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Chapter 20 - Tem que Ser um Sonho

~ SASHA ~

Ela estava tão aterrorizada, conforme o carro ziguezagueava para fora da garagem e entrava na rua, que não fez sequer um som. Apenas se segurou na alça acima da porta e tentou respirar. Sem sucesso.

Três quarteirões depois, ele diminuiu a velocidade e virou rapidamente em um beco que cortava entre os prédios, continuando na mesma direção em uma rua nova.

Zev apertava o volante com mãos grossas que, até um instante atrás, ela achava bonitas e fortes e... e... não armas.

Em sua mente, ela o viu torcer a cabeça daquele cara para o lado e ouviu o estalo novamente.

Ela estremeceu. Ainda não conseguia respirar direito.

"Me deixe sair," ela disse com dentes cerrados e com a mandíbula que não se mexia. "Agora."

"Não, Sasha. Eles estabeleceram um perímetro. Estão te procurando. E mentiram para mim sobre me dar tempo, o que significa que, se nos pegarem, vão nos separar. Eu tenho que te tirar daqui."

"Me. Deixe. Sair."

Esse não era o seu Zev, não podia ser. O Zev dela tinha um sorriso terno, gentil que só esquentava quando eles se olhavam e mais ninguém estava prestando atenção.

Seu maxilar se tensionava quando havia injustiça, ou alguém estava machucado.

Ele usava as mãos para acariciar, suavizar e dar prazer. Não para matar.

"Sasha, me escute — aquilo não era um homem. Não um de verdade."

O ar escapou dela num jato, e então ela o sugou de volta. Ainda não conseguia abrir os dentes. "Sim, ele era. Ele era. Eu vi. Ele falou. Ele estava sangrando."

"Aquilo era um corpo habitado por... tecnologia," ele disse após uma hesitação. "Um Avatar. Um computador que pode andar e tomar decisões e seguir ordens."

Ela sacudiu a cabeça, agarrando a porta e enfiando-se mais fundo no assento à medida que o carro ganhava ainda mais velocidade. Ele ia matar os dois! Era um louco!

"Sash, olhe para mim."

"Me deixe sair."

"Sasha, olhe para mim!" As palavras pareciam reverberar pelo carro, vibrando em seu peito. Elas… a compeliam. Sua cabeça virou em direção a ele sem pensar. Ele encontrou seus olhos, nem mesmo olhando para a estrada, mas de alguma maneira conseguindo manter o carro reto e na faixa. "Você me conhece," ele disse com um ronronar rouco e grave que ele não tinha em seu arsenal cinco anos atrás. Seu coração se contraiu e palpitou ao mesmo tempo. "Eu não minto para você. Aquilo não era um homem. E ele teria te matado — ou levado para homens que fariam isso."

Ela sacudiu a cabeça, mas não conseguia tirar os olhos dele. Ele verificou a estrada, depois encontrou os olhos dela novamente. "Eu apenas torci o pescoço dele para impedi-lo de te levar. Não é diferente de se você tivesse puxado aquele gatilho para me salvar."

Ela piscou. Era diferente. Tinha que ser. Mas ela precisava encontrar as palavras para explicar por que, e ela não conseguia. Não conseguia pensar. Sua cabeça estava zumbindo.

"Amor," ele disse calmamente, alcançando-a com uma das mãos, apertando seus dedos grossos, fortes e mortais sobre os dela que seguravam o assento ao lado de sua coxa, "eu não matei um homem esta noite, eu prometo."

Sua garganta começou a apertar. Ela piscou para limpar a névoa de seus olhos. Não era hora para lágrimas. Mas a suavidade em sua voz quando ele disse aquilo...

Era assim que o Zev de antigamente falava com ela.

Ela havia sentido tanta falta disso.

Então ela quis se esbofetear. Ela acabara de vê-lo matar um homem! Ou, pelo menos, machucá-lo muito.

Por que o cara não gritou? Por que ele riu e provocou quando seu corpo inteiro acabara de ser quebrado?

Por que Zev não se abalou ao quebrá-lo?

"O que... o que está acontecendo?" ela perguntou pela que parecia ser a centésima vez naquela noite. "Quem é você?"

O peito largo de Zev se enchia e esvaziava como um fole, e seus dedos apertavam os dela novamente antes dele segurar o volante e passar o carro pela curva no sinal vermelho.

Sasha deu um gás e sua mão bateu na janela para se manter firmemente contra a força da curva do carro, mas então eles estavam em uma rua principal e ele estava balançando a cabeça e murmurando para si mesmo enquanto dirigia.

"Ok, se conseguirmos ficar a mais um quilômetro de distância, eu te contarei tudo, Sash. Eu prometo. É só que… eu preciso driblar o perímetro e eu não sei onde eles o estabeleceram desta vez, então… por favor… apenas fique quieta e parada por uns dois minutos mais, tá bom? E então eu explicarei tudo."

"V-você continua dizendo isso."

"Eu sei. Mas você deve ter notado, homens continuam tentando me pegar e te matar. Estou tentando nos manter livres e vivos. E assim que eu tiver certeza de que estamos, eu te contarei tudo."

Ele olhou para ela de lado, avaliando-a.

Ela assentiu, mas somente porque não sabia o que mais fazer. Tudo parecia um sonho. Um que era aterrorizante e não fazia sentido. Mas em sonhos, as coisas frequentemente não fazem sentido. No entanto, o sonho não desistia.

Ela não ia desistir. Ela não ia ceder. Ela ia ter suas respostas. "Ok," ela disse, e então engoliu convulsivamente.

"Bom. Bom." Ele parecia realmente aliviado. "Está com sede?"

Ela sacudiu a cabeça.

"Ok, então... apenas fique baixa no seu assento e... ore," ele disse secamente.

Sasha se encolheu mais, lembrando das armas.

Os dois ficaram em silêncio enquanto ele manobrava o carro entre outros no trânsito leve de final de noite.

Nos próximos minutos ela perdeu a contagem das curvas, becos, estacionamentos e centros comerciais e ruas traseiras que eles pegaram. Mas de repente, eles estavam pegando a rampa de acesso para a rodovia e pela primeira vez, Zev não estava curvado sobre o volante. Ele ainda verificava os espelhos e olhava ao redor obsessivamente, mas parecia que estava respirando mais facilmente.

"Conseguimos," ele disse conforme se juntavam ao trânsito da rodovia. "Conseguimos, Sasha. Nós os driblamos."