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Chapter 17 - Problemas que a violência não resolve

Miguel acabou de ter um avanço, mas não pôde aproveitar nem explorar as mudanças que passou, porque problemas surgiram. A conversa na sala ao lado ainda acontecia; Fábio e sua avó estavam discutindo sobre seu futuro e possíveis maneiras de escapar desse emaranhado de conspirações.

A maior dificuldade para eles era fazer algo sem ser detectado pelas famílias nobres. Se seus avós, que são meros comerciantes, conseguiram informações sobre pedaços dos planos dos nobres usando apenas dinheiro, é fácil imaginar o alcance da influência das classes mais altas, que têm acesso ao verdadeiro poder.

Ignorando por um tempo o diálogo de Fábio, Miguel usou seu Sentido Divino para percorrer a maior distância possível. Na teoria, o espaço que seu Sentido Divino pode cobrir é suficiente para abarcar um bom pedaço da casa, mas ver através de objetos sólidos diminui sua área de cobertura e atrapalha na coleta de informações.

Miguel conseguia ver através das paredes dos quartos vizinhos, mas entender o que acontecia no resto da casa exigia muito mais esforço, especialmente para cobrir alguns pontos cegos.

Após buscar por alguns minutos, não foi surpresa notar servos e guardas trocando informações entre si sobre sua chegada junto com seu professor, e até sobre Davi e a forma como ele partiu furioso.

O problema não era os servos que conversavam sobre a vida dos seus patrões, mas onde essas informações vão parar, qual deles só estava afim de fofocar sobre a vida alheia e qual deles está ali para colher informações para terceiros?

Algo que Miguel confirmou hoje é que, se um assunto envolve outras pessoas, a resposta nunca vai ser simples. Ao ver a forma como seu avô mentiu para ele, junto com as lembranças da infelicidade de sua mãe durante a infância quando o assunto envolvia o Duque, a primeira suposição de Miguel foi que seu avô havia vendido sua mãe em troca de expandir seu império comercial dentro do território da família Eklere. Mas, de acordo com a conversa de sua avó, parecia que as coisas eram diferentes do que ele imaginava.

Há pouco tempo, Miguel quase agrupou Maximus e Octávio no mesmo pacote de pessoas desesperadas por poder e influência a todo custo. Por outro lado, parece que seu avô Maximus tem limites que não ousa infringir, diferente do Duque que estava pronto para sacrificar um de seus filhos apenas pela suspeita de que pudessem usar sua morte contra ele.

Por um momento Miguel considerou ignorar tudo, absorver o Qi abundante que circulava ao seu redor, romper as barreiras do cultivo e massacrar os nobres deste mundo junto com qualquer incômodo, infelizmente ele não estava disposto a desperdiçar o seu potencial devido algumas pessoas inconvenientes. A violência é a solução mais rápida para qualquer conflito, assim como traz as piores consequências.

Pelo menos esse pensamento ajudou Miguel a entender porque o oposto da Raiva era a Complacência e não a Calma. A Raiva é uma emoção que surge quando alguém atravessa limites que uma pessoa impos, e ao ultrapassar esses limites, o primeiro instinto é sempre reagir e contra-atacar, só existe uma situação onde após ser ofendido alguém não reage, quando você se sente complacente, no controle e que seja lá quem for que te atacou não é uma ameaça.

Se no fundo Miguel ainda não se considerasse muito superior a todos os Mortais neste Mundo Inferior, a raiva que sentiu ao saber que estão planejando lucrar com a sua morte, seria grande o suficiente para ele não resistir ao pensamento de forçar o seu corpo jovem a cultivar somente para trazer a maior destruição possível sobre a população deste mundo.

Infelizmente, Miguel não tinha tempo para se aprofundar no seu Cultivo Espiritual. Ele precisava tomar uma decisão rápida sobre o que fazer no futuro, visto que a opção de retornar para a mansão estava fora de cogitação.

Miguel inspirou e expirou com força algumas vezes e então pensou em tudo o que sabia sobre o Império Skyla. Lembrou do mapa do Continente de Prari que viu no escritório do Duque Eklere. O continente tinha um formato engraçado de pera, com a Cidade Imperial no centro. Diferente de outros impérios, ao redor da Cidade Imperial estavam os nobres de menor classificação, enquanto os Duques estavam localizados nas fronteiras.

Os Duques eram as pessoas mais poderosas abaixo da Imperatriz, tudo devido à suposta linhagem divina que ela concedeu aos seus maiores campeões que ajudaram na unificação do Continente Prari sob um único governante. No começo, havia treze Duques, mas atualmente só restavam seis.

