial, o que eles não podem controlar, eles matam, ou pelo menos tentam." Respondeu Gojo-san, para logo tomar mais um gole no seu canudo de plástico, diferente do nosso primeiro encontro, ele está usando uma venda negra que cobre seus olhos, como ele consegui ver com isso?
Voltando a situação, Velhos bastardos, é assim que Gojo-san, se refere aos líderes dessa sociedade secreta que me foi apresentada a poucos minutos atrás, chefes de clãs, famílias poderosas e ancestrais que habitam e reinam nesse mundo escondido a milhares de anos.
"Potencial?" Perguntei em seguida. Nunca fui superdotado em nada, mas também não sou um idiota, estou na média, como quase todo mundo.
"Oh sim, potencial, não só você matou um espírito amaldiçoado de grau um no seu primeiro encontro, como também feriu sem querer um feiticeiro do mesmo grau que estava o caçando, some isso as suas reservas altas de energia e sua técnica inata, e o resultado é um bando de velhas múmias, tentando te matar." Mais uma vez, mesmo que suas palavras sejam assustadoras, não consigo ter nenhuma reação em resposta a elas, não com ele bebendo no seu canudo fazendo barulhos estranhos.
Espíritos amaldiçoados, feiticeiros e técnicas inatas, tudo isso me foi explicado rapidamente, não estou mais perdido no que vi e no que aconteceu, mesmo não me lembrando muito bem.
"A pessoa que feri…"
"Não se preocupe com o Nanami, ele é bem fraco, mas não tão fraco para morrer para um iniciante, ele já está totalmente curado, pela mesma pessoa que deu um jeito no seu ombro." Gojo-san, falou apontando para o local do meu ferimento, me fazendo perceber pela primeira vez, que ele não estava doendo desde que acordei.
Bem, agora que fui curado, isso explica a falta da dor e as cores voltando na minha visão.
"Eles não podem me matar, eu sou um estudante, eles vão perceber depois do que aconteceu na escola!" Gritei perdendo um pouco do controle, mas me calei assim que o homem sentando na minha frente, me deu um olhar que dizia claramente que eu era um idiota.
Acabei de saber que dez mil pessoas somem pelo todo país por ano, e noventa e nove por cento desses desaparecimentos, tem a ver com espíritos amaldiçoados, a também casos de acidentes e outros desastres naturais, tudo isso encoberto pelo governo, que está conectado com os Feiticeiros, afinal, apenas eles têm o poder para exorcizar as maldições, como também só eles podem as ver, por causa disso, feiticeiros gozam de um poder político absurdo, tudo que envolve esse lado do mundo está sobre o poder e leis deles.
"O que aconteceu na escola, foi um grave acidente envolvendo gás, realmente trágico." Continuou Gojo-san, jogando o copo de plástico vazio no chão do seu lado sem nenhuma cerimônia.
Tão rápido assim, meu choque se transformou em raiva.
"Então, vai logo, acaba com isso!" Foi uma tentativa ridícula de parecer corajoso diante a morte, mas era tudo que tinha, um pouco de orgulho.
"Tudo bem para mim."
Gojo-san, se levantou da sua cadeira e andou lentamente até mim, a cada passo, minha coragem diminuía e meus olhos começaram a lacrimejar, mas me mantive olhando para ele e não chorei de medo, até que finalmente, ele colocou sua mão em cima do meu ombro.
"A não ser é claro, que você se junte à nossa escola e se torne um feiticeiro."
"Como?"
"Você escutou, se transfira para essa escola e venha estudar comigo, assim você pode viver."
"Mas você falou que os.."
"Quem liga para eles, se eu estou dizendo que você pode, você pode, afinal, sou eu quem está dizendo, o mais forte!" Tinha mais que confiança na voz dele, era quase uma certeza.
"Tenho escolha?" Perguntei.
"Claro que sim, acabei de apresentar elas para você, quer as escutar de novo?" Perguntou ele virando a cabeça para o lado, como se estivesse falando com um idiota.
Já estive em situações ruins na minha vida, mas essa, sentado aqui sem poder fazer nada enquanto outros decidem quando vou morrer, é de longe a mais desagradável, tão desagradável, que alimentou algo em mim.
"Eu aceito." Mas por hora, vou abaixar minha cabeça e aceitar a gentileza dele.
"Ótimo, você é o primeiro aluno desse ano, os outros ainda não chegaram, mas vai ser divertido, vou preparar tudo agora!" Gritou Gojo-san, andando na direção da porta.
"Espera, qual é seu nome mesmo?" Perguntou ele, com a porta aberta.
"Meu nome é Yamamoto Fujiwara!" Me apresentei para o idiota.
"Oh, isso também é muito interessante, de qualquer forma, bem-vindo!" Ele saio pela porta a fechando logo em seguida.
Gojo-san me deixou assim, preso na cadeira.
Acho que ele não é confiável, com certeza, ele é um grande idiota.