Desde que o Império foi fundado e a Imperatriz coroada, os Duques receberam suas recompensas e foram alocados em seus territórios. A Imperatriz se tornou misteriosa e elusiva, nunca aparecendo em público e não intervindo na forma como seus subordinados governam. Mesmo quando mais da metade dos Duques morreram, ninguém apareceu para investigar o assunto.

Na verdade, se levássemos em conta as famílias menores que receberam linhagens de níveis inferiores, o número de nobres que caíram ao longo dos séculos seria suficiente para paralisar o Império. Porém, por algum motivo, sempre surgia alguém para ocupar os lugares vagos, mas somente nas menores classificações.

O nível de estranheza aumentava ao pensar que não existiam inimigos externos fortes o suficiente para justificar os Duques se posicionarem nas fronteiras para proteger contra invasores. Todo o lado oeste e sul estava conectado com os mares e nunca sofreram ataques. Tanto que não existe uma frota naval para lidar com inimigos, apenas uma marinha responsável por proteger os navios mercantes das criaturas marinhas.

O leste fazia fronteira com um deserto que ninguém jamais atravessou, e o norte era selado por uma cadeia de montanhas com um pequeno estreito que só era possível atravessar durante o inverno, quando uma ponte natural de gelo se formava.

'Muito incomum. Tem alguma coisa muito estranha com esse império. Se eu não fosse tão estúpido no passado, agora não estaria sofrendo por não conhecer a extensão da infliencia dos meus verdadeiros inimigos.'

A família Eklere era responsável pela fronteira norte, localizada próximo ao estreito que ligava o Continente Prari ao... vamos chamar de Continente do Norte. Miguel não sabia o nome desse continente. Se seguisse o plano do Duque, a Cidade de Bleru ao norte seria a fronteira na qual deveria receber seu treinamento de cavaleiro.

Enquanto isso, os Zekles estavam no lado oeste do continente e a única razão para estarem tão próximos dos Eklere era devido à perda de três Duques cujos territórios foram consumidos por ambas as famílias.

Além das duas famílias, Miguel não sabia quais outras casas nobres estavam envolvidas nesta sujeira, esperando para esfaquear uns aos outros nas costas. O mais bizarro de tudo era que, segundo sua avó, o melhor escudo de Miguel era estar na presença de um Reux. Ela mencionou que os Reux são muito protetores com os seus, mesmo os filhos ilegítimos.

Contudo, os Reux não faziam parte dos Duques; eles eram um Baronato, a classe mais baixa de nobre que existe em todo o Império. Então, por que duas das maiores famílias teriam medo de um Barão? E, diferente do que sua avó imaginava, ser um Reux não impediu o Duque Eklere de matar Fabio, de acordo com suas memórias do futuro.

'Ou será que o Duque não matou Fábio, e o motivo do seu desaparecimento foi diferente do que as evidências que encontrei no escritório do meu tio indicam?'

Miguel suspirou mais uma vez.

Observando Fábio e sua avó no quarto ao lado, Miguel notou a mulher que, apesar da idade avançada, mantinha uma aparência jovem. Se perguntado, diria que ela tinha por volta de 30 anos de idade. Ela possuía o mesmo rosto oval de sua mãe, junto com a franja de cabelos negros que caía sobre os olhos prateados. Depois de algum tempo, Miguel finalmente descobriu seu nome: Elena.

Elena convenceu Fábio de que a única solução era retornar para a mansão Eklere, pelo menos no futuro próximo. A maior esperança de seus avós era que Miguel tivesse 1% do talento de sua mãe. Segundo sua avó, sua mãe era extremamente talentosa no cultivo da técnica da família Zekle, mas não suportou a dor e as consequências negativas de praticar esse método defeituoso e acabou desistindo.

Porém, se Miguel conseguisse força suficiente para sobreviver durante o ataque à mansão, eles teriam uma maior chance de tirá-lo de lá no futuro.

Miguel se recusa a voltar ao mesmo tempo tem medo das consequências de não seguir o plano dos Zekles, pois mesmo que use alguns meios obscuros e elimine toda a família do seu avô isso não vai garantir a sua segurança, visto que no fim das contas ele acabou sendo assassinado na sua vida passada.

Duque Eklere estava envolvido na sua morte, mas Miguel não sabe de que forma, sem falar que havia a sua avó Elena, alguém que Miguel não possuía nenhuma memória, nem quando compareceu ao funeral de Maximus, Miguel se recorda de conhecer esta mulher.

Atualmente Miguel estava em uma encruzilhada e deveria escolher entre continuar indo para o norte, o local planejado pelo Duque Eklere para ser a sua sepultura e junto com esta decisão arriscar a vida dos seus avós ou voltar para o sul e então seguir o roteiro da sua vida passada...